Por André Dick
Melhor filme
Nada de novo no front
Avatar – O caminho da água
Os Banshees de Inisherin
Elvis
Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Os Fabelmans
Tár
Top Gun: Maverick
Triângulo da tristeza
Entre mulheres
Alguns indicados na categoria principal do Oscar são muito estimados pela crítica em geral. Sabe-se dos grandes elogios a obras como Os Banshees de Inisherin, Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo e Os Fabelmans. Em segundo plano, ficam Tár, sobre uma música interpretada por Cate Blanchett, muito bem feito mesmo um pouco vazio de sentimento, e Avatar – O caminho da água, o meu preferido desta lista. Elvis é um ótimo filme, mas infelizmente rotulado como mera cinebiografia, quando realmente tem qualidades especiais. Triângulo da tristeza é outra obra provocativa, embora esta bastante falha, do sueco Ruben Östlund, que tem sido bastante recepcionado em Cannes, já com duas Palmas de Ouro na bagagem, inclusive por esse filme. O alemão Nada de novo no front é tecnicamente exuberante e funciona bem até a metade, depois o ritmo atenua, no entanto é, sem dúvida, um destaque. E Entre mulheres é o filme que se assemelha a Adoráveis mulheres, de Greta Gerwig. Dos selecionados, talvez a maior surpresa seja Top Gun: Maverick, uma sequência de um filme muito querido dos anos 80 e que consegue com ideias simples agradar tanto à grande plateia quanto à Academia. Alguns filmes mereciam ter sido considerados, como Babilônia e o mal avaliado Amsterdam, melhor do que a maior parte desses indicados. Do mesmo modo, Batman, de Matt Reeves, é uma adaptação incrível de HQs, e Armaggedon time talvez o melhor filme de James Gray. Também há outras belas obras, como Crimes do futuro, do habitualmente ignorado David Cronenberg, e Bardo, de Alejandro G. Iñárritu, receber apenas uma indicação ao Oscar de melhor fotografia mostra o distanciamento da Academia de um cinema mais complexo, o que é uma pena e sinal dos tempos. Blonde também é um filme excelente que a escalada avessa da crítica fez contaminar também o público, rotulando o projeto como excessivo, quando é uma visão crua e nos moldes de David Lynch da trajetória de uma estrela que querem ver como inspiração e sexy simbol – a obra a apresentou apenas com as angústias de um ser humano.
Melhor direção
Daniel Kwan e Daniel Scheinert, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Martin McDonagh, por Os Banshees de Inisherin
Ruben Östlund, por Triângulo da tristeza
Steven Spielberg, por Os Fabelmans
Todd Field, por Tár
Aqui temos um diretor já com dois Oscars, Steven Spielberg, vencedor por A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan e Todd Field já teve Entre quatro paredes bem recepcionado em 2002. Os Daniels são bastante elogios por seu trabalho em Tudo em todo o lugar, enquanto Östlund é um diretor sueco bastante elogiado desde Força maior e The Square, este vencedor da Palma de Ouro em Cannes, como Triângulo da tristeza. Martin McDonagh não recebeu indicação ao Oscar por Três anúncios para um crime, filme bem melhor do que Os Banshees de Inisherin, no qual quis apostar mais num humor menos acessível em termos sentimentais. Há diretores que mereciam indicação, começando por James Cameron e seu trabalho fantástico em Avatar – O caminho da água; é o mesmo caso de Damien Chazelle por Babilônia. Vencedor do Oscar por La La Land, não conseguiu repetir o feito em O primeiro homem e neste novo filme. Vencedor por Birdman e O regresso, a direção de Alejandro G. Iñárritu em Bardo é excelente mais uma vez.
Melhor ator
Austin Butler, por Elvis
Colin Farrell, por Os Banshees de Inisherin
Brendan Fraser, por A baleia
Paul Mescal, por Aftersun
Bill Nighy, por Living
Austin Butler é um nome cotado desde a estreia de Elvis, por sua atuação extraordinária. Farrell teve um bom ano também fazendo o Pinguim de Batman, e sua atuação em Os Banshees de Inisherin é competente, mas não me parece para estatueta. Ainda não vi a atuação elogiada de Fraser por A baleia, nem a de Bill Nighy em Living. Não entendo a inclusão de Paul Mescal, talvez por Aftersun ter sido bem recebido pela crítica. O roteiro não o ajuda e não me parece atuação destacada. Uma pena Banks Repeta não ter sido considerado por Armageddon time. Uma bela atuação mirim. Diego Calva tem uma atuação singular em Babilônia, mesmo que seu personagem seja às vezes colocado em segundo plano pela miscelânea de acontecimentos. Adam Driver também está excelente, com timing de humor perfeito, em Ruído branco. O mesmo em relação a Viggo Mortensen, fora de série em Crimes do futuro. Gosto muito também de Adam Sandler em Arremessando alto e de Christian Bale em Amsterdam, além de Robert Pattinson, ignorado injustamente por Cosmópolis e O farol, ter ótima atuação em Batman. Ralph Fiennes apresenta atuação muito boa em O menu.
Melhor atriz
Cate Blanchett, por Tár
Ana de Armas, por Blonde
Andrea Riseborough, por To Leslie
Michelle Williams, por Os Fabelmans
Michelle Yeoh, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Cate Blanchett teve um crescimento muito significativo nas atuações depois que trabalhou com Terrence Malick em Cavaleiro de copas e De canção em canção. É a favorita por Tár, uma excelente atuação, contudo Ana de Armas entrega o melhor de sua trajetória em Blonde. Não consigo ver motivos para a indicação de Michelle Williams, uma atriz com atuações mecânicas, como a de Os Fabelmans, e Michelle Yeoh faz o possível com o fraco roteiro de Tudo em todo o lugar. Não vi Andrea Riseborough. Acho que podiam ter lembrado de Carey Mulligan e Zoe Kazan por Ela disse. Florence Pugh merece consideração por Não se preocupe, querida, embora digam que sua melhor atuação está em O milagre, com que não concordo. Jessie Buckley tem ótima atuação no terror Men.
Melhor ator coadjuvante
Brendan Gleeson, por Os Banshees de Inisherin
Brian Tyree Henry, por Causeway
Judd Hirsch, por Os Fabelmans
Berry Keoghan, por Os Banshees de Inisherin
Ke Huy Quan, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Ke Huy Quan, de Os Goonies e Indiana Jones e o templo da perdição, é o favorito por Tudo em todo o lugar. Brendan Gleeson e Berry Keoghan têm boas atuações em Os Banshees de Inisherin, embora não a ponto de tornar o filme mais comunicável em seus sentimentos, e Judd Hirsch tem participação correta, mas nada de marcante, em Os Fabelmans. Eu teria lembrado de Chris Pine por sua atuação em Não se preocupe, querida. Outros esquecidos: Tom Hanks (Elvis) – indicado de maneira ridícula no Framboesa de Ouro –, Anthony Hopkins (Armageddon time), John Turturro (Batman), Edward Norton (Glass Onion), Mark Rylance (Até os ossos).
Melhor atriz coadjuvante
Angela Bassett, por Pantera Negra – Wakanda para sempre
Hong Chau, por A baleia
Kerry Condon, por Os Banshees de Inisherin
Jamie Lee Curtis, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Stephanie Hsu, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Adoro a atuação de Angela Bassett no novo Pantera Negra, fazendo um blockbuster ganhar densidade com sua participação. Não chego a achar as atuações de Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu destacadas em Tudo em todo o lugar, e ainda não vi Hong Chau. Kerry Condon tem atuação discreta em Os Banshees de Inisherin, nada que, a meu ver, representasse indicação. Por que não lembrar de Kristen Stewart e sua grande atuação em Crimes do futuro?
Melhor roteiro original
Martin McDonagh, por Os Banshees de Inisherin
Daniel Kwan e Daniel Scheinert, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Steven Spielberg e Tony Kushner, por Os Fabelmans
Todd Field, por Tár
Ruben Östlund, por Triângulo da tristeza
Não vejo grandes destaques nesses indicados a melhor roteiro original, mas talvez Todd Field seja aquele que elabore uma história mais interessante. O roteiro de Os Fabelmans é correto; o de Os Banshees de Inisherin tenta fazer o existencial soar pop, no que se perde, e os de Tudo em todo lugar e Triângulo da tristeza talvez representem uma época em que se privilegia mais a velocidade e o discurso do que a consistência em termos de vínculos entre personagens. O trabalho de Bardo é notável, assim como os de Armageddon time e Crimes do futuro. Aprecio também como contam a história do astro de Elvis.
Melhor roteiro adaptado
Edward Berger, Lesley Paterson e Ian Stokell, por Nada de novo no front
Rian Johnson, por Glass Onion: Um mistério Knives Out
Kazuo Ishiguro, por Living
Kazuo Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie, por Top Gun: Maverick
Sarah Polley, por Entre mulheres
Surpreendente a indicação de Top Gun: Maverick pela simplicidade, embora competência, do roteiro. Gosto também dos roteiros de Nada de novo no front e Glass onion, com alguns problemas, mas funcionais. Os dois outros ainda não vi. Teria colocado entre as opções de indicação Blonde, Ruído branco, O homem do norte e Não se preocupe, querida.
Melhor filme internacional
Nada de novo no front (Alemanha)
Argentina, 1985 (Argentina)
Close (Bélgica)
EO (Polônia)
The quiet girl (Irlanda)
Não vi ainda EO e Close. Desses indicados aprecio Nada de novo no front e acho The quiet girl um dos mais superestimados do ano. Apreciei filmes como Bardo, falsa crônica de algumas verdades e Holy spider, uma espécie de David Fincher iraniano, incrível em sua crítica de costumes. O brasileiro Marte Um poderia ter sido considerado: é muito sensível. Alguns devem ter sentido falta do indiano RRR, que recebeu o prêmio no Critics Choice Awards, mas não é minha xícara de chá.
Melhor animação em longa-metragem
Pinóquio de Guillermo Del Toro
Marcel the shell with shoes on
Gato de botas 2 – O último pedido
A fera do mar
Red – Crescer é uma fera
O favorito é o Pinóquio de Del Toro, mas não chego a ser grande admirador do projeto. Os demais têm boas qualidades, embora eu não tenha visto Marcel the shell with shoes on.
Melhor documentário em longa-metragem
All that breathes
All the beauty and the bloodshed
Fire of love
A house made of splinters
Navalny
Melhor documentário em curta-metragem
The elephant whisperers
Haulout
How do you measure a year?
The Martha Mitchell Effect
Stranger at the gate
Melhor animação em curta-metragem
The boy, the mole, the fox and the horse
The flying sailor
Ice Merchants
My year of dicks
Ishiguro, por Living
Ehren An Ostrich Told Me the World is Fake and I Think I Believe It
Melhor curta metragem em live-action
An Irish Goodbye
Ivalu
Le pupille
Night ride
The red suitcase
CATEGORIAS TÉCNICAS
Melhor fotografia
James Friend, por Nada de novo no front
Darius Khondji, por Bardo, falsa crônica de algumas verdades
Mandy Walker, por Elvis
Roger Deakins, por Império da luz
Florian Hoffmeister, por Tár
Melhor trilha sonora
Volker Bertelmann, por Nada de novo no front
Justin Hurwitz, por Babilônia
Carter Burwell, por Os Banshees de Inisherin
Son Lux, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
John Williams, por Os Fabelmans
Melhor canção original
Sofia Carson – “Applause” (de Tell it Like a Woman)
Lady Gaga – “Hold my hand” (de Top Gun: Maverick)
Rihanna – “Lift me Up” (de Pantera Negra – Wakanda para sempre)
“Naatu Naatu” (de RRR)
Son Lux – “This is a Life” (de Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo)
Melhor edição
Mikkel E.G. Nielsen, por Os Banshees de Inisherin
Matt Villa e Jonathan Redmond, por Elvis
Paul Rogers, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Monika Willi, por Tár
Eddie Hamilton, por Top Gun: Maverick
Melhor design de produção
Nada de novo no front
Avatar – O caminho da água
Babilônia
Elvis
Os Fabelmans
Melhor figurino
Mary Zophres, por Babilônia
Ruth E. Carter, por Pantera Negra – Wakanda para sempre
Catherine Martin, por Elvis
Shirley Kurata, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Jenny Beavan, por Sra. Harris vai a Paris
Melhor cabelo e maquiagem
Nada de novo no front
Batman
Pantera Negra – Wakanda para sempre
Elvis
A baleia
Melhor som
Nada de novo no front
Avatar – O caminho da água
Batman
Elvis
Top Gun: Maverick
Melhores efeitos visuais
Nada de novo no front
Avatar – O caminho da água
Batman
Pantera Negra – Wakanda para sempre
Top Gun: Maverick
Na parte técnica, Avatar – O caminho da água, Top Gun: Maverick, Pantera Negra – Wakanda para sempre, Elvis, Os Fabelmans, Nada de novo no front e Babilônia se destacam. Mas Amsterdam ser ignorado, com seu design de produção criativo e figurino irretocável, além da fotografia de Emmanuel Lubezki, embora não a melhor do ano, pois ele não usa aqui toda a sua criatividade, com seu aspecto de filme atemporal, mostra que a Academia se baseou demais na recepção da crítica. Batman merecia mais consideração em melhor fotografia e trilha sonora, grandes componentes do filme de Reeves. Blonde é esquecido de maneira desigual, pois deveria ter sido lembrado em fotografia, design de produção, figurino e trilha sonora. E mesmo o novo Avatar não recebeu indicações a todos os prêmios técnicos que mereciam, pois é um triunfo visual nos moldes de O senhor dos anéis. Jurassic World – Domínio merecia pelo menos indicação pelos ótimos efeitos visuais. Não se preocupe, querida tem lindo design de produção e figurino, além de fotografia – completamente esquecidos. O homem do norte também completamente esquecido pela parte técnica irretocável, ao lado de Animais fantásticos – Os segredos de Dumbledore (o que afeta principalmente o prestígio de obras com elementos fantásticos). Ou seja, a Academia centraliza ainda indicações nos filmes vistos como principais e ignora em parte alguns que ficam mais à margem das discussões.
A festa do Oscar acontece em 12 de março.