Por André Dick
Alguns filmes se sustentam pelo talento de seu elenco ou pelos valores técnicos. Quando essas duas peças se reúnem normalmente assessoradas por um roteiro interessante, o resultado pode se aproximar de um acerto. Ebnola Holmes traz Millie Bobby Brown como uma das produtoras e atriz principal, depois do seu grande sucesso como Eleven em Stranger things. Antes seu único papel de destaque no cinema era em Godzilla II – Rei dos monstros; agora ela parece disposta a empregar seu carisma em papéis diferentes. Baseado em The Enola Holmes Mysteries: The Case of the Missing Marquess, de Nancy Springer, a história começa mostrando a relação de Enola com sua mãe Eudoria (Helena Bonham Carter). Ela é irmã do detetive mais conhecido da Inglaterra, Sherlock (Henry Cavill), e tem em seu irmão Mycroft (Sam Claflin) uma possibilidade de mudar de vida quando sua mãe desparece, apesar de ter mais a ajuda da governanta Lane (Claire Rushbrook). Mas, diante dos acontecimentos e da mania de Mycroft em querer vê-la longe, ela começa a procurar uma saída para seus problemas, fugindo de casa num trem, onde conhece Tewkesbury (Louis Patridge). Depois de uma perseguição brusca, eles acabam viajando juntos até Londres, onde se saparam. Mal ela sabe que ele está sendo visado por um criminoso, Linthom (Burn Gorman).
Mas Enola quer reencontrar principalmente sua mãe enquanto seus irmãos não parecem se importar muito com isso. Enola Holmes tem o seu melhor na presença de Bobby Brown, uma atriz que adquiriu uma versatilidade ao longo das temporadas em Stranger things. Ela encarna de maneira empática essa personagem, falando diretamente com a câmera para provocar certa interação com o telespectador e provocar humor, e o diretor, Harry Bradbeer, de Fleabag, consegue ser eficiente ao conduzir tudo sob seu olhar. Bobby Brown ofusca Sam Claflin, muito bem como seu irmão ranzinza, e Henry Cavill, certamente o Sherlock mais discreto de todos, em comparação sobretudo com os anteriores mais recentes, de Robert Downey Jr. e Benedict Cumberbatch, quase tímido em sua maneira de investigar ou segurar livros. Enola Holmes, apesar de subutilizar Helena Bonham Carter como a mãe da família Holmes, é uma mescla entre história simples (às vezes até excessivamente, principalmente em se tratando de envolver detetives) e bem feita, no sentido técnico. O design de produção, os figurinos e a fotografia são peças da engrenagem que funcionam em todos os momentos, e, apesar dos custos modestos de produção, nunca se sentem superficiais. É um conjunto muito bem montado e que nada fica a dever tecnicamente para os Sherlock Holmes de Guy Ritchie. Os campos esverdedeados, as grandes mansões e castelos, as ruas cheias de carroças de Londres são captados com rara eficiência pela fotografia de Giles Nuttgens.
O diretor acerta em nunca expandir demais os núcleos, deixando tudo levemente livre para que os personagens não se sintam muito pressionados pelos acontecimentos. É bem verdade que isso acaba apagando um pouco a atuação de Cavill e torna a veia cômica de Bobby Brown solitária, mas Louis Partridge, como seu interesse, é especialmente eficiente, ao tornar a personagem de Enola mais humana. É Bobby Brown que não permite que se trate de uma espécie de figura excessivamente inteligente ou convencida de técnicas que apenas seu irmão teria. Ela torna a personagem quase desprovida de convencimento, o que colabora para que a trama flua, e em alguns momentos é especialmente engraçada, como no momento em que se vê numa instituição rigorosa liderada por Miss Harrison (Fiona Shaw).
Os blocos da trama se movem também com uma edição muito ágil, com deslocamento de lugares sem afetar a compreensão do espectador. Os personagens também não adquirem muitas nuances capazes de deixá-los excessivamente herméticos e, nesse sentido, tudo se assemelha bastante a um conto de mistério sob uma ótica infantojuvenil um acerto da adaptação de Thorne. Não há muitos enigmas, nem pistas a serem seguidas: tudo é mais ou menos costurado para se chegar à finalidade desejada. Neste sentido, o filme de Bradbeer é um dos mais simpáticos e despretensiosos do ano.
Enola Holmes, EUA, 2020 Diretor: Harry Bradbeer Elenco: Millie Bobby Brown, Sam Claflin, Henry Cavill, Helena Bonham Carter, Louis Partridge, Burn Gorman Roteiro: Jack Thorne Fotografia: Giles Nuttgens Trilha Sonora: Daniel Pemberton Produção: Mary Parent, Alex Garcia, Ali Mendes, Millie Bobby Brown, Paige Brown Duração: 123 min. Estúdio: Legendary Pictures, PCMA Productions Distribuidora: Netflix