Suburbicon – Bem-vindos ao paraíso (2017)

Por André Dick

George Clooney tem se mostrado alguém capaz de mesclar as carreiras de ator e diretor com uma competência poucas vezes vista. Depois de ser elogiado principalmente por Boa noite e boa sorte, que recebeu várias indicações ao Oscar, inclusive a melhor filme, sua carreira passou a ser mais visada: nesse caminho, Tudo pelo poder foi um êxito fora de série, com uma parceria notável entre Clooney e Ryan Gosling, e Caçadores de obras-primas, recebido com uma grande indiferença.
Para este novo projeto, depois da rejeição a seu último filme, Clooney obteve um roteiro dos irmãos Joel e Ethan Coen, que ele desenvolveu ainda mais com Grant Heslov. Passado em 1959, no bairro de Suburbicon, habitado por brancos, tudo treme com a chegada dos Mayer, uma família afro-americana. O início representa bem isso: o carteiro passeia pela rua entregando correspondências até que vê a senhora Mayer (Karimah Westbrook). Ele logo pergunta à vizinha se já viu quem chegou ao bairro e o que acontece a seguir é uma reunião no estilo Ku Klux Khan como que para definir o que fazer com a nova família. Isso é mais do que uma sátira: é uma visão ainda mais contundente sobre os subúrbios que Tim Burton já havia feito nos ótimos As aventuras de Pee-wee e Edward, mãos de tesoura, além do recente Grandes olhos.

Determinada noite, a família de Gardner Lodge (Matt Damon) é atacada por ladrões (Glenn Flesher e Alex Hassell), que amarram sua mulher, Rose (Julianne Moore), loira, que vive numa cadeira de rodas, assim como Margaret, a irmã gêmea, com cabelo escuro, e o filho Nicky (Noah Jupe). Este é o único que conversa com o filho dos Mayer, Andy (Tony Espinosa).
A invasão é estranha e deixa marcas na família, mas o que mais implode é a raiva dos moradores de Suburbicon contra os novos vizinhos. Margaret passa a agir de modo ainda mais estranho, tomando o lugar da irmã, inclusive ao pintar o cabelo da mesma cor que o dela. Há uma estranha relação entre Gardner e os bandidos que invadiram sua casa, que remete a Fargo e Arizona nunca mais, outras obras dos Coen. De maneira geral, pode-se entender por que esse roteiro dos Coen foi escrito logo depois da estreia deles, em Gosto de sangue, em 1984: ele basicamente antecipa os temas da dupla de diretores no cinema. No entanto, ao contrário dos Coen, Clooney utiliza os pátios de um bairro calmo nos Estados Unidos para fazer uma espécie de homenagem às pinturas de Edward Hopper, assim como em Um homem sério, no entanto com uma falta de alívio cômico (o humor, sobretudo no personagem de Damon, é anticlimático a todo momento).

O filme soa pesado em todos os termos de tratamento que oferece a seus personagens, lembrando a estreia de Clooney na direção, Confissões de uma mente perigosa, nunca deixando o espectador confortável, e a trilha excelente de Alexandre Desplat mostra uma espécie de recuperação da imagem do subúrbio como uma ameaça presente desde Alfred Hitchcock. Os personagens também são ambíguos, no melhor sentido, nunca se sentindo fáceis ou meras caricaturas, como poderiam ser, o que acontece nos experimentos mais fracos dos Coen, a exemplo de Matadores de velhinhas e O amor custa caro. Clooney trabalhou com os diretores em outro momento menos inspirado, E aí, meu irmão, cadê você?, e aqui ele mostra um determinado senso que remete a eles no visual. No entanto, mais do que a eles, Clooney retoma um padrão clássico de imagem e sonoro, dos anos 50, para introduzir uma ambientação bem trabalhada. Mesmo quando Gardner e Margaret são flagrados no porão por Nicky há um clima de Psicose no ar (não parece aleatória a escolha de Julianne Moore para o papel, tendo ela feito a refilmagem da obra de Hitchcock nos anos 90). Também existe uma mescla entre comportamento estranho, relacionamentos não esclarecidos e um desrespeito constante à infância diante dos problemas que eclodem no bairro. O elenco, a começar por Moore e Isaac, contribui muito para esse senso deslocado.

A fotografia de Robert Elswit, com sua luminosidade, apenas esconde um lado muito nublado, turvo, da América, que não se deixa identificar. Numa visita à delegacia, também sentimos a presença da textura de imagem, além do trabalho impecável de figurino, da obra-prima O mestre, de Paul Thomas Anderson. Não parece inexplicável que este filme tenha sido tão questionado pela crítica em geral: Suburbicon realmente não define seu gênero nem explica exatamente sua proposta. A visão de Clooney para o que deveria ser um roteiro menos corrosivo dos Coen se mostra caótica, tanto quanto a recepção da vida moderna que temos aqui por meio de imagens dos anos 50. Tudo aqui antecipa a era Kennedy e os protestos em torno de Malcolm X, que trouxeram um novo panorama à sociedade norte-americana. O trabalho de Gardner Lodge, por trás de escritórios e portas simétricas, esconde apenas uma desilusão. Para Clooney, esses personagens querem mudar suas famílias, de algum modo, e visam sempre uma espécie de trama implícita em suas ações. Não há nada em Suburbicon que não esteja em pé de confronto, mas os personagens se escondem disso, agindo de maneira infantilizada e enfrentando uma rua escura com uma bicicleta.

Suburbicon, EUA, 2017 Diretor: George Clooney Elenco: Matt Damon, Julianne Moore, Oscar Isaac, Noah Jupe, Glenn Fleshler, Alex Hassell, Gary Basaraba, Jack Conley, Karimah Westbrook, Tony Espinosa, Leith Burke Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, George Clooney, Grant Heslov Fotografia: Robert Elswit Trilha Sonora: Alexandre Desplat Produção: George Clooney, Grant Heslov, Joel Silver, Teddy Schwarzman Duração: 105 min. Estúdio: Paramount Pictures, Black Bear Pictures, Silver Pictures, Smoke House Pictures Distribuidora: Paramount

Ave, César! (2016)

Por André Dick

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Se há uma característica própria dos irmãos Joel e Ethan Coen é a sua versatilidade, capaz de alternar filmes excepcionais com outros que parecem apenas brincar com determinados temas. O filme anterior a este Ave, César! foi o mais do que superestimado Inside Llewyn Davis, recebido pelo público e pela crítica de modo muito mais entusiasmado. Talvez porque Ave, César! seja quase inclassificável, uma espécie de mistura do que os irmãos já mostraram em Barton Fink e Um homem sério com novos acréscimos. O roteiro mostra o diretor do estúdio Capitol Pictures, Eddie Mannix (Josh Brolin, excelente), que, determinado dia, tem um de seus astros, Baird Whitlock (George Clooney, divertido mais uma vez sob a direção dos Coen, como em Queime depois de ler), sequestrado, logo quando está para terminar as filmagens de Hail, Caesar!, uma reconstituição da presença de Jesus Cristo na Roma Antiga.
Os motivos para os irmãos usarem essa simbologia religiosa já estava claro em Um homem sério, mas é aqui que se torna ainda mais interessante. A narrativa segue uma linha de liberdade, mostrando cenas de filmes diferentes sendo filmadas: DeeAnna Moran (Scarlett Johansson) tem uma ligação suspeita com Mannix, enquanto Hobie Doyle (Alden Ehrenreich) provoca a ira do diretor Laurence Laurentz (Ralph Fiennes), e Burt Gurney (Channing Tatum) atua como marinheiro num musical que parece lembrar o Gene Kelly de Cantando na chuva. Mannix também precisa se desvencilhar de Thora e Tessália Thacker (Tilda Swinton), irmãs gêmeas e colunistas rivais.

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Além disso, ele precisa se encontrar com padres e pregadores para avaliar como seria o seu projeto sobre a vida de Cristo. Os irmãos Coen subvertem a situação mirando um certo humor de origem judaica, já vislumbrado no excelente Um homem sério, mas que aqui adquire outra carga: não por acaso, Mannix é um homem cheio de culpa e vai ao confessionário tentar se eximir de sua condição.
Passado nos anos 50 – um pouco depois do período que mostraram no noir O homem que não estava lá –, os irmãos Coen fazem uma homenagem ao cinema dessa época, enquanto satirizam tanto a indústria cinematográfica quanto as ideias comunistas que estavam se proliferando na capital do cinema. Alguns dos diálogos são extremamente saborosos, mantendo uma ideia de época e de contemporaneidade. Para os irmãos Coen, as ideias não somem, apenas mudam de forma, e não por acaso eles parecem homenagear aqui três cineastas: Billy Wilder (de Crepúsculo dos deuses), David Lynch (de Cidade dos sonhos) e Wim Wenders (Estrela solitária), principalmente na figura do astro que interpreta caubóis.
Essa metalinguagem sobre o universo do cinema é vinculada, na narrativa dos Coen, à questão da fé pessoal e no uso de pessoas para estruturar uma ideia de estúdio, cuja finalidade é ajudar a movimentar a indústria. No entanto, como bons roteiristas, os Coen nunca se negam a ver uma fresta de sátira nesse comportamento, não levando a sério nenhuma das questões, sem, contudo, desprezá-las. As figuras do caubói, a princípio ingênua, e do ator que interpreta César com um overacting terrível, ajudam a manter o filme dos Coen numa área de questionamento, assim como o comportamento de Mannix.

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A oposição entre a claridade e a escuridão se mostra não apenas no tempo em que se passa – durante um dia – como na narrativa dividida em atos de filmagens, que trazem uma atmosfera maravilhosa que se contrapõe à vida real. Enquanto transcorre o mccarthismo, os Coen não se incomodam em mostrar exatamente um grupo de roteiristas com uma ligação estabelecida imediatamente com Moscou – quase um lado subversivo do que mostraram no roteiro politicamente correto de Ponte dos espiões, mais próximo de Barton Fink. Em vez de tecerem observações filosóficas sobre o livro referencial sobre o capitalismo, eles preferem atuar numa frente que lembra mais a sátira de David Cronenberg ao sistema financeiro, em Cosmópolis. E, apesar de o filme nunca cair no ridículo, como Queime depois de ler, ele brinca com a espionagem de maneira corrosiva.
Impressiona como os diretores conseguem imprimir, por meio desses personagens às vezes sem uma ligação clara, uma notável agilidade à narrativa, junto com a ideia de que não sabemos quando estamos ou não encenando, ou a partir de que ponto não fazemos parte de uma obra maior. Ao mostrar astros agindo de maneira estranhamente ingênua em seus passos “reais”, há uma outra visão sobre o mundo que está sendo descortinado.
Com mais um trabalho de fotografia belíssimo de Roger Deakins, Ave, César! ainda apresenta uma das melhores reconstituições de época, sob o auxílio de Jess Gonchor, e um figurino belíssimo de Mary Zophres. E, ao contrário de algumas peças recentes dos diretores, principalmente o melancólico Inside Llewyn Davis, Ave, César! se alegra em mostrar peças de humor dentro de seu roteiro. Ele consegue captar, em várias camadas, a atmosfera de um período do melhor modo.

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Como nos demais trabalhos dos irmãos Coen, as atuações têm uma rara qualidade, não apenas de Brolin e Clooney, mas dos coajduvantes, como Johansson e Channing Tatum (praticamente numa participação especial), mas principalmente Alden Ehrenreich e Fiennes, num dueto memorável. Ainda assim, o maior êxito do filme parece ser o de sua montagem – feita pelos próprios diretores –, ao mesmo tempo aberta e cuidadosa, com os personagens entrando e saindo de cena sem cansar o espectador. Os personagens funcionam num plano simbólico, ao contrário daqueles de Inside Llewyn Davis,  e as imagens permitem uma leitura da história do cinema, independente do seu desenvolvimento. Por toda a narrativa se passar em basicamente num dia de filmagens, é possível ver os personagens e a história com a luminosidade da manhã. Tudo isso auxiliado por uma espécie de surrealismo da realidade, principalmente quando George Clooney vestido de César caminha por um corredor enquanto uma senhora usa um aspirador, ou quando o caubói grava uma de suas cenas montando um cavalo. Na verdade, ao contrário do que ele diz em outra produção para divulgar seu nome, nada é simples neste filme que entra facilmente na lista de obras-primas dos diretores.

Hail, Caesar!, EUA, 2016 Diretores: Joel Coen e Ethan Coen Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen Elenco:  Josh Brolin, George Clooney, Alden Ehrenreich, Scarlett Johansson, Channing Tatum, Ralph Fiennes, Tilda Swinton, Jonah Hill, Christopher Lambert, Frances McDormand Fotografia: Roger Deakins Trilha Sonora: Carter Burwell Produção: Eric Fellner, Ethan Coen, Joel Coen, Tim Bevan Duração: 106 min. Distribuidora: Universal Pictures Brasil Estúdio: Mike Zoss Productions / Working Title Films

Cotação 5 estrelas

 

Tomorrowland – Um lugar onde nada é impossível (2015)

Por André Dick

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Lançado durante o verão dos Estados Unidos, Tomorrowland – Um lugar onde nada é impossível se mostra mais uma tentativa de Brad Bird em dirigir filmes com humanos. Precedido por desenhos animados importantes, como O gigante de ferro, Os incríveis e Ratatouille, Bird estreou em Missão fantasma – Protocolo fantasma à frente de um elenco. Se o episódio que fez de Ethan Hunt não possui a mesma vibração da terceira parte, de J.J. Abrams, pode-se dizer que ele conseguiu acertar nas sequências de movimento incessante. Com grande divulgação da Walt Disney, aos poucos Tomorrowland foi sendo comparado a John Carter, principalmente pela bilheteria, que equivale, no momento, a pouco mais de seu orçamento e teria provocado, inclusive, o cancelamento das filmagens de um possível terceiro Tron. E, se John Carter foi injustamente menosprezado, a dúvida seria se Tomorrowland possui as mesmas características.
Como no quarto Missão: impossível, há problemas na elaboração de roteiro, que parecem, de certo modo, se repetir neste filme. A cargo de Damon Lindelof, a narrativa se concentra em viagens de tempo ou no espaço, típicas do roteirista e já mostradas em larga escala em Lost, Prometheus, Cowboys e aliens e Além da escuridão – Star Trek, sempre mesclando teorias enigmáticas. Mesmo assim, Tomorrowland se sente ainda como um respiro ao mostrar personagens em lugares diferentes, não exatamente interligados. Inicia com um homem chamado Frank Walker (George Clooney) contando para a câmera sobre uma experiência que teve em 1964 na feira New York World (onde quem vive o personagem é Thomas Robinson). Ele conhece David Nix (Hugh Laurie), para quem mostra sua criação, uma espécie de foguete para usar às costas, e Bird homenageia certamente Rocketeer nas cenas de voo, com o auxílio fundamental da belíssima fotografia de Claudio Miranda, que recebeu o Oscar por As aventuras de Pi.

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Recebendo um pino de metal das mãos de uma menina que está com Nix, Athena (Raffey Cassidy), o menino consegue avançar para um lugar chamado Tomorrowland, uma espécie de mundo futuro, paralelo ao que vivemos, com um design fabuloso. Em seguida, a narrativa, voltando ao presente, mostra uma menina, Casey Newton (Britt Robertson), que tenta ajudar o pai, Eddie (Tim McGraw), a não perder seu emprego na Nasa no Cabo Canaveral, cujo rumo se encontra indefinido. Em determinado instante, ela entra em contato com o mesmo pino entregue a Walker em 1964, e, consequentemente, com Tomorrowland. As cenas do primeiro contato de Casey com esse universo são muito bem pensadas por Bird, sobretudo quando ela se encontra no carro ao lado do pai, ou quando chega em casa e decide ver novamente o funcionamento do pino. A partir de poucos elementos, percebe-se que Bird tem uma compreensão exemplar sobre o cinema infantojuvenil feito a partir da década de 1980, com E.T. – O extraterreste, Os Goonies – o pino é como se fosse o medalhão da caveira, que atrai para um mundo em que as riquezas podem ser descobertas no porão de uma casa à beira-mar – e, sobretudo, Super 8, a revisitação de Abrams para esses anos. Seguida pela mesma menina Athena, Casey chega a uma memorabilia em Houston, onde encontra Hugo (Keegan-Michael Key) e Ursula (Kathryn Hahn), que estão interessados no objeto capaz de efetuar esse deslocamento para um universo paralelo, e Bird desta vez estabelece um diálogo com Matrix, sobretudo por meio dos homens que estão no encalço da personagem, de terno e gravata.
A dúvida, em seguida, é saber como as histórias de Walker e Casey vão se conectar, e Brad Bird aponta sempre para uma sucessão de encontros, fugas e alguma ação muito bem conduzida, como já havia ficado claro em seu Missão: impossível. Enquanto isso há tentativas de divertimento no difícil contato entre Casey e Athena, que se revela uma androide mais otimista.

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Ela representa o avesso do David Bowman, de Prometheus; seu sonho parece ser acreditar na humanidade e sonha fazer parte dela. Não é difícil imaginar por que o nome Athena remete tanto à deusa grega da guerra, da civilização e da sabedoria, quanto ao nome de uma família de foguetes da Nasa. A atuação de Raffey Cassidy concede à personagem uma insuspeita humanidade centrada principalmente que ela conserva dos seres humanos, tentando buscá-los para que Tomorrowland possa sobreviver, não apenas como um universo paralelo. Ela recebe a contrapartida de Britt Robertson na maioria das cenas, uma atriz capaz de lidar de forma intensa com as cenas de ação.
O que Bird mais trabalha é justamente com a tentativa de o ser humano dominar seu futuro sem ter controle efetivo sobre seu passado e seu presente. E o faz de maneira interessante ao justapor o que seria o objetivo do criador da Disney, o Epcot Center, com este universo fantasioso, Tomorrowland, feito por pessoas com capacidade de sonhar. Avança neste terreno a sequência em que os personagens, em determinado momento, conhecem uma sala secreta na Torre Eiffel em Paris, com os manequins de Jules Verne (escritor francês), Nikola Tesla (criador da engenharia mecânica e eletrotécnica), Gustave Eiffel (engenheiro) e Thomas Edison (que, entre outras criações, fez o cinematógrafo), que teriam sido os fundadores da Plus Ultra, um grupo de sonhadores. Neste ponto, Tomorrowland adota uma clara influência de obras como Da terra à lua, de Jules Verne, assim como dialoga com a cinematografia de Meliès (numa associação direta com A invenção de Hugo Cabret). Essa sequência desenhada por Bird através de um gráfico esplendoroso de imagens coloca Paris como fonte de parte da criação humana e do sonho com um futuro ainda distante. É uma clara homenagem de Lindelof, um especialista em fazer essas referências, e Bird a alguns dos descobridores da modernidade. Neste ponto, o filme também dialoga com O gigante de ferro, estreia de Bird, em que o robô se alça ao espaço de maneira incontornável; em Tomorrowland o foguete que irrompe da Torre Eiffel é uma versão fantasiosa espetacular da Nasa.

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Mais do que o roteiro em parte confuso, principalmente depois dos dois primeiros atos bastante trabalhados, para desencadear em um terceiro mais apressado, Tomorrowland tem as características do trabalho de escrita de Lindelof também no que se refere à caracterização dos personagens. As personagens de Walker e são desenhadas com o mínimo de características, e ainda se sustentam, enquanto Walker se mostra um homem ameaçado pelo que pode vir a ser o futuro, em razão da presença de Clooney bastante envelhecido, e Tomorrowland um registro de que seus sonhos podem ser ainda alcançados. Trata-se de um personagem bastante humano, escondido em sua casa diante de monitores de televisão com notícias ruins, e ainda mais: Tomorrowland, que visualiza o futuro, é, na verdade, a lembrança de seu passado e o que marcou sua vida. A personagem de Athena representa tudo aquilo que ele imaginava ser diferente. Por isso, a partir desses personagens distintos dos que encontramos em blockbusters, Tomorrowland se sente como um filme que mistura diversos estilos e não necessariamente é indicado para crianças, jovens ou adultos, pelo menos especificamente. Bird, junto com Lindelof, prefere a estranheza de uma narrativa que parece em movimento e, por outro lado, é apegado a uma visão tão alegre quanto melancólica das coisas que nos cercam. Daí a sua mensagem de pano de fundo se sentir como algo ao mesmo tempo possível e ilusório, pois cada indivíduo necessita de sua imaginação, como também de sua praticidade. Há uma espécie de ambiente onírico ao longo de todo o filme de Bird, e é nisso que se concentra seu maior acerto: cada um desses personagens sugere que seu futuro é um sonho a ser construído.

Tomorrowland, EUA, 2015 Diretor: Brad Bird Elenco: George Clooney, Britt Robertson, Raffey Cassidy, Hugh Laurie, Thomas Robinson, Tim McGraw, Keegan-Michael Key, Kathryn Hahn Roteiro: Damon Lindelof, Jeff Jensen Fotografia: Claudio Miranda Trilha Sonora: Michael Giacchino Produção: Brad Bird, Damon Lindelof, Jeff Jensen Duração: 129 min. Distribuidora: Disney Estúdio: A113 / Walt Disney Pictures

Cotação 3 estrelas e meia

 

O fantástico Sr. Raposo (2009)

Por André Dick

Em um ensaio de Estâncias, o filósofo italiano Giorgio Agamben recorda de um texto intitulado “Moral do brinquedo”, em que o poeta Charles Baudelaire narra a visita que fez, quando criança, à casa de uma certa Madame Panckhoucke – citando as palavras de Agamben: “Ela tomou-me pela mão e juntos atravessamos muitas habitações; depois, abriu a porta de um quarto, que me proporcionou um espetáculo extraordinário e realmente fabuloso. Os muros, por estarem cobertos de brinquedos, já não eram mais visíveis. O teto desaparecia sob a florescência de brinquedos que pendiam como estalactites maravilhosas. O piso deixava apenas pequeno espaço onde pôr os pés… Por causa dessa aventura, é que não posso parar diante de uma loja de brinquedos e percorrer com o olhar a inextricável multidão das suas formas bizarras e das suas cores díspares, sem pensar na senhora vestida de veludo e de pele, que me aparece como a Fada do brinquedo”. Para Agamben, Baudelaire desenha “um misto de alegria impenetrável e de frustração estupefata, que está na raiz quer da criação artística, quer de toda relação entre os homens e os objetos”. Deslocando-se para o livro A criança e a vida familiar no Antigo Regime, de Ariés, Agamben considera que até o século XVIII a Europa adulta “procura avidamente os objetos em miniatura, as casas de boneca…” – sendo que os “historiadores de brinquedos (nas palavras de Ariés), os colecionadores de bonecas e de objetos em miniatura, encontram sempre muita dificuldade para distinguir as bonecas de brinquedo de todas as outras imagens e estatuetas […].”. Para Agamben, em outro ensaio, “O país dos brinquedos”, “o brinquedo é uma materialização da historicidade contida nos objetos que ele consegue extrair por meio de uma manipulação particular”.

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Esta manipulação particular e o encontro com uma casa de brinquedos com a avidez de um historiador é o que move Anderson, sobretudo em O fantástico Sr. Raposo, baseado numa história de Roald Dahl, autor de histórias infantis adaptadas para o cinema com grande êxito, como os dois A fantástica fábrica de Chocolate, James e o pêssego gigante, Matilda e mesmo Gremlins (cujo livro homônimo de Dahl serviu de base para o filme de Joe Dante). Desde o início, quando num travelling horizontal – que dialoga diretamente com o início de Moonrise Kingdom –, Anderson coloca o espectador numa espécie de redoma de brinquedo e, depois de mostrar o Sr. Raposo (George Clooney) e a  Sra. Raposa (Meryl Streep), roubando um galinheiro – para ela dizer que está grávida, pedindo que ele deixe a vida de ladrão e procure outro emprego –, os mostra em mudança para uma nova casa – numa árvore –, tudo lembra uma casa de bonecas. Por se tratar de raposas e texugos, tendo esquilos como transportadores de mudança, O fantástico Sr. Raposo mostra tocas e mais tocas, onde os personagens passam, cavando por vontade ou desesperados. O casal já tem um filho, Ash (Jason Schwartzman), que quer ser esportista, mas não consegue chegar ao talento do pai. Com a chegada de um primo mais ágil, Kristofferson (Eric Anderson), ele acaba ficando ressentido – sobretudo porque o primo é convidado pelo pai e pelo gambá, Kylie (Wallace Wolodarsky), para participar do roubo de galinhas a propriedades vizinhas, dos fazendeiros mais temidos de toda a história da região, Boggis (Robin Hurlstone), Bunce (Hugo Guinness) e Bean (Michael Gambon), que abrem fogo contra o Sr. Raposo. “Ele mal chegou e já ganhou máscara de bandido”, diz ele, revoltado.

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Aconselhado a não se mudar para lá, o Raposo não dá ouvidos ao advogado, Badger (Bill Murray), pois quer, afinal, seguir seu instinto de caçar galinhas, indo contra a vontade da esposa, que adora pintar plantações sob tempestades de raios (e a pintura é referência contínua de Anderson, como vemos com Sam de Moonrise Kingdom). No plano animal, o adversário é o Rato (Willlem Dafoe) – que ganha, ao longo do filme, a animação mais assustadora, sobretudo pelo tamanho que parece ter dentro dessa caixa de brinquedos movida por Anderson.
Tendo tocas como cenários e a reconstituição cuidadosa da casa da família de raposas com miniaturas condizentes, Anderson, mais ainda do que em Os excêntricos Tenenbaums ou A vida marinha com Steve Zissou, investe num imaginário propício às fábulas. Se as personagens nunca agem como personagens de uma fábula normal – as gags para adultos são muitas – , é porque Anderson investe todo o seu estilo, em pinceladas de humor também visual e uma ágil troca de diálogos, em roteiro escrito pelo diretor em parceria com Noah Baumbach (diretor de A lula e  a baleia), já estabelecida em A vida marinha com Steve Zissou. Ele chegou a competir com Up – Altas aventuras ao Oscar de melhor animação, e este filme é sem dúvida bastante semelhança com Sr. Raposo no sentido de que é mais dirigido a adultos. Anderson deseja investir sua concepção visual num stop-motion dos mais originais – correspondendo-se com alguns crustáceos filmados em noite de lua cheia por Zissou –, em que cada personagem ganha uma movimentação crível (destaca-se, por exemplo, a presença de alguns cães), colocando, para aproximar espectador e filme, os personagens falando diretamente para a câmera, com a habitual tendência de Anderson em buscar o enquadramento exato.

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Lá estão todos os elementos que vemos na filmografia “com atores” de Anderson: a família é sempre um lugar para a juventude tentar crescer da melhor forma, mesmo que ela apresente às vezes alguns valores duvidosos – o filho ficar triste porque não é convidado pelo pai a ser um “bandido”, por exemplo. Mas o pai, como um Royal Tenenbaum, que vive de enganações, e tenta deixar de escrever no jornal da cidade para ser respeitado novamente como um caçador, não deseja apenas refazer sua vida: ele não sabe exatamente o que está fazendo e, quando arrasta a todos para dentro da situação, o que lhe resta é tentar liderar uma revolução e se transformar novamente numa referência. Mas as coisas, a partir daí, já mudaram: para Anderson, no entanto, dentro ou fora da árvore – ou da caixa de brinquedos –, os personagens devem continuar sobrevivendo, mas não sem humor ou música. O fantástico Sr. Raposo é uma peça de grande apelo justamente por sua inteligência em mesclar o universo das fábulas com o da música pop (temos até mesmo uma participação de Jarvis Cocker, do Pulp, em forma de animação), sem reduzir o seu universo, com a ajuda de uma magnífica fotografia de Tristan Oliver, ocupando o cargo do colaborador habitual do diretor, Robert D. Yeoman.
É bem verdade que, por ser dirigido ou não às crianças, mais do que seus outros filmes, Anderson se arrisca, aqui, a tentar dar uma certa lição moral – no que acaba não tendo controle, perdendo, no meio do filme, alguma parte da força que existe no restante –, mas acaba se recuperando e compondo um retrato corrosivo de uma família, assim como seu referencial Os excêntricos Tenenbaums e uma meditação sobre a violência contra animais da maneira mais surpreendente que se pode imaginar e, ao mesmo tempo, brincando com golpes de artes marciais. Não é sempre que vemos raposas, texugos e gambás agindo em conjunto ou não – em Anderson, no entanto, mais do que interessante, torna-se memorável.

Fantastic Mr. Fox, EUA, 2009 Diretor: Wes Anderson Elenco: George Clooney, Meryl Streep, Bill Murray, Jason Schwartzman, Owen Wilson, Michael Gambon, Helen McCrory, Roman Coppola, Brian Cox, Wallace Wolodarsky, Robin Hurlstone, Hugo Guinness, Jarvis Cocker Roteiro: Wes Anderson, Noah Baumbach Fotografia: Tristan Oliver Trilha Sonora: Alexandre Desplat Produção: Wes Anderson, Allison Abbate, Jeremy Dawson, Scott Rudin Duração: 87 min. Distribuidora: Fox Film Estúdio: American Empirical Pictures / Twentieth Century Fox Film Corporation / Blue Sky Studios / Indian Paintbrush / Twentieth Century Fox Animation

Cotação 4 estrelas

 

Gravidade (2013)

Por André Dick

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Depois de Sólo con tu pareja, o mexicano Alfonso Cuarón se dividiu entre uma carreira em Hollywood, realizando um filme da série Harry Potter, o ótimo A princesinha e o subestimado Grandes esperanças, além de Filhos da esperança, e uma trajetória mais voltada a seu país de origem, com E sua mãe também. Em Gravidade, um dos filmes mais aguardados do ano, Cuarón tem todos os elementos para se notabilizar como um diretor que consegue lidar com um orçamento alto e estrelas conhecidas, aqui George Clooney e Sandra Bullock. Desde as primeiras imagens liberadas, chamava a atenção a estética voltada para o uso da câmera no espaço, outro trabalho do grande Emmanuel Lubezski, colaborador de Terrence Malick em O novo mundo, A árvore da vida e Amor pleno. Lubezki também já havia colaborado com Cuarón, e se percebe, sobretudo neste, que a parceria quase o torna também um codiretor, devido à importância que tem para o resultado – o mesmo se pode falar dos dois últimos filmes de Malick, com um uso frequente de cores e movimentos de câmera variados. É justamente pelo trabalho de fotografia, mas também o de efeitos especiais e de ambientação, mesclando os melhores ganhos trazidos por ficções mais reflexivas, como 2001 e Os eleitos – o grande filme de Phillip Kaufman do início dos anos 80 –, que Gravidade ganha seu primeiro impulso.

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Trata-se de uma história superficialmente bastante simples: vemos dois astronautas, Dra. Ryan Stone (Bullock) e Matt Kowalski (Clooney), trabalhando numa estação espacial. Ela tem a função de substituir peças no Telescópio Espacial Hubble, e Kowalski está se preparando para a aposentadoria. Cuarón mostra essa jornada não apenas com o sentido do trabalho a ser realizado, mas existencial, mostrando os dois personagens lançados imediatamente numa relação cercada pela angústia – o vazio do espaço nunca havia sido tão bem captado – quanto conturbada, pois estão diante de uma ameaça: um satélite russo explodiu e seus detritos podem encontrá-los no espaço. Além disso, pode haver falta de oxigênio para que a missão se mantenha equilibrada. Esta linha tênue de roteiro não chega a atrapalhar, mesmo porque todo o filme é utilizado para conceber tanto uma situação delimitada (não esperando-se, com isso, subtramas) quanto um universo imaginado, mas não conhecido com a proximidade do que vemos aqui. São claras as influências de 2001 e de Os eleitos (inclusive com a presença da voz de Ed Harris), principalmente pelo ritmo lento empregado em algumas passagens e a verossimilhança de ver astronautas isolados respirando forte, sobretudo dentro de cabines apertadas, ou pendurados em cabos, neste caso especificamente como em 2001, com a Terra ao fundo e a imensidão ao redor.
Cuarón, com a colaboração decisiva de Lubezki, consegue dar uma dimensão às imagens, quase como se estivéssemos, em parte, junto com os personagens, numa curiosa ligação com a plateia, apresentando uma certa sensação tanto de isolamento quanto de vácuo. O 3D de Gravidade não faz parte da onda de filmes que se utilizam deste recurso apenas para arrecadar mais nas bilheterias (com exceções recentes, como o segundo Star Trek): ele se torna um personagem à parte, sobretudo nas sequências de ação e nos primeiros minutos, quando o espectador está conhecendo o contexto em que esses astronautas se encontram, e a Terra a distância nunca pareceu tão realista.
No entanto, ele pouco serviria não fossem, de fato, os atores que interpretam o roteiro de Cuarón e de seu filho, Jonás, com a contribuição não creditada de Clooney. Contamos com uma atuação correta de Clooney, mas com a presença que simboliza o triunfo de uma atriz que dificilmente, mesmo com o Oscar por Um sonho possível, é levada a sério, mais lembrada pelas séries Miss simpatia e Velocidade máxima, a imprevisível Sandra Bullock. Sua atuação é, a meu ver, irretocável e toda vez que a trama de Cuarón poderia incorrer na pieguice é ela que consegue salvar as cenas. Não apenas emocionalmente é um papel difícil, como também fisicamente. Bullock, pelo menos em dois momentos, consegue realmente comover o espectador, e Cuarón a guarda como símbolo de Gravidade ser um cinema de primeira linha. Sabemos que se trata de uma atriz que está arriscando em cena, mesmo que este risco seja às vezes desnecessário.

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Seria também fácil ser um detrator de Gravidade – que certamente vai colecionar uma porção deles antes e depois do Oscar, alguns tratando-o com expressões como “obra que nada acrescenta”, com seus “dramas banais” e “puro virtuosismo técnico” (no outro extremo das críticas que vêm recebendo desde sua primeira exibição no Festival de Veneza). Ao mesmo tempo em que Cuarón está desinteressado em filmar o espaço como filmaram Tarkovski e Kubrick, com uma lentidão detalhada e com uma história de mais simbolismo do que de ação efetiva, com ameaças constantes diante da sobrevivência, não pode ser desconsiderado por isso, e se seguisse os anteriores seria contemplado como diluidor. Pode ser excelente ver Solaris, de Tarkovski, com toda sua temática implícita, assim como David Bowman diante de imagens enigmáticas antes de se encontrar num quarto vitoriano, mas também o é ver uma história que aposta na tentativa de sobrevivência de dois astronautas diante de um espaço com a história entregue ao espectador para que possa lançar-se em outros sentimentos, e o embate entre pessimismo e otimismo é um deles. Do mesmo modo, Cuarón coloca Kowalski como um astronauta iminentemente preso às “histórias” da Terra, sem querer adentrar em questões relacionadas ao infinito do espaço, mas se colocando sempre em risco. Em determinado momento, o personagem de Ryan Stone passa a ser um contraponto a ele: sem as mesmas histórias da Terra para contar, ela, nem por isso, parece propensa a aceitar esse universo infinito e encara o desconhecido não como um encontro com a existência, mas como seu afastamento, e para que possa experimentar ainda a realidade, a Terra que avista a distância, é preciso entender a própria vida que a trouxe até aquele momento. Bullock consegue ser verossímil nesta transição de uma personagem com receios a uma personagem que precisa se deparar com um problema imprevisto e maior do que toda a sua vida até então. Mais do que anunciam os diálogos de Cuarón e seu filho, parece que Gravidade é um filme tenso e conciso (nem se percebe a metragem de 90 minutos), com uma análise da existência sentimental e próxima, tomada de referências a deuses de diferentes culturas, que parecem, ao mesmo tempo, ligeiras e compenetradas.
Nesse sentido, é interessante ver que Gravidade não se contente com sua história enfocando, a princípio, um único problema, e personagens basicamente humanos e efetivamente apegados ao cotidiano. Chama a atenção que ele mergulhe tanto na parte técnica (envolvendo estações espaciais e computadores) e seu desejo seja sempre pela terra firme e pelas lembranças dos seres humanos. Para Cuarón e seu filho, talvez seja mais difícil a aceitação da tecnologia e da transcendência do que a Terra, mas também parece avançar no fato de que a Terra pode ser a reprodução dessa própria descoberta de transcendência que se imagina ter apenas numa situação inóspita – e o conceito que temos de morte é esta indicação precisa. Numa única situação, em que um personagem pode morrer e renascer algumas vezes, diante do medo e da circunstância, por meio de lembranças ou sonhos, numa sucessão de enfrentamentos com o desconhecido, Cuarón concebe uma obra cinematográfica inesquecível.

Gravity, EUA/ING, 2013 Diretor: Alfonso Cuarón Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón, George Clooney (não creditado) Elenco: Sandra Bullock, George Clooney, Basher Savage, Eric Michels, Ed Harris Produção: Alfonso Cuarón, David Heyman Fotografia: Emmanuel Lubezki Trilha Sonora: Steven Price Duração: 90 min. Distribuidora: Warner Bros Estúdio: Heyday Films / Reality Media / Warner Bros. Pictures

Cotação 5 estrelas

Além da linha vermelha (1998)

Por André Dick

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Filme de Terrence Malick com fotografia perfeita de John Toll (responsável pelo design visual de Cloud Atlas) e elenco grandioso, Além da linha vermelha, baseado em obra de James Jones, é o retrato de um momento da Segunda Guerra Mundial, desta vez do avanço de uma tropa – Companhia C – à Batalha de Guadalcanal, em 1942, para atacar os japoneses, mas aqui sob o ponto de vista existencial, ou seja, o personagem principal, Witt (Jim Caviezel) está longe, mas não tira seu pensamento do éden da Melanésia. O interessante é como num filme de guerra Malick consegue fotografar mínimos detalhes da natureza com tanta atenção. Para ele, mais ainda do que em seus filmes iniciais, dos anos 1970, a natureza é uma metáfora da própria existência humana.
Se Malick fez um drama de guerra filosófico, retomando uma trajetória de direção interrompida vinte anos antes, com Dias de paraíso, no mesmo ano Steven Spielberg empregou a meia hora mais impactante de sua carreira no início de O resgate do soldado Ryan, que inicia com a chegada de tropas americanas à praia francesa de Omaha, defendida por alemães, com imagens espetaculares e realistas, em que Tom Hanks interpreta o líder do pelotão. Depois dessa carnificina, ele é incumbido, com alguns de seus homens, a encontrar o último filho sobrevivente da família Ryan, para que não se abata uma tragédia completa sobre ela.
Basicamente, o filme relata essa busca. Mas Spielberg, com seu habitual talento para o manejo das câmeras e a fotografia cuidada, transforma este num dos filmes de guerra mais impressionantes, graças, também, à interpretação de todo o elenco, a começar pela de Hanks, que constrói um coronel com problemas físicos na mão e quer esconder isso da tropa. Ao final, quando chegam a uma cidadezinha em ruínas, preparam uma ofensiva contra nazistas que estão para invadi-la. É aí que Spielberg melhor mostra seu talento, num verdadeiro tour de force de som e efeitos especiais.

Além da linha vermelha.Filme 4

Além da linha vermelha.Cena 4

O resgate do soldado Ryan constitui-se num filme de guerra com peso nostálgico e histórico (a cena inicial se completa na parte final), com uma certa dureza no que se refere à composição dos personagens – afinal, lida com um cenário de guerra –, mas que acaba preenchendo algumas lacunas com uma emoção calculada, rara em Spielberg, mais propenso a extravasar, o que ele faz com todos os tons permitidos a um diretor conhecido pelo olhar que tem sobre a ação. Diferente de Malick, que consegue, em Além da linha vermelha, por meio da guerra, retratar, de maneira mais densa e menos nebulosa, o que dela não faz parte. Os filmes, em sua abertura, se parecem, mas cada diretor toma suas escolhas diante das próprias características.
Malick é um cineasta que emprega os diálogos e os mínimos detalhes como o centro da ação. Desse modo, a preocupação do primeiro sargento Welsh (Sean Penn) em tirar Witt do Pacífico, da Melanésia, para reintegrá-lo no exército e guiá-lo para a ilha onde se dará o combate derradeiro, na Colina 210, peça-chave da artilharia japonesa, não passa de uma tentativa de convencer a si mesmo de que a guerra vale a pena (e certamente, ele sabe, não vale). O olhar do sargento interpretado por Hanks se direciona para a morte, e é dela que os personagens querem escapar em Além da linha vermelha, sem necessariamente conseguir.

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A percepção de Malick atravessa não apenas as paisagens, como o elenco, com uma série de astros em pontas (ficaram conhecidos os cortes que Malick impôs a atores consagrados naquele período, como Billy Bob Thornton). De maneira geral, a amplitude do cinema de Malick converge para um lugar filosófica, em que o amor e o vínculo entre as pessoas e seres humanos se desenham a distância ou em situações-limite. Embora haja sequências inteiras que remetem Além da linha vermelha a um gênero de guerra, parece que mais ainda Malick deseja uma filosofia das relações. O Tenente-Coronel Tall (Nick Nolte) fala com o general Quintard (John Travolta) – em momentos nos quais Anderson certamente se inspirou para compor O mestre –, mas a atenção de Malick está voltada para a paisagem. Do mesmo modo, Jack Bell (Ben Chaplin), está interessado mais em lembrar de sua mulher, Marty (Miranda Otto), num balanço e paisagens que seriam intensificadas em A árvore da vida e To the wonder. Temos ainda o capitão James Staros (Elias Koteas), o cabo Fife (Adrien Brody), o soldado Jack Bell (Ben Chaplin), o capitão Charles Bosche (George Clooney), o capitão John Gaff (John Cusack), o sargento Keck (Woody Harrelson), o sargento Maynard Storm (John C. Reilly) e o sargento McCron (John Savage), entre outros.
Todos os personagens têm em algum momento ligação entre si, mas Malick está certamente mais interessado no retrato que faz de imagens idílicas, do capim alto em que os soldados rastejam para atingir a colina inimiga, o cenário paradisíaco, com crocodilos, galhos em rios, ilhas minúsculas perdidas no meio do mar e árvores altas, que, no entanto, reservam uma sequência de tiros incalculável. A morte está sempre à espreita, mas, para esses personagens, a morte não significa exatamente o afastamento da natureza idílica? Para Malick, há uma presença divina em meio a um cenário caótico de guerra, e quando os homens precisam se deparar com algum corpo entregue ao verde das colinas tentam desviar seu olhar para o vento e os pássaros, ou para as lembranças, sempre ligadas a algum elemento da natureza: os raios de sol e as cortinas esvoaçantes de uma pintura de Andrew Wyeth. Não se trata, para Malick, de estetizar a guerra, mas de mostrar a solidão dela e o adensamento de trilhas solitárias em meio às árvores de uma mata fechada.

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Além da linha vermelha.Cena 1Se Coppola colocou quilos de napalm para explodir em Apocalypse now e Kubrick transformou a guerra num centro repleto de soldados sob o comando de prometer o cumprimento da morte em nome da corporação, Malick contorna todos com o simples olhar de dentro da guerra e sua reflexão, caracterizada mais pelo olhar estupefato do que pela certeza. A cada tomada de atitude em relação ao combate e cada acampamento montado, Malick está tratando da impermanência da humanidade e do modo como ela se adapta à loucura, mas apenas a controla por meio de lembranças, até que consiga aceitar, finalmente, que não passa de uma pequena ilha solitária na corrente e contra um horizonte não necessariamente aberto. O passado é tão presente quanto a invasão a Guadalcanal, pois é preciso uma justificativa, mesmo que mínima, para que se tenha chegado ali com vida. Malick não consegue retribuir esta justificativa para o espectador diante do peso dramático dos componentes que seleciona ao longo de sua obra, e não consegue se comprometer com o vazio que passa a existir depois da derrocada de um grupo de combatentes. Há um sentido forte de afastamento em Além da linha vermelha como havia sobretudo em Dias de paraíso, e é ele que consegue, ao mesmo tempo, aproximar os personagens de um Éden almejado.

In the red line, EUA, 1998 Diretor: Terrence Malick Elenco: Nick Nolte, Jim Caviezel, Sean Penn, Elias Koteas, Ben Chaplin, Dash Mihok, John Cusack, Adrien Brody, John C. Reilly, Woody Harrelson, Miranda Otto, Jared Leto, John Travolta, George Clooney, Nick Stahl, Thomas Jane, John Savage, Will Wallace, John Dee Smith, Kirk Acevedo, Penelope Allen, Kazuyoshi Sakai, Masayuki Shida, Hiroya Sugisaki, Kouji Suzuki, Tomohiro Tanji, Minoru Toyoshima, Terutake Tsuji, Jimmy Xihite, Yasuomi Yoshino, John Augwata Produção: Robert Michael Geisler, Grant Hill, John Roberdeau Roteiro: Terrence Malick Fotografia: John Toll Trilha Sonora: Hans Zimmer Duração: 170 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Fox 2000 Pictures / Phoenix Pictures / Geisler-Roberdeau

Cotação 5 estrelas

Alexander Payne e seus descendentes

Por André Dick

Em As confissões de Schmidt, de Alexandre Payne (1961), um dos cineastas contemporâneos mais interessantes (o texto segue com spoilers), Jack Nicholson tem uma das melhores atuações de toda a sua carreira, o que não é pouco. Ele interpreta Warren Schmidt, que acaba de ficar viúvo de Helen (June Squibb) e de se aposentar, mas deseja retomar a vida. Para isso, ele quer fazer uma viagem pelo interior dos Estados Unidos para chegar, em Denver, ao casamento da filha, Jeannie (Hope Davies), o qual quer impedir, pois não gosta do genro, Randall Hertzel (Dermot Mulroney), que, logo à primeira vista, lhe pede dinheiro para negócios pessoais. Além disso, pretende ajudar um menino, Ndugu, da África do Sul por meio de uma agência de caridade. São objetivos de quem, como ele mesmo diz, gostaria de ser visto como alguém importante, generoso e atencioso, e aparecer nas capas de revista, porém está contido dentro de suas amarras.
O filme traz a característica básica dos filmes de Alexander Payne: o personagem central que deseja se encontrar. É aqui que Nicholson consegue ser ainda mais brilhante. Fazendo o Schmidt recém-aposentado e viúvo, que descobre uma traição da mulher com o melhor amigo (a cena em que esvazia o armário dela mostra-se antológica), ele se destaca mais do que todo o elenco, só tendo como equivalente Kathy Bates, como Roberta, a a mãe de Randall. A viagem dele pelo interior dos Estados Unidos é subliminar, mostrando por que gostaria de ser lembrado, numa tentativa de voltar à infância e à juventude, simbolizando a aventura que constitui a formação dos Estados Unidos (a ida ao museu faz parte disso). Trata-se, portanto, de um sujeito que pretende progredir, mas como progredir se a velhice chegou e se os compromissos com a família precisam ser mantidos, caso contrário se cai em solidão absoluta? Nesse sentido, ele é o oposto do produtor de música que Nicholson interpretou no ano seguinte, em Alguém tem que ceder – infelizmente outra de suas últimas atuações até agora (o que é de se lamentar, pois é de 2003; a de Como você sabe não está à sua altura).
A relação com a filha, problemática, é o núcleo de conflito no filme, que se revela cada vez mais interessante a cada passo da trama (entrecortada por pequenos incidentes, embora todos de relevo), escrita por Payne com seu habitual parceiro Jim Taylor. Quando ele precisa se deparar com toda a família do genro, e lembrar da memória da esposa, que acabou de perder, surge um dos momentos mais solitários que o cinema nos mostrou, muito por causa da atuação de Nicholson – e Payne procura no realismo das situações a sua poesia, na sua tentativa de compreender o que o cerca, em que contexto precisa se inserir para que não se sinta abandonado, ou mais próximo das estrelas. Trata-se de um humor patético, característica que ele guarda em comum com Wes Anderson (de Os excêntricos Tenembaums, por exemplo). Esta cena cria um enlace com aquela em que Schmidt está num camping e acaba beijando uma mulher casada, depois de quase torná-la sua psicóloga, mostrando a sua mescla entre infantilidade e insegurança adulta. Ali, já sabemos que as confissões mais profundas de Schmidt se atritam com a realidade. E para Payne, como é comum em sua filmografia, enfrentar o dia a dia rotineiro, como o faz Warren, tem a mesma importância dos descobridores da América – mas não há condescendência nenhuma em relação às suas atitudes.

Warren Schmidt remete ao professor de Eleição, Jim McAllister, interpretado por Matthew Broderick, conhecido pelo Ferris Bueller de Curtindo a vida adoidado, incumbido de organizar uma eleição para diretoria de alunos de seu colégio. É o motivo para ele se deparar com a sua aluna mais ambiciosa, Tracy Flick (Reese Witherspoon, em seu melhor papel até hoje), que pretende ganhar a eleição a qualquer custo. Ele quer colocar outros concorrentes para atrapalhá-la, entretanto só encontra um jogador do time de futebol e um ingênuo, Paul Metzler (Chris Klein, de American Pie, excelente).
Na verdade, Payne, como em seus outros filmes, fala de um indivíduo que gostaria de ser visto pelas conquistas pessoais – que não chamam a atenção – e sair da mesmice. O professor quer vingar através disso o amigo, também professor, que se envolveu com essa aluna e acabou denunciado. Tenta ter filhos com a mulher, Dianne (Molly Hagan), mas está interessado ainda mais em ter uma amante, Linda (Delaney Driscoll) – porém, tudo é visto, por Payne, sem o olhar moralista, em tom de humor e corrossão típicos de sua filmografia. Os personagens nunca agem como se esperava deles, e a lucidez disso é a melhor desculpa para ver um dos bons filmes de colégio já feitos, um dos poucos com real inteligência. Há uma crítica ao comportamento de cada personagem, como ao de uma menina, Lisa (Frankie Igrassia), que, para provocar Tammy Metzler (Jessica Campbell), irmã do outro candidato, o jogador, passa a andar com ele para magoá-la. A irmã resolve se candidatar por vingança ao irmão e à ex-amiga, apenas para tumultuar o ambiente – e Payne é mestre em tumultuar ambientes comuns, porém sempre por meio de uma dramaticidade travada, sem exageros e sem desviar o foco dos personagens para elementos cinematográficos que possam se destacar (seus filmes têm uma direção de arte e uma fotografia sempre naturais, apesar de cuidadosas, por exemplo). Eleição acaba sendo um retrato bastante interessante de certo comportamento político: a da menina que, para não ver a própria mediocridade, passa a ver todos contra ela e seus objetivos – Tracy Flick é o retrato mais bem acabado dessa questão. De qualquer modo, o que mais pode ser acentuado é sua questão entre o que é público e privado – e como os desejos pessoais podem contrastar com o que é considerado justo e dentro das normas.

O filme seguinte sobre os anti-heróis de Payne, Sideways começa como se fosse uma comédia fútil, com piadas e gracejos, mas logo se torna mais densa e séria, com a descoberta de que o personagem principal, um escritor, Miles Raymond (Paul Giamatti), abandonado pela mulher e que sai em viagem com o amigo Jack Lopate (Thomas Haden Church), que está para se casar e é mulherengo, é na verdade um alcoólatra. Em sua obsessão por experimentar vinhos – a viagem é feita por lugares com vinícolas do interior dos Estados Unidos, em Santa Ynez Valley –, Payne desenha o painel de um escritor que não consegue publicar o que considera sua obra-prima, nos moldes joycianos, e tenta preencher sua vida com um novo amor, todavia é sobretudo o retrato de um homem de meia-idade que tenta se encontrar na vida, como acontece em seus roteiros e filmes (como As confissões de Schmidt e Os descendentes).
Giamatti tem uma atuação bastante eficiente, mostrando toda sua desconfiança em relação a uma nova vida e seu desespero de ser aceito, apoiado por um elenco em grande estilo. E Payne novamente mostra o interior norte-americano, o que já acontecia em As confissões de Schmidt, com seus restaurantes de beira de estrada e o isolamento oferecido pela frustração, uma espécie de road movie quase estático e sem aventura. O seu amigo, especialmente, o coloca em várias situações constrangedoras, e representa uma espécie de tentativa de evidenciar a masculinização forçada.
Mas há a sensibilidade insegura de Miles, revelada pela sequência em que ele e seu amigo vão para casa de duas mulheres – Miles se interessa por uma garçonete, Maya Randall, feita por Virginia Madsen, enquanto o amigo fica com Stephanie, a talentosa Sandra Oh. Trata-se de uma pausa romântica muito bem feita, neste sentido, depois com a volta ao isolamento do hotel e, finalmente, um pouco da vivência do bucólico, pelo qual Payne está interessado sobretudo para mostrar o que pode esconder de mais real na estrutura psicológica dos seus personagens.

Estabelecendo relação direta com Sideways, em Os descendentes, Payne está preocupado em tirar de George Clooney a melhor atuação de sua carreira e por isso o filme tem um aspecto trágico familiar, mostrando emoções e constrangimentos dos personagens, característica do cineasta. Ele não gosta desse personagem como gostava do escritor problemático de Sideways – que gostaria de ver sua carreira artística reconhecida –, mesmo que sua assinatura esteja no estilo e na trama, com sua desenvoltura para um roteiro que poderia existir em outros filmes, sendo melhor trabalhado agora. Clooney faz Matt King, um pai de família que mora no Havaí, com duas filhas rebeldes, Alexandra (Shailene Woodley, excepcional) e Scottie (Amara Miller), e cuja mulher, Elizabeth (Patricia Hastie), está na UTI. Para acentuar seu drama pessoal, ela descobre que ela tem um amante – um vendedor de imóveis do lugar (Matthew Lillard), também casado, com Julie (Judy Greer, atriz inexpressiva, que aqui não atrapalha).
O filme basicamente mostra essa busca dele pelo amante da esposa, em meio à venda de um grande terreno da sua família, pretendido sobretudo por seu primo (Beau Bridges), mas é apenas um motivo para mostrar desencontros entre personagens. E o momento em que ele o encontra é o ponto alto desta tensão dispendida ao longo de todo o tempo e do que ele precisa suportar para criar as duas filhas problemáticas, acompanhadas por um rapaz, Sid (Nick Krause), meio namorado de Alexandra, em cuja solidão Matt se apoia para entender a sua própria.
O cenário das praias do Havaí não atenuam este sentimento de perda, e Payne quer que vejamos os personagens como complementares a esta paisagem – por isso, sabemos que eles não podem se desviar do seu passado, que volta a cada instante (seja por meio do coma da mulher, seja por meio do Mal de Alzheimer da sogra), como acontece com Schmidt, McAllister e Milles Raymond – dos outros filmes do cineasta –, exatamente num momento decisivo para a vida de cada um, que concentra todos os momentos, passados ou futuros.
O filme procura, em alguns momentos, representar a ética familiar, e Payne desenvolve isso com talento, dispondo os personagens da maneira mais sóbria, como se fosse um documentário familiar, adquirindo ainda mais intensidade do que aquela mostrada em As confissões de Schmidt e Sideways. As conversas do marido com a mulher em coma permitem a Clooney desempenhar cenas com as quais não estava acostumado, pois em algum momento sempre caía no exagero. Aqui é diferente. Clooney se coloca como um pai de família comum, e acreditamos nisso, com seu ar cansado e corpo arqueado. O momento em que ele reúne os familiares e amigos da esposa para contar a verdade é antológico. Payne filma tudo com mais luz natural do que cinematográfica, o que dá um aspecto de verdade ao que acontece e leva o espectador a se interessar ainda mais pela trama e por esta descendência.

Election, EUA, 1999 Diretor: Alexander Payne Elenco: Matthew Broderick, Reese Witherspoon, Loren Nelson, Chris Klein Produção: Albert Berger, David Gale, Keith Samples, Ron Yerxa Roteiro: Alexander Payne, Jim Taylor Fotografia: James Glennon Trilha Sonora: Rolfe Kent Duração: 103 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Paramount Pictures / Bona Fide Productions / MTV Films

Cotação 4 estrelas e meia

About Schmidt, EUA, 2002 Diretor: Alexander Payne Elenco: Jack Nicholson, Kathy Bates, Hope Davis, Dermot Mulroney, June Squibb, Howard Hesseman, Len Cariou, Harry Groener, Connie Ray, Mark Venhuizen, Cheryl Hamada, Phil Reeves Produção: Michael Besman, Harry Gittes Roteiro: Alexander Payne, Jim Taylor Fotografia: James Glennon Trilha Sonora: Rolfe Kent Duração: 125 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: New Line Cinema

Cotação 5 estrelas

Sideways, EUA, 2004 Diretor: Alexander Payne Elenco: Paul Giamatti, Thomas Haden Church, Virginia Madsen, Sandra Oh, Patrick Gallagher,Missy Doty, M.C. Gainey Produção: Michael London Roteiro: Alexander Payne, Jim Taylor Fotografia: Phedon Papamichael Trilha Sonora: Rolfe Kent Duração: 123 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Fox Searchlight Pictures / Michael London Productions / Sideways Productions Inc.

Cotação 4 estrelas e meia

The descendents, EUA, 2011 Diretor: Alexander Payne Elenco: George Clooney, Judy Greer, Shailene Woodley, Matthew Lillard, Beau Bridges, Robert Forster, Rob Huebel, Michael Ontkean, Mary Birdsong, Sonya Balmores, Amara Miller Produção: Jim Burke, Alexander Payne, Jim Taylor Roteiro: Alexander Payne, Nat Faxon, Jim Rash Fotografia: Phedon Papamichael Duração: 117 min. Distribuidora: Fox Film Estúdio: Ad Hominem Enterprises

Cotação 5 estrelas