25 melhores filmes brasileiros dos anos 80

Por André Dick

Há algum tempo queria fazer uma seleção daqueles que considero os melhores filmes brasileiros dos anos 80. Foi uma década muito profícua no nosso cinema, não apenas com os sucessos de bilheteria dos Trapalhões, em seu auge, como também na ousadia de lidar com diferentes linguagens, em níveis experimentais, como nas peças de Glauber Rocha, Arnaldo Jabor e Júlio Bressane, e mesmo em comédias de Ivan Cardoso. Também tivemos a revelação de cineastas como Murilo Salles, Antônio Calmon e Jorge Furtado e a confirmação de talentos como os de Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Hector Babenco, Ruy Guerra, João Batista de Andrade e Nelson Pereira dos Santos. Uma década que trouxe filmes referenciais até hoje para a nossa cinematografia, em termos de criação e de atuação, com uma série de atores e atrizes excepcionais. Antes dos 25 melhores filmes segundo minha preferência, apresento uma lista de menções honrosas, com obras que também considero relevantes.

Menções honrosas: Nunca fomos tão felizes (Murilo Salles), Os trapalhões e o auto da Compadecida (Roberto Farias), Rio Babilônia (Neville d’Almeida), Inocência (Walter Lima Jr.), Rock Estrela (Lael Rodrigues), Quilombo (Cacá Diegues), O grande mentecapto (Oswaldo Caldeira), Feliz ano velho (Roberto Gervitz), Garota dourada (Antônio Calmon), Doida demais (Sérgio Rezende), Sargento Getúlio (Hermanno Penna), Asa Branca – Um sonho brasileiro (Djalma Limongi Batista), Os Sermões (Júlio Bressane), Cinema falado (Caetano Veloso), Maneco, o super tio (Flavio Migliaccio), Eu sei que vou te amar (Arnaldo Jabor)

Com clara inspiração na nouvelle vague de Godard, Eu te amo é um dos principais projetos de Arnaldo Jabor e um fantástico sucesso de bilheteria, com grande trabalho de fotografia do futuro diretor Murilo Salles, principalmente do apartamento do personagem de Paulo (Paulo Cesar Pereio), industrial que faliu e se envolve com Maria (Sônia Braga), num relacionamento problemático e repleto de aspirações estranhas. Com longos monólogos e diálogos que evocam uma peça de teatro, este é um exemplo interessante de cinema baseado nos atores e no cenário, como arquitetura para os movimentos, antecedendo outro experimento de Jabor, em Eu sei que vou te amar, com características muito semelhantes.

Com direção de Guilherme de Almeida Prado, A dama do cine Shanghai mostra o relacionamento entre um corretor de imóveis, Lucas (Antônio Fagundes), e uma mulher misteriosa, Suzana (Maitê Proença), que se parece com a atriz do filme que está sendo exibido no cinema onde se conhecem. Com bela iluminação noturna e procurando diálogo com o policial noir, o filme de Almeida Prado reúne design de produção e narrativa simples para conquistar o espectador.

Documentário que levou ao reconhecimento do diretor Jorge Furtado, mostrando como se desenrola a trajetória de um tomate, desde quando é plantado até quando pode virar apenas um resquício de lixo numa das ilhas que cercam Porto Alegre, Ilha das flores foi vencedor do Urso de Prata para curta-metragem no 40° Festival de Berlim em 1990. A rápida narrativa, com uma edição muito ágil, típica de Furtado, tem uma sensibilidade única na abordagem dessa questão social, sempre avançando em certo humanismo angustiado inerente ao diretor.

Sob influência de Pedro Almodóvar e seus filmes dos anos 80, principalmente Mulheres à beira de um ataque de nervos, Cacá Diegues coloca Marília Pêra como Maryalva Matos, que trabalha como dubladora de seriados norte-americanos para a televisão, principalmente o de Mary Shadow (Rita Lee), e tem a expectativa de se tornar reconhecida mundialmente. Baseado numa história de Antônio Calmon, Diegues mostra seu estilo que remete também a Bye Bye Brasil e sempre a personagens que, na realidade, tentam conseguir alcançar seu sonho, às vezes não tão palpável, o que acontecia no seu belo exemplar anterior, Um trem para as estrelas. Com narrativa leve e ao mesmo tempo cômica e emocional, é um dos filmes com mais bela fotografia da história do cinema brasileiro.

Um jogador de sinuca (Adriano Stuart), seu assistente (Antonio Abujamra) e Jardas, um tocador de gaita (Jorge Mautner) são três homens que se encontram numa festa – e o filme se passa neste único ambiente com um domínio de direção irretocável de Ugo Giorgetti – onde o garçom é um divertido Otávio Augusto e um ator o ótimo Ney Latorraca. Com um cenário capaz de remeter a alguns experimentos de Antonioni, Festa é um belo exemplar de cinema independente no Brasil, com um design de produção muito funcional para a ação teatral de toda a narrativa, mas sem nunca cair numa mera troca de diálogos. Além disso, consegue utilizar muito bem a ideia de pessoas que esperam seu momento de entrar em cena, como numa peça de teatro.

Baseado no romance de Antônio Callado, Kuarup acompanha a trajetória do padre Nando, que vai até o olto Xingu acompanhar a vida dos índios. Após deixar o sacerdócio, ele passa a ser um indigenista, lutando contra as questões sociopolíticas de sua época, anos 60. Com uma atuação comedida de Taumaturgo Ferreira e as boas presenças de Maitê Proença e Cláudia Raia, o filme tem um diálogo com A missão, com De Niro, de alguns anos, e também antecipa certa visão de Brincando nos campos do senhor, de Hector Babenco, no início dos anos 90. Ainda possui a atuação competente de uma jovem Fernanda Torres, como Francisca. De modo geral, é um retrato melancólico sobre o homem desbravando o interior do Brasil e tentando ligar a origem e os dias em que vive de modo problemático.

José Dumont tem um papel antológico em O homem que virou suco, de João Batista de Andrade, como o poeta popular nordestino Deraldo, que vem trabalhar em São Paulo e é confundido com um operário que cometeu um grave crime, Severino, responsável por matar o chefe de uma multinacional. Com muitos momentos satíricos e um senso de humor beirando o corrosivo, é um dos grandes filmes dos anos 80. A narrativa apresenta um senso de humor inesperado, fazendo com que a condição do personagem soe, ao mesmo tempo, muito divertida e também comovente, o que se destaca na atuação de Dumont.

O cineasta Cacá Diegues emprega uma sucessão de imagens oníricas em Um trem para as estrelas, situado entre a noite e o dia de um Rio de Janeiro dos anos 80, com Guilherme Fontes no papel de Vinícius, um saxofonista que sonha em fazer sucesso e ganha sua primeira grande chance participando de uma gravação com Cazuza. Sua namorada, no entanto, desaparece e ele vai tentar encontrá-la, contra todas as probabilidades. Taumaturgo Ferreira é seu amigo, que pretende se envolver numa situação arriscada. O melhor da obra de Diegues é seu nonsense, as situações um tanto absurdas e uma poeticidade que vai da fotografia ao comportamento ingênuo do personagem central.

O diretor Chico Botelho em Cidade oculta transforma São Paulo num jogo de luzes e sombras, com números musicais na penumbra, em boates, e um clima de noir e perseguição policial. Os personagens de Arrigo Barnabé e Carla Camuratti simbolizam esse universo de maneira autêntica, ele como Anjo, que saiu da cadeia, ela como Shirley Sombra, às voltas com um policial inconfiável (Cláudio Mamberti). A trilha com canções de Arrigo ecoa por toda a narrativa, dialogando com as subtramas e as figuras estranhas do submundo paulistano que vão surgindo.

Na linha de Bete Balanço e Rock estrela, Rádio Pirata foi o terceiro filme de Lael Rodrigues. É o mais político dos três, apesar da presença musical corrente, cercada por artistas da cena dos anos 80. Um homem, Carlos Braga (Ewerton Castro) está às voltas com uma organização criminosa que age nas sombras e recebe e a ajuda de Pedro Bravo (Jayme Periard) para tentar denunciá-la. Ele se envolve com Alice (Lídia Brondi). Com os pôres do sol alaranjados do Rio de Janeiro, impressiona o quanto o visual parece influenciado pela obra de Tony Scott, principalmente Um tira da pesada II e Top Gun. Normalmente visto como um desastre, é, pelo contrário, uma obra que espelha seu tempo, com certa paranoia ligada a temas de invasão da privacidade e atuações muito dedicadas de Brondi e Periard.

Um dos maiores sucessos do cinema brasileiro, Os saltimbancos trapalhões se passa no circo Bartholo, onde trabalham como contra-regras Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, explorados por Barão (Paulo Fortes), o dono da atração. A filha de Barão, Karina (Lucinha Lins), é a paixão de Didi, embora já tenha um namorado. Com uma grande passagem pela imaginação de Hollywood, a trilha sonora com canções de Chico Buarque se antecipa a um belo conjunto de cenários. Dirigido por J.B. Tanko, é uma espécie de mistura entre humor, drama e musical, apresentando os Trapalhões em grande momento, além de Lucinha Lins, com cuidado cenográfico especial na sua alternância de cenários.

Um dos filmes brasileiros mais experimentais, dirigido por Júlio Bressane, com toda a influência das linguagens de vanguarda e da poesia concreta (nos créditos iniciais, por exemplo), Tabu retrata um encontro imaginário entre Lamartine Babo (Caetano Veloso) e Oswald de Andrade (Colé Santana) no Rio de Janeiro, abordando temas como a poesia e o carnaval. Com sua fotografia espetacular, em certos instantes em preto e branco, de Murilo Salles, o roteiro atinge uma linha fina de humor com um tom documental sempre interessante.

Em Eles não usam black-tie, o excepcional Gianfranseco Guarniri faz o pai de família Otávio, que trabalha como operário, assim como o filho Tião (Carlos Alberto Riccelli), enquanto tem conflitos em casa com a esposa Romana (Fernanda Montenegro). O contexto é o início das lutas de sindicato nos anos 70, e o filme tenta construir um panorama sociopolítico com certo romantismo, sob um olhar atento de Leon Hirszman. O filme se baseia na peça de teatro escrita pelo próprio Guarnieri e guarda diálogos competentes em toda parte, tentando focar de maneira direta os movimentos abordados por cada personagem.

Comédia de André Klotzel, A marvada carne é uma compilação de lendas e folclore como poucas vezes vista no cinema. Em ritmo bem empregado de humor, Fernanda Torres, um ano antes de se consagrar em Cannes com o prêmio de melhor atriz por Eu sei que vou te amar, faz Carula, uma menina do interior que quer a todo custo se casar e tem em Nhô Quim (Adilson Barros) um pretendente, cujo sonho é encontrar uma companheira e comer carne de vaca. Ela mente que o seu pai Nhô Totó (Dionísio Azevedo) possui o animal. Certamente é um dos filmes precursores de TV Pirata, ainda com a figura de Regina Casé, excelente como coadjuvante.

Este é um dos filmes que mais caracterizam o cinema brasileiro dos anos 80. Inesperadamente melancólico, com um personagem errante feito por Pepeu (Ricardo Graça Mello), que é adotado por um surfista, Ricardo Valente (André de Biase), Menino do Rio tem a direção de Antônio Calmon, que sabe construir com leveza personagens despretensiosos e coloca aqui Regina Casé e Evandro Mesquita em papéis que os tornariam populares. Menino do Rio traz uma atmosfera demarcada e dedicada a um certo romantismo perdido no tempo, principalmente na paixão de Valente por Patrícia (Cláudia Magno). Há um certo conflito de comportamento, no entanto se registra sempre o núcleo de personagens como algo que remete a uma incorporação das belezas naturais.

Único filme brasileiro (não importa se falado em inglês) indicado aos Oscars de melhor filme, direção e roteiro adaptado, tendo recebido um de melhor ator (para o excepcional William Hurt, em momento irretocável). Babenco acerta em tudo, desde a fotografia e música até a escolha de Sônia Braga para o papel-título. Toda a narrativa se passa numa prisão, em São Paulo, onde um homossexual chamado Molina (Hurt) convive com Valentin (Raul Julia). Para passar o tempo, ele conta uma história de um filme que vira no passado. É uma relação que emociona e nunca chega a cansar, misturando amizade e conflitos políticos. Além disso, há um excelente elenco de atores brasileiros (Milton Gonçalves, José Lewgoy, Nuno Leal Maia), ajudando a transformar esse filme numa obra-prima (que encerra com um travellig brilhante de Babenco).

Dirigido por Roberto Farias, o filme mostra Reginaldo Farias interpreta Jofre Godoi da Fonseca, visto como uma ameaça por homens ligados à Ditadura durante o ano de 1970, enquanto ocorre a Copa do Mundo no México. Pra frente, Brasil registra o microscomo daqueles que o cercam e pretendem encontrá-lo, a começar por sua esposa Marta (Natália do Valle) e pelo irmão Miguel (Antônio Fagundes), envolvido com uma guerrilheira, Mariana (Elizabeth Savalla). Pra frente Brasil é o retrato oitentista de um período que se encontrava ainda em vigência, com cenas violentas alternando com momentos de intensidade dramática.

O diretor de Vidas secas, Nelson Pereira dos Santos, volta à obra de Graciliano Ramos, desta vez sobre a prisão de Luiz Carlos Prestes, em atuação de Carlos Vereza. Passado nos anos 60, quando os militares prenderam Prestes e o mandaram para a Colônia Penal da Ilha Grande, Memórias do cárcere mostra sua tentativa de adaptação a um ambiente conturbado e sua distância da esposa (Gloria Pires). Editado com equilíbrio e muitas cenas contemplativas, é um dos retratos interessantes do cinema dos anos 80, numa trama de três horas, inusual em termos de cinema brasileiro, no entanto muito fluida e direta.

Este deve ser um dos filmes brasileiros mais subestimados. Baseado no romance de Jorge Amado, Bruno Barreto faz um trabalho muito interessante com um apanhado sintético de muitos personagens e subtramas com um foco simples, direto, mas eficiente. Marcello Mastroianni brilha como o dono de um bar em Ilhéus que se apaixona por Gabriela, em desempenho de Sônia Braga, que dá continuidade ao que fez quase uma década antes na novela. A fotografia de Carlo Di Palma é nada menos do que extraordinária, possivelmente entre as melhores do cinema brasileiro de todos os tempos. A trama tem muitas lacunas, no entanto o núcleo é bem desenvolvido, tratando de status e respeito num lugar em que a autoridade se dá sob todos os pontos de vista e no qual alguns parecem ter uma vida dupla.

Escolhido por muitos, inclusive em associações de críticos estrangeiras, como o melhor filme nacional dos anos 80, Pixote faz uma síntese da vida do menor abandonado no Brasil. Não existe qualquer vestígio de emoção, a narrativa é crua, não tendo receio de mostrar a violência, a pobreza, o sexo no submundo, na metrópole de São Paulo. Fernando Ramos, bom ator (morto pela polícia em 1987, de fato), representa o Pixote do título, perseguido pela polícia. Dirigido com maestria por Hector Babenco, o filme mostra sua trajetória pela Febem, passando por relações com traficantes e a amizade com uma prostituta (Marília Pêra, que aparece na meia hora final, em interpretação excepcional). O filme continua duramente atual, até mais do que qualquer outro feito atualmente, e é bem melhor, por exemplo, do que Carandiru, também do diretor, que atenua a violência e certa atmosfera opressiva, o que não ocorre aqui.

O livro policial de Murilo Salles baseado no romance de Fernando Sabino é quase documental como o livro, distribuindo parcelas de suspeitos e investigados com atuação irretocável de Paulo José como um homem que descobre que sua mulher o está traindo com o principal parceiro de trabalho num escritório de advocacia. O clima urbano e de opressão se estende a tudo, desde o filho do advogado ouvindo “Bichos escrotos”, dos Titãs, na sala da casa, passando pelo crime cometido, até a revelação derradeira. Ainda com uma bela atuação coadjuvante de Marieta Severo, Faca de dois gumes é uma das grandes revelações da década de 80, e um dos exemplares mais subestimados.

Mesmo para quem acompanha o Glauber Rocha desde Terra em transe e Deus e o diabo na terra do sol vai colocar A idade na terra, lançado no Festival de Veneza, no posto de papel máximo do hermetismo, com sua combinação aleatória de figuras que remetem, segundo ele mesmo, aos quatro cavaleiros do Apocalipse, interpretados por Antonio Pitanga, Jece Valadão, Tarcísio Meira e Geraldo Del Rey, sob o céu azul de Brasília e os construtores de novos prédios, da Bahia, no carnaval do Rio de Janeiro entre conversas sobre política, casamento e promessas. Visualmente lindo, esta peça de Glauber mistura seu arsenal sobre o Brasil como uma miscelânea de povos, partindo de uma aurora que remete a 2001 para atravessar sons tribais e a caixas de som do carnaval fluminense, até ver Tarcísio Meira, em momento brilhante, como um Dom Sebastião sobre rochedos à beira-mar.

Dirigido por Ivan Cardoso, com uma visão muito interessante dos clássicos de terror da Universal do anos 30 e homenagens ao cinema mudo, O segredo da múmia é um dos pontos de partida da comédia brasileira que dialoga com o Mel Brooks de O jovem Frankenstein. Um cientista, Expedito Vitus (Wilson Grey), quase sempre acompanhado por um braço direito atrapalhado, descobre uma múmia numa viagem ao Egito e a traz para o Rio de Janeiro, trazendo consigo a imagem de Runamb (Anselmo Vasconcelos). Com Regina Casé engraçadíssima como sua governanta, ele recebe as visitas indesejadas de um jornalista que deseja saber o que está acontecendo. O humor é nonsense e o orçamento limitado levado ao máximo do cômico e do humor involuntário brilhante – ainda com a ótima participação de Evandro Mesquita como o jornalista.

O romance de Clarice Lispector se transforma pelas mãos de Suzana Amaral numa obra sobre a atemporalidade do ser humano generoso e que vai contra todas as expectativas enfrentar a realidade. Marcélia Cartaxo como Macabéa é a construção da mulher em dificuldade, num cenário de pressão por todos os lados, mas que sonha com uma vida ao lado de um futuro político, feito por José Dumont. Lindamente melancólico, A hora da estrela retrata uma condição sem nunca menosprezar os personagens e consegue inserir o espectador no seu cenário quase sempre desolador.

Oswald de Andrade observava em seu “Manifesto Antropófago”: “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”. Mas de que felicidade Oswald trata? Não seria o próprio Oswald um autor melancólico? O filme O homem do Pau Brasil, de Joaquim Pedro de Andrade, que pouco mais de uma década antes havia feito a adaptação para o cinema de Macunaíma, é a representação de parte dessa história e da dicotomia que permeia a civilização brasileira. Com Eduardo Galvão e Itala Nandi fazendo, ao mesmo tempo, a versão masculina e feminina do poeta, o filme revela os movimentos pelos quais passou o poeta, principalmente por Paris. Com um olhar buscando a fragmentação, pequenas esquetches, como os próprios poemas da fase Pau-Brasil de Oswald, em cápsulas, apesar de haver referências a, sobretudo, Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, O homem do Pau-Brasil é a descoberta da Torre Eiffel por uma luneta no interior do Brasil. É múltiplo, caótico, bem-humorado, sarcástico, corrosivo e belíssimo exemplar do cinema dos anos 80.

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