Melhores filmes 1980-1989

Por André Dick

Melhores filmes.1980.1989.Cinematographe.Imagens Com o intuito de organizar uma seleção de filmes dos anos 1980, é apresentada, aqui, uma lista de melhores a cada ano, de 1980 a 1989, cada uma seguida por menções honrosas. As listas, como sempre, são um recorte de um determinado período e podem se transformar ao longo dos anos. Filmes dos anos 80, especificamente, já fazem parte de uma vida toda, vistos ou revistos, e guardam ainda o peso da nostalgia. Alguns estão ligados a outros elementos além do cinema: as primeiras idas ao cinema. Mas, ainda assim, todos aqui, revisitados, se mostraram ainda atuais. Muitos anos possuem mais destaque do que outros, por isso o número de menções honras varia (e a ordem delas é aleatória). E os cinco primeiros filmes de 1980, um dos melhores anos da história, são referenciais para toda a década, caracterizada pelas produções sobre jovens e crianças, assim como por fantasias e ficções científicas e filmes de grande produção e risco, a exemplo de O portal do paraíso, O fundo do coração e Duna. É uma década que marca o encontro entre diretores como Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Brian De Palma, David Cronenberg, Ridley Scott, Woody Allen, Oliver Stone e Michael Cimino, reafirmando as suas trajetórias iniciadas nos anos 6o ou 70,  e nomes vindos da Europa, da Rússia, da Austrália, do Oriente, como Wim Wenders, Rainer Werner Fassbinder, Elem Klimov, Nagisa Oshima, Werner Herzog, Jean-Jacques Annaud, Giuseppe Tornatore, Bille August, Krzysztof Kieślowski, Wolfgang Petersen, Russell Mulcahy, Samuel Fuller, Eric Rohmer, Leos Carax, Peter Weir, Peter Greenaway e Jean-Jacques Beineix. Pedro Almodóvar faria diversos filmes, mas minha apreciação é por seu trabalho a partir dos anos 90 e, sobretudo, nos anos 2000. Também marca os primeiros filmes de Tim Burton, James Cameron, Spike Lee, Gus Van Sant, Jim Jarmusch, Joel e Ethan Coen, Sam Raimi e Steven Soderbergh. É ainda a década de alguns dos melhores filmes feitos por Martin Scorsese, de obras quase finais ou derradeiras de Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, Andrei Tarkovsky e Stanley Kubrick, e de alguns diretores que se afirmam em produções de Spielberg (Joe Dante, Robert Zemeckis, Barry Levinson). Do ponto mais alto da carreira de John Carpenter. Da visão sobre a juventude de John Hughes. Das animações infelizmente um tanto esquecidas de Don Bluth. Das comédias de Jim Abrahams, David Zucker, Jerry Zucker. E grandes filmes de David Lynch. Finalmente, o apreço pelo filme. Alguns filmes que não agradam na primeira visão se mostram interessantes e até mesmo indispensáveis quando revisitados. Do mesmo modo, outros que a princípio parecem indispensáveis, com o passar dos anos parecem ter o impacto reduzido e se tornam menos importantes. A premissa de que um filme é bom ou fraco muitas vezes varia, mas a distância dos anos parece ser a melhor maneira de constatar isso. Os anos de cada filme estão de acordo com o IMDb, com raras exceções. Duas produções não foram inseridas nas listas por terem sido feitas originalmente como minisséries de TV: Berlin Alexanderplatz (de Rainer Werner Fassbinder) e Decálogo (de Krzysztof Kieślowski), que chegaram a ser exibidas em circuito restrito ou em festivais. O filme Não amarás, versão estendida de um dos episódios de Decálogo e lançada nos cinemas, foi inserido na lista de 1988. O filme Fanny e Alexander, de Bergman, inicialmente minissérie de TV, entra por sua versão lançada nos cinemas. Importante lembrar que são inseridas nas listas de melhores filmes as versões estendidas de O barco, Vidas sem rumo, Era uma vez na América, Betty BlueA lendaAliens, o resgate e O siciliano (lançada em 2016). A versão de Duna é a mais curta, lançada nos cinemas e assinada por David Lynch, e a versão de Blade Runner é a original, de 1982. Espera-se que as listas levem você, cinéfilo e leitor, a rever ou descobrir alguns desses filmes.

Observações: na lista de 1981, Carruagens de fogo passou para a 4ª posição, deixando Fuga de Nova York em 5º, e Grito de horror entrou na 8ª colocação, deixando de fora A morte do demônio; na lista de 1982, O cristal encantado ocupou o lugar de O estado das coisas; na lista de 1983 Os embalos de sábado à noite continuam ocupou o lugar de Fome de viver; na lista de 1984, Greystoke – A lenda de Tarzan, o rei da selva ocupou o lugar de Crimes de paixão; na lista de 1985, a versão estendida de A lenda ocupou o lugar de Depois de horas; na lista de 1987, houve mudanças em relação à primeira versão. Império do sol passou de 5º para 3º, ocupando o lugar de RoboCop; Abaixo de zero passou a ocupar a 7ª posição, e A festa de Babette deu lugar a O siciliano na 10ª colocação.

1. O portal do paraíso (Michael Cimino)
2. O iluminado (Stanley Kubrick)
3. Touro indomável (Martin Scorsese)
4. O homem elefante (David Lynch)
5. Vestida para matar (Brian De Palma)
6. Fama (Alan Parker)
7. O império contra-ataca (Irvin Kershner)
8. Pixote (Hector Babenco)
9. Popeye (Robert Altman)
10. Meu tio da América (Alain Resnais)

Menções honrosas: Os irmãos cara-de-pau (John Landis), Flash Gordon (Mike Hodges), A última cruzada do fusca (Vincent McEvetty), Kagemusha – A sombra do samurai (Akira Kurosawa), Parece que foi ontem (Jay Sandrich), A recruta Benjamin (Howard Zieff), Fog – A bruma assassina (John Carpenter), Como eliminar seu chefe (Colin Higgins), Alligator (Lewis Teague), Brubaker (Stuart Rosenberg), Melvin e Howard (Jonathan Demme), Cowboy do asfalto (James Bridges), Em algum lugar do passado (Jeannot Szwarc), Superman II (Corte de Richard Donner), Apertem os cintos, o piloto sumiu (Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker), Agonia e glória (Samuel Fuller), A menina que viu Deus (Gilbert Cates), O último metrô (François Truffaut)

1. A mulher do aviador (Eric Rohmer)
2. O barco (Wolfgang Petersen)
3. Os caçadores da arca perdida (Steven Spielberg)
4. Carruagens de fogo (Hugh Hudson)
5. Fuga de Nova York (John Carpenter)
6. O dragão e o feiticeiro (Matthew Robbins)
7. Ausência de malícia (Sydney Pollack)
8. Grito de horror (Joe Dante)
9. Os bandidos do tempo (Terry Gilliam)
10. O buraco da agulha (Richard Marquand)

Menções honrosas: Scanners (David Cronenberg), A morte do demônio (Sam Raimi), Outland – Comando Titânio (Peter Hyams), Pague para entrar, reze para sair (Tobe Hooper), Mad Max II (George Miller), Cavaleiros de aço (George A. Romero), Condorman (Charles Jarrott), Fúria de titãs (Desmond Davis), Dinheiro do céu (Herbert Ross), Amor sem fim (Franco Zeffirelli), Excalibur (John Boorman), 007 – Somente para seus olhos (John Glen), A guerra do fogo (Jean-Jacques Annaud), Halloween II (Rick Rosenthal), O cão e a raposa (Ted Berman, Richard Rich, Art Stevens), Os saltimbancos trapalhões (J.B. Tanko), Lola (Rainer Werner Fassbinder), Reds (Warren Beatty), Eu, Christiane F. – 13 anos, drogada e prostituída (Uli Edel), Diva (Jean-Jacques Beineix), S.O.B. (Blake Edwards), Falcões da noite (Bruce Malmuth), 41º DP – Inferno no Bronx (Daniel Petrie), Testemunha fatal (Peter Yates), Galipolli (Peter Weir), A história do mundo – Parte 1 (Mel Brooks)

1. E.T. – O extraterrestre (Steven Spielberg)
2. Fanny & Alexander (Ingmar Bergman)
3. O fundo do coração (Francis Ford Coppola)
4. Tootsie (Sydney Pollack)
5. Blade Runner – O caçador de androides (Ridley Scott)
6. Poltergeist – O fenômeno (Tobe Hooper)
7. Hammett (Wim Wenders)
8. O mundo segundo Garp (George Roy Hill)
9. A ratinha valente (Don Bluth)
10. O cristal encantado (Jim Henson e Frank Oz)

Menções honrosas: O estado das coisas (Wim Wenders), Tex – Um retrato da juventude (Tim Hunter), Cliente morto não paga (Carl Reiner), A marca da pantera (Paul Schrader), Rambo – Programado para matar (Ted Kotcheff), Um cara muito baratinado (Richard Benjamin), Jornada nas estrelas II – A ira de Khan (Nicholas Meyer), Annie (John Huston), Fitzcarraldo (Werner Herzog), Banana Joe (Steno), Tron – Uma odisseia eletrônica! (Steven Lisberger), O desespero de Veronika Voss (Rainer Werner Fassbinder), Apertem os cintos, o piloto sumiu! – 2ª parte (Ken Finkleman), O enigma de outro mundo (John Carpenter), Cão branco (Samuel Fuller), O veredito (Sidney Lumet), Creepshow (George A. Romero), Vincent (Tim Burton)

1. O rei da comédia (Martin Scorsese)
2. Os eleitos (Phillip Kaufman)
3. O retorno de Jedi (Richard Marquand)
4. Scarface (Brian De Palma)
5. Furyo – Em nome da honra (Nagisa Oshima)
6. Nostalgia (Andrei Tarkovsky)
7. Cujo (Lewis Teague)
8. A balada de Narayama (Shohei Imamura)
9. Vidas sem rumo (Francis Ford Coppola)
10. Os embalos de sábado à noite continuam (Sylvester Stallone)

Menções honrosas: Fome de viver (Tony Scott), O selvagem da motocicleta (Francis Ford Coppola), Laços de ternura (James L. Brooks), Momento inesquecível (Bill Forsyth), Flashdance (Adrian Lyne), O dia seguinte (Nicholas Meyer), Jogos de guerra (John Badham), Krull (Peter Yates), 007 – Nunca mais outra vez (Irvin Kershner), O negócio é sobreviver (Michael Ritchie), Christine – O carro assassino (John Carpenter), Sob fogo cerrado (Roger Spottiswoode), A maldição da pantera cor-de-rosa (Blake Edwards), No limite da realidade (Joe Dante, John Landis, Steven Spielberg, George Miller), O reencontro (Lawrence Kasdan), As loucuras de Jerry Lewis (Jerry Lewis), Pauline na praia (Eric Rohmer), O regresso do corcel negro (Robert Dalva), Psicose II (Richard Franklin), Johnny – O gângster (Amy Heckerling), E la nave va (Federico Fellini), Os lobos nunca choram (Carroll Ballard), Uma história de natal (Bob Clark), Férias frustradas (Harold Ramis), Trocando as bolas (John Landis), A hora da zona morta (David Cronenberg), De volta para o inferno (Ted Kotcheff), Koyaanisqatsi (Godfrey Reggio), 007 contra Octopussy (John Glen)

Melhores filmes.1984.Cinematographe 2

1. Amadeus (Milos Forman)
2. A história sem fim (Wolfgang Petersen)
3. Paris, Texas (Wim Wenders)
4. Duna (David Lynch)
5. Gremlins (Joe Dante)
6. Era uma vez na América (Sergio Leone)
7. Estranhos no paraíso (Jim Jarmusch)
8. Karatê Kid (John G. Avildsen)
9. Boy meets girl (Leos Carax)
10. Greystoke – A lenda de Tarzan, o rei da selva (Hugh Hudson)

Menções honrosas: Os caça-fantasmas (Ivan Reitman), Crimes de paixão (Ken Russell), Um tira da pesada (Martin Brest), Um espírito baixou em mim (Carl Reiner), 2010 – O ano em que faremos contato (Peter Hyams), O céu continua esperando (Paul Bogart), Starman – O homem das estrelas (John Carpenter), Top Secret! (Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker), Moscou em Nova York (Paul Mazursky), Gatinhas e gatões (John Hughes), Amanhecer violento (John Milius), Quilombo (Cacá Diegues), Os heróis não têm idade (Richard Franklin), Cotton Club (Francis Ford Coppola), Indiana Jones e o templo da perdição (Steven Spielberg), Footloose (Herbert Ross), O exterminador do futuro (James Cameron), O corte da navalha (Russell Mulcahy), Os gritos do silêncio (Roland Joffé), Tudo por uma esmeralda (Robert Zemeckis), Frankenweenie (Tim Burton), Stop Making Sense (Jonathan Demme), Dublê de corpo (Brian De Palma), Splash – Uma sereia em minha vida (Ron Howard)

Melhores filmes.1985.Cinematographe 3

1. Vá e veja (Elem Klimov)
2. Minha vida de cachorro (Lasse Hallström)
3. A cor púrpura (Steven Spielberg)
4. Os Goonies (Richard Donner)
5. O beijo da mulher-aranha (Hector Babenco)
6. A testemunha (Peter Weir)
7. De volta para o futuro (Robert Zemeckis)
8. Ran (Akira Kurosawa)
9. O clube dos cinco (John Hughes)
10. A lenda (Ridley Scott)

Menções honrosas: Depois de horas (Martin Scorsese), Marcas do destino (Peter Bognadovich), O enigma da pirâmide (Barry Levinson), Ladyhawke – O feitiço de Áquila (Richard Donner), Os aventureiros do bairro proibido (John Carpenter), Inimigo meu (Wolfgang Petersen), O primeiro ano do resto de nossas vidas (Joel Schumacher), Férias frustradas na Europa (Amy Heckerling), A joia do Nilo (Lewis Teague), Viagem ao mundo dos sonhos (Joe Dante), O ano do dragão (Michael Cimino), As grandes aventuras de Pee-Wee (Tim Burton), O mundo mágico de Oz (Walter Murch), A hora do pesadelo 2 – A vingança de Freddy (Jack Sholder), 007 – Na mira dos assassinos (John Glen), A floresta das esmeraldas (John Boorman), A marvada carne (André Klotzel), Admiradora secreta (Robert Greenwalt), Viagem clandestina (Jeremy Kagan), Cocoon (Ron Howard), Procura-se Susan desesperadamente (Susan Seidelman), Brazil – O filme (Terry Gilliam), Competição de destinos (John Badham), Minha adorável lavanderia (Stephen Frears), D.A.R.Y.L. (Simon Wincer), A hora do espanto (Tom Holland), Remo – Desarmado e perigoso (Guy Hamilton), Quase igual aos outros (Lisa Gottlieb), O sol da meia-noite (Taylor Hackford), Mala noche (Gus Van Sant)

Melhores filmes.1986.Cinematographe

1. Veludo azul (David Lynch)
2. Sangue ruim (Leos Carax)
3. A inocência do primeiro amor (David Seltzer)
4. A missão (Roland Joffé)
5. Aliens, o resgate (James Cameron)
6. Betty Blue (Jean-Jacques Beineix)
7. Platoon (Oliver Stone)
8. Hannah e suas irmãs (Woody Allen)
9. O sacrifício (Andrei Tarkovsky)
10. O nome da rosa (Jean-Jacques Annaud)

Menções honrosas: Jornada nas estrelas IV – A volta para casa (Leonard Nimoy), Por favor, matem a minha mulher (Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker), Curtindo a vida adoidado (John Hughes), A pequena loja dos horrores (Frank Oz), Totalmente selvagem (Jonathan Demme), De volta às aulas (Alan Metter), Histórias reais (David Byrne), Labirinto (Jim Henson), A mosca (David Cronenberg), Daunbailó (Jim Jarmusch), O massacre da serra elétrica 2 (Tobe Hooper), Um vagabundo na alta roda (Paul Mazursky), Conta comigo (Rob Reiner), Fievel – Um conto americano (Don Bluth), Crocodilo Dundee (Peter Faiman), O destemido senhor da guerra (Clint Eastwood), Invasores de Marte (Tobe Hooper), A morte pede carona (Robert Harmon), A garota de rosa shoking (Howard Deutch), O castelo no céu (Hayao Miyazaki), O raio verde (Eric Rohmer), Momo e o senhor do tempo (Johannes Schaaf), A noite das brincadeiras mortais (Fred Walton), Jean de Florette (Claude Berri)

Melhores filmes.1987.Cinematographe 9

1. Os intocáveis (Brian De Palma)
2. Baleias de agosto (Lindsay Anderson)
3. Império do sol (Steven Spielberg)
4. Nascido para matar (Stanley Kubrick)
5. RoboCop (Paul Verhoeven)
6. Arizona nunca mais (Joel e Ethan Coen)
7. Abaixo de zero (Marek Kanievska)
8. Asas do desejo (Wim Wenders)
9. Adeus, meninos (Louis Malle)
10. O siciliano (Michael Cimino)

Menções honrosas: A festa de Babette (Gabriel Axel), Os garotos perdidos (Joel Schumacher), Bom dia, Vietnã (Barry Levinson), A ladrona (Hugh Wilson), Wall Street (Oliver Stone), Presente de grego (Charles Shyer), Roxanne (Fred Shepisi), Máquina mortífera (Richard Donner), Tal pai, tal filho (Rod Daniel), Feliz ano velho (Roberto Gervitz), Te pego lá fora (Phil Joanou), S.O.S. – Tem um louco solto no espaço (Mel Brooks), Alguém muito especial (Howard Deutch), Feitiço da lua (Norman Jewison), O milagre veio do espaço (Matthew Robbins), Uma noite alucinante II (Sam Raimi), Barfly (Barbet Schroeder), Atirando para matar (Roger Spottiswoode), Mestres do universo (Gary Goddard), Bagdad Café (Percy Adlon), Ishtar (Elaine May), A grande cruzada (Franklin J. Schaffner), O escondido (Jack Sholder), As amazonas na lua (Joe Dante, Carl Gottlieb, Peter Horton, John Landis, Robert K. Weiss, Robert Weiss), O predador (John McTiernan), Os rivais (Barry Levinson), Terror na ópera (Dario Argento), Uma janela suspeita (Curtis Hanson), A hora do pesadelo III – Os guerreiros do sono (Chuck Russell), As bruxas de Eastwick (George Miller), Uma noite de aventuras (Chris Columbus), Antes só do que mal acompanhado (John Hughes), O último imperador (Bernardo Bertolucci), Um hóspede do barulho (William Dear), A era do rádio (Woody Allen)

Melhores filmes.Cinematographe.1988 1. Pelle, o conquistador (Bille August)
2. Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore)
3. O elo perdido (David Hughes e Carol Hughes)
4. Willow (Ron Howard)
5. O urso (Jean-Jacques Annaud)
6. Não amarás (Krzysztof Kieślowski)
7. Clara’s heart (Robert Mulligan)
8. Para sempre na memória (Marisa Silver)
9. Uma cilada para Roger Rabbit (Robert Zemeckis)
10. Uma secretária de futuro (Mike Nichols)

Menções honrosas: A última tentação de Cristo (Martin Scorsese), Duro de matar (John McTiernan), O preço do desafio (Ramón Menéndez), Os safados (Frank Oz), O grande mentecapto (Oswaldo Caldeira), Mississipi em chamas (Alan Parker), Palco de ilusões (David Seltzer), As aventuras do Barão de Münchausen (Terry Gilliam), Tucker – Um homem e seu sonho (Francis Ford Coppola), Ligações perigosas (Stephen Frears), O jovem Einstein (Yahoo Serious), Loucas tentações (William Schreiner), A bolha assassina (Chuck Russell), Os fantasmas contra-atacam (Richard Donner), Far North (Sam Shepard), Rain Man (Barry Levinson), Os fantasmas se divertem (Tim Burton), Na montanha dos gorilas (Michael Apted), Corra que a polícia vem aí (David Zucker), Quero ser grande (Penny Marshall), Uma noite com o rei do rock (Chris Columbus), Ela vai ter um bebê (John Hughes), Inferno vermelho (Walter Hill), Gêmeos – Mórbida semelhança (David Cronenberg), Cuidado com as gêmeas (Jim Abrahams), A insustentável leveza do ser (Phillip Kaufman), A hora do espanto 2 (Tommy Lee Wallace), O turista acidental (Lawrence Kasdan), Uma fazenda do barulho (George Roy Hill), Medeia (Lars von Trier), Um príncipe em Nova York (John Landis), Short Circuit II (Kenneth Johnson), Meu amigo Totoro (Hayao Mivazaki), Sorte no amor (Ron Shelton), Heathers – Atração mortal (Michael Lehmann)

1. Batman (Tim Burton)
2. Pecados de guerra (Brian De Palma)
3. O segredo do abismo (James Cameron)
4. Sociedade dos poetas mortos (Peter Weir)
5. Nascido em 4 de julho (Oliver Stone)
6. Faça a coisa certa (Spike Lee)
7. Indiana Jones e a última cruzada (Steven Spielberg)
8. Drugstore cowboy (Gus Van Sant)
9. Meu mestre, minha vida (John G. Avildsen)
10. De volta para o futuro II (Robert Zemeckis)

Menções honrosas: Santa Sangre (Alejandro Jodorowsky), Conduzindo miss Daisy (Bruce Beresford), Tempo de glória (Edward Zwick), O tiro que não saiu pela culatra (Ron Howard), Máquina mortífera 2 (Richard Donner), Faca de dois gumes (Murilo Salles), Não somos anjos (Neil Jordan), Jesus de Montreal (Denys Arcand), Harry & Sally – Feitos um para o outro (Nora Ephron), Digam o que quiserem (Cameron Crowe), Os caça-fantasmas 2 (Ivan Reitman), A pequena sereia (Ron Clements, John Musker), Vítimas de uma paixão (Harold Becker), Um toque de infidelidade (Joel Schumacher), Shirley Valentine (Lewis Gilbert), Campo dos sonhos (Phil Alden Robinson), Festa (Ugo Giorgetti), Flores de aço (Herbert Ross), 007 – Permissão para matar (John Glen), Meu pai – Uma lição de vida (Gary David Goldberg), O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante (Peter Greenaway), Meu pé esquerdo (Jim Sheridan), Dias melhores virão (Cacá Diegues), Meus vizinhos são um terror (Joe Dante), Ilha das flores (Jorge Furtado), Além da eternidade (Steven Spielberg), Sexo, mentiras e videotape (Steven Soderbergh)

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Frances Ha (2012)

Por André Dick

Frances Ha 4

Há filmes que se destacam sobretudo por causa de um ator ou de uma atriz e este certamente é o caso de Frances Ha. A atriz em questão é Greta Gerwig, coautora do roteiro e que interpreta a personagem principal. Na direção, temos Noah Baumbach, que fez um dos melhores filmes da década passada, A lula e a baleia, e colaborou no roteiro de A vida marinha com Steve Zissou e O fantástico sr. Raposo, de Wes Anderson. Com ingredientes que podem classificar Frances Ha como um filme de estética indie, parece que ele consegue atingir elementos que o colocam como uma síntese do cinema independente das últimas três décadas.
Se a fotografia em preto e branco de Sam Levy e o chapéu de Lev Shapiro, um dos rapazes com quem Frances divide o apartamento em determinado momento do filme, lembram, de forma insistente, mais do que a nouvelle vague, seus influenciados nos anos 80, Estranhos no paraíso e Daunbailó, de Jarmush, e a trilha sonora, com “Modern love”, de David Bowie, evoca tanto Sangue ruim (mais diretamente) quanto Boy meets girl, não se pode dizer que Frances Ha seja meramente um derivativo desses filmes. Como a obra de Baumbach mostra, trata-se principalmente de um personagem deslocado. Basicamente, Frances Halliday tenta ingressar no mundo da dança, em Nova York, e divide o apartamento do Brooklyn com uma amiga, Sophie Levee (Mickey Sumner), o que a faz ter dificuldades para aceitar ter uma vida própria com Dan (Michael Esper). A partir deste núcleo de relação e rompimento, a personagem se estrutura e o espectador é introduzido em seu universo.
Embora reconhecido como um filme leve, como poderia de fato ser, Frances Ha é, olhando mais de perto, uma obra autenticamente amarga, longe de qualquer solução aparentemente fácil, muito menos alegre, e é exatamente aí que reside seu interesse como retrato de um certo universo contemporâneo. Baumbach é um diretor bastante sutil – conseguiu tornar Ben Stiller num ator mais realista em Greenberg – e consegue traduzir o sentimento em que todos querem escapar para um universo em que podem criar sua realidade ou simplesmente não conseguem ingressar, de fato, no que se corresponde a uma vida adulta.

Frances Ha 6

Frances Ha

Em muitos momentos, Frances Ha poderia se transformar em O diário de Bridget Jones – uma autêntica comédia de estereótipos, embora com méritos –, mas escolhe ser uma espécie de encontro entre este universo dos anos 80, com uma estética realista e um tom certamente intelectual, tanto de Jarmursh quanto de Carax, com o descompromisso dos melhores momentos de Woody Allen e sua Nova York intelectualizada. No entanto, onde Allen é mais conciliador, e Carax e Jarmursh mais bem-humorados, Baumbach é mais seco e amargo, como já mostrava em A lula e a baleia. E, embora seja bastante programado dentro de sua estética, ele nunca cai no que Jarmursh faria em Trem mistério: autoelogiar-se numa metalinguagem cansativa.
Quando mostra Frances Ha transitando de um apartamento para outro, e tendo de lidar com dois jovens que não precisam bancar sua vida, Benji (Michael Zegen) e Lev Shapiro (Adam Driver), o primeiro com certa inclinação ao relacionamento, ou quando precisa lidar com a responsável pela companhia de dança, Colleen (Charlotte d’Amboise), Baumbach não permite liberdades à personagem. Poucas vezes, no cinema, foi visto um retrato tão discreto sobre a tentativa de uma personagem não envelhecer e não querer que os outros a vejam mais envelhecida do que é ou do que como se imagina – com um tom, muitas vezes, de descompromisso e mesmo de risadas francas (deve-se emoldurar a cena em que Frances conversa com Sophie e ambas imaginam como seria seu futuro, como se estivesse situada ainda numa infância longínqua ou num desejo contínuo de visualizar o futuro, e não o presente).
Do mesmo modo, é um personagem cujo universo está condicionado pelas expectativas ou por nenhuma expectativa, dependendo do ponto de vista, e o que o torna mais humano é justamente o conjunto de falhas que tenta esconder. Greta Gerwig faz movimentos que são mais difíceis do que aparentam e, embora o restante do elenco seja meramente um acesso às suas angústias, sem o peso existencial para diferenciá-la dos demais, temos certamente uma impressão de que o universo expansivo da modernidade pode também se restringir às mesmas tentativas de amizade consideradas antigas – e o “Modern love” de Bowie surge como, ao mesmo tempo, um retrato e uma crítica aos próprios personagens. Não se trata exatamente de uma homenagem de Baumbach aos anos 80, mas de mostrar como os personagens podem reproduzir um mesmo comportamento por várias décadas e uma mesma tradição musical. Para ele, é justamente esta tradição que congela a personagem de Frances em seus 27 anos, mas, de forma otimista, sempre tentando entendê-la e afastá-la de um tom de desesperança.

Frances Ha 2

Frances Ha 3

Por isso, Baumbach filma Nova York também como um espaço de repetição, com seus roteiristas querendo escrever para o Saturday Night Live ou jovens milionários indo a clubes noturnos para a próxima conquista, assim como Paris pode não ser o lugar mais perfeito para solitários, mesmo com a luminosidade da Torre Eiffel e o passeio à beira do Rio Sena. O telefone e os computadores parecem encurtar a distância, mas aqui só acentuam o isolamento da personagem.
Em Frances Ha, todos esses possíveis estereótipos acabam sendo explorados do mesmo modo que tornam a figura central mais humana, com sua insegurança exposta. Baumbach consegue tornar uma narrativa rápida em fragmentos, como a visita que a personagem faz aos pais, com lances ágeis também em cada uma das passagens de sua vida. Com uma melancolia implícita, não existe condescendência, e a depressão de Frances é apresentada por meio de sequências descompromissadas, sem peso dramático. Não se analisa a situação em que ela se coloca como um problema, mas parte afetiva das descobertas necessárias e, desse modo, não se percebe nenhum esquema definido: os personagens estão, de certo modo, soltos, e Baumbach vai reunindo-os pouco a pouco, por meio de demonstrações diversas e de rara sensibilidade, fazendo de Frances Ha uma obra única e referencial.

Frances Ha, EUA, 2012 Diretor: Noah Baumbach Elenco: Greta Gerwig, Mickey Sumner, Adam Driver, Charlotte d’Amboise, Christine Gerwig, Michael Zegen Roteiro: Greta Gerwig, Noah Baumbach Fotografia: Sam Levy Produção: Lila Yacoub, Noah Baumbach, Rodrigo Teixeira, Scott Rudin Duração: 86 min. Distribuidora: Vitrine Filmes Estúdio: RT Features.

Cotação 4 estrelas

A caça (2012)

Por André Dick

A caça.Filme 5

Há uma espécie de indefinição no filme de Thomas Vinterberg, de A caça, que traz a oportunidade de apontar as falhas estruturais de narrativa e de lacunas de diálogos, transparentes para o espectador. Mas este não é um filme qualquer e, ainda que Vinterberg faça parte da geração do Dogma 95, destacando-se sobretudo ao lado de Lars von Trier, ele não depende de uma determinada visão cinematográfica, assim como, ao mesmo tempo, sobrevive a partir dela. Ou seja, A caça, de modo geral, é um drama humano, com alguns problemas narrativos, mas relativamente encobertos pela grande atuação de Mads Mikkelsen, ator que sempre teve problemas pela frieza que apresenta, não exatamente como o antológico vilão de 007 – Cassino Royale, mas por sua presença em O amante da rainha, sempre trazendo o filme para um plano não totalmente realizado, e que com Vinterberg consegue chegar a uma realização de destaque. Mads Mikkelsen é realmente quem oferece a este filme uma grandiosidade que ele talvez não tivesse com outro ator. O filme é dedicado à sua presença e dela se alimenta de maneira eficaz.
Como o professor Lucas, que trabalha num colégio de crianças, ele se mostra primeiramente uma figura bastante solitária, indo a pé da casa para o trabalho, numa pequena cidade dinamarquesa, observando o bosque onde ele e seus amigos têm a tradição de efetuar a caçada a cervos. Costuma se divertir brincando com os alunos nos intervalos e tem interesse em arranjar uma nova companheira, Nadja (Alexandra Rapaport), também para seu filho, Marcus (Lasse Fogelstrøm, ótimo), embora prefira sair e beber ou jogar com os amigos. No entanto, em determinado dia, ele sabe, por meio da diretora, que foi acusado por uma das alunas, Klara (Annika Wedderkopp, em excelente atuação), de ter abusado dela sexualmente. É o estopim para que não apenas a escola, como também a sociedade, passe a persegui-lo, como se fosse a caça, inclusive o pai de Klara, Theo (Thomas Bo Larsen), melhor amigo de Lucas. O espectador sabe o que realmente aconteceu, e passa, a partir daí, a ser testemunha de todo o caos que o gesto passa a causar em sua vida.

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Vinterberg estabelece esta analogia já no primeiro plano, quando mostra as brincadeiras de Lucas e seus amigos pulando num lago gelado. Esta é uma sociedade reservada apenas aos que dela fazem parte, tradicionalmente e no sentido de se inserir em círculos familiares, de pais e mestres. Muito se comenta sobre a ausência de reação de Lucas com as acusações e as constantes agressões pelas quais precisa passar, mas parece que Vinterberg está analisando a presença de um homem na cidade à qual deseja pertencer, e que qualquer resposta pode ser entendida também como um motivo para que ele não possa ficar nela, ser expulso, o que seria seu desaparecimento definitivo. Por um lado, o personagem representa uma espécie de submsissão à tradição, e é a partir deste ponto que o filme não se torna apenas o retrato factual de uma situação terrível, mas ainda mais agonizante, com um afastamento do personagem de tudo e todos como se estivesse perseguindo uma chance de ao menos se manter vivo, como se tivesse sempre, a cada gesto, de pedir perdão por algo que, o espectador sabe, ele não cometeu.
Não existe, em A caça, uma situação evidente para os personagens, um ponto a partir do qual eles são bons ou maus. A própria sociedade que não reconhece uma palavra a Lucas, por considerar, se baseia no pressuposto de que, aqui, a inocência tem a palavra definitiva – mas Vinterberg filma essa inocência de maneira provocativa, pois Klara, a menina, tem uma espécie de simbolismo que remete a algumas crianças do filme de Haneke, A fita branca, mas com a diferença do peso do sentimento para ela ignorado, em razão do afastamento que tem da família e às voltas com seu irmão e vídeos eróticos. Ela não consegue solucionar ao certo o que fala e, quando vê o universo de Lucas implodindo à sua volta, tampouco. (Ainda assim, num lance de ousadia narrativa, Vinterberg deixa em aberto se ela havia inventado a história ou projetado algo que aconteceu com ela na figura do professor.) Klara também parece simbolizar a figura feminina deixada de lado num universo quase de aldeia, repleta de homens que se escondem de um possível encontro com possíveis namoradas em noites de bebedeiras ou caçadas a cervos, e a necessidade de atenção, resultando na deturpação.

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Lucas, sem dúvida, é um personagem que precisa se manter como “a caça” a fim de que possa chegar ao motivo de entender a posição de uma, ou seja, ser perseguido sem uma razão definida – assim como os cervos que ele e seus amigos caçam. Em alguns momentos, isso não é tão efetivo, pois o espectador desconfia de sua imobilidade, mas, de certo modo, a paisagem gelada e o significado do Natal, com as famílias reunidas em torno de uma mesa e com as velas sendo vistas à distância, também corresponde ao comportamento dele. Vinterberg não foge ao fato de que a lição de moral ao final, que, é verdade, reduz um pouco o filme, lembra também a do universo imaginado pelo personagem de Laura Dern no final de Veludo azul, de David Lynch: há uma promessa de ingenuidade e de mundo idílico, nesta obra, que não se concretizam. Mas Vinterberg deseja fundamentar que a tradição é aquela pela qual o homem vive e morre: o momento derradeiro é profundamento humano e denso, não apenas pelo belíssimo desempenho de Mikkelsen, mas por sintetizar  a ideia de que nos colocando no lugar da violência a ser cometida ela pode simplesmente desaparecer.

Jagten, DIN, 2012 Diretor: Thomas Vinterberg Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Alexandra Rapaport, Annika Wedderkopp, Susse Wold, Lars Ranthe, Anne Louise Hassing Roteiro: Thomas Vinterberg, Tobias Lindholm Fotografia: Charlotte Bruus Christensen  Trilha Sonora: Nikolaj Egelund Produção: Morten Kaufmann, Sisse Graum Jørgensen, Thomas Vinterberg  Duração: 115 min.  Distribuidora: Califórnia Filmes Estúdio: Film i Väst / Zentropa Entertainments

Cotação 4 estrelas e meia

Thor – O mundo sombrio (2013)

Por André Dick

Thor.O mundo sombrio

Em 2011, foi dado início à franquia de Thor, depois de Hulk e Homem de ferro ganharem seus filmes, não sem críticas sobretudo à adaptação feita por Ang Lee, hoje visto como um cult. O Homem de ferro de Jon Favreau não antecipava o terceiro episódio este ano, com sua tentativa de transformar o herói e se destacava sobretudo pelo humor. Já Thor recebeu a direção do especialista em Shakespeare Kenneth Branagh, que, ao mesmo tempo, equilibrou o tom trágico, de traições entre irmãos e duelos entre esses e os pais, sem esquecer de uma boa dose de humor, trazendo batalhas para o deserto do Novo México, com a presença dos agentes da SHIELD. Críticas à parte, o primeiro Thor, com sua trilha melancólica de Patrick Doyle (modificada aqui para a de Brian Tylerk), era um bom início de franquia. No início deste segundo, depois da batalha de Nova York, os roteiristas tentam explicar por que o deus nórdico não pôde visitar Jane Forster (Natalie Portman), que continua atrás dele, com a ajuda da amiga Darcy Lewis (Kat Dennings), enquanto seu amigo, Dr. Erik Selvig (Stellan Skarsgård), está com a cabeça em polvorosa depois de Loki (Tom Hiddleston) tê-lo transformado em Os vingadores.
Thor está levando seu irmão de volta a Asgard, onde será decretada sua prisão pelo pai, Odin (Anthony Hopkins), depois dos acontecimentos em Nova York, mas sempre vigiando, com a ajuda de Heidall (Idris Elba), onde está Foster, enquanto enfrenta batalhas para manter a paz dos Nove Reinos – sobretudo quando precisa encontrar um monstro de pedra gigante em meio a um cenário de início de batalha de Gladiador (antes, o filme também reserva sua porção de O senhor dos anéis). Em Londres, Foster, com a amiga Darcy, descobre um lugar que pode dar passagem a um universo que desconhece. Entra em cena o vilão do filme, Malekith (Cristopher Eccleston), o líder dos elfos negros, que está atrás do Éter (uma espécie de Tesseract deste filme), uma substância capaz de trazer as trevas se cair em mãos erradas. Ao mesmo tempo, a mãe de Thor, Frigga (Rene Russo), tenta convencer Loki a se desculpar por seus erros, mas ele não parece estar muito interessado nisso, embora preocupado com a possível prisão eterna que terá de enfrentar.

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O novo diretor, Alan Taylor (da série Game of thrones), não consegue dar de início a mesma intensidade de Branagh aos personagens, e o filme tem um problema principalmente quando assistido em 3D: as cores ficam excessivamente monocromáticas, prejudicando muitas sequências (e o 3D pouco acrescenta). Com todas suas falhas como arquiteto visual, Branagh é especialista em tirar grandes interpretações. Neste novo Thor, este elemento parece se ausentar na retomada dos personagens, que parecem se reencontrar sem nenhuma vontade: o reencontro de Thor com Jane é, sem dúvida, um daqueles mais sem esperança que o cinema mostrou num filme de super-heróis, e mesmo o emblemático Hopkins parece não acreditar numa linha sequer do que o roteiro lhe reservou, apesar de empregar certa suntuosidade em suas caminhadas e no olhar. Chris Hemsworth, por sua vez, parece deslocado pela primeira vez no início do filme, enquanto Portman ainda não conseguiu reencontrar-se com a atriz de Cisne negro, também porque o roteiro não permite, mas se ela conseguiu contracenar com Hayden Christensen em algum ponto e saiu ilesa deve ser dado a ela algum crédito. O vilão, feito por um maquiado Eccleston, vai se tornando num de seus pontos mais fracos, pois sua motivação parece mal explicada, e nunca lhe é dada a participação necessária para impor alguma espécie de ameaça – talvez porque o grande vilão da franquia seja mesmo Loki.
No entanto, acompanhado de uma coleção de efeitos especiais e direção de arte bem elaborada (embora mais noturna do que a do primeiro), Thor – O mundo sombrio reserva dois atores que também se destacaram no primeiro filme: Tom Hiddleston e Stellan Skarsgård. Hiddleston conseguiu quase roubar Meia-noite em Paris com sua participação, em meio a um grande elenco, tornou interessante, ao lado de Rachel Weisz um filme que sem os dois seria difícil de ser assistido, Amor profundo, e participa do único hiato de Cavalo de guerra que vale a pena, enquanto Skarsgård, acostumando-se a trabalhar longe de Lars von Trier, é um ator cada vez mais versátil (já no primeiro filme, ele conseguia dar consistência a algumas passagens que um ator menos experiente não aproveitaria). As participações de ambos, com a subestimada Kat Dennings – humorista conhecida, depois de O virgem de 40 anos –, e o reencontro dos personagens com a tragédia familiar, no melhor estilo introduzido por Branagh, no primeiro filme, e com um bom número de cenas em que se vê que o próprio elenco não está levando o filme tão sério, inclusive o próprio herói, trazem Thor – O mundo sombrio de volta à cena, e, quando isso acontece, pode-se esquecer a decepção em que ele ingressava.

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Quando Thor e Loki precisam tomar um rumo depois de um acontecimento familiar decisivo, o tom de conflitos ressurge, e Hemsworth e Hiddleston têm certamente uma maestria em contracenarem juntos e darem razão a boas sequências de ação e, por mais malucas as falas de Loki, elas soam verossímeis.
Nesse sentido, enquanto sua primeira metade certamente não lembra a espontaneidade do primeiro Thor, nem mesmo a agilidade narrativa que tinha na apresentação dos personagens, com a caminhada de homens vestidos de vikings num cenário de faroeste, sua segunda metade reserva excelentes momentos de ação e humor, além dessas atuações decisivas (mesmo Hopkins, em determinado momento, parece finalmente entrar no filme, mesmo que rapidamente, embora Rene Russo seja deslocada), e uma influência clara de Prometheus e o cult movie Krull, além de um bom par de cenas de ação fantásticas. O humor ressurge novamente nos conflitos de costumes entre a formalidade de Asgard e o relaxamento na Terra. Não há, claro, nenhuma grande elaboração no relacionamento entre Thor e Jane, nem a temática do conflito entre os irmãos e destes com o pai consegue atingir as mesmas notas atingidas por Branagh, mas, de certo modo, Thor O mundo sombrio consegue ser um filme que consegue lembrar uma agilidade narrativa e um certo humor mais saudável que existia nos filmes de ação das décadas passadas e que os filmes dos heróis da Marvel conseguem reviver. Em certos momentos, ele pareceu lembrar o humor involuntário de Indiana Jones e a última cruzada, em que Sean Connery e Harrison Ford estão se divertindo em cena, mais do que atuando. Num blockbuster que pretende faturar bilhões, e poderia dar privilégio às cenas de destruição, não deixa de ser uma qualidade e tanto.

Thor – The dark world, EUA, 2013 Diretor: Alan Taylor Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins, Tom Hiddleston, Christopher Eccleston, Idris Elba, Kat Dennings, Rene Russo, Stellan Skarsgård,  Zachary Levi, Chris O’Dowd Roteiro: Christopher Markus, Christopher Yost, Stephen McFeely Fotografia: Kramer Morgenthau Trilha Sonora: Brian Tyler Produção: Kevin Feige Duração: 111 min. Distribuidora: Disney Estúdio: Marvel Studios

Cotação 3 estrelas e meia