Adão negro (2022)

Por André Dick

Bastante aguardado e com grande marketing, Adão negro apresenta uma narrativa que não chega a criar um elo com os outros filmes do universo compartilhado da DC, e talvez esteja aí a sua maior originalidade. O filme apresenta um prólogo no qual um rei maléfico domina uma localidade chamada Kahndaq, Ahk-Ton, Ele possui a coroa de Sabbac, capaz de emprestar a quem a possua um grande poder. Nesse momento, um jovem recebe os poderes de Shazam do mesmo Conselho de Bruxos que víamos no filme de David F. Sandberg em 2019.
Passando à época atual, Kahndaq sofre muito com um grupo chamado Intergangue e a arqueóloga Adrianna Tomaz (Sarah Shahi) pretende localizar a lendária coroa, ao lado do irmão Karim (Mo Amer) e de Ishmael Gregor ((Marwan Kenzari). Nessa empreitada, ela acaba por trazer de volta à vida Teth-Adam (Dwayne Johnson), tendo de solucionar os problemas que isso traz ao lado do filho Amon (Bodhi Sabongui).

A oficial do governo dos EUA Amanda Waller (Viola Davis) vê a figura ressuscitada como uma ameaça e entra em contato com a Sociedade da Justiça: Doctor Fate (Pierce Brosnan), Cyclone (Quintessa Swindell), Hawkman (Aldis Hodge) e Atom Smasher (Noah Centineo), que parte para Kahndaq. Este grupo lembra bem o Gavião Arqueiro, o Homem-Formiga etc.
No escopo temático, a narrativa tentar se desvincular de Guerra Civil, visualizando essa Sociedade da Justiça como na verdade impostora, com a mesma tentativa do governo dos Estados Unidos de interferir em conflitos em países estrangeiros. No entanto, o roteiro entrega essa ideia de maneira excessivamente expositiva que pouco parece ficar para o espectador.
Em termos de diversão para o espectador, a história começa em plena ação e não chega a evoluir, para criar pelo menos blocos de filme; a tentativa de desenvolver os personagens se dá em meio às lutas, o que faz identificar uma fraqueza no roteiro, que procura disfarçar com adrenalina a falta de substância. A maneira como surge a figura principal conta com um visual ao mesmo tempo cuidadoso e bastante simplista. Lembra, por vezes, a ação desenfreada no início de Kong – A ilha da Caveira, com uma sátira à própria violência que mostra. Conta, sem dúvida, com uma boa atuação de Pierce Brosnan e alguns lances divertidos de Mo Amer, mas é fragilizado por um elenco fraco (Centineo, conhecido por filmes juvenis da Netflix, tem maior desenvoltura que o roteiro lhe permite) e sem uma linha básica de diálogos para seguir, sempre cortados por explosões e excessos sonoros (efeitos e trilha).

Além das gags, que certamente pediram para incluir a fim de atenuar violência. Talvez seja a direção menos elegante de Jaume Collet-Serra, de Águas rasas. Não que ele seja um diretor avesso a alguns exageros de estilo, como no seu cult A casa de cera, mas ele tem bons momentos quase clássicos no interessante e subestimado Junge Cruise. Esse estilo clássico se ausenta aqui em meio a uma violência pedestre e tentando soar bem-humorada, mesmo que consiga muitas vezes apresentar um visual com bom uso de cores pela fotografia do ótimo Lawrence Sher, que fez a de Coringa e de Godzilla vs Kong, e belo design de produção.
Ele até procura homenagear Zack Snyder, repetindo, inclusive, certas imagens de O homem de aço e 300, além de remeter a Sucker Punch, com muita câmera lenta, mas não apresenta a ressonância de um filme de Snyder. Acaba investindo num excesso de ação, sem elaborar personagens, com ritmo irregular. Ou seja, Adão negro é aquilo que costumam dizer de um filme de Snyder, no caso dele injustamente. Ele tenta em alguns momentos dialogar visualmente com outras obras do DCU, a exemplo de Mulher-Maravilha e Shazam!, mas, de modo geral, é tudo muito sem autenticidade e exagerado talvez não no melhor sentido. Mesmo para um admirador de Snyder é difícil aceitar o visual da luta derradeira de Batman vs Superman, e Adão negro parece amplificar este modelo, embora com efeitos visuais inegavelmente bem acabados.

Todos já sabem da participação de Henry Cavill, mas ela é tão curta que acredito que não precisaria se atrair parte do público com ela. Certamente foi incluída por causa de The Rock, mas merecia tempo de tela. Também me incomodou em Adão negro o ritmo imposto por algumas produções da Marvel, a exemplo de Guerra civil com excesso de cortes e personagens o tempo todo se desentendendo para subentender que algo está acontecendo na narrativa. Talvez seja a proximidade da Sociedade da Justiça com os Vingadores a partir do filme de duelo com o Capitão América que mais extraia originalidade que poderia haver em Adão negro. Vê-se que a Warner não tem clareza sobre os rumos dos seus personagens mesmo depois da recepção em geral muito boa de Liga da Justiça de Zack Snyder e acha realmente que a maior rival tem uma grande densidade para apresentar personagens, quando parece reproduzir aqui o que já vimos em Vingadores. Dwayne Johnson, o The Rock, usa o filme como fonte para seu grande momento como astro de Hollywood, mas, mesmo que não seja um bom ator, ele tem carisma, que parece se ausentar aqui. Mesmo que sua figura seja a de um anti-herói, e de que o filme atenue esta ideia, ele em nenhum momento chega a conferir o interesse que este personagem poderia ter.

Black Adam, EUA, 2022 Direção: Jaume Collet-Serra Elenco: Dwayne Johnson, Aldis Hodge, Noah Centineo, Sarah Shahi, Marwan Kenzari, Quintessa Swindell, Mo Amer, Bodhi Sabongui, Pierce Brosnan Roteiro: Adam Sztykiel, Rory Haines, Sohrab Noshirvani Fotografia: Lawrence Sher Trilha Sonora: Lorne Balfe Produção: Beau Flynn, Hiram Garcia, Dwayne Johnson, Dany Garcia Duração: 124 min. Estúdio: New Line Cinema, DC Films, Seven Bucks Productions, FlynnPictureCo. Distribuidora: Warner Bros. Pictures

 

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2 Comentários

  1. Alexandre Freire Osti

     /  31 de outubro de 2022

    Se a crítica “especializada que adorou a porcaria da shee hulk não gostou de Adão Negro já é um bom indício que o filme é bom…

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    • André Dick

       /  10 de novembro de 2022

      Sou grande admirador de alguns filmes da DC. Este, infelizmente, me parece longe dos melhores momentos da companhia.

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