Os fantasmas dos fantasmas: Star Wars – A ascensão Skywalker (2019) e Star Wars – Os últimos Jedi (2017)

Por André Dick

Este texto apresenta spoilers

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Depois de alguns anos do reinício de Star Wars, por meio da Walt Disney, com O despertar da força em 2015, é possível calcular melhor qual é a importância desta trilogia que encerrou a saga iniciada por George Lucas no clássico de 1977. Se Os últimos Jedi foi recebido com certa desconfiança, ao contrário do primeiro de Abrams, ele vem alcançando um status de ser não apenas o melhor desta trilogia, como também aquele que melhor rivaliza com O império contra-ataca, considerado o melhor da saga. No Rotten Tomatoes, tem 91% de média de aprovação da crítica, contra 42% do público. E os elogios vêm acompanhados de que seria o único de fato original. Este artigo pretende trabalhar com a ideia de que os filmes de Star Wars se complementam, apesar de alguns serem mais criticados. A ascensão Skywalker é visto como um desastre, um dos piores da saga, que não teria acabado bem o que Rian Johnson começou. O objetivo aqui é mostrar que Abrams não apenas tentou seguir o estilo de Johnson, como também a reparar detalhes não tão bem trabalhados por seu antecessor. Todos os argumentos apontam para o contrário em algumas matérias que simplesmente entendem que o filme não explica seus motivos, como se o universo Star Wars existisse para fazer completo sentido lógico.

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Responsável por um excelente filme de adolescentes em homenagem ao noir, A ponta de um crime, e por uma ficção científica que soava como um quebra-cabeça, Looper, Rian Johnson foi convidado a dirigir e escrever o roteiro de Star Wars – Os últimos Jedi, a continuação de O despertar da força, o reinício da série criada por George Lucas desta vez por meio dos estúdios Disney, que comprou os direitos da franquia. No episódio anterior, dirigido por J.J. Abrams, havia uma necessidade clara de retomar a nostalgia do filme dos anos 70, mas com novos personagens reencontrando alguns dos antigos, Han Solo e Princesa Leia.
Os últimos Jedi mostra a perseguição da Primeira Ordem aos rebeldes liderados pela princesa Leia (Carrie Fischer), entre eles Poe Dameron (Oscar Isaac). O Supremo líder Snoke (Andy Serkis) está raivoso com o general Hux (Domhnall Glesson) por não conseguir impedir a escapada deles do planeta onde foram localizados. Sabe-se o quanto o anterior repetia referenciais de Uma nova esperança, o episódio de 77. Desta vez, as referências são O império contra-ataca e O retorno de Jedi. E não se trata de coibir a nostalgia.

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O episódio derivado da série, Rogue One, de 2016, se fazia em cima disso também, com talento insuspeito por Gareth Edwards. A questão é que aqui Rey (Daisy Ridley) está numa ilha do planeta aquático Ahch-To, onde se esconde Luke Skywalker (Mark Hamill), querendo ser treinada por ele. A aproximação com Yoda em O império contra-ataca não se dá apenas pela argumentação, como por meio de imagens e simbologias: as conversas sobre a individualidade se dão em cavernas e a heroína tem conversas psíquicas com Kylo Ren (Adam Driver), uma interessante opção, mas que tem origem na mesma ligação entre Skywalker e Vader no segundo e terceiro filme da primeira trilogia – com a diferença de que aqui Kylo e Rey se enxergam. Essas conversas psíquicas também evocam o encontro de Luke Skywalker com seu outro eu na viagem a Dagobah, quando adentra numa caverna em que surge Darth Vader, que ele confronta e derrota, arrancando sua cabeça, para ver a máscara dar lugar a seu próprio rosto.

Entre os rebeldes, Poe (Oscar Isaac), Finn (John Boyega), BB-8 e a mecânica Rose Tico (Kelly Marie Tran), envolvidos numa missão para chegar a um rastreador da Primeira Ordem, lembram Leia, Solo e companhia na perseguição à Millenium Falcon de O império contra-ataca, além de um mercenário feito por Benicio del Toro evocar Lando Calrissian. A saga de Star Wars começa a intensificar o que já se percebera em O despertar da força: ela trata dos fantasmas de fantasmas. As aparições de Yoda aqui se estabelecem como uma presença que incorpora o peso da saga de Lucas, e Johnson, ao mesmo tempo, quer tornar locações e personagens, como Abrams no filme de reinício, em extensões de um imaginário já conhecido, já visto, já sentido. Essa diferença se percebe na multiplicação de imagens de Rey na caverna. Tudo é repetição; todo personagem é fantasma de outro personagem, em morte ou em vida. Por isso, falar em originalidade aqui não cabe, pelo menos no seu conceito fundamental. É claro que Os últimos Jedi tem elementos técnicos que o diferenciam e também desenvolve passagens que parecem únicas, no entanto, em seu esqueleto, ele está ligado totalmente a O império contra-ataca e a O retorno de Jedi.

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Johnson tenta retomar elementos de O retorno de Jedi por meio de um cassino no planeta Canto Bight, mas de forma um pouco desajustada e com um tom predominantemente infantojuvenil, mesmo com sua crítica às armas e aos maus tratos a animais (temas que soam deslocados, como muitos outros). Se há algo claro nesta reinicialização de Star Wars é uma obsessão em conversar com o público mais jovem, mais do que os antigos. Johnson está sempre tentando inserir crianças em meio à ação. Edwards conseguiu bom resultado em Rogue One porque era um derivado, com mais liberdade, uma interessante narrativa sobre uma rebelde que quer reencontrar o pai e integra um grupo capaz de arriscar sua vida, porém Os últimos Jedi é uma coleção de frases já ouvidas em outros filmes da saga, com comportamentos e situações idênticas. Por isso, não é frutífera a ideia de que, havendo queixas, é porque se tenta deixar o passado de lado nesses novos Star Wars: o passado está presente o tempo inteiro, só por meio mais de outros personagens.
Adam Driver, apesar de um pouco de dificuldade de desenvolver seu vilão porque seus dilemas apenas repetem os de Darth Vader, tem boa atuação, enquanto Snoke (num CGI desanimador, quando cresceria com uma verdadeira maquiagem) é apenas outro Palpatine, contudo sem nenhum lado verdadeiramente ameaçador. O encontro entre Rey, Snoke e Kylo possui diálogos semelhantes aos que vemos em O retorno de Jedi, com Palpatine, Luke e Darth Vader.

Chega a ser desanimadora esta passagem, apesar de seu brilhantismo visual, porque o roteiro simplesmente submete os personagens aos mesmos conflitos de O retorno de Jedi. Do mesmo modo, os conflitos existentes aqui entre a almirante Amilyn Holdo (Laura Dern, certamente com saudade da peruca que usa em Twin Peaks – O retorno) e Poe Dameron, por exemplo, não apenas soam um tanto distantes, e desperdiçam grandes nomes, como Dern e Isaac, este num personagem que era animado no anterior e aqui se aproxima perigosamente de uma falta de empatia, como parecem apenas uma continuidade, por meio de outros personagens, do mesmo estilo de desentendimento entre a Princesa Leia e Han Solo em O império contra-ataca.
Já a parte final de Os últimos Jedi é uma réplica do início de O império contra-ataca, mas, ao contrário de o planeta ser o gelado Hoth é o áspero Crait. As imagens dizem mais.

Em termos gerais, a conclusão a que chega Os últimos Jedi é muito superficial: Kylo quer se aproximar de Rey para juntos governarem a galáxia, no entanto o que isso se difere de Palpatine querer que Vader se aproxime de Luke para ter o Império triunfante? A pergunta seria o que torna Os últimos Jedi tão original quando se vê a premissa, as imagens e subtramas que dele decorrem.

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Escolhido para dirigir a terceira parte, Colin Trevorrow deu espaço a J.J. Abrams novamente, que coescreveu A ascensão Skywalker com Chris Terrio, vencedor do Oscar de roteiro adaptado por Argo e responsável pela escrita de dois trabalhos polêmicos da DC (Batman vs Superman e Liga da Justiça).

Fala-se que Abrams nega o que Johnson acrescentou à série, mas, desde o início, ele adota uma atmosfera mais soturna, chuvosa e mesmo dark, sem a necessidade de destacar as cores habituais e seus lens flare, tentando se adequar visualmente à proposta visual de Johnson. O início, com Kylo Ren encontrando o vilão Palpatine, em Exegol, ressuscitado em forma de clone (que evoca a HQ Dark empire, ao que parece ignorada por especialistas), é uma visita a um lugar soturno da fantasia de Lucas nunca antes imaginado, só apenas superficialmente em A vingança dos Sith. As frotas do império que surgem sob as mãos de Palpatine são uma tentativa de Abrams retomar um vilão ausente nos dois anteriores e eliminado, na forma de Snoke, no segundo, de forma precipitada, fazendo Kylo se transformar quase numa figura bondosa. Como combater os fantasmas dos fantasmas senão com um clone? E assim Abrams faz. Ou seja, a argumentação recorrente de que Palpatine voltou por acaso em A ascensão Skywalker não é plausível, pois sem ele não haveria de fato vilão – e esta figura ajuda a construir o universo de Star Wars com seu papel de oposição. Palpatine é o símbolo da ameaça ao universo Jedi desde seu início, e a segunda trilogia de Lucas o demonstra bem. Não deveria surpreender sua volta aqui para a tentativa derradeira de derrotar os rebeldes.

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A ascensão Skywalker se afasta em partes definidas do colorido de O despertar da força para acompanhar Rey, Finn (John Boyega), Poe Dameron (Oscar Isaac), BB-8, Chewbacca (Joonas Suotamo) e C-3PO (Anthony Daniels) num encadeamento de cenas de ação, com mudança constante de planetas (trazendo uma sensação novamente de aventura no espaço sideral e um senso de distinção no trabalho de direção de arte). Isso fazia falta nos dois episódios anteriores e era uma característica das duas trilogias de Lucas. Abrams reaproveita o estilo de Johnson e o mescla com sua bateria de subtramas: desta vez, Kylo Ren vai a um planeta distante tomar ordens de uma figura inesperada, e passa a rastrear, com a ajuda dos generais Hux (Domhnall Gleeson) e Pryde (Richard E. Grant), o trio da Aliança Rebelde, coordenado por Leia (Carrie Fisher), numa busca feita a um objeto já cobiçado por Skywalker.
De fato, este terceiro filme acaba negando pontos suscitados por Johnson, como no início apressado, porém ele confere um humor mais natural e próximo das histórias de Lucas. A chegada dos rebeldes a um planeta desértico lembra tanto Tatooine quanto Marte, de John Carter, com um grupo de criaturas estranhas. Há uma perseguição fantástica de stormtroopers, assim como uma sequência que envolve Rey e Kylo que adquire uma grandiosidade, com efeitos visuais extraordinários. E C-3PO tem finalmente chance de brilhar depois da segunda trilogia toda e de estar deslocado nos dois primeiros filmes.

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Abrams se sente à vontade desta vez, construindo uma narrativa menos ligada até determinado ponto aos filmes anteriores, aplicando uma história de investigação, capaz de remeter principalmente à série Indiana Jones (principalmente Indiana Jones e o reino da caveira de cristal), antes, claro, de oferecer vários serviços para fãs. No entanto, antes de chegar lá, ele proporciona uma das melhores cenas de toda a saga Star Wars, além de finalmente notar que o trio principal, Chewbacca e C-3PO funcionam muito bem juntos e mantê-los separados em Os últimos Jedi não foi exatamente o mais acertado, embora ela tenha se dado também como um diálogo novamente com O império contra-ataca, em que havia o núcleo de Skywalker e o outro de seus amigos fugindo do império. Também mostra que Abrams soube avaliar os méritos do spin-off Rogue One, cujo núcleo de rebeldes era um destaque.

Há um descompromisso aqui em certos diálogos, mais ação e menos tentativa de seguir exatamente à risca um plano, como O despertar da força. Há também uma busca de Abrams em retomar temas de linhagens familiares usados em sua retomada de 2015 e um pouco ignorados por Johnson em Os últimos Jedi para dar espaço a discussões sobre falta de combustível numa nave espacial. É visível que Abrams também ignora personagens incluídos pelo sucessor, a exemplo de Rose Tico (Kelly Marie Train) para aplicar suas ideias, o que pode constituir uma estranheza a princípio, mas se torna autoral. Se nos vinte minutos iniciais a edição é tortuosa, com excesso de acontecimentos, sem a necessária ponderação para cada personagem, aos poucos Abrams, mesmo desperdiçando a retomada de uma conhecida figura, sabe como costurar escala e grandiosidade como em seus dois Star Trek, lembrando também um determinado momento de Interestelar. Ele também deixa de lado o tom infantojuvenil de O despertar da força e se guia por algumas pistas deixadas por Johnson, principalmente na ligação entre Rey e Kylo Ren, muito bem explorada em Os últimos Jedi e que aqui toma um ponto de inflexão interessante. Isso se mostra quando Dameron, Finn e Rey param em Kef Bir, onde caíram os destroços da Estrela da Morte em O retorno de Jedi. Uma sucata abandonada em meio a ondas gigantescas: é uma imagem de pesadelo no estilo habitualmente leve de Abrams e quando Rey adentra nela para encontrar o localizador que poderá leva-la a Exegol, a fim de deter Palpatine, ela se depara com um eu mais assustador, seu outro lado, como aquele com que se deparava Luke na caverna de Dagobah.

Rey precisa combatê-la e é um ganho de Johnson que Abrams segue. Do mesmo modo, ao final da luta entre Kylo e Rey, ele retoma a passagem que terminou com certo vínculo dos fãs de Star Wars: a morte de Solo em O despertar da força. Desta vez, Abrams se emociona, fazendo um grande meio de contato com a figura de Leia (o amor vencendo tudo), ao trazer o espírito de Solo (outro fantasma do fantasma em que já se tornara em O despertar da força), e leva Rey de volta ao planeta onde estava Skywalker, para encontrar a sua alma pedindo que ela cuide do sabre como uma jedi – uma referência ao modo como Johnson trata Luke, de forma um pouco humorada, em Os últimos Jedi. Ao tirar sua nave dos fundos da água da ilha, lembrando a tentativa que fez em O império contra-ataca concretizada por Yoda, Abrams costura uma grande nostalgia, contudo sempre com acréscimos, jogando a narrativa para a frente e usando o passado como motivo para uma superação atual.

Abrams se preocupa em justificar o voo no espaço sideral de Leia em Os últimos Jedi com imagens de ela mais jovem sendo treinada por Luke Skywalker. Faz uma ligação também com Rey, que fazia as pedras flutuarem ao final do filme de Johnson com aquelas com que ela treina na floresta. Ao contrário da grandiosidade de Johnson, Abrams se atém a quase uma cena zen budista. Também, ao mostrar que Rey se afasta da sua genealogia de Palpatine, ligando-se à dos Skywalker, ela faz justamente o contrário de Vader, que, como Annakin, se afastava das suas premissas boas, mesmo sendo um escolhido.

O passado de Rey, recuperado por Abrams por meio de flashbacks da infância da personagem, já existentes em O despertador da força, volta com outro direcionamento porque Johnson se recusou a analisá-lo, fazendo com que ela fosse considerada de uma família não ligada exatamente à Força. No entanto, Abrams deixava subentendido um passado enigmático sobre a personagem e precisava desenvolvê-lo no capítulo final. Se a escolha não parece ter sido a mais apropriada, foi um risco e opção interessantes de Abrams. Este está preocupado, sim, com a nostalgia; sua grande busca, porém, é tornar o que eram fantasmas dos fantasmas em O despertar da força e Os últimos Jedi em um novo reinício. Ao encerrar os conflitos entre Rey e Kylo com um beijo – fazendo com que seu destino lembre o de Vader, mas em outro contexto, do perdão do filho em relação ao pai -, ele não está simplificando: está simplesmente dizendo que as coisas em Star Wars são circulares e que George Lucas, embora alguns “fãs” não queiram, ainda é o criador desta saga e desta máquina de nostalgia. Abrams chega a contrariar Johnson, que tenta se entregar ao fato de necessariamente destacar personagens infantis, como subentendia ao final de Os últimos Jedi, com o intuito de agradar à Disney, optando por destacar o pôr do sol de Tatooine sendo observado agora por Rey e não Luke Skywalker. A maioria dos argumentos contrários que o leitor encontrar certamente têm uma ligação com pontos abordados pelo artigo “The Rise Of Skywalker: 5 Things It Got Wrong About Rey’s Origins (& 5 It Got Right)”, da Screen Rant. Nele, podem ser vistos os tópicos que os que contestam A ascensão Skywalker para enaltecer Os últimos Jedi costumam usar, às vezes até sem saber disso, de tanto ser replicado por críticos que querem inventar uma obra clássica no filme de Johnson.

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Pode-se dizer que em nenhum momento esta nova trilogia conseguiu ser original a ponto de se ver como uma obra independente, e também não se pode avaliar que foi um simples exercício de nostalgia. Há pontos interessantes, principalmente quanto a ligações familiares (e nem mesmo uma mais forçada me soou incômoda). A figura de Kylo Ren cresceu muito de O despertar da força para A ascensão Skywalker, também pelo amadurecimento de Driver, ator que foi se tornando um destaque. Ridley aqui se mostra também em seu melhor momento, afastando-se simplesmente da imagem de heroína juvenil e mostrando real conflito interior. Boyega e Isaac, cada um a seu tempo, se mostram também essenciais para a série se consolidar ao final. A morte de Carrie Fisher, por sua vez, fez com que imagens dela já filmadas fossem reaproveitadas em outro contexto, oferecendo uma certa dificuldade de imersão, porém, diante disso, até que suas cenas se encaixam bem.
O roteiro flui, com alguns problemas inevitáveis em certas transições, e, no terceiro ato, apesar de alguns exageros, é possível mesmo se emocionar em alguns pontos, graças à trilha sonora de John Williams.
Muitas pontas são costuradas e poucas ficam soltas, o que não deixa de ser um mérito para uma obra com o objetivo de concluir uma saga iniciada há mais de 40 anos. Considerado de modo geral um dos Star Wars mais fracos, além de menos arriscado do que o segundo (assim como O retorno de Jedi foi considerado em relação a O império contra-ataca nos anos 80), entendo o contrário: A ascensão Skywalker é um filme que pode ser reavaliado com o tempo. Prós ou contras, ele é o que mais se assemelha com a essência de Star Wars desde O retorno de Jedi, usando a nostalgia, no entanto acrescentando ideias. Em relação a esta saga cada espectador, admirador ou fã possui seus requisitos para avaliar a direção dada a cada filme, rendendo muitos debates. A impressão que se tem é que Abrams buscou unir os três filmes de maneira interessante e aberta a reflexões sobre esse universo fantástico. De certo modo, ele foi o primeiro a compreender que Star Wars é feito de um universo amplo e com polêmicas em meio a ele. Não por acaso, ele inclui os ewoks na cena de vitória contra o Império. É como se dissesse que todos os que gostam de algo de Star Wars fazem parte do mesmo time de espectadores.

Listas dos melhores filmes 2010-2021 (Atualizadas em 2022)

Por André Dick

Assim como aconteceu em relação aos anos 1980, 1990 e 2000, é apresentada, aqui, listas de melhores filmes de 2010 a 2021, cada uma seguida por menções honrosas (foram atualizadas em 2022). Em cada ano, são destacadas 25 obras. O cinema dos anos 2010, como o da década que abre o século, é caracterizado por apresentar o cinema fora dos Estados Unidos de uma maneira que nunca havia acontecido em décadas anteriores.
Cineastas vindos de Taiwan (Apichatpong Weerasethakul), da China (Jia Zhangkhe), do Japão (Wong Kar-Wai, Hirokazu Koreeda), da Coreia do Sul (Joon-ho Bong, Chang-Dong Lee, Chan-wook Park, Hong Sang-soo) e da Malásia (Tsai Ming-Liang) são correntes nessa década, em que o cinema norte-americano também continuou abrindo espaço para diretores estrangeiros, a exemplo de Ang Lee, Walter Salles, Werner Herzog, Alfonso Cuarón, Wim Wenders, Pablo Larraín e Guillermo del Toro, com destaque para Alejandro G. Iñárritu, que ganhou dois Oscars consecutivos, e Nicolas Winding Refn, com seu artesanato surrealista (ocupando o lugar de um ausente David Lynch no cinema, que regressou em grande estilo com Twin Peaks).
Nuri Bilge Ceylan continua apresentando um trabalho interessante, assim como Abdellatif Kechiche e Béla Tarr, além de Carlos Reygadas, todos vitoriosos em Cannes. Também continua tendo destaque o cinema iraniano, com cineastas como Abbas Kiarostami, que lamentavelmente faleceu em 2016.
E, mais ainda do que seu regresso em O novo mundo, na década passada, Terrence Malick tem cada vez mais ressurgido com frequência. Seu cinema é o mais influente dos anos 2010.

Cineastas que começaram produzindo nos anos 70 ou 80 continuaram a mostrar seus filmes, como Martin Scorsese, Steven Spielberg, Tim Burton, David Cronenberg, Cameron Crowe, Oliver Stone, Woody Allen, William Friedkin, Joel e Ethan Coen, Francis Ford Coppola, Michael Mann, Gus Van Sant, Robert Zemeckis, Brian De Palma, Ron Howard, Jim Jarmusch, Spike Lee, Sam Raimi e Clint Eastwood. Numa retrospectiva, chamou atenção como o trabalho de Ridley Scott continua vigoroso, tendo sido indicado ao Oscar de direção por Perdido em Marte. Firmaram-se também Kathryn Bigelow e M. Night Shyamalan, este apesar de todas as críticas.
O austríaco Michael Haneke conquistou Cannes, assim como novamente os irmãos Dardenne, enquanto Lars von Trier se viu convidado a se retirar dele. Destaques também para os irmãos belgas Jean-Pierre Jeunet, juntamente com os franceses François Ozon, Jacques Audiard, Olivier Assayas, Benoît Jacquot e Phillipe Garrel e o franco-argentino Gaspar Noé, além da continuidade de Jean-Luc Godard.
A geração ligada ao cinema indie dos anos 90 continuou seu trabalho, mostrando sua vitalidade: Quentin Tarantino, Wes Anderson, Paul Thomas Anderson, Darren Aronofsky, Alexander Payne, Spike Jonze, Richard Linklater, Sofia Coppola e Todd Solondz. Entre eles, muitos continuaram chegando ao Oscar ou chegaram pela primeira vez à nomeação de melhor filme, como Jonze, Linklater e Anderson.

Como na década de 2000, prosseguiram seus trabalhos Greg Mottola, com sua visão de juventude, assim como Judd Apatow, depois da série Freaks and geeks, além de Noah Baumbach, enquanto surgiram ou mostraram novos trabalhos nomes como Jeff Nichols, Derek Cianfrance, Shane Carruth, David Robert Mitchell, Jean-Marc Vallée, David O. Russell e Ben Affleck. E David Fincher continuou trabalhando entre o drama e o suspense. No campo da comédia, Seth MacFarlane (à frente de séries de animação) e Sam Esmail (criador de Mr. Robot) migraram da TV para o cinema, e Shawn Levy mostrou um talento subestimado que se confirmaria à frente de alguns episódios e da produção de Stranger things, série exitosa de 2016.
Também surgiram grandes diretoras, a exemplo de Mia Hansen-Løve, Angelina Jolie, Gia Coppola, Stéphane Lafleur, Julia Loktev, Céline Sciamma, Maïwenn, Sophie Barthes e Jessica Hausner, além do documentarista Joshua Oppenheimer. Duplas-revelações: Phil Lord e Christopher Miller e Veronika Franz e Severin Fiala.
Na Austrália, tivemos o surgimento de David Michôd. Em Portugal, Miguel Gomes lançou o marcante Tabu. Na Romênia, surgiu Cristian Mungiu; na Grécia, Yorgos Lanthimos; na Argentina, Lisandro Alonso; na Suécia, Ruben Östlund; e na Rússia, testemunhamos a volta de Andrey Zvyagintsev.
Também nos Estados Unidos, prosseguiram com inclinação para o espetáculo nomes como Peter Jackson, J.J. Abrams, Christopher Nolan, Bryan Singer e Zack Snyder, com os acréscimos de Joss Whedon e Jon Favreau, outros para o drama cotidiano, como Jason Reitman, James Ponsoldt, Mike Mills e Kelly Reichardt, ou drama histórico ou atual, com James Gray.

Os irmãos Wachowski tentaram avançar em seus experimentos com Cloud Atlas, embora tenham recuado um tanto em O destino de Júpiter, ao lado do alemão Tom Tykwer. Da Inglaterra, continuaram a se destacar Guy Ritchie, Lenny Abrahamson, Andrea Arnold, David Yates, Stephen Frears, Steven McQueen, Edgar Wright e Joe Wright. No Canadá, Denis Villeneuve se firmou ainda mais, como o jovem cineasta Xavier Dolan, e Atom Egoyan continuou a lançar filmes em grande quantidade.
E, no universo da animação, apesar da presença da Pixar, foi Hayao Miyazaki quem continuou se destacando. Entre os cineastas brasileiros, assinala-se a manutenção de cineastas como Laís Bodanzky, Jorge Furtado, José Padilha, Anna Muylaert e Cláudio Assis, e as revelações Fellipe Barbosa, Kleber Mendonça Filho, Marina Person, Alê Abreu, Paulo Morelli e Júlia Rezende, assim como Carlos Saldanha, de Rio, para lembrar alguns nomes.

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A década de 2020 iniciou com a pandemia por todo o mundo, fazendo a indústria retroceder de tamanho. Ainda assim, continuaram sendo lançadas grandes obras, com certo atraso no cronograma. Em razão do sucesso da Marvel e da versão épica de Zack Snyder para Liga da Justiça, o cinema dos super-heróis continua atrativo. Num momento em que o streaming se mostra cada vez mais fundamental, a Netflix e a Amazon se mostraram outra vez os destaques, acompanhados pela HBO Max, pela Apple TV+ e pelo Disney+, disponibilizando lançamentos quase simultaneamente em cinema e vídeo. A Disney foi, como sempre, muito efetiva na fusão de seus personagens.

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Como observado na lista aos melhores filmes das décadas de 1980 a 2000, alguns filmes que não agradam na primeira visão se mostram interessantes e até mesmo indispensáveis quando revisitados. Muitas dessas listas mudaram em poucos anos, à medida que, ao rever alguns filmes, fui gostando mais ou menos deles (um exemplo é O lado bom da vida, que estava longe de ser um dos meus favoritos quando lançado e, em revisões, cresceu como obra, ou Nasce uma estrela, que era meu filme favorito de 2018 para, depois de revisões, sair do ranking dos 10 primeiros). Ou seja, aqueles que a princípio parecem indispensáveis, com o passar dos anos parecem ter o impacto reduzido e se tornam menos importantes. A premissa de que um filme é bom ou fraco muitas vezes varia, mas a distância dos anos parece ser a melhor maneira de constatar isso. Para quem quiser a versão anterior das listas, encontrará também neste site. Os anos de cada filme estão de acordo com o IMDb, com raras exceções. Nesta década, às vezes é difícil precisar o ano de alguns filmes, pois muitos são exibidos primeiramente em festivais (em Cannes e Sundance, por exemplo) para serem lançados oficialmente dali a um ou até dois anos. Veja-se os casos de Personal shopper e Graduation, que estrearam em Cannes em 2016, mas só foram lançados internacionalmente em 2017. Ou seja, tento colocar o filme no ano em que ele tem data de lançamento internacional, não apenas em seu país de origem, pelo menos nos últimos dois anos, quando isso se tornou mais recorrente. A partir de 2017, os filmes produzidos pela Netflix passam em alguns festivais ou estreiam em poucos cinemas, isso quando não são exibidos apenas pela plataforma. Eles passaram a ser considerados como filmes (não telefilmes), principalmente porque costumam ter uma produção cinematográfica, incluindo diretores de fotografia, compositores e elenco. Alguns títulos mantenho no original, pois não gosto especial da tradução feita, como Cloud Atlas (intitulado no Brasil A viagem) e Greenberg (chamado no Brasil de O solteirão).  Tenta-se um equilíbrio com essas informações, mas às vezes elas podem destoar.
Espera-se que as listas levem você, cinéfilo e leitor, a rever ou descobrir alguns desses filmes.

1. Mistérios de Lisboa (Raoul Ruiz)
2. Cisne negro (Darren Aronofksy)
3. A rede social (David Fincher) Reino animal (David Michôd)
4. Cópia fiel (Abbas Kiarostami)
5. Bravura indômita (Joel e Ethan Coen)
6. Scott Pilgrim contra o mundo (Edgar Wright)
7. O mágico (Sylvain Chomet)
8. Poesia (Chang-Dong Lee)
9. Incêndios (Denis Villeneuve)
10. O mito da liberdade (David Robert Mitchell)

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11. Um doce olhar (Semih Kaplanoğlu)
12. Um lugar qualquer (Sofia Coppola)
13. Reino animal (David Michôd)
14. Greenberg (Noah Baumbach)
15. Ventre (Benedek Fliegauf)
16. Não me abandone jamais (Mark Romanek)
17. O escritor fantasma (Roman Polanski)
18. Toy Story 3 (Lee Unkrich)
19. Como você sabe (James L. Brooks)
20. Caminho para o nada (Monte Hellmann)
21. The Runaways – Garotas do rock (Floria Sigismondi)
22. O atalho (Kelly Reichdart)
23. Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas (Apichatpong Weerasethakul)
24. Filme socialismo (Jean-Luc Godard)
25. Encontro explosivo (James Mangold)

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Menções honrosas: Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 1 (David Yates), 127 horas (Danny Boyle), Tron – O legado (Joseph Kosinski), A origem (Christopher Nolan), A mentira (Will Gluck), O último mestre do ar (M. Night Shyamalan), Atração perigosa (Ben Affleck), Homem de ferro 2 (Jon Favreau), A ressaca (Steve Pink), O lobisomem (Joe Johnston), Coincidências do amor (Josh Gordon, Will Speck), Biutiful (Alejandro G. Iñárritu), Cyrus (Jay Duplass), Além da vida (Clint Eastwood), A lenda dos guardiões (Zack Snyder), As melhores coisas do mundo (Laís Bodanzky), Meu malvado favorito (Pierre Coffin, Chris Renaud), Splice (Vincenzo Natali), Paul – O alien fugitivo (Greg Mottola), Essential killing (Jerzy Skolimowski), Salt (Phillip Noyce), Confiança (David Schwimmer), Deixe-me entrar (Matt Reeves), Red – Armados e perigosos (Robert Schwentke), Shrek para sempre (Mike Mitchell), O estranho caso de Angélica (Miguel de Oliveira), Wall Street – O dinheiro nunca dorme (Oliver Stone), Uma noite fora de série (Shawn Levy), Lembranças (Allen Coulter), Pânico na neve (Adam Green), Uma manhã gloriosa (Roger Michell), O lenço amarelo (Udayan Prasad), Tropa de elite 2 (José Padilha), Reencontrando a felicidade (John Cameron Mitchell)

1. A árvore da vida (Terrence Malick)
2. Os descendentes (Alexander Payne)
3. A separação (Asghar Farhadi)
4. Drive (Nicolas Winding Refn)
5. O cavalo de Turim (Béla Tarr)
6. O garoto da bicicleta (Jean-Pierre e Luc Dardenne)
7. Pina (Wim Wenders)
8. Era uma vez na Anatólia (Nuri Bilge Ceylan)
9. Super 8 (J.J. Abrams)
10. Missão madrinha de casamento (Paul Feig)

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11. A invenção de Hugo Cabret (Martin Scorsese)
12. Millennium – O homem que não amava as mulheres (David Fincher)
13. Meia-noite em Paris (Woody Allen)
14. Melancolia (Lars von Trier)
15. Amor a toda prova (Glenn Ficarra, John Requa)
16. A pele que habito (Pedro Almodóvar)
17. O abrigo (Jeff Nichols)
18. Margaret (Kenneth Lonergan)
19. Tomboy (Céline Sciamma)
20. 50% (Jonathan Levine)
21. Polissia (Maïwenn)
22. Jovens adultos (Jason Reitman)
23. Planeta solitário (Julia Loktev)
24. As aventuras de Tintim (Steven Spielberg)
25. Virgínia (Francis Ford Coppola)

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Menções honrosas: Oslo, 31 de agosto (Joachim Trier), Ataque ao prédio (Joe Cornish), Tudo pelo poder (George Clooney), A hora do espanto (Craig Gillespie), Kung fu panda 2 (Jennifer Yuh Nelson), Carnage (Roman Polanski), Hanna (Joe Wright), Las acacias (Pablo Giorgelli), Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 2 (David Yates), Histórias cruzadas (Tate Taylor), Quero matar meu chefe (Seth Gordon), Contágio (Steven Soderbergh), A arte da conquista (Gavin Wiesen), O artista (Michel Hazavenicus), Thor (Kenneth Branagh), Alpes (Yorgos Lanthimos), Rango (Gore Verbinski), Cowboys e aliens (Jon Favreau), Para a floresta da luz dos vaga-lumes (Takahiro Omori), Compramos um zoológico (Cameron Crowe), O homem que mudou o jogo (Bennett Miller), Meu país (André Ristum), Minha semana com Marilyn (Simon Curtis), Sherlock Holmes – O jogo das sombras (Michael Ritchie), Vencer, vencer (Tom McCarthy), Sucker Punch (Zack Snyder), Se beber, não case! – Parte II (Todd Phillips), Amor profundo (Terrence Davies), Rio (Carlos Saldanha), X-Men – Primeira classe (Matthew Vaughn), Margin Call – O dia antes do fim (J. C. Chandor), Inquietos (Gus Van Sant), O exótico Hotel Marigold (John Madden)

1. Cloud Atlas (Andy e Lana Wachovski e Tom Tykwer)
2. O mestre (Paul Thomas Anderson)
3. Moonrise Kingdom (Wes Anderson)
4. Amor (Michael Haneke)
5. As vantagens de ser invisível (Stephen Chobsky)
6. Um alguém apaixonado (Abbas Kiarostami)
7. A hora mais escura (Kathryn Bigelow)
8. Prometheus (Ridley Scott)
9.  O som ao redor (Kleber Mendonça Filho)
10. Batman – O cavaleiro das trevas ressurge (Christopher Nolan)

***

11. Luz depois das trevas (Carlos Reygadas)
12. Na estrada (Walter Salles)
13. A visitante francesa (Hong Sang-soo)
14. Tabu (Miguel Gomes)
15. O hobbit – Uma jornada inesperada (Peter Jackson)
16. O gebo e a sombra (Miguel de Oliveira)
17. Ferrugem e osso (Jacques Audiard)
18. Anna Karenina (Joe Wright)
19. Vampiras (Amy Heckerling)
20. Holy Motors (Leos Carax)
21. A caça (Thomas Vinterberg)
22. O lado bom da vida (David O. Russell)
23. As aventuras de Pi (Ang Lee)
24. Cosmópolis (David Cronenberg)
25. Sombras da noite (Tim Burton)

***

Menções honrosas: Os miseráveis (Tom Hooper), No (Pablo Larraín), Lincoln (Steven Spielberg), O voo (Robert Zemeckis), As loucuras de Charlie (Roman Coppola), Além das montanhas (Cristian Mungiu), 007 – Operação Skyfall (Sam Mendes), Um divã para dois (David Frankel), Celeste e Jesse para sempre (Lee Toland Kriger), John Carter – Entre dois mundos (Andrew Stanton), O amante da rainha (Nicolaj Arcel), Ruby Sparks – A namorada perfeita (Jonathan Dayton, Valerie Faris), Django livre (Quentin Tarantino), Vizinhos imediatos de terceiro grau (Akiva Schaffer), As sessões (Ben Lewin), O espetacular homem-aranha (Marc Webb), Branca de neve e o caçador (Ruppert Sanders), Para Roma com amor (Woody Allen), Anjos da lei (Phil Lord, Christopher Miller), Adeus à rainha (Benoît Jacquot), Bem-vindo aos 40 (Judd Apatow), A baía (Barry Levinson), Espelho, espelho meu (Tarsem Singh), Os vingadores (Joss Whedon), Detona Ralph (Rich Moore), Barbara (Christian Petzold), Amigos inseparáveis (Fisher Stevens), Ted (Seth MacFarlane), O ditador (Sascha Bara Cohen), Paranorm (Chris Butler, Sam Fell), Amor mudo (Jeff Nichols), Dentro da casa (François Ozon), Hitchcock (Sacha Gervasi), O labirinto de Kubrick (Rodney Ascher), Eles voltam (Marcelo Lordello)

1. Azul é a cor mais quente (Abdellatif Kechiche)
2. Amor pleno (Terrence Malick)
3. O lobo de Wall Street (Martin Scorsese)
4. O grande mestre (Wong Kar-Wai)
5. O lugar onde tudo termina (Derek Cianfrance)
6. Vidas ao vento (Hayao Miyazaki)
7. Nebraska (Alexander Payne)
8. Heli (Amat Escalante)
9. Apenas Deus perdoa (Nicolas Winding Refn)
10. A vida secreta de Walter Mitty (Ben Stiller)

***

11. Ela (Spike Jonze)
12. O maravilhoso agora (James Ponsoldt)
13. Cores do destino (Shane Carruth)
14. O conselheiro do crime (Ridley Scott)
15. 12 anos de escravidão (Steve McQueen)
16. Bastardos (Claire Denis)
17. Gravidade (Alfonso Cuarón)
18. Temporário 12 (Destin Daniel Cretton)
19. Star Trek – Além da escuridão (J.J. Abrams)
20. O conto da princesa Kaguya (Isao Takahata)
21. Rush – No limite da emoção (Ron Howard)
22. A imagem que falta (Rithy Panh)
23. Walt Disney nos bastidores de Mary Poppins (John Lee Hancock)
24. Um toque de pecado (Jia Zhangke)
25. Fruitvale Station (Ryan Coogler)

***

Menções honrosas: O grande Gatbsy (Baz Luhrmann), Frances Ha (Noah Baumbach), Oldboy – Dias de vingança (Spike Lee), Pais e filhos (Hirokazu Koreeda), Um estranho no lago (Alain Guiraudie), O mordomo da casa branca (Lee Daniels), We’re the Millers (Rawson Marshall Thurber), Red 2 (Dean Parisot), Une jeune fille (Catherine Martin), O verão da minha vida (Jim Rash, Nat Faxon), Universidade Monstros (Dan Scanlon), Depois da terra (M. Night Shyamalan), O foguete (Kim Mordaunt), Antes da meia-noite (Richard Linklater), Philomena (Stephen Frears), O menino e o mundo (Alê Abreu), Os estagiários (Shawn Levy), Círculo de fogo (Guillermo del Toro), Oz – Mágico e poderoso (Sam Raimi), Filha de ninguém (Hong Sang-soo), Meu namorado é um zumbi (Jonathan Levine), O homem de aço (Zack Snyder), Clube de compras Dallas (Jean-Marc Vallée), A menina que roubava livros (Brian Percival), O ciúme (Philippe Garrel), Um fim de semana em Paris (Roger Michell), Bling Ring – A gangue de Hollywood (Sofia Coppola), Trapaça (David O. Russell), Elysium (Neill Blomkamp), Entre nós (Paulo Morelli), A morte do demônio (Fede Alvarez), Mesmo se nada der certo (John Carney), Jack, o caçador de gigantes (Bryan Singer), Confissões de adolescente (Daniel Filho, Chris D’Amato), Caça aos gângsteres (Ruben Fleischer), Sem evidências (Atom Egoyan)

1. Boyhood (Richard Linklater)
2. Vício inerente (Paul Thomas Anderson)
3. Interestelar (Christopher Nolan)
4. Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância) (Alejandro G. Iñárritu)
5. Ida (Pawel Pawlikowski)
6. Sono de inverno (Nuri Bilge Ceylan)
7. Leviathan (Andrey Zvyagintsev)
8. O homem duplicado (Denis Villeneuve)
9. Palo Alto (Gia Coppola)
10. Dois dias, uma noite (Jean-Pierre e Luc Dardenne)

***

11. O hobbit – A batalha dos cinco exércitos (Peter Jackson)
12. Homens, mulheres e filhos (Jason Reitman)
13. O grande hotel Budapeste (Wes Anderson)
14. Força maior (Ruben Östlund)
15. Ninfomaníaca – Vol. I (Lars von Trier)
16. Êxodo: deuses e reis (Ridley Scott)
17. Jersey Boys – Em busca da música (Clint Eastwood)
18. Cães errantes (Tsai Ming-liang)
19. Vida de adulto (Scott Coffey)
20. O abutre (Dan Gilroy)
21. Nós somos as melhores! (Lukas Moodysson)
22. RoboCop (José Padilha)
23. Invencível (Angelina Jolie)
24. Transcendence (Wally Pfister)
25. O ano mais violento (J. C. Chandor)

***

Menções honrosas: A culpa é das estrelas (Josh Boone), Acorda, Nicole (Stéphane Lafleur), Ninfomaníaca – Vol. II (Lars von Trier), Pássaro branco na nevasca (Gregg Araki), O duplo (Richard Ayoade), Noé (Darren Aronofsky), O reino da beleza (Denys Arcand), Cake – Uma razão para viver (Daniel Barnz), Hoje eu quero voltar sozinho (Daniel Ribeiro), Calvário (John Michael McDonagh), Uma viagem extraordinária (Jean-Pierre Jeunet), Whiplash (Damien Chazelle), Grandes olhos (Tim Burton), Amores inversos (Liza Johnson), Tirem o sorriso do rosto (Daniel Patrick Carbone), Duna de Jodorowksy (Frank Pavich), Planeta dos macacos – O confronto (Matt Reeves), Frank (Lenny Abrahamson), Guardiões da galáxia (James Gunn), Magia ao luar (Woody Allen), Uma aventura LEGO (Phil Lord, Christopher Miller e Chris McKay), Boa noite, mamãe (Veronika Franz, Severin Fiala), Anjos da lei 2 (Phil Lord e Christopher Miller), Mapas para as estrelas (David Cronenberg), The blue room (Mathieu Almaric), Marcados pela guerra (Peter Sattler), Top five (Chris Rock), Willow creek (Bobcat Goldthwait), À procura (Atom Egoyan), Love & Mercy (Bill Pohlad), Jogos vorazes: A esperança – Parte 1 (Francis Lawrence), Sniper americano (Clint Eastwood)

1. O regresso (Alejandro G. Iñárritu)
2. Amour fou (Jessica Hausner)
3. Os oito odiados (Quentin Tarantino)
4. Eden (Mia Hansen-Løve)
5. A juventude (Paolo Sorrentino)
6. Creed (Ryan Coogler)
7. Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência (Roy Andersson)
8. O peso do silêncio (Joshua Oppenheimer)
9. Corrente do mal (David Robert Mitchell)
10. Sob o mesmo céu (Cameron Crowe)

***

11. A assassina (Hou Hsiao-Hsien)
12. A colina escarlate (Guillermo del Toro)
13. Hacker (Michael Mann)
14. À beira mar (Angelina Jolie Pitt)
15. Casa Grande (Fellipe Barbosa)
16. Jauja (Lisandro Alonzo)
17. 007 contra Spectre (Sam Mendes)
18. O conto dos contos (Matteo Garrone)
19. Sicario – Terra de ninguém (Denis Villeneuve)
20. Rio perdido (Ryan Gosling)
21. Peter Pan (Joe Wright)
22. Oeste sem lei (John Maclean)
23. O fim da turnê (James Ponsoldt)
24. Homem-Formiga (Peyton Reed)
25. Tomorrowland – Um lugar onde nada é impossível (Brad Bird)

***

Menções honrosas: Califórnia (Marina Person), Madame Bovary (Sophie Barthes), , No coração do mar (Ron Howard), Poltergeist – O fenômeno (Gil Kennan), O quarto de Jack (Lenny Abrahamson), Férias frustradas (John Francis Daley, Jonathan M. Goldstein), Chatô – O rei do Brasil (Guilherme Fontes), Homem irracional (Woody Allen), Cidades de papel (Jake Schreier), Amizade desfeita (Levan Gabriadze), Love (Gaspar Noé), Jogos vorazes: A esperança – O final (Francis Lawrence), Vingadores – A era de Ultron (Joss Whedon), A teoria de tudo (James Marsh), Phoenix (Christian Petzold), Magic Mike XXL (Gregory Jacobs), Nossa irmã menor (Hirokazu Koreeda), A visita (M. Night Shyamalan), Ponte aérea (Júlia Rezende), Star Wars – O despertar da força (J.J. Abrams), O agente da U.N.C.L.E. (Guy Ritchie), Eu estava justamente pensando em você (Sam Esmail), O bom dinossauro (Peter Sohn), A garota dinamarquesa (Tom Hooper), Que horas ela volta? (Anna Muylaert), A travessia (Robert Zemeckis), Joy – O nome do sucesso (David O. Russell), A grande aposta (Adam McKay), Enquanto somos jovens (Noah Baumbach), Timbuktu (Abderrahmane Sissako), American Ultra – Armados e perigosos (Nima Nourizadeh), Ted 2 (Seth MacFarlane), Faults (Riley Stearns), Pixels – O filme (Chris Columbus), O que fazemos nas sombras (Jemaine Clement, Taika Waititi), Lugares escuros (Gilles Paquet-Brenner)

1. Cavaleiro de copas (Terrence Malick)
2. Paterson (Jim Jarmusch)
3. La La Land (Damien Chazelle)
4. Batman vs Superman – A origem da justiça (Zack Snyder)
5. Ave, César! (Joel e Ethan Coen)
6. Cemitério do esplendor (Apichatpong Weerasethakul)
7. Demônio de neon (Nicolas Winding Refn)
8. A criada (Chan-wook Park)
9. Elle (Paul Verhoeven)
10. Docinho da América (Andrea Arnold)

***

11. Depois da tempestade (Hirokazu Koreeda)
12. Jovens, loucos e mais rebeldes (Richard Linklater)
13. Silêncio (Martin Scorsese)
14. Wiener-dog (Todd Solondz)
15. Moonlight – Sob a luz do luar (Barry Jenkins)
16. Voyage of time: Life’s journey (Terrence Malick)
17. Jackie (Pablo Larraín)
18. É apenas o fim do mundo (Xavier Dolan)
19. As montanhas se separam (Jia Zhangke)
20. Regras não se aplicam (Warren Beatty)
21. Zootopia (Byron Howard, Rich Moore, Jared Bush)
22. Lion – Uma jornada para casa (Garth Davis)
23. Mais forte que bombas (Joachim Trier)
24. Dois caras legais (Shane Black)
25. Café Society (Woody Allen)

Menções honrosas: Loving (Jeff Nichols), A longa caminhada de Billy Lynn (Ang Lee), Animais fantásticos e onde habitam (David Yates), A garota no trem (Tate Taylor), Animais noturnos (Tom Ford), O nascimento de uma nação (Nate Parker), Cães de guerra (Todd Phillips), Manchester à beira-mar (Kenneth Lonergan), Uma repórter em apuros (Glenn Ficarra, John Requa), O mar de árvores (Gus Van Sant), Sully (Clint Eastwood), O invasor americano (Michael Moore), Mãe só há uma (Anna Muylaert), Rogue One – Uma história Star Wars (Gareth Edwards), Demolição (Jean Marc-Vallée), Mogli – O menino lobo (Jon Favreau), Fala comigo (Felipe Sholl), Memórias secretas (Atom Egoyan), Um holograma para o rei (Tom Tykwer), Warcraft – O primeiro encontro de dois mundos (Duncan Jones), Até o último homem (Mel Gibson), Cosmos (Andrzej Zulawski), A qualquer custo (David Mackenzie), Popstar: sem parar, sem limites (Akiva Schaffer, Jorma Taccone), Meu amigo, o dragão (David Lowery), A incrível aventura de Rick Baker (Taika Waititi), A lenda de Tarzan (David Yates), Kung fu panda 3 (Jennifer Yuh Nelson, Alessandro Carloni), Top model (Mads Matthiesen), Outras pessoas (Chris Kelly), A chegada (Denis Villeneuve), A luz entre os oceanos (Derek Cianfrance), Star Trek – Sem fronteiras (Justin Lin), Florence – Quem é esta mulher? (Stephen Frears), 13 horas – Os soldados secretos de Benghazi (Michael Bay), A chefa (Ben Falcone), Invasão zumbi (Yeon Sang-ho), O lar das crianças peculiares (Tim Burton), O contador (Gavin O’Connor), Esquadrão suicida (David Ayer), Terra violenta (Tiu West), Gênios do crime (Jared Hess), O abraço da serpente (Ciro Guerra), Sing Street – Música e sonho (John Carney), Alice através do espelho (James Bobin), Shin Godzilla (Hideaki Anno, Shinji Higuchi), Quase 18 (Kelly Fremon Craig), Mulheres do século 20 (Mike Mills), Beleza oculta (David Frankel)

1. Twin Peaks – O retorno (David Lynch)
2. De canção em canção (Terrence Malick)
3. Trama fantasma (Paul Thomas Anderson)
4. Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve)
5. Lady Bird – A hora de voar (Greta Gerwig)
6. Projeto Flórida (Sean Baker)
7. A lei da noite (Ben Affleck)
8. O apartamento (Ashgar Farhadi)
9. Happy end (Michael Haneke)
10. Os Meyerowitz – Família não se escolhe (Histórias novas e selecionadas) (Noah Baumbach)

***

11. Todo o dinheiro do mundo (Ridley Scott)
12. Lágrimas sobre o Mississipi (Dee Rees)
13. A forma da água (Guillermo del Toro)
14. Sombras da vida (David Lowery)
15. Columbus (Kogonada)
16. Em ritmo de fuga (Edgar Wright)
17. mãe! (Darren Aronofksy)
18. A cura (Gore Verbinski)
19. O estranho que nós amamos (Sofia Coppola)
20. Planeta dos macacos – A guerra (Matt Reeves)
21. O filme da minha vida (Selton Mello)
22. O sacrifício do cervo sagrado (Yorgos Lanthimos)
23. Graduation (Cristian Mungiu)
24. Alien: Covenant (Ridley Scott)
25. The Square – A arte da discórdia (Ruben Östlund)

Menções honrosas: Poesia sem fim (Alejandro Jodorowsky), Dunkirk (Christopher Nolan), Três anúncios para um crime (Martin McDonagh), A região selvagem (Amat Escalante), Corra! (Jordan Peele), Personal shopper (Olivier Assayas), Valerian e a cidade dos mil planetas (Luc Besson), Castelo de areia (Fernando Coimbra), Z – A cidade perdida (James Gray), Logan Lucky – Roubo em família (Steven Soderbergh), O outro lado da esperança (Aki Kaurismäki), Ao cair da noite (Trey Edward Schults), Primeiro, mataram o meu pai (Angelina Jolie), A morte te dá parabéns (Cristopher B. Landon), Terra selvagem (Taylor Sheridan), O castelo de vidro (Destin Cretton), Maudie (Aisling Walsh), John Wick 2 (Chad Stahelski), Um homem chamado Ove (Hannes Holm), Free fire – O tiroteio (Ben Wheatley), Na vertical (Alain Guiraudie), Homem-Aranha – De volta ao lar (Jon Watts), The little hours (Jeff Baena), Nossas noites (Ritesh Batra), Na praia à noite sozinha (Hong Sang-soo), Sandy Wexler (Steven Brill), Eu já não me sinto em casa nesse mundo (Macon Blair), The comedian (Taylor Hackford), Vida (Daniel Espinosa), Little boxes (Rob Meyer), Atômica (David Leitch), Rastros (Agnieszka Holland), Tramps (Adam Leon), Doentes de amor (Michael Showalter), Insensata paixão (Pierre Godeau), Guardiões da galáxia Vol. 2 (James Gunn), Wilson (Craig Johnson), Buster’s mal heart (Sarah Adina Smith), Transformers – O último cavaleiro (Michael Bay), War machine (David Michôd), Una (Benedict Andrews), Fobia (Ana Asensio), Uma beleza fantástica (Simon Aboud), Onde está Segunda? (Tommy Wirkola), Lovesong (So Young Kim), Kong – A ilha da Caveira (Jordan Vogt-Roberts), Suburbicon – Bem-vindos ao paraíso (George Clooney), Gaga: five foot two (Chris Moukarbel), Colossal (Nacho Vigalondo), As aventuras de Brigsby bear (Dave McCary), A garota desconhecida (Jean-Pierre e Luc Dardenne), Logan (James Mangold), Raw (Julia Docournau), Você e os seus (Hong Sang-soo), Spielberg (Susan Lacy), A vigilante do amanhã – Ghost in the shell (Rupert Sanders), Jasper Jones (Rachel Perkins), T2: Trainspotting (Danny Boyle), O círculo (James Ponsoldt), Carros 3 (Brian Fee), Founds of love (Ben Young), Agnes (Johannes Schmid), Power Rangers (Dean Israelite), Na selva (Greg Mclean), Fome de poder (John Lee Hancock), Rei Arthur – A lenda da espada (Guy Ritchie), Lotte (Julius Schultheiß), O mínimo para viver (Marti Noxon), Ingrid goes west (Matt Spicer), Patti Cake$ (Geremy Jasper), Gabriel e a montanha (Fellipe Barbosa), O estado das coisas (Mike White), Frantz (François Ozon), LEGO Batman – O filme (Chris McKay), O livro de Henry (Colin Trevorrow), Além das palavras (Terence Davies), Os amantes (Azazel Jacobs), Eine hunerhörte frau (Hans Steinbichler), A grande muralha (Zhang Yimou), A tartaruga vermelha (Michel Dudok de Wit), Planetarium (Rebecca Zlotowski), Rakka (Neil Blomkamp), American fable (Anne Hamilton), Mulher-Maravilha (Patty Jenkins), Extraordinário (Stephen Chobsky), Detroit em rebelião (Kathryn Bigelow), O que te faz mais forte (David Gordon Green), Boneco de neve (Tomas Alfredson), A guerra dos sexos (Jonathan Dayton, Valerie Faris), Depois daquela montanha (Hany Abu-Assad), Star Wars – Os últimos Jedi (Rian Johnson), Sem fôlego (Todd Haynes), A melhor escolha (Richard Linklater), Uma mulher fantástica (Sebastián Lelio), O rei do show (Michael Gracey), O destino de uma nação (Joe Wright), Homens de coragem (Joseph Kosinski), 120 batimentos por minuto (Robin Campillo), A grande jogada (Aaron Sorkin), Viva – A vida é uma festa (Lee Unkrich), Ratos de praia (Eliza Hittman), Honra ao mérito (Jason Hall), Bright (David Ayer), Roman J. Israel, Esq. (Dan Gilroy), Pequena grande vida (Alexander Payne), O formidável (Michel Hazanavicius)

1. Nuestro tiempo (Carlos Reygadas)
2. Roma (Alfonso Cuarón)
3. Foxtrot (Samuel Maoz)
4. Hereditário (Ari Aster)
5. Colo (Teresa Villaverde)
6. A balada de Buster Scruggs (Joel e Ethan Coen)
7. Querido menino (Felix Van Groeningen)
8. Suspíria – A dança do medo (Luca Guadagnino)
9. O primeiro homem (Damien Chazelle)
10. Vida selvagem (Paul Dano)

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11. Nasce uma estrela (Bradley Cooper)
12. O amante duplo (François Ozon)
13. Você nunca esteve realmente aqui (Lynne Ramsey)
14. Outside in (Lynn Shelton)
15. No portal da eternidade (Julian Schnabel)
16. 22 de julho (Paul Greengrass)
17. Green Book – O guia (Peter Farrelly)
18. A favorita (Yorgos Lanthimos)
19. Deixe a luz do sol entrar (Claire Denis)
20. Dogman (Matteo Garrone)
21. Arábia (João Dumons e Affonso Uchoa)
22. Animais fantásticos – Os crimes de Grindelwald (David Yates)
23. Maus momentos no Hotel Royale (Drew Goddard)
24. Creed II (Steven Caple Jr.)
25. Puro-sangue (Cory Finley)

Menções honrosas: Se a Rua Beale falasse (Barry Jenkins), A mula (Clint Eastwood), Bem-vindos a Marwen (Robert Zemeckis), Stan & Ollie – O gordo e o magro (John S. Baird), Sicario – Dia do soldado (Stefano Sollima), Custódia (Xavier Legrand), Mudo (Duncan Jones), Corpo e alma (Ildikó Enyedi), As aventuras de Paddington 2 (Paul King), Noviciado (Margaret Betts), Ilha dos cachorros (Wes Anderson), Jogador Nº 1 (Steven Spielberg), Tully (Jason Reitman), 15h17 – Trem para Paris (Clint Eastwood), Like me (Robert Mockler), Deadpool 2 (David Leitch), Best f(r)iends – Vol. 1 (Justin MacGregor), Em pedaços (Fatih Akin), Robin Williams – Entre na minha mente (Marina Zenovich), The girl (Lukas Dhont), O conto (Jennifer Fox), Bird box (Susanne Bier), Baseado em fatos reais (Roman Polanski), Os incríveis 2 (Brad Bird), Noite de lobos (Jeremy Saulnier), Mais uma chance (Tamara Jenkins), A pé ele não vai longe (Gus Van Sant), Venom (Ruben Fleischer), Jumanji – Bem-vindo à selva (Jake Kasdan), Hearts beat loud (Brett Haley), Amizade desfeita 2: dark web (Stephen Susco), Pedro Coelho (Will Gluck), As boas maneiras (Juliana Rojas, Marco Dutra), Sob o sol do oeste (David e Nathan Zellner), Domando o destino (Chloé Zhao), Missão: impossível – Efeito Fallout (Christopher McQuarrie), Permissão (Brian Crano), Quem somos agora (Matthew Newton), Princess Syd (Stephen Cone), Verão de 84 (François Simard, Anouk Whissell, Yoann-Karl Whissell), What keeps you alive (Colin Minihan), Bumblebee (Travis Knight), Pérolas no mar (Rene Liu), A noite do jogo (John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein), O outro lado do vento (Orson Welles), Sem amor (Andrey Zvyagintsev), Você e os seus (Hong Sang-soo), Não vai dar (Kay Cannon), Felicité (Alain Gomis), Homem-Formiga e a Vespa (Peyton Reed), Rastros (Agnieszka Holland), Fútil e inútil (David Wain), Halloween (David Gordon Green), Espectador profissional (Dito Montiel), Vende-se esta casa (Suzanne Coote e Matt Angel), Newness (Drake Doremus), Jurassic World – Reino ameaçado (J. A. Bayona), Tudo que quero (Ben Lewin), Alfa (Albert Hughes), Rampage – Destruição total (Brad Peyton), Desobediência (Sebastián Lelio), Cargo (Ben Howling e Yolanda Ramke), Flower (Max Winkler), Almas secas (Liz W. Garcia), Blame (Quinn Shepard), Together (Terrence Malick), Distúrbio (Steven Soderbergh), No coração das trevas (Paul Schrader), Becks (Daniel Powell, Elizabeth Rohrbaugh), Fullmetal alchemist (Fumihiko Sori), Perigo na montanha (Lin Oeding), Frost (Šarūnas Bartas), A vingança de Lefty Brown (Jared Moshe), Submersão (Wim Wenders), Aniquilação (Alex Garland), O ritual (David Bruckner), Um lugar silencioso (Joseph Krasinki), O animal cordial (Gabriela Amaral Almeida), A sombra da árvore (Hafsteinn Gunnar Sigurðsson), Todas as razões para esquecer (Pedro Coutinho), O plano imperfeito (Claire Scanlon), O mercador (Tamta Gabrichidze), Utoya, 22 de julho – Terrorismo na Noruega (Erik Poppe), O rei da polca (Maya Forbes), Vingança (Coralie Fargeat), The Cloverfield Paradox (Julius Onah), Uma mulher exemplar (Susanna White), A rota selvagem (Andrew Haigh), Maria Madalena (Garth Davis), A câmera de Claire (Hong Sang-soo), Christopher Robin – Um reencontro inesquecível (Marc Forster), Grande saída (Alex Ross Perry), Tal pai, tal filha (Lauren Miller), O predador (Shane Black), Com quem será? (Victor Levin), Stella’s last weekend (Polly Draper), A esposa (Björn Runge), Juliet, nua e crua (Jesse Peretz), O mistério do relógio na parede (Eli Roth), Buscando… (Aneesh Chaganty), Bohemian Rhapsody (Dexter Fletcher), The kindergarten teacher (Sara Colangelo), Infiltrado na Klan (Spike Lee), Legítimo rei (David Mackenzie), Guerra fria (Pawel Pawlikowski), Meu ex é um espião (Susanna Fogel), Never goin’ back (Augustine Frizzell), Skate kitchen (Crystal Moselle), Boy erased – Uma verdade anulada (Joel Edgerton), WiFi Ralph – Quebrando a internet (Rich Moore, Phil Johnston), O retorno de Mary Poppins (Rob Marshall), Poderia me perdoar? (Marielle Heller), Aquaman (James Wan), Os irmãos Sisters (Jacques Audiard), Mogli – Entre dois mundos (Andy Serkis), Millennium – A garota na teia da aranha (Fede Alvarez), Viúvas (Steve McQueen), Um pequeno favor (Paul Feig), Crimes em Happytime (Brian Henson), Support the girls (Andrew Bujalski), Vice (Adam McKay), Zama (Lucrecia Martel), Anos 90 (Jonah Hill), Oitava série (Bo Durnham), Graças a Deus (Olivier Assayas), Pássaros de verão (Ciro Guerra, Cristina Gallego), O que nos mantêm vivos (Colin Minihan), Vox Lux (Brady Cobert), A professora do jardim de infância (Sara Colangelo), Corações batendo alto (Brett Haley), Hostis (Scott Cooper), Você não estava aqui (Ken Loach)

1. Uma vida oculta (Terrence Malick)
2. A árvore dos frutos selvagens (Nuri Bilge Ceylan)
3. Era uma vez em… Hollywood (Quentin Tarantino)
4. O irlandês (Martin Scorsese)
5. Retrato de uma jovem em chamas (Céline Sciamma)
6. Coringa (Todd Phillips)
7. Longa jornada noite adentro (Bi Gan)
8. O farol (Robert Eggers)
9. O pintassilgo (John Crowley)
10. As ondas (Trey Edward Shults)

***

11. História de um casamento (Noah Baumbach)
12. Parasita (Bong Joon-ho)
13. Nunca deixe de lembrar (Florian Henckel von Donnersmarck)
14. Midsommar (Ari Aster)
15. Star Wars – A ascensão Skywalker (J.J. Abrams)
16. Amor até as cinzas (Jia Zhangke)
17. Um dia de chuva em Nova York (Woody Allen)
18. Jojo Rabbit (Taika Waititi)
19. A lavanderia (Steven Soderbergh)
20. El Camino – A Breaking Bad movie (Vince Gilligan)
21. Vingadores – Ultimato (Joe e Anthony Russo)
22. O lago do ganso selvagem (Diao Yinan)
23. Adoráveis mulheres (Greta Gerwig)
24. It – Capítulo 2 (Andy Muschietti)
25. O mistério de Silver Lake (David Robert Mitchell)

Menções honrosas: O caso Richard Jewell (Clint Eastwood), O rei leão (Jon Favreau), Joias brutas (Josh Safdie, Ben Safdie), Velvet Buzzsaw (Dan Gilroy), Zumbilândia – Atire duas vezes (Ruben Fleischer), Climax (Gaspar Noé), Shazam! (David F. Sandberg), Dor e glória (Pedro Almodóvar), Obsessão (Neil Jordan), Shaft (Tim Story), Vidro (M. Night Shyamalan), Guerra fria (Pawel Pawlikowski), Ad Astra – Rumo às estrelas (James Gray), Turma da Mônica – Laços (Daniel Rezende), Annabelle 3 (Gary Dauberman), A assistente (Kitty Green), Histórias assustadoras para contar no escuro (André Øvredal), Imagem e palavra (Jean-Luc Godard), Domino – A hora da vingança (Brian De Palma), Koko-di Koko-da (Johannes Nyholm), As golpistas (Lorene Scafaria), Doutor Sono (Mike Flanagan),  O rei (David Michôd), Entre facas e segredos (Rian Johnson), Mistério no Mediterrâneo (Kyle Newacheck), Ford vs Ferrari (James Mangold), O relatório (Scott Z. Burns), Alita – Anjo de combate (Robert Rodriguez), Fora de série (Olivia Wilde), Cemitério maldito (Kevin Kölsch e Dennis Widmyer), Toy Story 4 (Josh Cooley), The perfection (Richard Shepard), Espírito jovem (Max Minghella), Paddleton (Alexandre Lehmann), Graças a Deus (Olivier Assayas), Cadê você, Bernadette? (Richard Linklater), A vida secreta dos bichos 2 (Chis Renaud), Pokémon: Detetive Pikachu (Rob Letterman), Anima (Paul Thomas Anderson), Dumbo (Tim Burton), Uma aventura Lego 2 (Mike Mitchell), Aladdin (Guy Ritchie), X-Men – Fênix Negra (Simon Kinberg), Rocketman (Dexter Fletch), Gloria Bell (Sebastián Lelio), John Wick 3 – Parabellum (David Stahelski), Godzilla II – Rei dos monstros (Michael Dougherty), JT LeRoy (Justin Kelly), Calmaria (Steven Knight), A cinco passos de você (Justin Baldoni), Estrada sem lei (John Lee Hancock), Deixando Neverland (Dan Reed), A morte te dá parabéns 2 (Christopher Landon), Hellboy (Neil Marshall), O menino que queria ser rei (Joe Cornish), Amanda (Mikhaël Hers), Dois Papas (Fernando Meirelles), Luta por justiça (Destin Daniel Cretton), O escândalo (Jay Roach), Ontem havia coisas estranhas no céu (Bruno Risas), O pássaro pintado (Václav Marhoul), Luce (Julius Onah), What did Jack do? (David Lynch), O preço da verdade (Todd Haynes), Os aeronautas (Tom Harper), Vou morrer amanhã (Amy Seimetz), Os mortos não morrem (Jim Jarmusch)

1. Eu estou pensando em acabar com tudo (Charlie Kaufman)
2. Pinóquio (Matteo Garrone)
3. Capone (Josh Trank)
4. Tenet (Christopher Nolan)
5. On the rocks (Sofia Coppola)
6. Bela vingança (Emerald Fennell)
7. Minari (Lee Isaac Chung)
8. Da eternidade (Roy Andersson)
9. O chalé (Veronika Franz, Severin Fiala)
10. Nunca, raramente, às vezes, sempre (Eliza Hittmann)

***

11. Verão de 85 (François Ozon)
12. Uma noite em Miami… (Regina King)
13. A vastidão da noite (Andrew Patterson)
14. Let them all talk (Steven Soderbergh)
15. Fourteen (Dan Sallitt)
16. Wendy (Benh Zeitlin)
17. Má educação (Cory Finley)
18. A arte de ser adulto (Judd Apatow)
19. Destacamento Blood (Spike Lee)
20. Mank (David Fincher)
21. Cidade Pássaro (Matias Mariani)
22. Os 7 de Chicago (Aaron Sorkin)
23. Mulher-Maravilha 1984 (Patty Jenkins)
24. Dente de leite (Shannon Murphy)
25. Palm Springs (Max Barbakow)

Menções honrosas: Swallow (Carlo Mirabella-Davis), Emma (Autumn de Wilde), Shadow (Zhang Yimou), O Halloween de Hubbie (Steven Brill), Os últimos dias do crime americano (Olivier Megaton), Viveiro (Lorcan Finnegan), O diabo de cada dia (Antonio Campos), Mulan (Niki Caro), O som do silêncio (Darius Marder),  A voz suprema do blues (George C. Wolfe), The boys in the band (Joe Mantello), Enola Holmes (Harry Bradbeer), Troco em dobro (Peter Berg), A última coisa que ele queria (Dee Rees), Soul (Pete Doctor), Festival Eurovision da Canção: A saga de Sigrit e Lars (David Dobkin), Dois irmãos – Uma jornada fantástica (Dan Scanlon), Tudo bem no natal que vem (Roberto Santucci), O chamado da floresta (Chris Sanders), O caminho de volta (Gavin O’Connor), A ligação (Lee Chung-hyeon), Pacarrete (Allan Deberton), Convenção das bruxas (Robert Zemeckis), I’m no longer here (Fernando Frias), High life – Uma nova vida (Claire Denis), A química que há entre nós (Richard Tanne), A prima Sofia (Rebecca Zlotowski), Era uma vez um sonho (Ron Howard), Bad boys para sempre (Adil El Arbi e Bilall Fallah Vigiados (Dave Franco), Amor com data marcada (John Whitesell), Problemas monstruosos (Michael Matthews), O céu da meia-noite (George Clooney), Maria e João (Oz Perkins), Aves de Rapina – Arlequina e sua emancipação fantabulosa (Cathy Yan), Ava (Tate Taylor), The lovebirds (Michael Showalter), Alice Junior (Gil Baroni), 7500 (Patrick Vollrath), Ameaça profunda (William Eubank), Sonic – O filme (Jeff Fowler), SCOOBY! – O filme (Tony Cervone), Quentin Tarantino – Os oito primeiros (Tara Wood), Um lindo dia na vizinhança (Marielle Heller), Seberg contra todos (Benedict Andrews), Freaky – No corpo de um assassino (Christopher Landom), O que ficou para trás (Remi Weekes), Judas e o messias negro (Shaka King), Meu pai (Florian Zeller)

1. Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder)
2. Licorice Pizza (Paul Thomas Anderson)
3. A crônica francesa (Wes Anderson)
4. A pior pessoa do mundo (Joachim Trier)
5. Annette (Leos Carax)
6. Casa Gucci (Ridley Scott)
7. Duna (Denis Villeneuve)
8. Nem um passo em falso (Steven Soderbergh)
9. Ataque dos cães (Jane Campion)
10. Memória (Apichatpong Weerasethakul)

***

11. O beco do pesadelo (Guillermo del Toro)
12. A lenda do cavaleiro verde (David Lowery)
13. Não olhe para cima (Adam McKay)
14. Spencer (Pablo Larraín)
15. Luca (Enrico Casarosa)
16. Eternos (Chloé Zhao)
17. Os pequenos vestígios (John Lee Hancock)
18. O esquadrão suicida (James Gunn)
19. Tempo (M. Night Shyamalan)
20. Matrix resurrections (Lana Wachowski)
21. Roda da fortuna e da fantasia (Ryûsuke Hamaguchi)
22. Noite passada em Soho (Edgar Wright)
23. Malcolm & Marie (Sam Levinson)
24. Vingança e castigo (Jeymes Samuel)
25. Cordeiro (Valdimar Jóhannsson)

Menções honrosas: Drive my car (Ryûsuke Hamaguchi), A ilha de Bergman (Mia Hansen-Løve), Pequena mamãe (Céline Sciamma), Army of the dead (Zack Snyder), Vozes e vultos (Shari Springer Berman, Robert Pulcini), Eu me importo (J Blakeson), Cry macho – O caminho da redenção (Clint Eastwood), Pig (Michael Sarnoski), A filha perdida (Maggie Gyllenhaal), 007 – Sem tempo para morrer (Cary Fukunaga), Pieces of a woman (Kornél Mundruczó), Um lugar silencioso – Parte II (John Krasinski), A família Mitchell e a revolta das máquinas (Michael Rianda), Apresentando os Ricardos (Aaron Sorkin), O mauritano (Kevin Macdonald), Ponto de virada: 11/9 e a guerra contra o terror (Brian Knappenberger), A mulher na janela (Joe Wright), Amor, sublime amor (Steven Spielberg), Identidade (Rebecca Hall), O último duelo (Ridley Scott), King Richard – Criando campeãs (Reinaldo Marcus Green), First cow – A primeira vaca da América (Kelly Reichardt), Godzilla vs. Kong (Adam Wingard), Amizade adolescente (James Orley), Halloween kills (David Gordon Green), Jungle Cruise (Jaume Collet-Serra), A escavação (Simon Stone), A mão de Deus (Paolo Sorrentino), Maligno (James Wan), Beckett (Ferdinando Cito Filomarino), Imperdoável (Nora Fingscheidt), Deserto particular (Aly Muritiba), Tick, tick… BOOM! (Lin-Manuel Miranda), Moxie: quando as garotas vão à luta (Amy Poehler), Tom & Jerry – O filme (Tim Story), O discípulo (Chaitanya Tamhane), Kid 90 (Soleil Moon Frye), Um príncipe em Nova York 2 (Craig Brewer), Pelé (Ben Nicholas e David Tryhorn), Homem-Aranha – Sem volta para casa (Jon Watts), Estados Unidos vs. Billie Holliday (Lee Daniels), Relatos do mundo (Paul Greengrass), Cabeça de nêgo (Déo Cardoso), Undine (Christian Petzold), Shang-Chi e lenda dos dez anéis (Destin Daniel Cretton), Fuja (Aneesh Chaganty), Red rocket (Sean Baker)

“Liga da Justiça de Zack Snyder” vs “Vingadores – Ultimato”

Por André Dick

Este texto apresenta spoilers 

1

Na década passada, a principal rivalidade do cinema não foi entre super-heróis ou personagens bons contra maus e sim da DC/Warner em relação à Marvel/Disney, não apenas em questão de bilheteria, como também, principalmente, em estilo de filmes. Os filmes da DC sempre foram mais ligados a algo soturno, introspectivos, sem muito humor, enquanto os da Marvel eram mais vistos como solares, divertidos e com uma bem-vinda superficialidade, talvez mais fiéis aos quadrinhos, como muitos dizem.
Isso se deve a duas visões de cinema: uma é a de Zack Snyder, criador da DC/Warner, que foi incumbido de fazer o que a Marvel estava fazendo não com um criador, e sim um produtor, um coordenador de produções: Kevin Feige. Os filmes da Marvel sempre retornaram mais em público e bilheteria, assim como tiveram uma resposta crítica mais amistosa, mesmo nos momentos menos inspirados. Os filmes do universo DC vieram na esteira dos da Marvel em termos de tentativa de ligar histórias: O homem de aço teve uma recepção irregular, mas boa bilheteria, enquanto Batman vs Superman – A origem da justiça foi bastante avariado pela crítica e, apesar do bom ganho, não alcançou o que se esperava dele: a bilheteria bilionária de Os vingadores, o divisor de águas da Marvel/Disney dirigido por Joss Whedon em 2012. Com essa recepção, e depois de problemas pessoais de Snyder durante as filmagens de Liga da Justiça, a DC/Warner trouxe Whedon para finalizar o filme, regravar cenas e editar sua versão.
Em razão das críticas a Batman vs Superman, a proposta a ser atingida era de um filme mais leve, mais bem-humorado, com o espírito da Liga da Justiça, como entendeu na época um dos produtores, Geoff Johns. A metragem reduzida para duas horas se deveu a uma interferência de Kevin Tsujihara, o CEO da Warner à época, segundo o que se fala. O resultado foi o filme lançado em 2017. Em 2021, finalmente estreou a versão de Zack Snyder para Liga da Justiça, com 242 minutos, mais de duas horas a mais de filme. O que se convenciona dizer (de que o plano de Snyder para a trilogia de Liga da Justiça deve ao Vingadores) pode ser visto sob outro ponto de vista. Deve-se levar em conta que existia esta versão de Zack Snyder em 2017 e era considerada “inassistível”, fazendo com que toda vez em que nos referimos ao filme de 2021 estamos, na verdade, tratando de um filme de uma obra semifinalizada há quatro anos. Vendo o filme em 2021, todas as cenas mostram os atores e atrizes como eram há quatro anos, exceto o epílogo, com cenas filmadas em 2020. Do mesmo modo, para que não haja dúvida, toda decisão criativa do filme de 2017 é, em último caso, colocada a cargo de Joss Whedon, mesmo que tenha havido outros que decidiram nos bastidores em conjunto. Ele foi chamado para ser a referência criativa na finalização e não se deve duvidar de que as escolhas passaram pelo crivo dele.

2

As diferenças entre essas versões foram abordadas neste artigo. Desta vez, passaremos a ver como Liga da Justiça de Zack Snyder tem pontos em comum com Vingadores – Ultimato, dos irmãos Russo, mas levando-se em conta que ela originalmente, em sua maior parte, foi feita em 2017, sendo finalizada (principalmente efeitos visuais e seu epílogo) em 2020/2021. Por mais que se reconheça o talento dos diretores neste filme-evento da Marvel, é plausível dizer que ele traz, em termos de imagens, muito mais inventividade do que demonstram ao longo de sua curta trajetória até agora. É notável perceber, inclusive, o quanto Ultimato começa com um sentido de melancolia que inexiste no filme anterior, Vingadores – Guerra infinita, em todos os sentidos, principalmente na fotografia, usando o sentimento de vazio de espaços abertos, e no design de produção, mostrando o Clint Barton/Gavião Arqueiro com sua família num local campestre e depois sem ela. Esta passagem tem muito da ausência que acomete Lois Lane em Batman vs Superman, quando avista o túmulo de Clark Kent a distância.

Em seguida, vemos os personagens ainda abalados pela perda de alguns super-heróis – assim como em Liga da Justiça de Zack Snyder vemos Bruce Wayne, Martha Wayne, Lois Lane e o mundo todo sob o espectro da perda do Superman. Em Ultimato, o Homem de Ferro vai morar numa fazenda com sua filha. O objetivo de reunir os Vingadores é poder reverter o que Thanos fez ao mundo no final de Guerra infinita. O objetivo de Liga da Justiça de Zack Snyder é reverter a perda do Superman. Na versão de Snyder, isso ganha uma ressonância pela maneira como a trama é contada; com a mesma efetividade que os irmãos Russo tiveram em seu Ultimato, principalmente tempo de metragem. O que dois anos antes a WB desconsiderara – um filme de no mínimo três horas, considerando-se que o corte original de Snyder era de 219 minutos – estava sendo adotado pela principal rival: um filme com enorme metragem para um filme de super-heróis e muitas vezes melancólico e soturno, termos e interpretações que se evita usar no caso da Marvel, e para isso basta ver a recepção crítica de seus filmes. Mesmo em seus momentos menos luminosos, como em Thor – O mundo sombrio, Capitão América – O soldado invernal, Capitão América – Guerra civil e Vingadores – Guerra infinita, sempre houve um clima mais de confraternização e menos de embate entre os personagens, mesmo quando levados a um limite, além de nos três últimos, dirigidos pelos irmãos Russo, uma mistura de thriller e ficção científica. A primeira hora, particularmente, de Vingadores – Ultimato poderia ser considerada uma tentativa de adaptar o universo tão criticado até então da DC/Warner, adotando o ponto de vista de Snyder, para a Marvel/Disney.

3

A maneira como os irmãos Russo mostram cada personagem depois da hecatombe proporcionada por Thanos é vital para esse sentido de solidão do filme: o Gavião Arqueiro vivendo de vinganças, a Natasha Romanoff/Viúva Negra melancólica, Tony Stark/Homem de Ferro perdido no espaço sideral, Scott Lang/Homem-Formiga descobrindo figuras familiares e amigas em memoriais, assim como Lois visita o Memorial dedicado ao Superman e às vítimas do ataque de Zod em O homem de aço ou Martha Kent o túmulo de Clark. Uma atmosfera que remete a Watchmen – O filme. A Marvel/Disney capta uma melancolia que a DC/Warner negara dois anos antes na visão de Snyder porque quis trazer Joss Whedon a fim de fazer um novo Os vingadores de 2012. O mesmo Whedon dispensado pela Marvel/Disney depois de Era de Ultron.

No filme de Snyder, Arthur Curry/Aquaman não quer assumir seu posto de rei de Atlântida, quase expulsa Bruce Wayne de uma reunião num vilarejo; Flash procura emprego; e Victor Stone/Ciborgue se compadece de seus poderes ainda não descobertos.
Em Ultimato, neste clima pós-apocalíptico, o Capitão América participa de reuniões cujo um dos integrantes é feito por um dos irmãos Russo. Essa reunião tem um clima de melancolia que dialoga com uma sequência de Liga da Justiça de Zack Snyder, em que Lois se encontra com Martha em seu apartamento. A mesma luz soturna, o mesmo clima de frustração. Na versão finalizada por Whedon, o encontro de Lois e Martha acontece numa sala do Daily Planet, num ambiente solar e figurinos alegres, extraindo toda a carga de tensão. Nesse sentido, Snyder sabe que, para acontecer um crescimento de tensão para o desenlace, os personagens, como aparece em Ultimato, devem estar passando por uma fase de superação de perda e de luto.

A Lois Lane visitando o Memorial do Superman ainda lembra uma fagulha da Estátua da Liberdade no início de Ultimato, quando a humanidade tenta se reconstruir depois do que Thanos fez a ela. Na versão de Whedon, as sequências de desolação depois da morte de Superman são atenuadas ou simplesmente descartadas, como se a melancolia não pudesse pertencer a um filme do gênero. Ou seja, em 2017, é curioso entender que, se lançada a versão do filme de Snyder, Liga da Justiça anteciparia o clima melancólico adotado principalmente em Ultimato. Isso não foi feito exatamente porque a DC/Warner queria seguir o padrão de filmes da Marvel. A Marvel sabia que precisaria ingressar nesses elementos para provocar emoção no espectador, levando-o a um sentido épico. Isso só pode ser feito com grandiosidade e trabalho com os personagens, o que a DC/Warner evitou ao aceitar a versão reduzida de Whedon, recheada de gags.

E, como representação da figura do super-herói para a criança, Joss Whedon elimina uma sequência-chave da versão de 2017, quando, depois de a Mulher-Maravilha enfrentar terroristas e salvar um grupo de pessoas, conversa com uma menina dizendo a ela que pode, se quiser, ser como ela. Isso remete à conversa de Tony Stark com sua filha em Ultimato, antes de decidir se juntar novamente aos Vingadores. Não se sabe por que Whedon elimina uma cena tão importante para fazer a Liga da Justiça dialogar com o público infantojuvenil, mas ele o faz.

4

Visualmente, as partes em que se mostra o imaginário do Ciborgue em Liga da Justiça de Zack Snyder conversam com a aridez do planeta Vormir, onde Thanos sacrifica a própria filha em Vingadores – Guerra infinita, e para o qual o Gavião Arqueiro e a Viúva Negra voltam em Ultimato. Há um trabalho de CGI muito parecido e um planeta no alto do céu solitário, mas parecendo estar muito próximo, como a Lua no filme Melancolia – e essas imagens já poderiam ser entrevistas em muito material de Watchmen – O filme também, em 2009, principalmente relacionadas ao Dr. Manhattan.

O drama do Ciborgue, aliás, lembra muito o drama inicial do Homem de Ferro em Ultimato, quando ele está fraco e sem energia por causa do próprio maquinário que o impulsiona, com seu coração quase estilhaçado, como se cobrasse por sua energia, o que era entrevisto em Homem de Ferro 2 e Homem de Ferro 3, mas não com o drama que acontece aqui, desde sua solidão no espaço sideral até sua tentativa de readaptação.
Também é possível ver algo do vilarejo de Aquaman naquele onde Thor e sua trupe fazem a nova Asgard. Thor está tão embriagado e barbudo quanto o Aquaman. Bruce Banner/Hulk e o Rocket chegam ao lugar numa caçamba de caminhonete, como Aquaman se despede em Liga da Justiça de Zack Snyder de Mera e Vulko para ir visitar o seu pai. Não são apenas proximidades, mas contextualizações e modos de filmar cada personagem muito parecidos.

No início de Ultimato, Capitão América aparece solitário em frente a um espelho e sobrevive em cenários com Viúva Negra do centro dos Vingadores construído por Tony Stark, desta vez com um design mais soturno que lembra o da aeronave que leva Bruce Wayne em Liga da Justiça de Zack Snyder, assim como o de sua Batcaverna, principalmente na versão de Snyder, já que a de Snyder procura sempre luzes pela janela. Tem também o mesmo sentido de tentar reorganizar a equipe como Bruce Wayne tem de reunir os componentes da Liga da Justiça. Ambos também estão num momento de buscar a serenidade e a reconciliação com antigos companheiros de batalha. São sérios, mas o Bruce Wayne, por ser de Snyder, é visto pela crítica como sisudo. Não por acaso, Whedon foi contratado para inserir falas como, depois de ser jogada pelo Superman do alto: “Tem algo sangrando em mim”, referência satírica a um diálogo entre os dois em Batman vs Superman. Enquanto em Ultimato temos a imponente máquina do tempo na instalação dos Vingadores, na Batcaverna de Liga da Justiça Wayne tenta arrumar sua aeronave.

Esses pontos de construção de cada personagem também são mais elaborados na versão de Snyder – assim como no filme dos Russo – por causa do tempo. Whedon correu contra o tempo nas refilmagens para tirar todo o escopo épico de Snyder, que os Russo irão adotar algum tempo depois em Ultimato.

5

Finalmente, por que Joss Whedon finalizou um vilão com tão pouca dedicação como Lobo da Estepe é uma incógnita. Não é este vilão que aparece nos story-boards de Snyder, revelados em Justice League – The art of the film, de Abbie Bernstein. Neles, já aparece Lobo da Estepe com a armadura que seria usada na versão de 2021. É um vilão não com a mesma linha de diálogos de Thanos, mas tão imponente quanto, com, inclusive, um machado. Whedon o torna por vezes risível e sem nenhum traço épico.

Não há ameaça nele, e as suas falas se reduzem a lugares-comuns. Isso afeta o ato final de Ultimato e que em Liga da Justiça de Zack Snyder finalmente vemos de forma completa. O mais curioso é que, na época de lançamento do filme, Whedon curtiu tweets de Joanna Robinson, da revista Vanity Fair, que criticavam justamente o vilão, considerando-o pior do que o de Thor – O mundo sombrio, como se ele, Whedon, não tivesse relação com o resultado, com as escolhas e não tivesse recebido um grande cachê por seus “acréscimos”. Na versão completa de Snyder, Lobo da Estepe recebe a armadura dos story-boards, tornando-se praticamente outro personagem.

No seu filme completo, Snyder mostra a luta das Amazonas e do povo de Atlântida, além de deuses do Olimpo e de um Lanterna Verde, contra o Darkseid. Essa sequência picotada no filme de 2017 para parecer um ligeiro flashback é vista em grande escopo na versão de Snyder, com ecos de O senhor dos anéis e 300 – e vemos nela a mesma iluminação e tom de fotografia de Fabian Wagner que seriam adotados no ato final de Ultimato.
Ao longo do filme de 2017, Whedon também opta por cortar as histórias do Ciborgue e diminuir a do Flash, vitais para o ato final do Liga da Justiça de Zack Snyder. Nele, o Flash, assim como o Homem de Ferro, busca atingir seu limite para salvar o Ciborgue, que está se sacrificando pela humanidade contra o Lobo da Estepe, igual ao Homem de Ferro no filme dos irmãos Russo contra Thanos.
Whedon tira a história do Ciborgue para torná-lo um personagem sem importância, quando já havia um bastante similar na Marvel, com muito sucesso e que, dois anos depois, se sacrifica pelos Vingadores. Principalmente quando ele precisa lidar com a Manopla do Infinito, assim como o Ciborgue lida com as Caixas Maternas. Manopla que em Ultimato quase mata, numa das sequências anteriores, o poderoso Hulk. Cada corte de Whedon interfere não apenas na visão do Liga da Justiça original de Snyder, como é revertido como ponto positivo e peça surpreendente no filme dos super-heróis da Marvel. O Flash jovem e entusiasmado em contribuir com a equipe também funciona como peça emotiva e diálogo com o Superman de 1978, com sua generosidade em tentar salvar o Ciborgue, tentando retroceder no tempo. O tempo que é vital para toda a narrativa de Ultimato, quando os personagens devem viajar no tempo, a fim de conseguir encontrar o ponto inicial em que surgiu cada Joia do Infinito. Sabe-se o quanto história de HQs podem se assemelhar, mas o roteiro de Chris Terrio para Liga da Justiça de Zack Snyder é um verdadeiro tour de force para todos os elementos que não podem faltar num filme de super-heróis.

Outro detalhe envolvendo o Ciborgue é que na versão de Whedon sua ligação com o pai, Silas Stone, é praticamente eliminada. O pai não frequenta os jogos de futebol americano do qual o filho participa, por estar sempre concentrado na ciência. Seu arco o aproxima novamente do Homem de Ferro de Tony Stark. Em Liga da Justiça de Zack Snyder, Silas quer que o filho descubra seus poderes e permite à Liga entrar na nave de Zod, para ressuscitar Superman. Ao final, quando tenta escapar com uma das Caixas Maternas, fugindo do Lobo da Estepe, ele se sacrifica em frente ao filho. Em Ultimato, temos o encontro de Tony Stark com seu pai, Howard, ainda jovem e antes de ele nascer, na sede da SHIELD, em 1970, o que antecede o sacrifício que ele, como Homem de Ferro, faz pela equipe contra Thanos, como se fosse um acerto de contas com seu passado.

6

No arco da volta do Superman em Liga da Justiça de Zack Snyder, para o qual Whedon contribuiu com refilmagens desnecessárias, ele também abstrai duas cenas que dialogam diretamente com O homem de aço e ajudam a tornar essa volta à vida do super-herói mais completa, como se um círculo se completasse. Uma é quando Clark Kent olha pela janela de sua casa em Smalville, ao lado de Lois, o balanço onde brincava quando criança. Outra é quando no milharal brinca com um borboleta, da mesma cor de uma que aparecia numa vidraça numa das imagens de sua infância em O homem de aço. Possivelmente, Whedon e os produtores responsáveis pelo corte do filme que foi aos cinemas devem ter imaginado que eram cenas supérfluas e sem significado, colocadas por Snyder sem nenhum sentido especial ou de ligação com seu primeiro filme sobre Superman.

Finalmente, na batalha final, quando se vê atacado pela nave de Batman, o Lobo da Estepe manda os parademônios saírem para o confronto, dialogando com uma das imagens da multiplicação do Doutor Estranho em Guerra infinita. Essas imagens, como as que se refletem também em Thor: Ragnarok, lidam com uma iconografia muito próxima daquela que Snyder apresenta em 300 e Sucker Punch, uma influência de deuses do Olimpo. Whedon talvez esqueça da versão de Pozharnov de Snyder, na qual se dá esses acontecimentos, porque considerava estar em Sokovia de Era de Ultron, substituindo o drama do ciborgue pelo de uma família que estaria morando dentro de um centro radioativo.

7

Interessante como em 2017 a DC/Warner queria um produto de 2012 de Joss Whedon, quando Snyder tinha entregue na versão completa algo que rivalizaria e anteciparia elementos de Ultimato, de dois anos depois. Pode-se também avaliar que em Liga da Justiça de Zack Snyder o Ciborgue tem premonições do que acontecerá a seus companheiros, assim como Homem de Ferro em Vingadores – Era de Ultron, e Whedon removeu essas cenas inseridas por Snyder.

Nelas, Ciborgue vê Superman segurando Lois morta, enquanto Darkseid o ameaça, assim como Diana Prince/Mulher-Maravilha sendo velada numa pira de fogo. O epílogo de Liga da Justiça de Zack Snyder também traz o Flash com o mesmo visual que aparece após a sequência do Knightmare dizendo que Lois é a chave. Mas Whedon, quando fez Era de Ultron, já tinha como referência no cinema o próprio O homem de aço, em que o Superman tinha imagens assustadoras sobre ele em cima de ossos terráqueos, com a terra destruída pela passagem de Zod (antes de Snyder ceder à cena de destruição de Metropolis, que remete a Os vingadores).

Além de a fazenda da família do Gavião Arqueiro, onde os Vingadores se escondem em Era de Ultron, lembrar muito a casa do Superman em Smalville em O homem de aço.

Chama a atenção como o tom e a construção de vários personagens de Liga da Justiça de Zack Snyder – um filme que existia em 2017, mas não finalizado – se reproduziriam em Vingadores – Ultimato de forma direta ou indireta. Whedon teria feito essas mudanças por, a princípio, uma escolha criativa pessoal ou tomadas em conjunto com a Warner. O resultado foi o desaparecimento do traço épico e eliminação de possíveis cliffhangers para continuações. Sabe-se que se o filme fosse um sucesso sua sequência seria lançada talvez num dos anos dos Vingadores subsequentes. Comentários indicam que Whedon tinha várias ressalvas ao filme de Zack Snyder. Matt Goldberg, da Collider, teria ouvido de pessoas dos bastidores que ele era inassistível. O que se percebe, depois de ver Liga da Justiça de Zack Snyder, é que, de forma curiosa, Ultimato não teria nenhuma contrariedade ao estilo que Zack Snyder teria empregado na versão original de Liga da Justiça: a mesma melancolia inicial, o Thor/Aquaman como habitantes de um vilarejo na costa e batalhas ferozes contra um vilão com machado implacável, entre outros elementos vistos ao longo deste artigo. Os mesmos elementos que teriam feito o filme de Snyder fracassar, segundo quem tomava a decisão na DC/Warner à época, se tivesse sido lançado de forma completa ou pelo menos na sua versão de 219 minutos em 2017. Uma grande curiosidade para o cinema. Quase como uma provocação a Whedon, Snyder congela a Liga da Justiça antes da batalha contra o Lobo da Estepe, como Whedon fizera com os Vingadores no início de Era de Ultron. Esta sequência já podia estar no corte original de Snyder, mas acho que foi um acréscimo aqui. Fala-se que Snyder nunca viu a versão finalizada por Whedon para Liga da Justiça, aconselhado, entre outros, por Christopher Nolan. Eu cogito que ele tenha visto. Hoje, finalmente pode-se dizer que finalmente todos podemos ver Liga da Justiça de Zack Snyder e o quanto ele foi alterado, subvertido e prejudicado por Joss Whedon.

O som do silêncio (2020)

Por André Dick

Há alguns filmes que captam a intensidade do universo da música, como o subestimado The Runaways, o retrato sobre Cobain em Últimos dias e o recente Her smell, com Elisabeth Moss, como uma cantora que sofre de desequilíbrio e problemas pessoais. O filme O som do silêncio é a estreia de Darius Marder como diretor com toda a atenção de um artesão, construído emocionalmente de forma lenta e discreta. O espectador começa acompanhando um baterista, Ruben (Riz Ahmed), de uma banda de heavy metal chamada Blackgammon com a namorada vocalista, Lou (Olivia Cooke), à frente do palco.
A maneira como é filmado, na escuridão e com uma parede sonora perturbadora, parece antever a quebra da tranquilidade que o casal tem fazendo a viagem em seu próprio trailer ouvindo outro tipo de música – principalmente soul. Nos dias seguintes, o baterista começa a perder sua audição – avisado por um especialista da área –, até que repentinamente ele não consegue mais ouvir. A transformação abala imediatamente a vida do casal, que está em turnê, e Lou o convence a procurar uma comunidade liderada por Joe (o ótimo Paul Raci), onde terá a oportunidade de aprender a viver em sua nova condição. Por que ela parece deixa-lo, mesmo querendo seu melhor? Esse dilema é levado pelo filme. A preocupação dela parece ser, em primeiro lugar, que ela caia novamente no vício da heroína, do qual saiu há quatro anos.

Revelado principalmente em O abutre, mas com participações exitosas em blockbusters como Rogue One e Venom, Ahmed interpreta Ruben com uma sensação de deslocamento contínua e uma tentativa de obter ternura da namorada antes de um possível rompimento. A solidão dele é sentida pelo espectador de modo contundente, e o diretor não alivia em relação às sensações que ele vai tendo. Na comunidade, ele fica relutante a princípio de seguir as ordens de Joe (Paul Raci), um ex-veterano de guerra que ficou surdo quando uma bomba explodiu perto dele, no entanto, aos poucos, vai aprendendo a conviver em sala de aula com crianças que passam também pela mesma situação.
É um filme que não foge de seu caráter motivador e não evita a melancolia. É bem verdade que Marder não consegue desenvolver outros personagens, colocando-os à margem ou apenas como complemento para s reações do ex-baterista, o que é uma característica de filme com características de cinema indie como este. Ainda assim, o núcleo funciona, pela reação que o personagem vai tendo: quando é aconselhado, por exemplo,  a desistir de tarefas cotidianas, ele fica abrigado num quarto apenas com um caderno para escrever o que sente. O personagem, no entanto, parece ficar incomodado sempre com a condição e imagina conseguir um implante coclear.

Marder trabalhou com Derek Cianfrance (que colabora aqui na história) ao ser um dos autores do roteiro de O lugar onde tudo termina e consegue se mostrar um hábil diretor de simbologias, que vão se acumulando e se autoexplicam no terceiro ato, no qual há um encontro decisivo. Ele tem uma boa noção da vida de pessoas afastadas umas das outras por alguma questão. Como no filme com Ryan Gosling, no qual ele fazia o motoqueiro de um circo errante, Reuben é um personagem sem paradeiro, que parece impulsionar sua vida por turnês com a banda, quando parece querer outra vida. Esta outra vida, no entanto, não é a que ele acaba encontrando definitivamente, o que não diminui seu conflito e sua rota.
Trata-se de uma obra sobre pessoas que se querem, precisam umas das outras para obter um sentido de existência, porém não sabem muito bem como fazer isso, e é justamente aí que O som do silêncio encontra seu maior sentido. Da escuridão inicial, independente do fato de representar também uma faceta do personagem, até a luminosidade, são muitos passos. Marder quer mostrar, de forma delicada, alguns deles, e o faz de maneira individual e promissora para uma carreira que se anuncia.

Sound of metal, EUA, 2020 Diretor: Darius Marder Elenco: Riz Ahmed, Olivia Cooke, Paul Raci, Lauren Ridloff, Mathieu Amalric Roteiro: Darius Marder e Abraham Marder Fotografia: Daniël Bouquet Trilha Sonora: Nicolas Becker e Abraham Marder Produção: Bert Hamelinck, Sacha Ben Harroche, Bill Benz, Kathy Benz Duração: 120 min. Estúdio: Caviar, Ward Four Distribuidora: Amazon Studios

As ondas (2019)

Por André Dick

A influência do cinema de Terrence Malick é evidente desde o início da década passada, com A árvore da vida. Em seguida, Amor pleno e Cavaleiro de copas foram projetos que intensificaram a estética do ganhador da Palma de Ouro em Cannes em 2011. Seria natural que esse estilo se expandisse para outros cineastas, e Trey Edward Shults o admite desde o seu terror Ao cair da noite. No entanto, foi em As ondas que ele realmente seguiu os passos de Malick na captura de imagens, mais especificamente De canção em canção, mesmo que filtrado já pelo olhar de Barry Jenkins em Moonlight, vencedor do Oscar em 2017, não sem adaptar a um estilo particular.
O filme começa mostrando Tyler Williams (Kelvin Harrison Jr.), que se destaca em luta greco-romana em sua escola, e com isso pode se candidatar a bolsas de estudos para a universidade. Ele mora com seu pai Ronald (Sterling K. Brown) e sua madrasta Catherine (Renée Elise Goldsberry), além de sua irmã Emily (Taylor Russell), numa casa luxuosa do sul da Flórida. Também tem um namoro sólido com Alexis (Alexa Demie).

Acontece um problema: Tyler machuca seu ombro e não conta para a família, prosseguindo nos torneios, o que o prejudica. Como grita seu treinador no vestiário, ele é uma “máquina jovem” e sua autocobrança é visível. As exigências do pai para que ele seja o melhor no seu esporte também parecem pedir demais dele. Ao mesmo tempo, sua namorada lhe conta que está grávida, deixando-o inseguro quanto a ter um filho não planejado e prestes a ingressar na universidade. As ondas é um filme bastante sensorial desde o seu início, quando faz a ligação do espectador com o mundo de Tyler, com rotações de câmera evocando um universo agitado. Também é lírico ao mostrar imagens do seu pai na construção de uma obra e quando ele corre num pôr do sol embaixo de viadutos. A resolução das imagens é tátil como nos filmes de Malick.
A partir da segunda metade, a narrativa se concentra na irmã de Tyler, Emily, que se aproxima de um companheiro da equipe dele,  Luke (Lucas Hedges). A primeira abordagem dele, convidando-a para lanchar perto da escola, é uma aula de contenção e sensibilidade sobre a aproximação de dois jovens que não se conhecem.

Schults faz a ligação entre os personagens de maneira interessante, com conversas sobre a família e o tratamento dado pelas pessoas à família de Emily pela internet. Enquanto Tyler é o jovem com propensão ao caos, a irmã representa a faceta tranquila. Enquanto vemos na primeira parte ele buscando confronto diante das exigências, ela tenta apenas contornar situações delicadas – e perdoar aquilo que está a seu alcance.
As ondas se movimenta neste fluxo que cria uma analogia e diferenciação entre os dois, com uma fluidez que vai da fotografia de Drew Daniels até a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross. De certo modo, As ondas provoca a sua substância por meio de um estilo às vezes extremado de cores e uso de filtros, principalmente na sequência em que há uma opressão do personagem Tyler pela polícia – e as sirenes conduzem essa movimentação. Esse estilo visual parece dialogar,com aquele de Paul Thomas Anderson em Embriagado de amor, quando usa cores na transição de cenas. A segunda parte do filme é mais natural, com paisagens da Flórida apresentadas de maneira mais melancólica, noturnas, com um brilho distinto, e a rotina tranquila de Emily vivendo uma espécie de luto com o acontecimento que encerra a primeira parte.

Schults traz algumas das melhores atuações: Halrrison, que fez Luce, é muito exitoso como Terry, e seu pai é um Sterling K. Brown em grande momento. Ainda assim, parece ser Russell o esteio para As ondas chegar ao autoperdão e à aceitação dos erros do próximo no terceiro ato, em bom dueto com Hedges. É neste ponto que o filme aceita uma espécie de discurso religioso, como aquele ouvido na igreja que a família frequenta, sobre o perdão a pessoas principalmente. Ele não se baseia, porém, num discurso: sua empatia com o espectador acontece pela humanidade das situações e a delicadeza de algumas cenas do terceiro ato, quando pai e filha conversam à beira de um lago, que transcendem qualquer expectativa depositada no roteiro. Um elo entre as gerações é produzido pela sensação de que se deve reparar o quanto antes sentimentos dispersos para que eles não se reproduzam infinitamente e não sejam acentuados pelo indivíduo de modo a estagná-lo no tempo. Por isso, As ondas se mostra uma obra ao mesmo tempo contida e emancipadora de um sentimento expansivo, direcionado ao outro como poucas.

Waves, EUA, 2019 Diretor: Trey Edward Shult Elenco: Kelvin Harrison Jr., Lucas Hedges, Taylor Russell, Alexa Demie, Renée Elise Goldsberry, Sterling K. Brown Roteiro: Trey Edward Shults Fotografia: Drew Daniels Trilha Sonora:  Trent Reznor e Atticus Ross  Produção: Kevin Turen, Jessica Row, Trey Edward Shults  Duração: 135 min. Estúdio: Guy Grand Productions, JW Films Distribuidora: A24

A visita (2015)

Por André Dick

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Depois de ser muito criticado por A dama na água, O último mestre do ar e Antes da terra, M. Night Shyamalan voltou ao gênero em que se consagrou, com A visita. Enquanto peças como Sinais e Corpo fechado são surpreendentemente valorizadas, Shyamalan parece ter mais acerto em obras consideradas menores, como A vila e Fim dos tempos. Este A visita é uma obra, digamos, menor, feito em estilo found footage.
Levando em conta que não aprecio muitos exemplares de found footage, A visita mostra como o diretor tem talento em filmar, pois, com exceção de poucos momentos, não percebemos que se trata de um filme deste estilo. É uma fotografia, a meu ver, belíssima – assinada por Mayse Alberti (que remete sobretudo à de O iluminado).
Shyamalan acompanha a visita de um casal de irmãos,  Rebecca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) aos avós, John (Peter McRobbie) e Dora (Deanna Dunagan), enquanto a mãe, Paula (Kathryn Hahn),  partirá com seu namorado para uma viagem de cruzeiro. Sua mãe fugiu de casa cedo e nunca entrou em contato depois com seus pais; dar espaço para que seus filhos possam conhecer os avós parece um pedido de reconciliação. Recebido na estação pelos avós, Rebecca e Tyler partem logo para uma casa distanciada de tudo. Os irmãos vivem filmando todas as situações e pretendem fazer um documentário sobre os avôs, tentando solucionar dívidas sentimentais da família.

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O que encontram no lugar é, a princípio, afeto, acompanhado de algumas ordens, como a de não poderem sair do quarto depois das 9h30 da noite, pois os avós já estarão descansando. A questão é que tanto Rebecca quanto Tyler não estão dispostos a seguir as regras e logo estão visitando lugares que não deveriam. A curiosidade sempre foi um dos conceitos da obra de Shyamalan, assim como a de crianças envolvidas com perigos (basta vermos O sexto sentido e Sinais). Ao mesmo tempo, Shyamalan visualiza sempre a criança como alguém solitário, a exemplo de em O último mestre do ar e Antes da terra, e em A visita não é diferente: por que essas crianças foram deixadas pela mãe a irem para um lugar desconhecido, mesmo que próximo, já que a mãe não os vê seus pais há anos? Como pode ter a confiança de que cuidarão de seus filhos? São questões que não prejudicam a narrativa pelo talento em direcionar tudo a pequenas reviravoltas e surpresas capazes de atrair mesmo o espectador mais desatento.  A atuação de Kathryn Hahn contribui para essa sensação de descompromisso diante do surpreendente, porém são os passeios pela casa e pelos arredores que se assemelham a uma fábula de terror moderno. O comportamento dos irmãos é perfeitamente adequado dentro de cada compasso exigido pela narrativa.

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Nada é muito explicado e há buracos no roteiro, mas A visita fornece um clima interessante de suspense e o casal de irmãos é interpretado por bons atores, além de se fazer bom uso da metalinguagem e referências bem-humoradas a outros filmes do gênero. Especialmente Oxelboud, revelado em Alexandre e o dia terrível, horrível, espantoso e horroroso, é um ator muito convincente. Também é surpreendente a atuação do casal de idosos e a atmosfera que Shyamalan vai criando. Em certo momento, é como se fosse uma fábula às avessas, no qual o final não necessariamente pode ser uma revelação singela e redentora para os personagens. Isso já transparecia no subestimado A vila e ganhava contornos inequívocos em A dama na água e Fim dos tempos. Pode-se entender que é um filme que exige simpatia pelo modo como foi filmado, mas Shyamalan é um dos poucos cineastas talentosos em extrair medo de lugares-comuns, de simples gestos ou silêncios dos personagens.
A maneira como enquadra os personagens também dá espaço para um suspense que acaba por contaminar o espectador, além de seu talento em dar cores aos ambientes e aos figurinos (o casaco verde do menino, as luzes dos abajures). Apenas se lamenta que o final seja pouco elaborado, certamente o mais fraco da carreira de Shyamalan: a narrativa merecia mais. De qualquer modo, a influência de Alfred Hitchcock e de O iluminado, de Kubrick, marcam presença durante toda a narrativa, fazendo com que o pano de fundo sempre deixe espaço para a dúvida do que está acontecendo. São aprimoradas algumas técnicas exibidas em Fim dos tempos, na composição das imagens, por vezes dispersas, por vezes simétricas, ocasionando um estranho conflito dentro do mesmo enquadramento.

The visit, EUA, 2015 Diretor: M. Night Shyamalan Elenco: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Kathryn Hahn Roteiro: M. Night Shyamalan Fotografia: Maryse Alberti Produção: M. Night Shyamalan, Jason Blum e Marc Bienstock Duração: 94 min. Estúdio: Blinding Edge Pictures, Blumhouse Productions Distribuidora: Universal Pictures

O último mestre do ar (2010)

Por André Dick

A produção mais polêmica do início da década passada possivelmente tenha sido O último mestre do ar. Baseado numa animação conhecida da Nicklodeon, ele foi adaptado por M. Nioht Shyamalan, que já vinha de uma sequência de obras criticadas, Fim dos tempos e A dama na água, e, muito em razão do orçamento de seu filme, teve uma bilheteria longe do esperado. Recentemente circulou um vídeo de 2015 em que  Dev Patel, pedia desculpas a alguns fãs pela existência dele.
Bem, é verdade que Shyamalan nunca regressou a este universo por causa da soma de problemas. Mas está longe de ser um desastre – pelo contrário, dentro de sua abordagem é um dos filmes equilibrados a tratar de uma influência espiritual no cinema. Ele lida de maneira competente com a direção de arte, com o figurino (bem trabalhado) e os efeitos especiais (da Industrial Light & Magic, de George Lucas).

Basicamente, é uma adaptação do personagem da Nicklodeon, um menino, Aang (Noah Ringer), que está num iceberg e é libertado por Sokka (Jacjson Rathbone) e sua irmã Katar (Nicola Peltz), que pertencem à Tribo da Água do Sul. Podendo ser o Avatar, ou o último mestre do ar, Aang tem um bisonte voador, Appa, que pode levar o espectador a se lembrar do cão gigante voador de A história sem fim e pretende impedir o crescimento da opressão da Nação do Fogo sobre as outras três nações, do Ar, Terra e Água.
O príncipe da Nação do Fogo, Zuko (Patel), identifica que a libertação de Aang aconteceu e vai atrás para que os moradores da Água do Sul o entreguem. No entanto, Aang consegue escapar com seus novos amigos montado no Appa, para o Templo do Ar do Sul – onde vai se encontrar com seu eu espiritual, seu modo Avatar. Numa vila do Reino da Terra, o menino diz a Katara e Sokka que só domina o elemento do ar e precisa dominar os outros – e pretende ir para a Tribo da Água do Norte, onde os mestres podem lhe ensinar a lidar com a água. Em meio à sua jornada, Aang é traído e precisa enfrentar o comandante dos arqueiros da Nação do Fogo, Zhao (Cliff Curtis).

O roteiro de Shyamalan. baseado nos personagens de Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko, encadeia essa história com certa antilinearidade, dispondo as sequências como em camadas separadas, interligadas apenas pelos personagens e por suas sensações. É como se eles estivessem desprendidos de uma real aventura, no entanto isso não evita que o filme tenha exatamente um espírito de humanidade, que alcança todos os personagens. Há uma certa paz e tranquilidade na abordagem que alcança um sentimento de busca pela espiritualidade, que é do próprio personagem, interpretado com perspicácia por Ringer, que depois só atuaria em Cowboys & aliens. Há uma certa influência de O pequeno Buda, de Bernardo Bertolucci, em algumas cenas de meditação, além de estabelecer um contato com fantasias dos anos 80 na projeção de montanhas gélidas, como em Willow, e navios em alto-mar, remetendo a Troia. Com a trilha sonora de James Newton Howard e a fotografia de Andrew Lesnie, que trabalharam com Peter Jackson em O senhor dos anéis e King Kong, O último mestre do ar se constrói tecnicamente de maneira muito interessante, com grandes cenários e uma sensação de grandiosidade. Fala-se que a narrativa teria sido encurtada em meia hora pela Paramount e talvez em alguns momentos haja sobressaltos desnecessários, no entanto quando há o enfrentamento final tudo parece ter se encaminhado para que ocorresse de maneira interessante.

É Aang o responsável por dar a chave de interesse a O último mestre do ar, com um misto entre sabedoria e humildade, contrapondo-se ao vilão feito por Patel com um certo ar soturno que funciona de maneira geral, em parceria, algumas vezes, com Curtis. Shyamalan também consegue situar o filme de maneira geográfica, expondo o espectador a um universo fantasioso com diversas localidades, sem nunca lotar as cenas de ação com peso demais, até o terço final com uma ótima variedade de imagens envolvendo a água e que transcorre dentro de um plano mesmo poético e contrário muitas vezes à intenção da animação – talvez sua maior crítica. Shyamalan, como em toda sua obra, cerca O último mestre do ar de elementos dos seus demais projetos, principalmente na construção do personagem central, com um figurino que remete à jovem cega de A vila ou ao segurança feito por Bruce Willis em Corpo fechado. Shyamalan também tenta dialogar com a fantasia de filmes de Spielberg e Lucas, tornando a sequência final em algo mais épico e imprevisto do que o restante da trama, no entanto sem deslizar as cenas para um blockbuster genérico.

The last airbender, EUA, 2010 Diretor: M. Night Shyamalan Elenco: Noah Ringer, Dev Patel, Nicola Peltz, Jackson Rathbone, Shaun Toub, Aasif Mandvi, Cliff Curtis Roteiro: M. Night Shyamalan Fotografia: Andrew Lesnie Trilha Sonora: James Newton Howard Produção: M. Night Shyamalan, Sam Mercer, Frank Marshall Duração: 103 min. Estúdio: Nickelodeon Movies, Blinding Edge Pictures, The Kennedy/Marshall Company Distribuidora: Paramount Pictures

Cisne negro (2010)

Por André Dick

No final dos anos 90, Darren Aronofsky foi uma revelação do cinema independente com o experimental Pi, seguido por Réquiem para um sonho, um dos melhores momentos de Jared Leto. Depois do grande sucesso de Fonte da vida e O lutador (este indicado ao Oscar de melhor filme), Aronofsky faria sua obra talvez mais conhecida e bem-sucedida até agora em sua filmografia: Cisne negro.  Nathalie Portman interpreta Nina, uma bailarina que quer estrelar “O lago dos cisnes”, no entanto para isso precisa enfrentar alguns percalços: o professor, Thomas Leroy (Vincent Cassel), que não deseja escolhê-la, por considerar que ela não conseguirá se dividir entre os dois cisnes (o branco e o negro) exigidos para a encenação; a amiga que parece querer seu lugar, Lily (Mila Kunis); e ainda a sua mãe, Erica (a excelente Barbara Hershey), que não foi a bailarina que gostaria de ter sido e exige dela um comportamento exemplar no que se refere a ensaios exaustivos – mesmo que ela machuque os pés.
Num clima de conto de fadas de terror, relembrando momentos de Pi e Réquiem para um sonho,  o diretor mostra talento na condução das cenas, alternando cenas que parecem reais com outras surrealistas, mas sempre trabalhando com a psicologia das personagens, com o objetivo de revelar que o mundo da dança pode enlouquecer – e de fato enlouquece essa personagem.
O diretor da adaptação deseja extrair o que não vê em Nina: o cisne negro, e Aronofsky quer dar essa amplitude por meio de reflexos de espelhos, e na imaginaçsurão dela luzes são desligadas antes de se terminar o ensaio para prejudicar seu ensaio. Esses reflexos podem estar presentes em frente ao espelho de uma festa, ou no metrô, ou mesmo na passagem, por uma passarela, ao lado de alguém que parece uma réplica.

Ao  mesmo tempo, a fotografia de Matthew Libatique mostra uma Nova York tenebrosa, sempre acompanhando os passos de Nina, seja à sua frente, seja pelas costas, revelando a opressão do mundo em que ela se insere (difícil imaginar outro desconforto maior do que a escolha de Thomas de suas bailarinas. Nina não conhece sua sexualidade e, para Aronofsky, isso a impede de desenvolver seu lado mais obscuro. Trata-se de uma narrativa que busca a transição da adolescência para a vida adulta, o que, para alguns, significa a morte – e o sexo, o prazer, está sempre associado a algo mórbido ou que pode afastar da visão idílica que se tenta ter das coisas. Não se trata exatamente de uma abordagem sutil, e Aronofsky não a tem como objetivo. Sua meta é, por meio da figura da bailarina, suscitar uma coleção de metáforas.
E como a mulher, aqui, é vista de forma infantil: Nina substitui a bailarina Beth (Winona Ryder), mas é como se uma roubasse o doce da outra. A cena da festa, em que Thomas apresenta Nina a todos os convidados para o novo espetáculo da companhia, mostra esta tentativa de exercer um poder que, na verdade, inexiste. Não há densidade para elas, e a dança é apenas uma maneira de realizar as fantasias da caixinha de música encostada na cama. Na saída do evento, Nina precisa enfrentar Beth (ao lado de uma estátua, que Aronofsky deseja transformar em movimento).

Ela também precisa enfrentar a mãe, que lhe traz um bolo e, repreendida pelo fato de que o doce pode engordar, fica perturbada – certamente a figura mais caricata, contudo pode ser também proposital –, e mais adiante precisa sair à noite para uma boate. Quebrar regras, aqui, é um clichê, e por isso cada cena soa como uma ópera desencontrada de realidade.
Mila Kunis (em momento raro, indicada a melhor atriz coadjuvante) representa esta passagem para um universo desconhecido – ela poderia representar melhor o cisne negro, talvez. Ela também é apreciada por Thomas por sua dança espontânea e não calculada, segundo ele, como a de Nina (um de seus primeiros conselhos é que Nina descubra o próprio corpo, mas o faz com a mesma falta de sutileza de alguém que oprime). Esta, na contramão de sua própria personalidade, precisa, a fim de interpretar o cisne negro, cobri-la com outra personalidade, fantasiosa e capaz de colocá-la num ponto de enfrentamento com a realidade à sua volta – e surge, em sua pele, algo que lembra não mais um humano. No entanto não apenas Nina. Thomas também não parece tão humano (e num filme em que Portman certamente brilha com intensidade, a primeira vez realmente depois de O profissional, e V de vingança, Cassel não fica para trás, com uma composição excelente da petulância contida).

O diretor está interessado por esse universo da dança como poucos antes no cinema (obras sobre dança costumam ser apenas dramáticos ou fantasiosos), fazendo um bom trabalho casado de fotografia, direção de arte e efeitos sonoros, pois a sonoridade quer marcar presença mais do que a trilha sonora de Clint Mansell. E os efeitos, muitas vezes, são assustadores.
Diante disso, estamos também lançados num filme sem gênero demarcado. O que Cisne negro poderia ser? Um drama? Um suspense? Um terror? Certamente, um híbrido de todos esses elementos. E Cisne negro, com seu psicologismo falho e irregular, porém ainda interessante, ainda consegue ser um filme pop, ou seja, acessível, ao mesmo tempo que exerce um magnetismo próprio de cult movie.
Uma visita de Nina ao hospital, a fim de ver Beth, apresenta uma das sequências mais assustadoras da narrativa. Quando Nina percebe que pode ficar como Beth, só resta a ela fugir na noite. E, como bailarina, ela, na verdade, deseja ser uma boneca, então não há nada de anormal no fato de que ela pode, de alguma maneira, quebrar. O filme, com isso, trata também do receio da personagem em voltar a ser esquecida, em ficar isolada num hospital ou numa cama de quarto.

O que ela precisa fazer – e Aronofsky tenta conduzir – é escapar da trajetória linear que sua vida seguia até então, nem que para isso precise encarar uma semirrealidae, capaz de trazê-la cada vez mais para baixo (aonde ela é conduzida, em meio a luzes da discoteca ou dos ensaios, que acontecem entre subidas e descidas de longas escadarias).
Para isso, o diretor mostra fragmentos de narrativa, a revolta da personagem com a vida real, e desenhos se movimentado, algo digno de O iluminado. Nina não quer se entregar a seu outro lado – que pode representar um pesadelo –, entretanto o fato de não conseguir, ou seja, fracassar em seu intento, parece ser pior: toda a carga de repressão sexual poderia vir de uma vez só à tona, sufocando a personagem. Desse modo, ela fica num meio termo entre conseguir ou não sua libertação – o caminho para isso é tortuoso, mas, de algum modo, ainda neste cenário de pesadelo, mais confortador do que voltar atrás. É nisto que parece se concentrar Cisne negro: que se deve aguardar o acender das luzes e ver se a plumagem cobriu o que realmente faltava. 

Black swan, EUA, 2010 Diretor: Darren Aronofsky Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder Roteiro: Mark Heyman, John McLaughlin, Andres Heinz Fotografia: Matthew Libatique Trilha Sonora: Clint Mansell Produção: Scott Franklin, Mike Medavoy, Arnold Messer, Brian Oliver Duração: 108 min. Distribuidora: Fox Film Estúdio: Phoenix Pictures / Fox Searchlight Pictures / Protozoa Pictures

100 melhores filmes da década 2010-2019

Por André Dick

O Cinematographe apresenta a seguir os 100 melhores filmes da década 2010-2019. Foi uma década com uma quantidade impressionante de ótimos filmes e selecioná-los não foi fácil: era possível fazer uma lista de 200 imprescindíveis. Alguns cineastas têm mais de um filme aqui, o que mostra o trabalho importante que eles apresentaram. Como todas as listas, as escolhas são pessoais. E as preferências tendem, às vezes, a mudar com o tempo. Alguns desses abaixo não estavam entre os principais das minhas listas de melhores de 2010 a 2019. Apenas numa revisão delas, pude separar melhor aqueles que, ao longo da década, foram se tornando mais destacáveis, em várias revisões, inclusive, enquanto outros a princípio mais relevantes foram perdendo um pouco a preferência. Por isso, há filmes mais ao final do ano de 2019; no caso, são ainda muito recentes e não tão vistos ou apreciados quanto os anteriores, embora muitos desse ano já tenham se tornado automaticamente marcantes. O objetivo principal é oferecer um panorama geral e que o leitor possa relembrar ou descobrir algumas dessas obras. É o modo como vejo as listas que contêm filmes dos quais gosto e não gosto. A lista foi publicada anteriormente no Twitter do Cinematographe (e agradeço a quem acompanhou sua publicação nesta plataforma) e os cartazes de cada um dos escolhidos está nesta página do Letterboxd. Agradeço a você por acompanhar o trabalho realizado aqui quase ao longo de toda a década passada, tendo o Cinematographe iniciado em 2012.

 

Uma vida oculta (2019)

Por André Dick

O cineasta Terrence Malick teve um hiato de vinte anos no cinema entre Cinzas no paraíso e Além da linha vermelha. A partir de 2011, mais exatamente depois do lançamento de A árvore da vida, ele se tornou um dos cineastas que mais lançou novas obras na década passada: Amor pleno, Cavaleiro de copas, Voyage of time e De canção em canção compuseram os novos momentos centrados no século XXI, mostrando casais em união ou em separação sob diferentes nuances. Embora esses filmes tenham sido recebidos com certa desconfiança, acredito que sejam, ao lado de A árvore da vida, o grande momento da carreira de Malick. Ele praticamente recriou, ao lado de Emmanuel Lubezki, a maneira de filmar e desenvolver uma narrativa no cinema contemporâneo, sempre com edições antilineares.

Embora seja mais linear do que os anteriores, Uma vida oculta partilha do mesmo estilo. Sua narrativa se localiza na Áustria, em 1939, na vila de St. Radegund. Nela, o camponês Franz Jägerstätter (August Diehl) vive com a esposa Franziska (Fani) (Valerie Pachner) ao lado dos filhos e de sua mãe (Karin Neuhäuser), numa espécie de paraíso sobre a terra, como acontecia em seu segundo filme, de 1978. Também vive com eles a cunhada, Resie (Maria Simon). Nisso, há brincadeiras com as crianças, aproveitando cada estação, enquanto trabalham no campo. O problema é quando a Segunda Guerra Mundial se aproxima com o domínio nazista de Hitler, e Franz é recrutado para treinamento. Extremamente religioso, ele frequenta a igreja, onde tenta se aconselhar com o padre Ferdinand Fürthauer (Tobias Moretti)  e tem discussões com o prefeito (Karl Markovics) sobre a verdadeira intenção do regime de Adolf Hitler. A questão mais grave, para ele, é ter de jurar lealdade ao ditador, que considera uma figura maléfica, ao contrário de muitos dos moradores de Radegund, quando passam a seguir os cumprimentos do nazismo. A palavra e o juramento estão em questão no filme de Malick mais do que em qualquer outro: como pode o indivíduo prestar lealdade a um regime que considera como o contrário do que acredita? Tudo é levado a um ponto extremo, para que o espectador possa raciocinar sobre as premissas de Franz.

Com uma trilha sonora emocional e discreta de James Newton Howard, principalmente a partitura para o casal central, e uma fotografia extraordinária de Jörg Widmer, substituindo Lubezki, mas selecionando algumas características dele (o movimento, o realismo da iluminação, os closes, a sensação de o espectador caminhar com os personagens), Uma vida oculta traz os mesmos elementos do restante da obra de Malick: trata-se de uma jornada de um sujeito tentando descobrir seu mais profundo sentimento, que pode lhe dar como resposta dúvidas que tem sobre a vida – ou simplesmente aumentá-las. É a mesma jornada dos personagens de filmes de época de Malick quanto nos contemporâneos, como o pesquisador feito por Ben Affleck em Amor pleno, ou o roteirista interpretado por Christian Bale em Cavaleiro de copas, ou os casais envolvidos com a música de De canção em canção. Com o acréscimo, aqui, de se tratar de uma história real e situada num momento especialmente trágico para a humanidade.

Se nos filmes mais recentes Malick focava a vida urbana no interior dos Estados Unidos, ou parte da vida rural, de modo passageiro, aqui ele lida com um universo de camponeses de maneira muito efetiva. O espectador parece se inserir no cenário montado por ele nas montanhas austríacas: tudo é arquitetado para que a atmosfera ganhe a tela de maneira abrangente. Os campos de trigo, as plantações, os animais (porcos, galinhas), os moinhos, a igreja do vilarejo e o carteiro que passa cruzando a vila desempenham uma noção fundamental para se entender a luta subjetiva desse homem. Em muitos momentos, Malick recupera uma espécie de cinema que parecia perdido, aquele, por exemplo, de A árvore dos tamancos ou de Os imigrantes, com uma condução do espectador para lugares inóspitos. Malick define a natureza, a rotina, o cotidiano como diametralmente oposto à ideia de guerra e seu caos e destruição. Isso se dá por meio de analogias de imagens e sua competência a colocar vozes de diálogos sobrepostas sobre cenas das quais já não fazem parte, construindo uma arquitetura delicada e humana, deslocando personagens de lugares nas mesmas conversas.

Mais uma vez, Malick coloca o casal como representação de um pedaço de paraíso na terra que pode ser afetado pelo mal, no caso Hitler. As atuações de Diehl e Pachner são notáveis. Diehl é curiosamente bastante conhecido por sua participação como um nazista que provoca uma confusão numa taverna em Bastardos inglórios, de Tarantino, no qual, diga-se de passagem, está também irretocável. Mesmo tendo poucos diálogos, eles conseguem, por meio do olhar e das ações, demonstrar uma grande e notável persuasão junto ao espectador. Todos os coadjuvantes (inclusive alguns atores que vão aparecendo ao longo da narrativa, a exemplo de Jürgen Prochnow e Bruno Ganz, em sua última obra) são nada menos do que excelentes. A temática religiosa de fundo se mostra de grande diálogo principalmente com Amor pleno, nas caminhadas de Franz com o padre da vila – naquele filme de 2012, o padre era interpretado por Javier Bardem. Também há um diálogo de Franz com um homem que faz pinturas religiosas, também ligado a A árvore da vida e a Amor pleno. Ele diz que sobrevive pintando o sofrimento sem saber o que é sofrer – é uma das linhas mais sensíveis de um filme de Malick e coloca a distinção entre teoria e prática do indivíduo. Mais do que em qualquer outro filme seu, a ideia de como as escolhas de um indivíduo afetam os demais ganha um grande espaço. E, em igual escala, como as crianças representam o futuro.

Por isso, Malick constitui uma obra à parte, na qual os filmes vão dialogando e se completando, talvez funcionando mais para o espectador que os conhece de antemão. Ainda assim, quem vai ao cinema sem conhecer o estilo de Malick se depara com uma obra em que a reconstituição de época é brilhante, desde o design de produção até o figurino, e tudo se encaixa dentro da montagem feita de forma proposital mais embaralhada. Essa montagem vai dando cadência às cenas passadas nas montanhas e aquelas em que Franz enfrenta os homens por causa do seu discurso. As paisagens a céu aberto contrastam com os muros e as celas da prisão. É a presença de uma força divina, a partir desse momento, como na obra em geral de Malick, que se manifesta nos cenários, assim como as narrações lembram confissões sobre a eternidade evocada pelos personagens por meio de suas ações.  A maneira como o diretor entrelaça o fim e o início traz uma comoção particular. Como toda a filmografia recente de Malick, Uma vida oculta é uma obra-prima, particularmente o melhor filme de 2019.

A hidden life, EUA/ALE, 2019 Diretor: Terrence Malick Elenco: August Diehl, Valerie Pachner, Matthias Schoenaerts, Tobias Moretti, Karl Markovics, Bruno Ganz, Jürgen Prochnow Roteiro: Terrence Malick Fotografia: Jörg Widmer Trilha Sonora: James Newton Howard Produção: Elisabeth Bentley, Dario Bergesio, Grant Hill, Josh Jeter Duração: 174 min. Estúdio: Elizabeth Bay Productions, Aceway, Studio Babelsberg Distribuidora: Fox Searchlight Pictures