Por André Dick
Desde 1995, quando Toy Stoy se tornou uma das grandes animações da história, criado pela Pixar, ligada em seu início a Steve Jobs, ele vem se tornando uma referência cultural, o que se intensificou no segundo episódio de poucos anos depois e uma década depois no fechamento da trilogia, indicado, de forma surpreendente (não pela qualidade, e sim pelo pouco espaço dado a animações em prêmios), ao Oscar de melhor filme. Se o primeiro tinha roteiro de, entre outros, Joss Whedon, que fez Os vingadores, e Andrew Stanton, diretor de John Carter e Procurando Nemo, também um dos responsáveis pela história do segundo, este quarto foi criado por Stephany Folsom e novamente Stanton, depois de se ausentar do terceiro.
O cowboy Woody (Tom Hanks) agora vive ao lado de seus amigos com Bonnie (Madeleine McGraw), que os ganhou de presente do antigo dono deles, Andy. Ela se encontra em seus primeiros dias de colégio, no jardim de infância, e cria, com restos de objeto, Forky (Tony Hale), não à toa fascinado por latas de lixo.
Como líder dos brinquedos, capaz de conciliar as opiniões contrárias em prol de um mesmo caminho, Woody é o único que percebe a importância desse objeto para sua dona, enquanto se cerca da vaqueira Jessie (Joan Cusack) e, claro, do astronauta Buzz Lightyear (Tim Allen), novamente deixados em segundo plano na hora do lazer. A premissa lembra muito a do terceiro, quando Andy estava indo para a faculdade e era cobrado pela mãe a jogar os antigos companheiros fora ou guardá-los no sótão – Andy queria levar apenas Woody junto. Em uma espécie de fuga imaginando um lugar melhor, onde seriam bem aceitos, a luta deles passava a ser contra um ursinho rosa temível e dominador, que havia sido abandonado por sua dona (num dos flashbacks mais interessantes para se mostrar que o brinquedo tem (ou não) sentimento e está ligado a seu dono de maneira inabalável). Além do tom agridoce, o terceiro episódio tinha, com isso, momentos de intensidade e mesmo sustos no confronto com essa figura a princípio ingênua e que passa a oferecer perigo. Havia no terceiro ato momentos especialmente assustadores, com a tentativa de o grupo liderado por Woody escapar de uma situação capaz de levá-los ao desaparecimento.
Em Toy Story 4, durante uma viagem da família, Forky vai desaparecer e Woody vai empreender um resgate numa loja de antiguidades, na qual se encontram brinquedos que gostariam de ter, mas não têm, dono. Woody também reencontra Bo Peep (Annie Potts), que lhe oferece ajuda. Temos o surgimento de Gabby Gabby (Christina Hendricks), uma boneca com problema na caixa de voz, fazendo com que nenhuma criança se interesse em tê-la por perto, e Duke Caboom (Keanu Reeves), além de dos temíveis Bensons, estranhamente lembrando a figura de Nixon, de Giggles McDimples (Ally Maki) e de Ducky (Keegan Michael-Key) e Bunny (Jordan Peele, diretor de Corra! e Nós), dois ursos de pelúcia. Os demais personagens que apareciam na franquia Toy Story, como Rex (Wallace Shawn) e Hamm (John Ratzenberger), voltam a aparecer esporadicamente, embora aqui não tenham o mesmo espaço, sendo a narrativa mais sintética e concentrada em poucos lugares, embora ainda assim instigante.
A diferença deste Toy Story para os anteriores não é a emoção, sobretudo quando se lembra do terceiro, e sim uma certa maturidade no tratamento de alguns temas. São personagens que cresceram com seu público e não é difícil entender que muito dele é dedicado aos responsáveis por transformar Toy Story, há quase 25 anos, num clássico do gênero. É interessante, também, como a Pixar vem acertando muito em suas sequências, como Universidade Monstros, Os invencíveis 2 e Carros 3.
Mesmo que não apresente sobretudo o humor corrosivo do anterior (nas passagens de Ken e Barbie, por exemplo), Toy Stoy 4 apresenta um ritmo interessante desde o início, quando parece lembrar Divertida mente, e se apresenta como uma espécie de sonho americano dos brinquedos, quando eles encontram sua essência numa viagem familiar, em meio a parques de diversões e estradas extensas. E Woody, como o cowboy solitário em busca de ajudar Forky e Gabby Gabby, desta vez parece vislumbrar na loja de antiguidades um pouco do labirinto em que tem vivido, cheio de imprevistos. Por meio de expressões exatas e da voz de Tom Hanks adquire uma profundidade pouco abordada em animações. O diretor Josh Cooley, exatamente um dos roteiristas de Divertida mente, consegue articular uma boa combinação entre as personagens centrais, principalmente a amizade de Woody com Bo Peep, e isso cresce em relevo pelas interpretações de voz de Hanks e Potts, conhecida por ser a secretária de Os caça-fantasmas e a avó de Shedon na série televisiva. Essa é uma dupla muito boa, e recebe a contribuição não apenas de Allen, como de Hendricks e Reeves. A interação entre eles, não apenas por meio da animação irretocável, torna o resultado final um novo salto de qualidade da Pixar, e isso não significa pouco.
Toy Story 4, EUA, 2019 Diretor: Josh Cooley Elenco: Tom Hanks, Tim Allen, Annie Potts, Tony Hale, Keegan-Michael Key, Jordan Peele, Madeleine McGraw, Christina Hendricks, Keanu Reeves, Ally Maki, Jay Hernandez, Lori Alan, Joan Cusack Roteiro: Stephany Folsom, Andrew Stanton Fotografia: Patrick Lin Trilha Sonora: Randy Newman Produção: Jonas Rivera, Mark Nielsen Duração: 100 min. Estúdio: Walt Disney Pictures, Pixar Animation Studios Distribuidora: Walt Disney Studios