Por André Dick
Gremlins é uma comédia com elementos de terror dirigida pelo mesmo Joe Dante de Piranha e se constitui um dos clássicos remanescentes dos anos 80. Nele, um pai cientista querendo agradar a seu filho, Billy Peltzer (Zach Galligan), resolve presenteá-lo com um mogwai, criatura que encontra numa loja de relíquias chinesa. Ele não pode se alimentar depois da meia-noite, nem ser molhado ou exposto à luz. Caso contrário, pode acontecer um problema. Já sabemos que, diante da direção de Dante e da produção de Spielberg, o problema é perturbador e divertido. O rapaz dá o nome de Gizmo ao seu novo amigo e tem uma vida tranquila no banco da cidade onde mora, mas, antes de tudo, tenta se declarar a uma moça que trabalha numa lanchonete, Kate Beringer (Phoebe Cates).
No dia em que não segue às ordens dadas para que Gizmo não dê problemas, sua casa se transforma numa confusão, e panelas voam para todos os lados, em direção sobretudo à mãe de Billy. É preciso avisar a polícia, mas quem acredita em pequenos monstros saltando pelas ruas em plena noite natalina? Nesse ponto, a cidade já está completamente abandonada e mesmo no cinema, ao som de Branca de Neve e os sete anões, os monstrinhos, ou gremlins já estão queimando até as pipocas. Tudo o que se passa neste filme é absurdo, e Dante comprova nele o valor que já mostrara não apenas em Piranha, como também em Grito de horror, e que investiria novamente em Viagem insólita, Meus vizinhos são um terror e Matinê, este já nos anos 90.
O objetivo desta continuação é encadear gags a partir dessa situação em Nova York, com homenagens a vários filmes. Para realizar Gremlins 2 – A nova geração, Dante pediu liberdade total à Warner e investiu num roteiro de Charles S. Haas que começa com uma referência aos Looney Tunes e satiriza desde Batman e Rambo até musicais da MGM. É uma diversão notável – embora não raro forçada, no entanto talvez por isso mesmo encantadora.
Desta vez, Gizmo – que dava origem aos gremlins no primeiro filme – perde seu dono, o Sr. Wing (o chinês Keye Lucke). Em Nova York, ele se reencontra com o antigo dono, Billy, e sua namorada Kate. A ação se passa no prédio do magnata Daniel Clamp (o excelente John Glover), sempre acompanhado por seu braço direito, Forster (o ótimo Robert Picardo). O mogwai é molhado pela água de um bebedouro, dando origem à nova geração de monstrinhos, maiores e piores. O primeiro, levado por engano para casa por Kate, é completamente alucinado, com os olhos rodando a todo vapor. Por sua vez, os vizinhos do casal da cidade de origem, Murray Futterman (Dick Miller) – aquele que gritava no original que se chamavam “gremlins” determinados aviões da Segunda Guerra Mundial – e sua esposa Sheila (Jackie Joseph), aparecem para visitar o casal e novamente se envolvem com a confusão generalizada provocada pelas criaturas ameaçadoras.
Essas invadem o laboratório do Dr. Catheter (Christopher Lee, em participação antológica) e passam a tomar produtos químicos, surgindo gremlins dos mais diversos tipos. Tudo muito original, com as tintas acentuadas pela trilha sonora circense de Jerry Goldsmith, um exemplo de cinema independente bancado pela indústria. Em meio à confusão, um figurante de uma série de terror gravada no prédio, vovô Fred (Robert Prosky), decide virar repórter para cobrir os acontecimentos.
Com algumas boas piadas que se perdem na tela pequena (spoiler a seguir), como a interrupção do filme pelos gremlins como se estivessem na cabine do projetor do cinema, e mesmo inferior ao original (um clássico do humor) Gremlins 2, de qualquer modo, é uma diversão contagiante, pois consegue, por meio de seu cenário único, levar o espectador aos lugares e sensações mais inusitados, colocando até o conhecido crítico Leonard Maltin em situação delicada. A coleção de gremlins, como no original, representa os humanos num sentido hiperbólico, por isso revela que Joe Dante é um mestre nesse sentido. Em Grito de horror, ele mostrava uma comunidade de lobisomens aterrorizando humanos e em Meus vizinhos são um terror um bairro em polvorosa por causa da chegada de uma nova família, estranha e que não saía à luz do sol. Dante tem um talento especial para elaborar personagens cartunescos que não chegam a ser caricaturas, ou seja, é possível reconhecer neles traços humanos e mesmo sensíveis. Em Gremlins 2, ele associa os monstrinhos à organização da sociedade de maneira ainda mais elaborada, em alguns momentos bastante engraçada. É um exemplo de cinema anárquico e até, de certo modo, conceitual.
Gremlins 2 – The new batch, EUA, 1990 Diretor: Joe Dante Elenco: Zach Galligan, Phoebe Cates, John Glover, Robert J. Prosky, Robert Picardo, Christopher Lee, Dick Miller, Jackie Joseph, Keye Lucke Roteiro: Charles S. Haas Fotografia: John Hora Trilha Sonora: Jerry Goldsmith Produção: Michael Finnell Duração: 106 min. Estúdio: Amblin Entertainment (Amblin Partners) Distribuidora: Warner Bros.