Elvis (2022)

Por André Dick

Influenciado sobretudo pelo cinema francês, no início do século, o diretor australiano Baz Luhrmann dirigiu Moulin Rouge – Amor em vermelho de forma superlativa, fazendo com que todos os astros se sentissem numa obra épica, cinco anos depois de sua versão contemporânea para a conhecida peça de Shakespeare Romeu e Julieta (na versão de Luhrmann, um + ocupando o “e”, como se assinalasse o fim trágico dos personagens), com atuações destacadas de Leonardo DiCaprio e Claire Danes, em início de carreira. Nessa adaptação, o cineasta praticamente adiantava todas as suas principais características, também utilizando o design de produção e a fotografia como componentes decisivos de expressão. Era o estágio inicial, logo depois da estreia em Vem dançar comigo, que trouxe as suas características, que se expandiram não somente no épico Austrália, como também em O grande Gatsby.
Possivelmente o maior valor do filme Elvis seja a admiração que Baz Luhrmann tem pelo artista, assim como tinha pela obra de Fitzgerald em O grande Gatsby: isso faz com que ele tente reproduzir a atmosfera realmente do período em que o músico e ator se movimentou. Isso não é pouco, visto que o cuidado com a parte técnica é cada vez mais raro. Luhrmann, pelos próprios ambientes de espetáculo e de caravana artística, evoca o Peixe grande e Dumbo, de Tim Burton, com suas rodas-gigantes e cenários circenses muito elaborados, que oferecem uma certa lembrança de como era o cinema clássico dos anos 40 e 50.

Além de tudo, desde o seu início, Elvis consegue recuperar um período muito interessante da história dos Estados Unidos e filtra todos os temas por meio da trajetória dessa figura. Ao mostrá-lo ainda criança, quase adolescente, sendo inspirado pela dança e música dos afrodescendentes nos Estados Unidos, o filme consegue estabelecer sua ligação com a região mais pobre do Mississippi. Fã do Capitão Marvel Jr., ao se mudar para Memphis ele registra uma obsessão pela música da Beale Street de Memphis. Luhrmann vai mostrando esses ingredientes com seu estilo febril, procurando analogias imediatas, muita pressa na transição de cenas e levando o espectador a uma experiência que se assemelha muito aos 90 primeiros minutos de O grande Gatsby, antes de cair mais na melancolia, um estilo muito influenciado pela fase de Oliver Stone entre JFK e Reviravolta.
Gerenciando a carreira do cantor country Hank Snow (David Wenham), cercado por nomes como Jimmie Rodgers Snow (Kodi Smit-McPhee), o Coronel Parker (Tom Hanks) fareja no talento de Presley uma possível ponte para o grande sucesso. Para isso, ele tenta dominar também a família do artista, a mãe Gladys (Ellen Thomson) e o pai Vernon (Richard Roxburgh). Elvis faz amizade com BB King (Kelvin Harrison Jr.) e, quando precisa se alistar no exército e ir para a Alemanha, num momento em que sua imagem provocava figuras mais avessas ao distúrbio que ele poderia causar no meio cultural, como a de Jim Eastland (Nicholas Bell), conhece Priscilla Beaulieu (Olivia DeJonge).

Se Elvis prova algo é que Luhrmann, ao insistir no seu estilo muito rejeitado por alguns, se tornou num autor de cinema, com características muito próprias, boas ou ruins. A referida edição de Elvis às vezes lembra a de Moulin Rouge, sobretudo pela agilidade narrativa, fazendo com que uma conversa, por exemplo, antecipe vários acontecimentos futuros. Também há um uso de gráficos exitoso, como já acontecia em Moulin Rouge, naquele caso para enfatizar o ambiente parisiense, e em Austrália, por exemplo – na mudança de localidades, quando o músico está excursionando pelos Estados Unidos. O diretor australiano, de qualquer modo, agora parece pausar melhor em cenas – quando a chamada é dramática, principalmente, naqueles momentos de conversa com a mãe e o pai. Outro elemento que torna Elvis uma experiência imersiva é a maneira como os shows são filmados e a fidelidade aos cenários originais, do espetáculo televisivo mais ao final. Capta Elvis em todo o seu movimento e contato com o público. Tom Hanks está excepcional no papel do empresário de Elvis, Tom Parker, e Austin Butler incorpora perfeitamente o artista, com uma dedicação poucas vezes vista. Luhrmann também consegue tornar Butler, que chamou atenção em Era uma vez em… Hollywood, parecido com Elvis por meio de sua filmagem caótica algumas vezes. O ator está para o estrelato depois deste filme como DiCaprio depois de Romeu + Julieta e McGregor a partir de Moulin Rouge.  

Com toda a ambientação de anos fantásticos da cultura norte-americana, o design de produção e os figurinos são, como é costume na obra de Luhrmann, excelentes. Dois filmes dele receberam os Oscars de nessas categorias: Moulin Rouge e O grande Gatsby. Elvis tem chances concretas de ser o terceiro. E a fotografia de Mandy Walker, que acompanhou o diretor em seu Austrália, é um primor visual, repetindo o êxito do seu Mulan. De Luhrmann, só se espera exagero na composição de imagens, no entanto em Elvis ele consegue, como em O grande Gatsby, extrair de breves diálogos todo um panorama de época de maneira muito efetiva. Para ele, a vida é um videoclipe, mas com pausas e mais sentimento. O roteiro de Luhrmann com Sam Bromell, Craig Pearce e Jeremy Doner é o mais extenso de sua trajetória, mas, ainda assim, nunca cansa. Elvis é, de fato, ao lado de Batman e Top Gun: Maverick (esses mais nas categorias técnicas), um dos filmes com possibilidades de chegar à temporada de prêmios mesmo sendo lançado já agora.

Elvis, EUA/AUS, 2022 Direção: Baz Luhrmann Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr., David Wenham, Kodi Smit-McPhee, Luke Bracey Roteiro:Baz Luhrmann, Sam Bromell. Craig Pearce e Jeremy Doner Fotografia: Mandy Walker Trilha Sonora: Elliott Wheeler Produção: Baz Luhrmann, Gail Berman, Catarina Martin, Patrick McCormick, Schuyler Weiss Duração: 159 min. Estúdio: Bazmark Films, The Jackal Group Distribuidora: Warner Bros  

Ataque dos cães (2021)

Por André Dick

A Netflix tem lançado algumas obras ao final de cada ano com o intuito de colocá-las na corrida para o Oscar. Enquanto Não olhe para cima é a faceta polêmica desse recurso, Ataque dos cães, de Jane Campion, traz elementos mais de cinema underground. Do mesmo modo, parece estranha a mistura que ele apresenta. Seria um drama? Um faroeste intimista? Um suspense sobre a descoberta da sensualidade? Talvez ele seja uma mescla de tudo isso.
Lançado no Festival de Veneza, Ataque dos cães mostra os irmãos Burbank, Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), que vivem numa fazenda em Montana, criando gado. George se apaixona por uma viúva, que tem uma posada, Rose Gordon (Kirsten Dunst). Phil logo entra em embate com a possibilidade, implicando com o filho dela, Peter (Kodi Smit-McPhee), que possui características que ele considera afeminadas.

George e Rose se casam, contra a sua vontade, e a partir daí começa uma espécie de encontro entre pessoas radicalmente opostas. Phil julga que ela está interessada no dinheiro do irmão, além de ter problemas com o álcool. Para piorar, o filho dela vai morar com eles na fazenda. A princípio, bastante contrário, Phil começa a ter afeição pelo jovem, o que vai trazer o mote principal para a narrativa de Campion. A diretora de origem neozelandesa já fez um trabalho muito destacado nos anos 90, O piano, que deu o Oscar tanto à Holly Hunter como à pequena Anna Pequin como atriz coadjuvante. Ela possui um estilo muito hábil na construção de personagens. Ataque dos cães parece, a princípio, muito simples, mas a maneira como ela apresenta a narrativa oferece ao espectador traços complexos sobre como os indivíduos se mostram quando ameaçados ou se escondem quando são estranhos num determinado ambiente. Rose, tocando piano num encontro em que estão a mãe (Frances Conroy) dos irmãos Burbank e o governador (Keith Carradine), é um exemplo de conflito interno com a sua própria escolha. E a figura do “cão” do título original se mostra concreta ao longo de algumas situações apresentadas, em que personagens a princípios inocentes ou ingênuos se mostram estranhos.

Há um clima de suspense na ação dos personagens, principalmente de Phil e Peter, e quando ele recorda um antigo mestre dele, Bronco Henry, na arte de lidar com o gado parece que Campion o mostra como uma tradição perpetuada. É uma pena somente que Thomasin McKenzie, boa atriz, seja desperdiçada como Lola, uma ajudante da fazenda.
Baseado em romance de Thomas Savage, o filme tem ótimas atuações, principalmente de Benedict Cumberbatch e Kodi Smit-McPhee, e consegue ser eficiente na maior parte do tempo. Por sua vez, Plemons e Dunst estão impecavelmente tímidos. A fotografia de Ari Wegner e a trilha entre a opressão e a beleza harmônica de Jonny Greenwood remetem a Paul Thomas Anderson, uma boa referência de Campion, e há uma certa grandeza no visual que também evoca O portal do paraíso, de Cimino. Quando Campion filma a fazenda, por exemplo, ela sempre procura uma extensão emocional com as montanhas ao fundo, o que acontecia no clássico de Cimino. Também quando mostra George e Rose indo para a fazenda numa estrada deserta e inalcançável. É uma espécie de faroeste mais íntimo nos moldes do que já fez Clint Eastwood em Os imperdoáveis, por exemplo.

Também existe um bom desenvolvimento de personagens, principalmente por meio de lacunas que nunca se preenchem ao longo da narrativa, passando exatamente o vazio existencial que a diretora pretende focar. Os personagens, mesmo Phil e suas botas com esporas se fazendo presentes no chão do ambiente da fazenda, parecem nunca estar à vontade em seus lugares, o que dá ao filme uma sensação contínua de deslocamento, o que se encontra plenamente realizado. O cowboy interpretado por Cumberbatch é a reunião simbólica de diversos temas: a tentativa de coordenar uma família, a busca pelo domínio em relação a outras figuras que passam a fazer parte de sua rotina e a sexualidade encoberta por atitudes que parecem opostas a ela. Ataque dos cães tem uma lentidão que se estabelece aos poucos como bastante impressionante, principalmente em seu surpreendente terceiro ato. É nele que Campion consegue eclodir o suspense que se desenvolve nos dois primeiros atos com uma habilidade ao mesmo tempo clássica e contemporânea, tornando seu filme uma peça complexa sobre os relacionamentos humanos.

The power of the dog, AUS/Nova Zelândia/ING/EUA, Canadá, 2021 Diretor: Jane Campion Elenco: Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Kodi Smit-McPhee, Thomasin McKenzie, Genevieve Lemon, Keith Carradine, Frances Conroy Roteiro: Jane Campion Fotografia: Ari Wegner Trilha Sonora: Jonny Greenwood Produção: Emile Sherman, Iain Canning, Roger Frappier, Jane Campion, Tanya Seghatchian Duração: 126 min. Estúdio: New Zealand Film Commission, Bad Girl Creek, Max Films, Brightstar, See-Saw Films, Cross City Films, BBC Film Distribuidora: Transmission Films (Austrália e Nova Zelândia) e Netflix (Internacional)

Alfa (2018)

Por André Dick

A pré-história, curiosamente, nunca chegou a ser tema de muitos filmes, apesar de seus atrativos. Dirigido por Albert Hughes, o mesmo de O livro de Eli, Alfa tenta romper esse pouco empenho em trazer histórias nesse período. Certamente o mais conhecido do gênero é A guerra do fogo, do diretor de O nome da rosa e O urso, o francês Jean-Jacques Annaud, com excelente nível de produção, ótimas fotografia, direção de arte e maquiagem (premiada justamente pelo Oscar), uma espécie de extensão da primeira parte de 2001. Além disso, o filme ganhou o César (o Oscar francês) de melhor filme.
O filme de Annaud traz um grupo de homens pré-histórico que desconhece o fogo, já descoberto pela tribo inimiga. O que mais importa é o comportamento do homem nessa época, com cenas envolvendo uma mulher (Rae Dwan Chong, de A cor púrpura), e a tentativa de amizade com os mamutes (o que seria imitado em 10.000 a.C., de Roland Emmerich). No todo, é um filme interessante, mas irregular.

Alfa se passa na Europa, em 20.000 a.C., quando tribos de homens caçadores se preparam para a caça a fim de encontrar alimentos suficientes para enfrentar o inverno. O líder dessa tribo, Tau (Jóhannes Haukur Jóhannesson), treina seu filho adolescente Keda (Kodi Smit-McPhee), apesar da negativa de sua esposa Rho (Natassia Malthe). Durante o combate a bisões da estepe, o menino acaba sofrendo um acidente e seu pai imagina que ele acabou morrendo. Isso, no entanto, não aconteceu e a partir daí surge uma luta pela sobrevivência. O ponto mais alto é justamente quando Keda precisa enfrentar uma matilha de lobos, dos quais um fica ferido e a ele se afeiçoa, sendo chamado Alpha. Ele o chama desta maneira certamente porque seu pai é o líder de sua tribo, e ele enxerga no animal uma extensão da liderança e do conhecimento em relação ao território de perigo que o cerca.

É interessante como Hughes faz uma boa mescla entre elementos de A guerra do fogo com a série de animação A era do gelo, mas sob um ponto de vista histórico, sem bom humor. Alfa também parece reproduzir, em alguns momentos, por causa também da paleta de cores, algumas imagens históricas, como aquela, em câmera lenta, do bisão no confronto com Keda, pausando suas imagens em slow motion, com toques ainda de Dança com lobos, mais exatamente de uma cena marcante da obra de Kevin Costner. A partir da imagem que se estabelece entre Keda e o lobo, pode-se identificar uma aproximação não apenas de Dança com lobos como de Caninos brancos, o filme com Ethan Hawke do início dos anos 90. Se Kodi Smit-McPhee fosse um ator mais completo, a narrativa certamente renderia mais. Trata-se de um jovem ator, talvez promissor, mas sem ainda a estrutura para sustentar praticamente sozinho um filme todo. Não que ele não se esforce: quando a narrativa não tem o ímpeto necessário, é por causa das escolhas do roteiro.

Se a primeira parte é levemente previsível, o filme ingressa em seguida numa tentativa de sobrevivência do personagem diante de várias situações, algumas mais plausíveis do que outras. Hughes concilia elementos de filmes de fantasia com a tentativa de reproduzir um período inóspito na vida na Terra. Ele acerta mais quando usa as imagens no sentido poético, com tomadas aéreas que remetem ao documentário Voyage of time, de Terrence Malick, do que explorando a parte técnica de ação. Ou seja, quando ele insere as imagens de maneira mais emocional ele ganha pontos, lembrando, inclusive, o recente Corpo e alma, indicado ao Oscar de filme estrangeiro. A fotografia de Martin Gschlacht não tem a competência de Lubezki, porém consegue oferecer um enquadramento que ressoa junto ao espectador, sobretudo na sequência em que Keda luta contra um lago congelado. De modo geral, Alpha não estabelece da melhor maneira a ligação entre a ideia de família do jovem sobrevivente com sua família e seu clã, e ainda assim Hughes extrai certo crédito das premissas oferecidas.

Alpha, EUA, 2018 Diretor: Albert Hughes Elenco: Kodi Smit-McPhee, Jóhannes Haukur Jóhannesson, Natassia Malthe Roteiro: Daniele Sebastian Wiedenhaupt Fotografia: Martin Gschlacht Trilha Sonora: Joseph S. DeBeasi Produção: Albert Hughes, Andrew Rona Duração: 96 min. Estúdio: Columbia Pictures, Studio 8, The Picture Company Distribuidora: Sony Pictures

 

X-Men: Apocalipse (2016)

Por André Dick

Filme.X-Men 7

O terceiro filme que mostra os personagens em sua faceta mais jovem da série X-Men volta a ser dirigido por Bryan Singer, responsável pelos dois primeiros do início dos anos 2000 e pelo anterior a este, com o subtítulo Dias de um futuro esquecido, depois da reinicialização por Matthew Vaughn, em Primeira classe. Singer é um diretor bastante eclético, começando por Os suspeitos, passando por O aprendiz, ambos dos anos 90, até chegar à versão bastante criticada para o homem de aço, Superman – O retorno, e àquele que parece ainda seu maior acerto, Operação Valquíria, uma aventura de guerra com Tom Cruise em meio a nazistas. Recentemente, ele também fez o subestimado Jack e o caçador de gigantes (com o mesmo Hoult que trabalha como um dos X-Men), e seus próximos projetos incluem Broadway 4D (dirigido com Gary Goddard, de Mestres do universo) e uma nova versão de 20.000 léguas submarinas.
A nova história (a partir daqui, possíveis spoilers) começa mostrando En Sabah Nur, ou Apocalipse (um ótimo Oscar Isaac), como o mutante original, que fica por centenas de anos preso numa câmara embaixo da terra, no Cairo, até que é desenterrado. Possuindo poderes cada vez maiores, ele ressurge exatamente em 1983, e conhece uma jovem, Ororoe Munroe (Alexandra Shipp), que se torna sua discípula e, investida de poderes, em Tempestade.

Filme.X-Men 18

Filme.X-Men 1

Filme.X-Men 19

Por sua vez, na Berlim Oriental, Raven/Mística (Jennifer Lawrence) encontra Kurt Wagner/Noturno (Kodi Smit-McPhee) lutando com Anjo (Ben Hardy), pois seu papel agora parece ser o de libertar mutantes, e não por acaso ela surge como uma referência feminina na parede de Ororoe, que diz querer ser como ela. Ela não consegue impedir que Apocalipse venha atrás não apenas do Anjo, mas de Magneto (Michael Fassbender) e Psylocke (Olivia Munn). No encalço da criatura ressuscitada, está a agente Moira MacTaggert (Rose Byrne), que apareceu pela primeira vez no primeiro X-Men nesta nova franquia.
Por sua vez, o professor Charles Xavier (James McAvoy), para tentar lidar melhor com o passado, procura constituir uma nova família e recebe novos alunos em sua escola em Westchester County, New York, entre os quais Jean Grey (Sophie Turner), que está com problemas para se adaptar a seus superpoderes. Já Scott Summers/Ciclope (Tye Sheridan) é levado por seu irmão, Havok (Alex Summers), assim que começa a ter problemas em manter seus olhos abertos, logo depois de uma sequência escolar que lembra o recente Homem de aço, de Snyder. Ele se aproxima de Jean, em razão dessa falta de adaptação. Na escola, também reaparecem Hank McCoy/Fera (Nicholas Hoult) e Peter Maximoff/Mercúrio (Evan Peters), para tentar impedir o vilão de aumentar os seus poderes sobre os mutantes, sem antes encontrar o Coronel William Stryker (Josh Helman).

Filme.X-Men 9

Filme.X-Men 2

Filme.X-Men 16

Em X-Men: Apocalipse, como na segunda parcela desta nova franquia esclarece, as décadas passam e com elas se vê a participação dos mutantes em fatos históricos – e o diálogo se estende a Watchmen. Aqui, nos anos 80, o pano de fundo é a Guerra Fria entre os Estados Unidos e União Soviética, e Apocalipse está interessado na desintegração da humanidade e na necessidade de mostrar que há “falsos deuses” entre os heróis. Tudo inicia no que poderia se chamar de uma parte extraída diretamente de A caçada ao outubro vermelho.
Em X-Men, as batalhas históricas se tornam parte de uma grande fantasia e um dos momentos mais dramáticos deste episódio mostra Magneto/Erik Lehnsherr vivendo como um operário numa fábrica de metais da Polônia, país natal, feliz ao lado de esposa, Magda (Carolina Bartczak), e sua jovem filha, Nina (T.J. McGibbon). Procurado pelo mutante original, ele é levado a Auschwitz, onde teria começado a manifestar seus poderes depois da morte de sua família. Não por acaso, é a parte que parece mais interessar a Singer em seus projetos mais pessoais, como O aprendiz e Operação Valquíria: para ele, o peso da Segunda Guerra Mundial marca para sempre Magneto, indefinido entre seguir seus companheiros ou de se vingar pelas situações em que se envolve e são trágicas para sua vida pessoal. Para Fassbender, presente em outro filme referencial sobre a Segunda Guerra, Bastardos inglórios, a essência do personagem é estar, de fato, preso a um passado que se repete a cada dia e cuja família não pode encobrir. Se ele é buscado por um homem que se autodenomina Apocalipse, como não lembrar de Hitler?

Filme.X-Men 10

Filme.X-Men 14

Filme.X-Men 5

Por sua vez, o Prof. Xavier, na tentativa de dar uma certa tranquilidade aos novos mutantes, é uma espécie de figura que complementa a de Magneto: se este não deseja revelar seus poderes, o professor pretende que os mutantes sejam, afinal, considerados como parte do mundo. Um dos problemas, porém, é que os personagens quase não possuem cenas em conjunto, o que proporcionaria uma maior aproximação deles no sentido de que são figuras complementares, à medida que também lida com a tentativa de Xavier em convencer Magneto a ficar novamente de seu lado.
Por isso, às vezes, a sensação é de que o roteiro de Singer e Simon Kinberg, cujo maior acerto é Sherlock Holmes, de Guy Ritchie, com o apoio ainda de Dan Harris e Michael Dougherty, tem inúmeros personagens à mão e é difícil solucionar a narrativa de cada um, mesmo em quase duas horas e meia, facilitando as transições e diminuindo, no terceiro ato, o peso do vilão, feito com perícia com Isaac. O filme flutua entre uma leveza de Xavier tentar uma aposta romântica e a descoberta de dois jovens de seus poderes, além de referências claras ao ano de 1983, como no figurino do Noturno, ainda mais parecido com aquele utilizado por Michael Jackson no videoclipe “Thriller”. Ele segue os capítulos anteriores com uma sequência de cenas que vão se conectando sem muito esforço para o espectador, com a fotografia de Newton Thomas Sigel, habitual colaborador de Singer, dedicada a uma mescla interessante de cores, principalmente quando o Prof. Xavier acessa o monumental cérebro.

Filme.X-Men 3

Filme.X-Men 15

Filme.X-Men 12

O roteiro às vezes é tão leve quanto a piada que faz consigo mesmo, quando os jovens saem do cinema e lamentam que O retorno de Jedi é a parte mais fraca de Guerra nas estrelas – Singer não se refere a X-Men – O confronto final, de Brett Ratner, o qual não dirigiu, e sim ao que espera que a crítica falará de seu filme, como de fato ocorreu.
A primeira parcela desta nova geração foi muito bem feita por Vaughn e esta terceira não fica nada a dever em termos de ação e efeitos visuais, embora haja um pouco de CGI carregado demais na sequência da batalha final. Muito boa a participação também do elenco: de McAvoy, Fassbender, Turner, Hoult e Peters, principalmente, servindo como alívio cômico, talvez na melhor sequência do filme, sonorizado por “Sweet Dreams (Are Made of This)”, de Eurythmics. Não fica muito clara qual a participação de Lawrence, mas ela sempre é uma presença eficiente em cena, e Byrne poderia ser melhor aproveitada. Por outro lado, aprecio mais esse elenco do que o da primeira trilogia e o saldo final deste X-Men: Apocalipse é agradavelmente positivo.

X-Men: Apocalypse, EUA, 2016 Diretor: Bryan Singer Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Oscar Isaac, Rose Byrne, Evan Peters, Josh Helman, Sophie Turner, Tye Sheridan, Lucas Till, Kodi Smit-McPhee, Ben Hardy, Alexandra Shipp, Lana Condor, Olivia Munn, Warren Scherer, Rochelle Okoye, Monique Ganderton, Fraser Aitcheson Roteiro: Bryan Singer, Dan Harris, Michael Dougherty, Simon Kinberg Fotografia: Newton Thomas Sigel Trilha Sonora: John Ottman Produção: Lauren Shuler-Donner, Simon Kinberg Duração: 144 min. Distribuidora: Fox Film Estúdio: Dune Entertainment / Marvel Entertainment / Twentieth Century Fox Film Corporation

Cotação 3 estrelas e meia