Por André Dick
Os favoritos ao Oscar, antes da temporada de premiações, eram O irlandês, Coringa, História de um casamento e Era uma vez em… Hollywood, seguidos por Jojo Rabbit, que foi escolhido como melhor filme no prestigiado Festival de Sundance, e Ford vs Ferrari. A partir do início de janeiro, 1917 e Adoráveis mulheres se juntaram a esses títulos, tendo como coadjuvante um filme da Coreia do Sul chamado Parasita.
Melhor filme
Parasita, desde a vitória no Festival de Cannes, foi ganhando cada vez mais admiradores e se tornou um grande e inesperado sucesso de bilheteria. No entanto, 1917 havia ganhado BAFTA e Globo de Ouro. Ficou muito conhecido pelo plano-sequência. Nas duas semanas anteriores ao Oscar, Parasita, no entanto, tomou uma grande proporção. Quem achava que ele ganharia os Oscars de melhor filme, direção, roteiro original e filme internacional? Nenhum diretor estrangeiro conseguiu essa vitória antes, nem aqueles inseridos na indústria de Hollywood, como Alfonso Cuarón e Ang Lee. É um feito histórico de Boon Jon Hong: o primeiro filme em língua não inglesa a ganhar o Oscar principal. Também é o primeiro filme desde Quem quer ser um milionário?, em 2009, a vencer sem ter nenhum nome do elenco indicado (injustamente, e é importante lembrar de sua vitória no SAG).
Numa temporada do Oscar que parece ter se passado mais à frente da tela de TV (por causa de O irlandês, História de um casamento, Dois Papas) do que nos cinemas, a indústria se precavê. E é justo, pois nessa década certamente haverá uma transformação sem precedentes, com muitos filmes migrando das salas de cinema para o streaming. É um sinal muito claro O irlandês ter sido o único dos indicados ao Oscar principal sair sem nenhum prêmio. Do mesmo modo História de um casamento ter vencido apenas na categoria de atriz coadjuvante. Era uma vez em… Hollywood conseguiu certo destaque, com Oscars de ator coadjuvante e design de produção, enquanto Coringa venceu nas categorias de melhor ator e trilha sonora e Ford vs Ferrari os Oscars de melhor edição e edição de som. O favorito até poucos minutos antes do anúncio de melhor diretor, o filme de guerra 1917, saiu com três Oscars técnicos (melhor fotografia, mixagem de som e efeitos visuais). Mas a conhecida divisão de prêmios principais, que me fazia acreditar que Era uma vez em… Hollywood tivesse chances, não aconteceu em 2020. A Academia concedeu nada menos do que quatro Oscars a Boong Joon Ho.
A festa em si fluiu melhor do que a do ano passado, mesmo sem apresentador fixo. Tivemos boas presenças de Steve Martin e Chris Rock, Will Ferrell e Julia Louis-Dreyfus, além de Kristen Wiig e Maya Rudolph (reprisando parceria de Missão madrinha de casamento) fazendo boas parcerias bem-humoradas. A apresentação inicial de Janelle Monáe foi boa, assim como as de canções, incluindo as de Elton John para a canção vencedora do Oscar, e de Eminem. O diretor Joon Boon Hong fez uma bela homenagem, em seu discurso de agradecimento, a Scorsese e Tarantino.
Melhor diretor
O diretor Martin Scorsese é certamente o nome com filmografia da lista, seguido de perto por Quentin Tarantino. A homenagem de Joon Boon Hong quando recebeu a estatueta a Scorsese, este sendo aplaudido de pé, foi muito merecida. E um reconhecimento do diretor sul-coreano que faz parte de uma nova geração, com peças como Memórias de um assassino e Mother, e conseguiu fazer de Parasita a obra mais comentada do cinema em 2019, depois de sua vitória no Festival de Cannes. Outra quebra no padrão: os vencedores do Directors Guild of America Award, apenas a partir do início deste século, sempre levaram o Oscar de direção, exceto Ben Affleck, que não chegou a ser indicado por Argo em 2013. Bong Joon Ho também rompeu essa referência. Ainda: ganhou de um novo nome muito forte para os próximos anos, Todd Phillips, diretor de Coringa.
Melhor ator
O grande favorito, depois do Globo de Ouro, BAFTA e Critics’ Choice Awards, era Joaquin Phoneix, por Coringa, que de fato foi o escolhido, merecidamente, depois de ser ignorado outras vezes, por O mestre, Johnny & June e Gladiador, além de não ter sido nomeado por obras-primas como Ela e Vício inerente. Seu concorrente principal era Adam Driver, excelente em História de um casamento, que também foi destaque em outros três filmes em 2019: Os mortos não morrem, Star Wars – A ascensão Skywalker e O relatório. Jonathan Pryce também está muito bem em Dois Papas, assim como Leonardo DiCaprio em Era uma vez em… Hollywood e Antonio Banderas em Dor e glória. Os dois últimos, contudo, poderiam ter sido substituídos por Robert Pattinson (O farol) e Adam Sandler (Joias brutas) ou Song Kang-ho (Parasita).
Melhor atriz
Renée Zellweger teve um início de século marcante, fazendo sucesso com O diário de Bridget Jones e Chicago, além de ganhar o Oscar de atriz coadjuvante por Cold Montain, e reapareceu em Judy – Muito além do arco-íris. Ela venceu uma atriz de peso: Scarlett Johansson, no melhor momento de sua carreira em História de um casamento. Cynthia Erivo se destaca em Harriet e Charlize Theron está ótima em O escândalo. Já Saoirse Ronan, indicada por Adoráveis mulheres, aguarda seu momento, depois de algumas indicações.
Melhor ator coadjuvante
Depois das últimas premiações, Brad Pitt parece ser o favorito por Era uma vez em… Hollywood, que de fato acabou vencendo. No entanto, deve-se lembrar de Al Pacino e Joe Pesci, por O irlandês, ambos já ganhadores do Oscar (Pacino com Perfume de mulher de melhor ator e Pesci nessa mesma categoria por Os bons companheiros) e atuação extraordinária de Anthony Hopkins em Dois Papas. É bom lembrar que outro concorrente era Tom Hanks, única indicação de Um lindo dia na vizinhança, que tem boa atuação.
Melhor atriz coadjuvante
A Academia de Hollywood seguiu a temporada de premiações e escolheu Laura Dern por sua atuação em História de um casamento. No entanto, as outras indicadas eram ótimas, sobretudo Margot Robbie, por O escândalo, e Kathy Bates (vencedora do Oscar de melhor atriz com Louca obsessão), por O caso Richard Jewell.
Melhor roteiro original
Imaginei que a Academia premiaria Bong Joon Ho por Parasita, deixando Quentin Tarantino em segundo plano por Era uma vez em… Hollwyood. São dois trabalhos notáveis, cada um com suas características: o do filme sul-coreano mais compacto e o de Tarantino mais estendido e lento, mesmo com a profusão de diálogos. Noah Baumbach, um tanto injustiçado na temporada de premiações, apresenta um trabalho irrepreensível em História de um casamento e deveria ser um dos lembrados naturalmente já outras vezes – o foi antes apenas por A lula e a baleia. Apenas não parecia se encaixar entre os indicados o roteiro de Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns para 1917.
Melhor roteiro adaptado
Taika Waiiti ganhou por Jojo Rabbit, uma adaptação de grande qualidade, misturando temas sérios com um tom cômico. O melhor trabalho, porém, me parecia ser o de Steve Zaillian em O irlandês, seguido pelo de Todd Phillips e Scott Silver em Coringa. O do filme de Scorsese tem várias camadas, idas e vindas no tempo, e o de Coringa algumas reviravoltas bem costuradas.
Melhor filme internacional
Parasita era o grande favorito da categoria, apesar de ter como concorrentes filmes de destaque, a exemplo de Dor e glória e Os miseráveis. Retrato de uma jovem em chamas não concorria; talvez tivesse sido aquele com mais chance contra o favorito da Coreia do Sul.
Melhor animação
Grande favorito, Toy Story 4 foi o escolhido. No entanto, Klaus e Perdi meu corpo tiveram destaque na corrida, assim como Link perdido. Como treinar o seu dragão 3 continuou a boa tradição da série. Uma as melhores safras do gênero desde o início desta categoria.
Melhor curta de animação
Hair Love
Melhor documentário
American Factory
Melhor documentário em curta-metragem
Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)
Melhor curta-metragem
The Neighbors’ Window
CATEGORIAS TÉCNICAS
Melhor fotografia
Os trabalhos de Rodrigo Prieto em O irlandês e Lawrence Sher em Coringa são ótimos, assim como o de Robert Richardson no filme Era uma vez em… Hollywood, mas o melhor candidato parecia ser o de Jarin Blaschke (O farol), com sua espetacular fotografia em preto e branco, lembrando clássicos de Ingmar Bergman. Ganhou Roger Deakins, que fez um competente plano-sequência e movimentação criativa de câmera em 1917 , apenas dois anos depois de sua vitória por Blade Runner 2049.
Melhor trilha sonora
Hildur Guðnadóttir foi a premiada, por Coringa, ganhando principalmente do já tradicional nas indicações Alendre Desplat, por Adoráveis mulheres, e John Williams, por Star Wars – A ascensão Skywalker. Belíssima trilha, ajuda a marcar o ritmo do filme de Phillips.
Melhor canção original
“I’m Gonna Love Me Again” (Rocketman) proporcionou um Oscar a Elton John, bastante merecido. Era a canção mais interessante, mas também se destacavam “I Can’t Let You Throw Yourself Away” (Toy Story 4) e “Stand Up” (Harriet).
Melhor design de produção
Barbara Ling e Nancy Haigh ganharam o Oscar por Era uma vez em… Hollywood, à frente de bons trabalhos: Bob Shaw e Regina Graves, por O irlandês, Ra Vincent e Nora Sopkova, por Jojo Rabbit, e Dennis Gassner e Lee Sandales, por 1917, além de Lee Ha-Jun and Cho Won Woo, Han Ga Ram e Cho Hee, por Parasita, com sua arquitetura contemporânea. A reconstituição de época do final dos anos 1960 da obra de Tarantino é notável, ajudando muito na narrativa e mesmo nas atuações.
Melhor figurino
Jacqueline Durran, que havia vencido o Oscar anteriormente pelo figurino impressionante em Anna Karenina, ganhou novamente por Adoráveis mulheres, enfrentando bons trabalhos, principalmente os de O irlandês e Jojo Rabbit. Seu trabalho é rico em criatividade e cores, lembrando não apenas o que fez para a adaptação de Joe Wright, como aquele de Milena Canonero em Maria Antonieta, vencedor da categoria em 2007.
Melhor edição
Michael McCusker e Andrew Buckland venceram por Ford vs Ferrari, numa categoria que costumava combinar com a de melhor filme anos atrás. Tinha como adversários os ótimos trabalhos de Thelma Schoonmaker em O irlandês e de Jinmo Yang em Parasita. A edição do filme de Mangold é extremamente ágil, em especial nas cenas de corrida espetaculares. É o grande atrativo, ao lado da atuação de Christian Bale.
Melhor edição de som
Don Sylvester venceu o Oscar por Ford vs Ferrari. Ganhou do trabalho competente de Alan Robert Murray em Coringa. Os outros concorrentes eram igualmente fortes: 1917, Era uma vez em… Hollywood e Star Wars – A ascensão Skywalker
Melhor mixagem de som
Mark Taylor e Stuart Wilson venceram por 1917, conseguindo chegar à frente de trabalhos como os de Ad Astra, Coringa e Ford vs Ferrari.
Melhor maquiagem e cabelo
O escândalo recebeu um Oscar merecido, com sua ótima maquiagem efetuada por Kazu Hiro, Anne Morgan e Vivian Baker nos personagens de Nicole Kidman, Charlize Theron e John Lithgow.
Melhores efeitos visuais
1917 foi o escolhido, em trabalho efetuado por Guillaume Rocheron, Greg Butler e Dominic Tuohy, conseguindo ganhar de filmes destacados neste campo, principalmente O rei leão e Star Wars – A ascensão Skywalker.