Por André Dick
Os filmes sobre prisão se tornaram muito populares para o público contemporâneo com Frank Darabont, por meio de Um sonho de liberdade e À espera de um milagre. No segundo, especificamente, era mostrado um homem afrodescendente com alguns poderes capazes de trazer alívio às dores da humanidade de modo muito sensível. A situação de encarcerados pode ser vista em alguns muitos outros filmes feitos desde então, mas poucos com a relação entre prisioneiro e o seu advogado. É o que Luta por justiça traz.
Em nova obra de Destin Daniel Cretton, autor de O castelo de vidro e Temporário 12, o advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) é um jovem formado em Harvard que se desloca para Monroeville, no Alabama, a fim de defender os injustamente condenados, tendo a seu lado, entre outros, Eva Ansley (Brie Larson). Um deles é Walter McMillian (Jamie Foxx), ou “Johnny D.”, preso injustamente pela morte de uma mulher e colocado no corredor de morte sem obter um julgamento capaz de analisar as provas. Outro é Herb Richardson (Rob Morgan)., um veterano do Vietnã. Com uma participação menor, está Anthony (O’Shea Jackson Jr). A narrativa de Cretton se baseia mais no caso de McMillan.
Ele teria cometido um assassinato, no entanto, segundo testemunhas, não estaria sequer perto do local onde ele ocorreu. Foi em Monroeville que Harper Lee escreveu O sol é para todos, que deu origem ao filme homônimo, no qual um advogado interpretado por Gregory Peck, Atticus Finch, fazia a defesa de um afrodescendente. E este filme é referenciado em alguns momentos desta obra de Cretton.
A história inicia com McMillan sendo preso na estrada por policiais. Depois, ao encadear a história mostrando o jovem advogado, ele já coloca a importância dessa função para que um erro possa ser revisto, não antes sem ele passar também por uma situação de preconceito por meio de um guarda da prisão (Hayes Mercure). McMillan não tem esperanças em seu caso, mas Bryan Stevenson vai até sua família, conhecendo sua esposa, Minnie (Karan Kendrick), e seus amigos, criando uma aproximação. Sua figura cria polêmica, pois as famílias envolvidas nos casos não querem que eles sejam reabertos – e para isso o advogado precisa enfrentar o promotor público Tommy Chapman (Rafe Spall) e o xerife xerife Tate (Michael Harding).
Tanto Jordan quanto Foxx fazem um grande trabalho nesse sentido: a obra constrói uma expectativa. Cretton é um diretor interessado em figuras à margem, o que já mostrava com os jovens abandonados pela família em Temporário 12 e a família de O castelo de vidro, que viajava sem nunca conseguir se inserir direito na sociedade. Nos três filmes, ele conta com a presença de Brie Larson, que aqui tem uma presença rápida, mas efetiva. O roteirista Andrew Lanham, em parceria com Cretton, desenha bem os personagens, adaptando o livro de Bryan Stevenson, o advogado retratado aqui.
Entre as principais testemunhas do caso McMillan está Ralph Myers (Tim Blake Nelson) – e Cretton sabe utilizar esse ator, num momento fantástico, que dialoga com os melhores interrogatórios de Mindhunter. No entanto, cresce a emoção quando surge a atuação de Rob Morgan, como um homem preso depois de ter preparado uma bomba. A maneira como o ator distribui a culpa em camadas de fala mostra por que Mudbound, do qual ele fazia parte, era um filme tão denso. Sua participação, incluindo uma conversa com o advogado feito por Jordan, é extraordinária na sua contenção.
Cretton não tem até agora sido lembrado pela Academia de Hollywood, no entanto costuma apresentar excelente trabalho de direção de atores e histórias profundamente humanas. Luta por justiça é em boa parte uma história tanto sobre prisioneiros quanto a função jurídica e a investigação. Apenas se lamenta a fotografia de Brett Pawlak ser tão realista, parecendo às vezes um documentário, sem uma atmosfera mais trabalhada, porém isso é uma característica que Cretton apresentava anteriormente em Temporário 12, reproduzida aqui e, dentro do seu objetivo, funcional. Se dois primeiros atos mostram como é o Alabama no final dos anos 80, o racismo contra figuras presas injustamente, o ato final expande seu diálogo para a situação contemporânea. Embora suas soluções não sejam complexas, o tratamento dado ao tema, por causa da profundidade de seus atores, principalmente Foxx, Jordan, Morgan e Nelson, é notável.
Just mercy, EUA, 2019 Diretor: Destin Daniel Cretton Elenco: Michael B. Jordan, Jamie Foxx, Rob Morgan, Tim Blake Nelson, Rafe Spall, Brie Larson Roteiro: Destin Daniel Cretton e Andrew Lanham Fotografia: Brett Pawlak Trilha Sonora: Joel P. West Produção: Gil Netter, Asher Goldstein, Michael B. Jordan Duração: 136 min. Estúdio: Endeavor Content, One Community, Participant Media, Macro Media, Gil Netter Productions, Outlier Society Distribuidora: Warner Bros. Pictures