Vencedores do Oscar 2020

Por André Dick

Os favoritos ao Oscar, antes da temporada de premiações, eram O irlandêsCoringa, História de um casamentoEra uma vez em… Hollywood, seguidos por Jojo Rabbit, que foi escolhido como melhor filme no prestigiado Festival de Sundance, e Ford vs Ferrari. A partir do início de janeiro, 1917Adoráveis mulheres se juntaram a esses títulos, tendo como coadjuvante um filme da Coreia do Sul chamado Parasita.

Melhor filme

Parasita, desde a vitória no Festival de Cannes, foi ganhando cada vez mais admiradores e se tornou um grande e inesperado sucesso de bilheteria. No entanto, 1917 havia ganhado BAFTA e Globo de Ouro. Ficou muito conhecido pelo plano-sequência. Nas duas semanas anteriores ao Oscar, Parasita, no entanto, tomou uma grande proporção. Quem achava que ele ganharia os Oscars de melhor filme, direção, roteiro original e filme internacional? Nenhum diretor estrangeiro conseguiu essa vitória antes, nem aqueles inseridos na indústria de Hollywood, como Alfonso Cuarón e Ang Lee. É um feito histórico de Boon Jon Hong: o primeiro filme em língua não inglesa a ganhar o Oscar principal. Também é o primeiro filme desde Quem quer ser um milionário?, em 2009, a vencer sem ter nenhum nome do elenco indicado (injustamente, e é importante lembrar de sua vitória no SAG).
Numa temporada do Oscar que parece ter se passado mais à frente da tela de TV (por causa de O irlandêsHistória de um casamentoDois Papas) do que nos cinemas, a indústria se precavê. E é justo, pois nessa década certamente haverá uma transformação sem precedentes, com muitos filmes migrando das salas de cinema  para o streaming. É um sinal muito claro O irlandês ter sido o único dos indicados ao Oscar principal sair sem nenhum prêmio. Do mesmo modo História de um casamento ter vencido apenas na categoria de atriz coadjuvante. Era uma vez em… Hollywood conseguiu certo destaque, com Oscars de ator coadjuvante e design de produção, enquanto Coringa venceu nas categorias de melhor ator e trilha sonora e Ford vs Ferrari os Oscars de melhor edição e edição de som. O favorito até poucos minutos antes do anúncio de melhor diretor, o filme de guerra 1917, saiu com três Oscars técnicos (melhor fotografia, mixagem de som e efeitos visuais). Mas a conhecida divisão de prêmios principais, que me fazia acreditar que Era uma vez em… Hollywood tivesse chances, não aconteceu em 2020. A Academia concedeu nada menos do que quatro Oscars a Boong Joon Ho.
A festa em si fluiu melhor do que a do ano passado, mesmo sem apresentador fixo. Tivemos boas presenças de Steve Martin e Chris Rock, Will Ferrell e Julia Louis-Dreyfus, além de Kristen Wiig e Maya Rudolph (reprisando parceria de Missão madrinha de casamento) fazendo boas parcerias bem-humoradas. A apresentação inicial de Janelle Monáe foi boa, assim como as de canções, incluindo as de Elton John para a canção vencedora do Oscar, e de Eminem. O diretor Joon Boon Hong fez uma bela homenagem, em seu discurso de agradecimento, a Scorsese e Tarantino.

Melhor diretor

O diretor Martin Scorsese é certamente o nome com filmografia da lista, seguido de perto por Quentin Tarantino. A homenagem de Joon Boon Hong quando recebeu a estatueta a Scorsese, este sendo aplaudido de pé, foi muito merecida. E um reconhecimento do diretor sul-coreano que faz parte de uma nova geração, com peças como Memórias de um assassino e Mother, e conseguiu fazer de Parasita a obra mais comentada do cinema em 2019, depois de sua vitória no Festival de Cannes. Outra quebra no padrão: os vencedores do Directors Guild of America Award, apenas a partir do início deste século, sempre levaram o Oscar de direção, exceto Ben Affleck, que não chegou a ser indicado por Argo em 2013. Bong Joon Ho também rompeu essa referência. Ainda: ganhou de um novo nome muito forte para os próximos anos, Todd Phillips, diretor de Coringa.

Melhor ator

O grande favorito, depois do Globo de Ouro, BAFTA e Critics’ Choice Awards, era Joaquin Phoneix, por Coringa, que de fato foi o escolhido, merecidamente, depois de ser ignorado outras vezes, por O mestreJohnny & June e Gladiador, além de não ter sido nomeado por obras-primas como Ela e Vício inerente. Seu concorrente principal era Adam Driver, excelente em História de um casamento, que também foi destaque em outros três filmes em 2019: Os mortos não morremStar Wars – A ascensão Skywalker e O relatório. Jonathan Pryce também está muito bem em Dois Papas, assim como Leonardo DiCaprio em Era uma vez em… Hollywood e Antonio Banderas em Dor e glória. Os dois últimos, contudo, poderiam ter sido substituídos por Robert Pattinson (O farol) e Adam Sandler (Joias brutas) ou Song Kang-ho (Parasita).

Melhor atriz

Renée Zellweger teve um início de século marcante, fazendo sucesso com O diário de Bridget Jones e Chicago, além de ganhar o Oscar de atriz coadjuvante por Cold Montain, e reapareceu em Judy – Muito além do arco-íris. Ela venceu uma atriz de peso: Scarlett Johansson, no melhor momento de sua carreira em História de um casamento. Cynthia Erivo se destaca em Harriet e Charlize Theron está ótima em O escândalo. Já Saoirse Ronan, indicada por Adoráveis mulheres, aguarda seu momento, depois de algumas indicações.

Melhor ator coadjuvante

Depois das últimas premiações, Brad Pitt parece ser o favorito por Era uma vez em… Hollywood, que de fato acabou vencendo. No entanto, deve-se lembrar de Al Pacino e Joe Pesci, por O irlandês, ambos já ganhadores do Oscar (Pacino com Perfume de mulher de melhor ator e Pesci nessa mesma categoria por Os bons companheiros) e atuação extraordinária de Anthony Hopkins  em Dois Papas. É bom lembrar que outro concorrente era Tom Hanks, única indicação de Um lindo dia na vizinhança, que tem boa atuação.

Melhor atriz coadjuvante

A Academia de Hollywood seguiu a temporada de premiações e escolheu Laura Dern por sua atuação em História de um casamento. No entanto, as outras indicadas eram ótimas, sobretudo Margot Robbie, por O escândalo, e Kathy Bates (vencedora do Oscar de melhor atriz com Louca obsessão), por O caso Richard Jewell.

Melhor roteiro original

Imaginei que a Academia premiaria Bong Joon Ho por Parasita, deixando Quentin Tarantino em segundo plano por Era uma vez em… Hollwyood. São dois trabalhos notáveis, cada um com suas características: o do filme sul-coreano mais compacto e o de Tarantino mais estendido e lento, mesmo com a profusão de diálogos. Noah Baumbach, um tanto injustiçado na temporada de premiações, apresenta um trabalho irrepreensível em História de um casamento e deveria ser um dos lembrados naturalmente já outras vezes – o foi antes apenas por A lula e a baleia. Apenas não parecia se encaixar entre os indicados o roteiro de Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns para 1917.

Melhor roteiro adaptado

Taika Waiiti ganhou por Jojo Rabbit, uma adaptação de grande qualidade, misturando temas sérios com um tom cômico.  O melhor trabalho, porém, me parecia ser o de Steve Zaillian em O irlandês, seguido pelo de Todd Phillips e Scott Silver em Coringa. O do filme de Scorsese tem várias camadas, idas e vindas no tempo, e o de Coringa algumas reviravoltas bem costuradas.

Melhor filme internacional

Parasita era o grande favorito da categoria, apesar de ter como concorrentes filmes de destaque, a exemplo de Dor e glória e Os miseráveis. Retrato de uma jovem em chamas não concorria; talvez tivesse sido aquele com mais chance contra o favorito da Coreia do Sul.

Melhor animação

Grande favorito, Toy Story 4 foi o escolhido. No entanto, Klaus e Perdi meu corpo tiveram destaque na corrida, assim como Link perdido. Como treinar o seu dragão 3 continuou a boa tradição da série. Uma as melhores safras do gênero desde o início desta categoria.

Melhor curta de animação

Hair Love

Melhor documentário

American Factory

Melhor documentário em curta-metragem

Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)

Melhor curta-metragem

The Neighbors’ Window

CATEGORIAS TÉCNICAS

Melhor fotografia

Os trabalhos de Rodrigo Prieto em O irlandês e Lawrence Sher em Coringa são ótimos, assim como o de Robert Richardson no filme Era uma vez em… Hollywood, mas o melhor candidato parecia ser o de Jarin Blaschke (O farol), com sua espetacular fotografia em preto e branco, lembrando clássicos de Ingmar Bergman. Ganhou Roger Deakins, que fez um competente plano-sequência e movimentação criativa de câmera em 1917 , apenas dois anos depois de sua vitória por Blade Runner 2049.

Melhor trilha sonora

Hildur Guðnadóttir foi a premiada, por Coringa, ganhando principalmente do já tradicional nas indicações Alendre Desplat, por Adoráveis mulheres, e John Williams, por Star Wars – A ascensão Skywalker. Belíssima trilha, ajuda a marcar o ritmo do filme de Phillips.

Melhor canção original

“I’m Gonna Love Me Again” (Rocketman) proporcionou um Oscar a Elton John, bastante merecido. Era a canção mais interessante, mas também se destacavam “I Can’t Let You Throw Yourself Away” (Toy Story 4) e “Stand Up”  (Harriet).

Melhor design de produção

Barbara Ling e Nancy Haigh ganharam o Oscar por Era uma vez em… Hollywood, à frente de bons trabalhos: Bob Shaw e Regina Graves, por O irlandês, Ra Vincent e Nora Sopkova, por Jojo Rabbit, e Dennis Gassner e Lee Sandales, por 1917, além de Lee Ha-Jun and Cho Won Woo, Han Ga Ram e Cho Hee, por Parasita, com sua arquitetura contemporânea. A reconstituição de época do final dos anos 1960 da obra de Tarantino é notável, ajudando muito na narrativa e mesmo nas atuações.

Melhor figurino

Jacqueline Durran, que havia vencido o Oscar anteriormente pelo figurino impressionante em Anna Karenina, ganhou novamente por Adoráveis mulheres, enfrentando bons trabalhos, principalmente os de O irlandês e Jojo Rabbit. Seu trabalho é rico em criatividade e cores, lembrando não apenas o que fez para a adaptação de Joe Wright, como aquele de Milena Canonero em Maria Antonieta, vencedor da categoria em 2007.

Melhor edição

Michael McCusker e Andrew Buckland venceram por Ford vs Ferrari, numa categoria que costumava combinar com a de melhor filme anos atrás. Tinha como adversários os ótimos trabalhos de Thelma Schoonmaker em O irlandês e de Jinmo Yang em Parasita. A edição do filme de Mangold é extremamente ágil, em especial nas cenas de corrida espetaculares. É o grande atrativo, ao lado da atuação de Christian Bale.

Melhor edição de som

Don Sylvester venceu o Oscar por Ford vs Ferrari. Ganhou do trabalho competente de Alan Robert Murray em Coringa. Os outros concorrentes eram igualmente fortes: 1917, Era uma vez em… Hollywood e Star Wars – A ascensão Skywalker

Melhor mixagem de som

Mark Taylor e Stuart Wilson venceram por 1917, conseguindo chegar à frente de trabalhos como os de Ad Astra, Coringa Ford vs Ferrari.

Melhor maquiagem e cabelo

O escândalo recebeu um Oscar merecido, com sua ótima maquiagem efetuada por Kazu Hiro, Anne Morgan e Vivian Baker nos personagens de Nicole Kidman, Charlize Theron e John Lithgow.

Melhores efeitos visuais

1917 foi o escolhido, em trabalho efetuado por Guillaume Rocheron, Greg Butler e Dominic Tuohy, conseguindo ganhar de filmes destacados neste campo, principalmente O rei leão e Star Wars – A ascensão Skywalker.

Possíveis vencedores do Oscar 2020

Por André Dick

Esta é a melhor seleção de indicados ao Oscar de melhor filme desde que o número aumentou para dez. Predominam excelentes obras. Uma lista com 10 indicados seria bem-vinda, principalmente com a inclusão de O caso Richard Jewell, O farol ou O pintassilgo.
Dos indicados, a disputa vai ficar, ao que tudo indica, entre 1917, Parasita e Era uma vez em… Hollywood, com algumas possibilidades para Coringa. O irlandês corre por fora. Seria uma surpresa Jojo Rabbit e Adoráveis mulheres vencerem. Já História de um casamento Ford vs Ferrari não apresentam, pelo que a temporada mostrou até agora, chances.
Cada filme precisa passar por algumas vitórias para chegar ao Oscar principal. A questão é se a Academia de Hollywood vai querer consagrar Sam Mendes, já premiado com Beleza americana, ou Bong Joon-ho, de Parasita. Minha hipótese é de que vai haver uma divisão de prêmios: Mendes vai ganhar como melhor diretor, Joon-ho os Oscars de filme estrangeiro e roteiro original e Quentin Tarantino o de melhor filme, pois é produtor também de Era uma vez em… Hollywood. No entanto, para ganhar o Oscar mais visado, 1917 deve cumprir seu favoritismo em categorias técnicas, e Era uma vez em… Hollywood receber um ou dois outros Oscars (o de ator coadjuvante está praticamente garantido, mais o de design de produção). Nesse sentido, acho difícil Joon-ho sair com três Oscars: além de filme estrangeiro e roteiro original (aos quais é favorito), o prêmio principal, também como produtor. Alfonso Cuarón não conseguiu isso com Roma – mas pode acontecer, claro. Parasita e 1917 também têm em comum não terem nenhum integrante do elenco indicado nas categorias de atuações. A última obra a ganhar o Oscar principal sem nenhuma indicação de elenco foi Quem quer ser um milionário?. em 2009.
História de um casamento e O irlandês, assim como Nasce uma estrela em 2019, tiveram seu hype inicial reduzido, na temporada de premiações, à categoria de melhor atriz coadjuvante (Laura Dern) para a obra de Baumbach. Há chances de O irlandês ser o único filme indicado ao Oscar principal que sairá sem nenhum êxito, o que é especialmente lamentável. Embora considere que Era uma vez em… Hollywood seja o possível vencedor, Parasita cresceu no momento derradeiro, e 1917 é o grande favorito depois do Globo de Ouro e do BAFTA (pesa ainda o fato de que, quando um filme de origem britânica chega bem ao Oscar, a exemplo de Ghandi, Shakespeare apaixonado, Quem quer ser um milionário?, O discurso do rei e 12 anos de escravidão, costuma ganhar). Abaixo, como já adiantado no Twitter do Cinematographe, quem VAI ganhar, PODE ganhar e DEVERIA ganhar em cada categoria principal, em escolhas pessoais (destaco a imagem da escolha preferida).

Melhor filme

Vai ganhar: Era uma vez em… Hollywood

Pode ganhar: 1917

Deveria ganhar: Era uma vez em… Hollywood

Melhor diretor

Vai ganhar: Sam Mendes (1917)

Pode ganhar: Quentin Tarantino (Era uma vez em… Hollywood)

Deveria ganhar: Martin Scorsese (O irlandês)

Melhor ator

Vai ganhar: Joaquin Phoenix (Coringa)

Pode ganhar: Adam Driver(História de um casamento)

Deveria ganhar: Joaquin Phoenix (Coringa)

Melhor atriz

Vai ganhar: Renée Zellweger (Judy – Muito além do arco-íris)

Pode ganhar: Scarlett Johansson (História de um casamento)

Deveria ganhar: Scarlett Johansson (História de um casamento)

Melhor ator coadjuvante

Vai ganhar: Brad Pitt (Era uma vez em… Hollywood)

Pode ganhar: Al Pacino (O irlandês)

Deveria ganhar: Brad Pitt (Era uma vez em… Hollywood)

Melhor atriz coadjuvante

Vai ganhar: Laura Dern (História de um casamento)

Pode ganhar: Scarlett Johansson (Jojo Rabbit)

Deveria ganhar: Margot Robbie (O escândalo)

Melhor roteiro original

Vai ganhar: Bong Joon-ho e Jin Won Han (Parasita)

Pode ganhar: Quentin Tarantino (Era uma vez em… Hollywood)

Deveria ganhar: Quentin Tarantino (Era uma vez em… Hollywood)

Melhor roteiro adaptado

Vai ganhar: Taika Waititi (Jojo Rabbit)

Pode ganhar: Greta Gerwig (O irlnadês)

Deveria ganhar: Steven Zaillian(O irlandês)

Melhor filme em língua estrangeira

Vai ganhar: Parasita (Coreia do Sul)

Pode ganhar: Dor e glória (Espanha)

Deveria ganhar:Parasita (Coreia do Sul)

Melhor animação

Vai ganhar: Tot Story 4

Pode ganhar: Klaus

Deveria ganhar: Toy Story 4

Melhor fotografia

Vai ganhar: Roger Deakins(1917)

Pode ganhar: Robert Richardson (Era uma vez em… Hollywood)

Deveria ganhar: Jarin Blaschke (O farol)

Melhor trilha sonora

Vai ganhar: Hildur Guðnadóttir (Coringa)

Pode ganhar: Thomas Newman (1917)

Deveria ganhar: Hildur Guðnadóttir (Coringa)

Melhor canção original

Vai ganhar: “I’m Gonna Love Me Again” (Rocketman)

Pode ganhar: “Stand Up”  (Harriet)

Deveria ganhar: “I’m Gonna Love Me Again” (Rocketman)

Melhor design de produção

Vai ganhar: Era uma vez em… Hollywood

Pode ganhar: 1917

Deveria ganhar: Era uma vez em… Hollywood

Melhor figurino

Vai ganhar: Adoráveis mulheres

Pode ganhar: Jojo Rabbit

Deveria ganhar: Adoráveis mulheres

Melhor edição

Vai ganhar: Ford vs Ferrari

Pode ganhar: Parasita

Deveria ganhar: O irlandês

Melhor mixagem de som

Vai ganhar: 1917

Pode ganhar: Ford vs Ferrari

Deveria ganhar: Coringa

Melhor edição de som

Vai ganhar: 1917

Pode ganhar: Ford vs Ferrari

Deveria ganhar: Star Wars – A ascensão Skywalker

Melhor maquiagem e cabelo

Vai ganhar: O escândalo

Pode ganhar: Coringa

Deveria ganhar: O escândalo

Melhores efeitos visuais

Vai ganhar: O rei leão

Pode ganhar: 1917

Deveria ganhar: O rei leão 

Indicados ao Oscar 2020

Por André Dick

Dos possíveis candidatos ao Oscar que apontei em outubro de 2019 (neste post), sete chegaram às indicações de melhor filme: O irlandês, Coringa, 1917, Adoráveis mulheres, Ford vs Ferrari, Jojo Rabbit e Era uma vez em… Hollywood.  Da repescagem chegaram dois: História de um casamento e Parasita. Coringa teve o maior número de indicações (11), seguido por Era uma vez em… Hollywood, O irlandês e 1917 com 10 cada um.

Melhor filme

Adoráveis mulheres
Coringa
O irlandês
Era uma vez em… Hollywood
Parasita
Jojo Rabbit
Ford vs Ferrari
História de um casamento
1917

Os possíveis indicados principais sempre foram O irlandês, Coringa e Era uma vez em… Hollywood. A partir de dezembro, eles ganharam a companhia de História de um casamento. A princípio, considerava pouco viável dois indicados da Netflix a melhor filme, mas no Globo de Ouro surgiram mais dois: Meu nome é Dolemite e Dois Papas. O vencedor do Festival de Sundance, Jojo Rabbit, não mostrou a mesma força que vencedores dos anos anteriores, Três anúncios para um crime e Green Book, mostraram, sendo ignorado no Independent Spirit Awards. Em início de janeiro, Adoráveis mulheres e 1917 começaram suas campanhas e chegaram também ao Oscar. Ford vs Ferrari, apesar da decepção nas bilheterias, também sempre foi visto como adequado ao gosto da Academia de Hollywood. E Parasita, desde a vitória no Festival de Cannes, foi ganhando cada vez mais admiradores e se tornou um grande e inesperado sucesso de bilheteria. Não vi apenas 1917: os outros são excelentes ou muito bons, não entrando nenhuma obra irregular na lista.
Esta é facilmente a melhor seleção desde o início da regra de possíveis 10 candidatos ao Oscar de melhor filme ao lado daquelas de 2011 – Cisne negro, Bravura indômita, A rede social, Toy Story 3, A origem –, 2012 – A árvore da vida, Os descendentes, O homem que mudou o jogo, O artista, Meia-noite em ParisA invenção de Hugo Cabret – e 2013 – Django livre, O lado bom da vida, Lincoln, As aventuras de Pi, Amor, Os miseráveis e A hora mais escura.
Numa décima vaga, poderiam ter lembrado de O relatório, O caso Richard Jewll e, principalmente, a obra-prima O farol, indicado apenas na categoria de melhor fotografia. Também foi esquecido pelas premiações o melhor Soderbergh dos últimos anos: A lavanderia. Além de um filme que foi destituído pela crítica em geral e de grande qualidade: O pintassilgo, cujo prejuízo para a Warner foi marcante. Também não é preciso ter visto Uma vida oculta, de Terrence Malick, para saber que no mínimo seus valores técnicos foram deixados de lado. A distribuidora independente A24 não conseguiu emplacar seus filmes, mas Midsommar merecia ser lembrado. E, com a indústria ainda querendo manter as salas de cinema como a primeira opção para o espectador, o que não seria possível com a Netflix, 1917 surge preenchendo os requisitos: filme de guerra com potencial de prêmios e de ser blockbuster. Numa temporada do Oscar que parece ter se passado mais à frente da tela de TV (por causa de O irlandês, História de um casamento, Dois Papas) do que nos cinemas, a indústria se precavê. E é justo, pois nessa década certamente haverá uma transformação sem precedentes, com muitos filmes migrando das salas de cinema  para o streaming.
De qualquer modo, depois de seleções menos fortes – entre as quais as de 2015, 2016 e 2019 –, o Oscar volta a mostrar ótimos indicados em grande escala. E possivelmente a disputa será entre Era uma vez em… Hollywood, 1917 e O irlandês, com Coringa e História de um casamento (este, no entanto, bastante desvalorizando pelas premiações e chegando ao Oscar quase sem chances) correndo por fora. A grande surpresa seria a vitória de Parasita, não, claro, pela qualidade.

Melhor diretor

Martin Scorsese, por O irlandês
Todd Phillips, por Coringa
Sam Mendes, por 1917
Quentin Tarantino, por Era uma vez em… Hollywood
Bong Joon Ho, por Parasita

O diretor Martin Scorsese é certamente o nome mais histórico da lista, seguido de perto por Quentin Tarantino. Scorsese já ganhou o Oscar de direção por um de seus filmes menos interessantes, Os infiltrados, e Tarantino recebeu o Oscar de roteiro original por Pulp Fiction e Django livre. Ambos estão num momento de reavaliação de suas trajetórias, com Scorsese fazendo um épico de 3h30 e Tarantino uma ode a Hollywood. Joon Boon Hong fecha seu grande 2019 com esta indicação por Parasita. É merecida: um diretor que tem em sua carreira peças como Memórias de um assassino e Mother e aqui se supera. Todd Phillips é indicado por Coringa, ganhando o reconhecimento que não tinha por sua trilogia Se beber, não case! (sendo os dois primeiros ótimos) e por Cães de guerra. Sam Mendes, por sua vez, já recebeu o Oscar de melhor direção por Beleza americana, mas sua proeza técnica em 1917 tem sido elogiada e pode repetir o feito. Greta Gerwig não teve sua segunda indicação depois de Lady Bird., assim como Clint Eastwood novamente foi deixado de lado por O caso Richard Jewell. Outros indicados possíveis: Robert Eggers (O farol), Céline Sciamma (Retrato de uma jovem em chamas), Josh e Benny Safdie (Joias brutas) e Noah Baumbach (História de um casamento)

Melhor ator

Antonio Banderas, por Dor e glória
Leonardo DiCaprio, por Era uma vez em… Hollywood
Adam Driver, por História de um casamento
Joaquin Phoenix, por Coringa
Jonathan Pryce, por Dois Papas

O grande favorito, depois do Globo de Ouro e Critics’ Choice Awards, é Joaquin Phoneix, por Coringa. Ela já foi ignorado outras vezes, por O mesrtre, Johnny & June e Gladiador, além de não ter sido nomeado por obras-primas como Ela e Vício inerente. Seu concorrente principal Adam Driver, excelente em História de um casamento, que também foi destaque em outros três filmes em 2019: Os mortos não morrem, Star Wars – A ascensão Skywalker e O relatório. Vencedor por O regresso, DiCaprio está ótimo em Era uma vez em… Hollywood, mas desta vez dentro de uma linha de atuação mais segura. Jonathan Pryce, por sua vez, se destaca como o Papa Francisco de Dois Papas, em duelo com o feito por Hopkins. Em mais uma parceria com Almodóvar, Banderas tem uma das melhores oportunidades em sua filmografia com Dor e glória .
Outras grandes atuações, que poderiam ter sido lembradas: Roman Griffin Davis (Jojo Rabbit), Adam Driver (O relatório)., Christian Bale (Ford vs Ferrari), Paul Walter Hauser (O caso Richard Jewell), Aaron Paul (El Camino – A Braking Bad movie), Brad Pitt (Ad Astra – Rumo às estrelas), Robert Pattinson (O farol), Matthew McConaughey (The beach bum), Adam Sandler (Joias brutas), Song Kang-ho (Parasita) e Robert De Niro (O irlandês). Também estavam entre as apostas Eddie Murphy (Meu nome é Dolemite) e Taron Egerton (Rocketman).

Melhor atriz

Cynthia Erivo, por Harriet
Scarlett Johansson, por História de um casamento
Saoirse Ronan, por Adoráveis mulheres
Charlize Theron, por O escândalo
Renee Zellweger, por Judy

Renée Zellwegger teve um início de século marcante, fazendo sucesso com O diário de Bridhget Jones e Chicago, além de ganhar o Oscar de atriz coadjuvante por Cold Montain. Depois de uma segunda década do século apagada, ela reaparece na cinebiografia Judy. Tem como concorrente Saoitse Ronan, indicada recentemente por ótimas atuações em Brooklyn e Lady Bird, que interpreta a escritora Jo em Adoráveis mulheres. Também estão entre as rivais  Scarlett Johansson, no melhor momento de sua carreira em História de um casamento. Charlize Theron, vencedora por Monster, é lembrada pelo polêmico O escândalo, e Cynthia Erivo por Harriet.
Poderiam ter sido lembradas Adèle Haenel (Retrato de uma jovem em chamas), Zhao Tao (Amor até as cinzas), Elle Fanning (Um dia de chuva em Nova York), Lupita Nyong’o (Nós), Costance Wu (As golpistas)., Felicity Jones (The aeronauts), Florence Pugh (Midsommar), Ana de Armas (Entre facas e segredos), Cate Blanchett (Cadê você, Bernadette?) e Awkwafina (A despedida)

Melhor ator coadjuvante

Tom Hanks, por Um lindo dia na vizinhança
Anthony Hopkins, por Dois Papas
Al Pacino, por O irlandês
Joe Pesci, por O irlandês
Brad Pitt, por Era uma vez em… Hollywood

Esta categoria reúne alguns atores com uma filmografia invejável. Depois das últimas premiações, Brad Pitt parece ser o favorito por Era uma vez em… Hollywood, mas não se pode desconsiderar Al Pacino e Joe Pesci, por O irlandês, ambos já vencedores do Oscar (Pacino com Perfume de mulher de melhor ator e Pesci nessa mesma categoria por Os bons companheiros). Juntam-se a eles Anthony Hopkins, com atuação memorável em Dois Papas, e Tom Hanks, na indicação solitária de Um lindo dia na vizinhança, depois de 20 anos sem uma nomeação (desde Náufrago).
Poderiam ter sido lembrados, caso a concorrência não fosse tão forte, Willem Dafoe (O farol), Sam Rockwll (Jojo Rabbit e O caso Richard Jewell),, Ray Liotta e Alan Alda (História de um casamento), Robert Pattinson (O rei) e Timothée Chalamet e Chris Cooper (Adoráveis mulheres)

Melhor atriz coadjuvante

Kathy Bates, por O caso Richard Jewell
Laura Dern, por História de um casamento
Scarlett Johannson, por Jojo Rabbit
Florence Pugh, por Adoráveis mulheres
Margot Robbie, por O escândalo

A atriz Laura Dern vem sendo muito premiada pela atuação em História de um casamento. No entanto, as outras indicadas são fortes: Margot Robbie por O escândalo; Kathy Bates (vencedora do Oscar de melhor atriz com Louca obsessão), por O caso Richard Jewell; Florence Pugh (também presente em 2019 no terror Midsommar) por Adoráveis mulheres; e a segunda nomeação para Scarlett Johansson por Jojo Rabbit,.
Poderiam também concorrer: Jennifer Lopez (As golpistas), Meryl Streep (A lavanderia), Annette Bening (O relatório), Beanie Feldstein (Fora de série), Nicole Kidman (O pintassilgo), Noémie Merlan (Retrato de uma jovem em chamas), Tilda Swinton (Os mortos não morrem) e Thomasin McKenzie  (Jojo Rabbit)

Melhor roteiro original

Rian Johnson, por Entre facas e segredos
Noah Baumbach, por História de um casamento
Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns, por 1917
Quentin Tarantino, por Era uma vez em… Hollywood
Bong Joon-ho, Jin Won Han, por Parasita

Sempre quando é indicado, Quentin Tarantino costuma ser o favorito nesta categoria, e não é diferente agora por Era uma vez em… Hollwyood. No entanto, ele tem uma boa competição com Joo Boon Hong, por seu trabalho excepcional em Parasita. Noah Baumbach apresenta um trabalho irrepreensível em História d eum casamento e deveria ser um dos lembrados naturalmente já outras vezes – o foi antes apenas por A lula e a baleia. Rian Johnson teve uma recepção exitosa de Entre facas e segredos, e Sam Mendes  e Krysty Wilson-Cairns fazem o elogiado roteiro de 1917. Entre os trabalhos não lembrados, gosto muito do roteiro dos irmãos Safdie para Joias brutas e de Robert Eggers e seu irmão Max para O farol. Também é excepcional o roteiro de Retrato de uma jovem em chamas, escrito por Céline Sciamma.

Melhor roteiro adaptado

Steven Zaillian, por O irlandês
Taika Waititi, por Jojo Rabbit
Todd Phillips, Scott Silver, por Coringa
Greta Gerwig, por Adoráveis mulheres
Anthony McCarten, por Dois Papas

Uma categoria com trabalhos muito competentes. Taika Waiiti concorre por Jojo Rabbit, um trabalho muito bom de narrativa mesclando drama e humor; Greta Gerwig tem a história em vista em Adoráveis mulheres; Topp Phillips e Scott Silver fazem um ótimo trabalho em se inspirar livremente na figura dos quadrinhos em Coringa; E o trabalho de Steve Zaillian em O irlandês é primoroso, na sua sucessão de tempo e familiaridade, com muitas características interessantes. Anthony McCarten é responsável pelo duelo verbal de Dois Papas. Mereciam ter sido lembrados os trabalhos de adaptação de O pintassilgo, As golpistas, O caso Richard Jewell e A lavanderia.

Melhor filme estrangeiro

Corpus Christi (Polônia)
Honeyland (Macedônia do Norte)
Os miseráveis (França)
Dor e glória (Espanha)
Parasita (Coreia do Sul)

O grande favorito da categoria é o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e de vários prêmios posteriormente: Parasita. Ele só parece ter como adversário direto Dor e glória, de Pedro Almodóvar, embora Os miseráveis também tenha agradado ao público em Cannes. Aliás, a categoria está cada vez mais ligada aos filmes que são exibidos no festival francês.

Melhor animação

Como treinar o seu dragão 3
I lost my bod
Klaus
Link perdido
Toy Story 4  

Com a não inclusão de Frozen 2 entre os finalistas da categoria, dando espaço a um inesperado Klaus, Toy Story 4 se tornou o grande favorito. No entanto, Link perdido surpreendeu no Globo de Ouro e Como treinar o seu dragão 3 tem muitos admiradores. Acredito que O rei leão deveria ter sido indicado nesta categoria, mesmo sendo considerado live-action.

Melhor curta de animação

Dcera
Hair Love
Kitbull
Memorable,
Sister

Melhor documentário

American Factory
The Cave
The Edge of Democracy
For Sama
Honeyland

Melhor documentário em curta-metragem

n the Absence
Learning to Skateboard in a Warzone
Life Overtakes Me
St. Louis Superman
Walk Run Cha-Cha,” Laura Nix

Melhor curta-metragem

Brotherhood,
Nefta Football Club
The Neighbors’ Window,
Saria,
A Sister

CATEGORIAS TÉCNICAS

Melhor fotografia

Rodrigo Prieto, por O irlandês
Lawrence Sher, por Coringa
Jarin Blaschke, por O farol
Roger Deakins, por 1917
Robert Richardson, por Era uma vez em… Hollywood

Melhor trilha sonora

Hildur Guðnadóttir, por Coringa
Alexandre Desplat, por Adoráveis mulheres
Randy Newman, por História de um casamento
Thomas Newman, por 1917
John Williams, por Star Wars – A ascensão Skywalker

Melhor canção original

“I Can’t Let You Throw Yourself Away” (Toy Story 4)
“I’m Gonna Love Me Again” (Rocketman)
“I’m Standing With You” (Breakthrough)
“Into the Unknown” (Frozen 2)
“Stand Up”  (Harriet)

Melhor design de produção

Bob Shaw and Regina Graves, por O irlandês
Ra Vincent and Nora Sopkova, por Jojo Rabbit
Dennis Gassner and Lee Sandales, por 1917
Barbara Ling and Nancy Haigh, por Era uma vez em… Hollywood
Lee Ha-Jun and Cho Won Woo, Han Ga Ram, and Cho Hee, por Parasita

Melhor figurino

Sandy Powell, Christopher Peterson, por O irlandês
Mayes C. Rubeo, por Jojo Rabbit
Mark Bridges, por Coringa
Jacqueline Durran, por Adoráveis mulheres
Arianne Phillips, por Era uma vez em… Hollywood

Melhor edição

Michael McCusker, Andrew Buckland, por Ford vs Ferrari
Thelma Schoonmaker, por O irlandês
Tom Eagles, por Jojo Rabbit
Jeff Groth, por Coringa
Jinmo Yang, por Parasita

Melhor edição de som

Don Sylvester, por Ford vs Ferrari
Alan Robert Murray, por Coringa
Oliver Tarney, Rachel Tate, por 1917
Wylie Stateman, por Era uma vez em… Hollywood
Matthew Wood, David Acord, por Star Wars – A ascensão Skywalker

Melhor mixagem de som:

Ad Astra
Ford vs Ferrari
Coringa
1917
Era uma vez em… Hollywood

Melhor maquiagem e cabelo

O escândalo
Coringa
Judy
Malévola – Dona do mal
1917

Melhores efeitos visuais

Vingadores – Ultimato
O irlandês
1917
O rei leão
Star Wars – A ascensão Skywalker

Na parte técnica, um bom duelo entre Coringa, O irlandês, Jojo Rabbit, Era uma vez em… Hollywood e 1917. Dumbo foi esquecido nas categorias de melhor figurino e design de produção, assim como O rei. Ad Astra era um concorrente certo em efeitos visuais e talvez fotografia ou design de produção. O fechamento da nova trilogia de Star Wars foi lembrado, com três indicações. Num ano com menos concorrentes, O rei leão teria muitas chances em melhor fotografia e design de produção (excelentes). Alita – Anjo de combate parecia ser um forte concorrente na categoria de efeitos visuais, mas caiu entre os pré-indicados, e mixagem de som. Eu estava torcendo por alguma lembrança (em trilha sonora ou mixagem de som) para Doutor Sono ou It – Capítulo 2 (maquiagem e cabelo). Surpreendente Meu nome é Dolemite não ter sido indicado sequer a figurino, pois recebeu o prêmio na categoria no Critics’ Choice Awards. Entre os filmes estrangeiros, Retrato de uma jovem em chamas poderia concorrer facilmente a melhor fotografia e figurino.
A cerimônia de entrega do Oscar ocorre em 9 de fevereiro.

 

10 possíveis candidatos ao Oscar de melhor filme em 2020

Por André Dick

Neste artigo, seleciono alguns possíveis indicados ao Oscar de melhor filme em 2020. Em 2019, acertei 4 candidatos da lista principal e 2 da repescagem. Apresento 10 possíveis nomeados, o que não acontece, no entanto, desde 2012, costumando ficar entre 8 ou 9. Esta lista sai antes de premiações importantes (Independent Spirit Awards, BAFTA, Globo de Ouro, principalmente), ou seja, depois das indicações delas e seus vencedores, as coisas se aclaram um pouco mais. As probabilidades se baseiam em recepção crítica (dos que estrearam até agora; alguns podem ainda ser mal recepcionados) e temas tratados, que agradam mais ou menos à Academia, além dos gêneros de filmes. Alguns deles, como Adoráveis mulheres e 1917, ainda não estrearam e, dependendo das críticas, podem sair da disputa (como aconteceu com A lei da noite em 2017 ou Pequena grande vida em 2018). Também acredito que História de um casamento teria mais chances de figurar entre os candidatos se O irlandês não fosse a obra preferida com distribuição da Netflix (e tenho dúvidas se a Academia emplacaria dois filmes da empresa de streaming). Por isso, coloco também cinco filmes numa repescagem e outros possíveis indicados (esses às vezes guardam surpresas, capazes de se fortalecer na temporada de premiações). Assinalo que A hidden life, de Terrence Malick, corre à margem (o trabalho do diretor é ignorado pela Academia desde A árvore da vida), porém, dependendo de sua recepção em dezembro, pode repetir o que aconteceu, por exemplo, com Trama fantasma. Leve-se em conta que no ano passado ninguém esperava, nessa época, que Bohemian Rhapsody fosse indicado a melhor filme e recebesse 4 Oscars.

Era uma vez em Hollywood

Quentin Tarantino teve alguns filmes indicados ao Oscar principal (Pulp Fiction, Bastardos inglórios e Django livre). Este Era uma vez em Hollywood parece ser o próximo, principalmente por seu elenco (Brad Pitt especialmente a coadjuvante), e parte técnica de grande potencial. No entanto, Os oito odiados foi ignorado, e era uma obra-prima. Seu diferencial para atrair é a homenagem de Tarantino à Hollywood do final dos anos 60, por meio de um ator que está sendo esquecido e tem sua última oportunidade no universo cinematográfico, feito com grande talento por Leonardo DiCaprio.

Adoráveis mulheres

Após o sucesso de crítica de Lady Bird e ser indicada a direção e filme, Greta Gerwig traz em seu segundo projeto um grande elenco: além de sua atriz favorita, Saoirse Ronan, Timothée Chalamet, Meryl Streep, Florence Pugh, Laura Dern e Emma Watson. A história, adaptada por Gerwig e Sarah Polley de um romance de Louisa May Alcott, mostra irmãs na Nova Inglaterra em 1860, durante a Guerra Civil Americana. Com trilha sonora de Alexandre Desplat, o trailer antecipa uma mescla entre O estranho que nós amamos e Maria Antonieta, ambos de Sofia Coppola.

O irlandês

Com seus 210 minutos, O irlandês dificilmente ficará de fora dos indicados, embora o filme anterior de Scorsese, Silêncio, tenha sido nomeado apenas para melhor fotografia. O irlandês, porém, parece ser uma síntese da trajetória do diretor, mesclando desde os tempos de Touro indomável e Os bons companheiros (na parceria de De Niro e Joe Pesci) até O lobo de Wall Street. Ele conta a história de Frank Sheeran (Robert De Niro), que trabalha para a máfia e é veterano da Segunda Guerra Mundial. A trama acompanha seu envolvimento com o sumiço do líder trabalhista Jimmy Hoffa (Al Pacino). Lembremos que já há um filme especificamente sobre Hoffa, de 1992, interpretado por Jack Nicholson. Uma das expectativas é quanto ao rejuvenescimento de atores como De Niro, Pesci e Pacino, num trabalho ousado da equipe de Scorsese.

Coringa

Premiado de forma surpreendente com o Leão de Ouro em Veneza, Coringa é o segundo filme consecutivo de adaptação de quadrinhos, depois de Pantera Negra, a ter reais chances de indicações ao Oscar nas categorias principais. Além de Joaquin Phoenix no papel central, de Arthur Fleck, temos ainda Robert De Niro como coadjuvante e a fotografia de Lawrence Sher. O diretor Todd Phillips foi deixado de lado pelo Oscar por Se beber, não case! depois de ganhar o Globo de Ouro de melhor filme com a comédia. Coringa pode ser sua chance de chegar ao prêmio.

Ford vs Ferrari

Com direção de James Mangold (Logan), Ford vs Ferrari talvez seja uma mescla entre Rush e o clássico Grand Prix, indicado ao Oscar de melhor filme em 1967. O filme traz a história de um designer de carros, Carroll Shelby (Matt Damon), e do motorista de carro de corrida Ken Miles (Christian Bale), que estiveram à frente de uma equipe que ajudou a Ford a construir um carro capaz de competir com a Ferrari. Já presente no Oscar com Johnny & June e Os indomáveis e indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado por Logan, Mangold costuma ter boa recepção na Academia.

A beautiful day in the neighborhood

Diretora de Poderia me perdoar?, que rendeu uma indicação ao Oscar para Melissa McCarthy, além de para ator coadjuvante e roteiro adaptado, Marielle Heller traz a história de um jornalista da Esquire, Lloyd Vogel (Matthew Rhys), que precisa fazer uma matéria sobre o apresentador de televisão infantil Fred Rogers (Tom Hanks) e muda sua percepção sobre a vida. Hanks é preterido pela Academia desde Náufrago (não tendo sido indicado por ótimas atuações em Prenda-me se for capaz, Cloud Atlas e Sully), mas o filme tem elementos que costumam agradar à Academia.

Jojo Rabbit

Quem viu o trailer deste filme certamente percebeu a inspiração do vencedor do Festival de Toronto, quase uma garantia de ser indicado ao Oscar mais almejado: a filmografia de Wes Anderson, mais exatamente sua obra Moonrise Kingdom. O diretor Taika Waititi, de Thor: Ragnarok e A incrível aventura de Rick Baker, reúne um grande elenco numa espécie de sátira da Segunda Guerra Mundial e a Adolf Hitler (que ele mesmo interpreta). O menino JoJo (Roman Griffin) descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) esconde uma menina judia em sua casa, o que vai de encontro aos ensinamentos que recebeu do nazismo. Parece evidente também a influência de O ditador e A vida é bela nessa trama.

Luta por justiça

Em nova obra de Destin Daniel Cretton, que fez O castelo de vidro e Temporário 12, o advogado Bryan Stevenson (Micheal B. Jordan) se desloca para o Alabama, a fim de defender os injustamente condenados, começando por Walter McMillian (Jamie Foxx), no corredor da morte, preso injustamente pela morte de uma mulher. Cretton não tem até agora sido lembrado pela Academia, no entanto costuma apresentar excelente trabalho de direção de atores e histórias profundamente humanas. No elenco ainda está Brie Larson, atriz preferida do cineasta, que esteve em seus dois filmes.

1917

Sob a direção de Sam Mendes, que se dedicou à série 007 nesta década, 1917 tem como cenário a Primeira Guerra Mundial, no ano do título, no norte da França, acompanhando dois jovens soldados ingleses, Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman), que recebem a missão de levar uma mensagem passando por linhas inimigas. Com fotografia de Roger Deakins, a inspiração é claramente Dunkirk, de Nolan, de 2017. Mendes já venceu o Oscar por Beleza americana, e 1917 tem grande chance como filme de guerra, gênero apreciado pela Academia, contando ainda no elenco com Colin Firth, Benedict Cumberbatch e Mark Strong.

The farewell

Com um pôster muito parecido com o de Flores de aço, de 1989, The Farewell tem na direção  Lulu Wang. Mostra a história de uma família, na qual o personagem central é o aspirante a escritora chinesa-americana Billi (Awkwafina), que se reúne ao saber que a avó, chamada Nai Nai (Zhao Shuzhen), está prestes a morrer. Muito elogiado no circuito de festivais, tem mais chances do que aparenta

Repescagem

Parasita

Vencedor do Festival de Cannes em 2019, este é facilmente o melhor filme de Bong Joon-ho desde Memórias de um assassino. É um tanto insano, sem gênero definido, parece não dizer nada, mas sabe trabalhar seus temas. Joon-ho aprendeu com os erros de Okja e soube deixar as metáforas mais implícitas ao invés de tentar explicá-las para o espectador. Para isso, o diretor de fotografia Hong Kyung-pyo assegura os movimentos de câmera para fazer o espectador se inserir dentro dos ambientes. É uma espécie de jornada por uma sociedade em construção ou desconstruída, nunca previsível. Joon-ho pode repetir o fato de um diretor estrangeiro ser indicado, como Michael Haneke por Amor, em 2013, e Pawel Pawlikowski por Guerra fria, em 2019.

História de um casamento

Outro projeto do diretor Noah Baumbach na Netflix, depois de Os Meyerowitz, mostra o divórcio entre o diretor de teatro Charlie (Adam Driver) e uma atriz (Scarlett Johansson). Bem recebido no Festival de Toronto, parece seguir a linha temática dos anos 70, de obras como Kramer vs Kramer, nos moldes do que Baumbach aprecia em sua filmografia, a exemplo de Frances Ha, Enquanto somos jovensGreenberg. O elenco tem ainda Laura Dern e Alan Alda.

Entre facas e segredos

Logo depois de Star Wars – Os últimos Jedi, Rian Johnson emprega uma trama nos moldes de Agatha Christie, com um detetive tendo de investigar um assassinato com um grande número de suspeitos. Parece retomar elementos de A ponta de um crime, um de seus melhores filmes. O elenco é de destaque: Daniel Craig, Chris Evans, Don Johnson, Toni Collette, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon e LaKeith Stanfield.

Ad Astra – Rumo às estrelas

O filme de James Gray tinha todas as chances claras… não tivesse sido, como O primeiro homem, no ano passado, uma decepção nas bilheterias. Uma bela ficção científica, sua parte técnica e a atuação de Brad Pitt podem ajudá-lo a se credenciar. Além disso, pode repetir a influência que tem o gênero nos últimos anos, visto Gravidade e Perdido em Marte.

As golpistas

Este parece ser o filme independente com possibilidades de ser lembrado pelo Oscar. Dirigido por Lorene Scafaria, com base num artigo de 2015 da revista New York, “The Hustlers at Scores”, de Jessica Pressler, a trama segue um grupo de strippers na cidade de Nova York que passam a roubar dinheiro, envolvidas com acionistas de Wall Street. No elenco, estão Constance Wu, Jennifer Lopez, Julia Stiles, Keke Palmer, Lili Reinhart, Lizzo e Cardi B. Um detalhe importante: Lopez produz o filme com Jessica Elbaum, Will Ferrell e Adam McKay, esses dois indicados por A grande aposta e Vice.

Outros possíveis indicados

A lavanderia (Steven Soderbergh), O relatório (Scott Z. Burns), Waves (Trey Edward Shults), The aeronauts (Tom Harper), Meu nome é Dolemite (Craig Brewer), Cats (Tom Hooper), Dowton Abbey – O filme (Michael Engler), The last black man in San Francisco (Joe Talbot), Clemency (Chinonye Chukwu), O escândalo (Jay Roach), Judy (Rupert Goold), Dois papas (Fernando Meirelles), Dark waters (Todd Haynes), Harriet (Kasi Lemmons), Star Wars – A ascensão Skywalker (JJ Abrams), A grande mentira (Bill Condon), The personal history of David Copperfield (Armando Iannucci), A hidden life (Terrence Malick)