Por André Dick
Depois de Batman – O retorno, a bilheteria não tão exitosa fez com que a Warner Bros não quisesse uma sequência no mesmo estilo soturno proporcionado por Tim Burton, inclusive com figuras mais assustadoras, como as da Mulher-Gato e do Pinguim. Três anos depois, ainda que com a produção do diretor, ela apostou em várias mudanças: Michael Keaton, o Batman original, foi substituído por Val Kilmer, o Jim Morrison em The Doors, e a direção ficou a cargo de Joel Schumacher (falecido infelizmente este ano). Este era um diretor que iniciou sua trajetória nos anos 80, primeiro com um filme na linha de John Hughes (O primeiro ano do resto de nossas vidas), seguido por uma diversão adolescente de vampiros (Os garotos perdidos) e um interessante estudo sobre flertar com a morte (Linha mortal). Nos anos 90, Schumacher também fez um drama com Julia Roberts (Tudo por amor) e o arriscado Um dia de fúria, com Michael Douglas, e adaptações reconhecidas de John Grisham, O cliente e Tempo de matar. Por isso, ter chegado à série Batman parecia ser um voto de confiança do cinema blockbuster. Junto com isso, o espaço na composição da trilha, antes de Danny Elfman, foi ocupado por Elliot Goldenthal.
Batman eternamente também traz uma jovem Nicole Kidman e Jim Carrey, depois da explosão inicial em O Máscara, Debi & Loide, e Tommy Lee Jones, além do novo Robin, feito por Chris O’Donnell, reconhecido desde Perfume de mulher. Antes, a série ganhava destaque principalmente pelo tratamento dado aos personagens, próximo do poético. Nesta terceira aventura, Batman tornou-se num justiceiro movido por lembranças, mas visto anos depois e já com as devidas diferenças incorporadas, pode-se notar que este não é um filme meramente inspirado na série dos anos 60. Na verdade, ele é um retrato muito próximo daquele de Burton, mas muito mais colorido e espalhafatoso, diluindo o lado soturno com o humor enérgico de Carrey e o jogo de luzes colorido de Stephen Goldblatt, indicado merecidamente ao Oscar. Bruce Wayne se interessa por uma psicóloga, Chase Meridian (Kidman). Ela, por sua vez, está mais interessada em sua persona noturna. Wayne também tem um breve contato com um de sues funcionários, Edward Nygma (Jim Carrey), um cientista que pretende extrair informações por meio de um aparelho das mentes de Gotham City, certamente o elemento que mais o aproxima de uma história em quadrinhos. De certo modo, ele tem um grande interesse de contar com a colaboração de Duas Caras (Jones), que tenta atrapalhar a vida de Batman desde que entendeu que foi prejudicado pelo super-herói quando ainda era Harvey Dent. Quando Wayne e Chase vão ao circo, eles veem uma apresentação da família de trapezistas Grayson, e é aí que Wayne conhece Robin (Chris O’Donnell). Acontece algo que mudará a trajetória de ambos, e Schumacher lida com essa situação de maneira interessante, jogando um traço mais humano que não havia tanto nos dois de Burton, muito mais, por outro lado, de alto impacto.
Jim Carrey é um Charada estridente, acompanhado por Sugar (Drew Barrymore) e Spice (Debi Mazar) , e ainda mais como Edward. Sua presença é melhor do que a de Jones, que não se sente à vontade no papel, muito afastado de seu estilo habitual, embora certamente ambos estejam longe do que melhor apresenta o filme de Schumacher, que certamente não conseguiu, à época, controlar os arroubos de um Carrey no auge do sucesso.
O papel do herói é mais indefinido que a da persona encarnada por Keaton, cada vez mais moderno, com carro transformado e figurino futurista, mesmo com detalhes polêmicos. Batman parece um coadjuvante no meio dessa tormenta, situado entre os dois vilões excêntricos e os conflitos amorosos e com a possível parceria com um novo super-herói, e Schumacher não permite que o espectador respire, rebocando a ação para o centro de todos os olhares. O excesso de ação cansa, que, por mais interessante que seja, não chega a ser trabalhada do mesmo modo, contudo não era também uma característica tão forte nas peças de Burton. Em Batman eternamente, a movimentação é mais deliberada, cômica, misturando o soturno e as luzes coloridas de Gotham City que parecem remeter a uma mescla entre os trabalhos da Chinatown de Blade Runner e da Chicago fictícia de Dick Tracy.
Há uma sensação quase palpável desse cenário, e Schumacher chega a usar sua característica cor alaranjada – já existente em Um dia de fúria e 8mm: Oito milímetros – para se contrapor à visão de Burton, tornando a mansão de Wayne também mais acolhedora e detalhada, sobretudo em sua coleção de motocicletas, que agrada a Grayson, e com Alfred (o sempre eficiente Michael Gogh). Avaliar que o visual é puro anos 90, como se diz, me parece desviar do caminho: esta é uma história em quadrinhos filmada ao vivo; é colorida, excessiva às vezes, mas tem um ponto de vista. No fim de tudo, Batman eternamente é o que mais antecipa alguns elementos do passado de Wayme, que é reprisado principalmente em Batman begins, de Nolan. Os gráficos do personagem na infância são interessantes e criam uma boa ponte com o conhecido cenário do Asilo Arkham. É aqui que Schumacher revela sua leitura mais apropriada de Batman.
Batman forever, EUA, 1995 Diretor: Joel Schumacher Elenco: Val Kilmer, Tommy Lee Jones, Jim Carrey, Nicole Kidman, Chris O’Donnell, Michael Gough, Pat Hingle, Drew Barrymore, Debi Mazar Roteiro: Lee Batchler, Janet Scott Batchler, Akiva Goldsman Fotografia: Stephen Goldblatt Trilha Sonora: Elliot Goldenthal Produção: Tim Burton e Peter MacGregor-Scott Duração: 129 min. Estúdio: Warner Bros. Distribuidora: Warner Bros. Pictures