Além da linha vermelha (1998)

Por André Dick

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Filme de Terrence Malick com fotografia perfeita de John Toll (responsável pelo design visual de Cloud Atlas) e elenco grandioso, Além da linha vermelha, baseado em obra de James Jones, é o retrato de um momento da Segunda Guerra Mundial, desta vez do avanço de uma tropa – Companhia C – à Batalha de Guadalcanal, em 1942, para atacar os japoneses, mas aqui sob o ponto de vista existencial, ou seja, o personagem principal, Witt (Jim Caviezel) está longe, mas não tira seu pensamento do éden da Melanésia. O interessante é como num filme de guerra Malick consegue fotografar mínimos detalhes da natureza com tanta atenção. Para ele, mais ainda do que em seus filmes iniciais, dos anos 1970, a natureza é uma metáfora da própria existência humana.
Se Malick fez um drama de guerra filosófico, retomando uma trajetória de direção interrompida vinte anos antes, com Dias de paraíso, no mesmo ano Steven Spielberg empregou a meia hora mais impactante de sua carreira no início de O resgate do soldado Ryan, que inicia com a chegada de tropas americanas à praia francesa de Omaha, defendida por alemães, com imagens espetaculares e realistas, em que Tom Hanks interpreta o líder do pelotão. Depois dessa carnificina, ele é incumbido, com alguns de seus homens, a encontrar o último filho sobrevivente da família Ryan, para que não se abata uma tragédia completa sobre ela.
Basicamente, o filme relata essa busca. Mas Spielberg, com seu habitual talento para o manejo das câmeras e a fotografia cuidada, transforma este num dos filmes de guerra mais impressionantes, graças, também, à interpretação de todo o elenco, a começar pela de Hanks, que constrói um coronel com problemas físicos na mão e quer esconder isso da tropa. Ao final, quando chegam a uma cidadezinha em ruínas, preparam uma ofensiva contra nazistas que estão para invadi-la. É aí que Spielberg melhor mostra seu talento, num verdadeiro tour de force de som e efeitos especiais.

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O resgate do soldado Ryan constitui-se num filme de guerra com peso nostálgico e histórico (a cena inicial se completa na parte final), com uma certa dureza no que se refere à composição dos personagens – afinal, lida com um cenário de guerra –, mas que acaba preenchendo algumas lacunas com uma emoção calculada, rara em Spielberg, mais propenso a extravasar, o que ele faz com todos os tons permitidos a um diretor conhecido pelo olhar que tem sobre a ação. Diferente de Malick, que consegue, em Além da linha vermelha, por meio da guerra, retratar, de maneira mais densa e menos nebulosa, o que dela não faz parte. Os filmes, em sua abertura, se parecem, mas cada diretor toma suas escolhas diante das próprias características.
Malick é um cineasta que emprega os diálogos e os mínimos detalhes como o centro da ação. Desse modo, a preocupação do primeiro sargento Welsh (Sean Penn) em tirar Witt do Pacífico, da Melanésia, para reintegrá-lo no exército e guiá-lo para a ilha onde se dará o combate derradeiro, na Colina 210, peça-chave da artilharia japonesa, não passa de uma tentativa de convencer a si mesmo de que a guerra vale a pena (e certamente, ele sabe, não vale). O olhar do sargento interpretado por Hanks se direciona para a morte, e é dela que os personagens querem escapar em Além da linha vermelha, sem necessariamente conseguir.

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A percepção de Malick atravessa não apenas as paisagens, como o elenco, com uma série de astros em pontas (ficaram conhecidos os cortes que Malick impôs a atores consagrados naquele período, como Billy Bob Thornton). De maneira geral, a amplitude do cinema de Malick converge para um lugar filosófica, em que o amor e o vínculo entre as pessoas e seres humanos se desenham a distância ou em situações-limite. Embora haja sequências inteiras que remetem Além da linha vermelha a um gênero de guerra, parece que mais ainda Malick deseja uma filosofia das relações. O Tenente-Coronel Tall (Nick Nolte) fala com o general Quintard (John Travolta) – em momentos nos quais Anderson certamente se inspirou para compor O mestre –, mas a atenção de Malick está voltada para a paisagem. Do mesmo modo, Jack Bell (Ben Chaplin), está interessado mais em lembrar de sua mulher, Marty (Miranda Otto), num balanço e paisagens que seriam intensificadas em A árvore da vida e To the wonder. Temos ainda o capitão James Staros (Elias Koteas), o cabo Fife (Adrien Brody), o soldado Jack Bell (Ben Chaplin), o capitão Charles Bosche (George Clooney), o capitão John Gaff (John Cusack), o sargento Keck (Woody Harrelson), o sargento Maynard Storm (John C. Reilly) e o sargento McCron (John Savage), entre outros.
Todos os personagens têm em algum momento ligação entre si, mas Malick está certamente mais interessado no retrato que faz de imagens idílicas, do capim alto em que os soldados rastejam para atingir a colina inimiga, o cenário paradisíaco, com crocodilos, galhos em rios, ilhas minúsculas perdidas no meio do mar e árvores altas, que, no entanto, reservam uma sequência de tiros incalculável. A morte está sempre à espreita, mas, para esses personagens, a morte não significa exatamente o afastamento da natureza idílica? Para Malick, há uma presença divina em meio a um cenário caótico de guerra, e quando os homens precisam se deparar com algum corpo entregue ao verde das colinas tentam desviar seu olhar para o vento e os pássaros, ou para as lembranças, sempre ligadas a algum elemento da natureza: os raios de sol e as cortinas esvoaçantes de uma pintura de Andrew Wyeth. Não se trata, para Malick, de estetizar a guerra, mas de mostrar a solidão dela e o adensamento de trilhas solitárias em meio às árvores de uma mata fechada.

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Além da linha vermelha.Cena 1Se Coppola colocou quilos de napalm para explodir em Apocalypse now e Kubrick transformou a guerra num centro repleto de soldados sob o comando de prometer o cumprimento da morte em nome da corporação, Malick contorna todos com o simples olhar de dentro da guerra e sua reflexão, caracterizada mais pelo olhar estupefato do que pela certeza. A cada tomada de atitude em relação ao combate e cada acampamento montado, Malick está tratando da impermanência da humanidade e do modo como ela se adapta à loucura, mas apenas a controla por meio de lembranças, até que consiga aceitar, finalmente, que não passa de uma pequena ilha solitária na corrente e contra um horizonte não necessariamente aberto. O passado é tão presente quanto a invasão a Guadalcanal, pois é preciso uma justificativa, mesmo que mínima, para que se tenha chegado ali com vida. Malick não consegue retribuir esta justificativa para o espectador diante do peso dramático dos componentes que seleciona ao longo de sua obra, e não consegue se comprometer com o vazio que passa a existir depois da derrocada de um grupo de combatentes. Há um sentido forte de afastamento em Além da linha vermelha como havia sobretudo em Dias de paraíso, e é ele que consegue, ao mesmo tempo, aproximar os personagens de um Éden almejado.

In the red line, EUA, 1998 Diretor: Terrence Malick Elenco: Nick Nolte, Jim Caviezel, Sean Penn, Elias Koteas, Ben Chaplin, Dash Mihok, John Cusack, Adrien Brody, John C. Reilly, Woody Harrelson, Miranda Otto, Jared Leto, John Travolta, George Clooney, Nick Stahl, Thomas Jane, John Savage, Will Wallace, John Dee Smith, Kirk Acevedo, Penelope Allen, Kazuyoshi Sakai, Masayuki Shida, Hiroya Sugisaki, Kouji Suzuki, Tomohiro Tanji, Minoru Toyoshima, Terutake Tsuji, Jimmy Xihite, Yasuomi Yoshino, John Augwata Produção: Robert Michael Geisler, Grant Hill, John Roberdeau Roteiro: Terrence Malick Fotografia: John Toll Trilha Sonora: Hans Zimmer Duração: 170 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Fox 2000 Pictures / Phoenix Pictures / Geisler-Roberdeau

Cotação 5 estrelas

O mestre (2012)

Por André Dick

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Em Sangue negro, filme anterior a O mestre, de Paul Thomas Anderson, Daniel Day-Lewis interpreta Daniel Plainview, que vai explorar uma região com potencial petrolífero, no Oeste dos Estados Unidos, onde há um jovem que deseja ser pastor, Eli Sunday (Paul Dano). Plainview e Sunday são figuras controvertidas: suas ações, em determinado momento, se misturam e o vazio que os acompanha parece contaminar as pessoas que os cercam. São personagens delineados, no fim das contas, com uma complexidade quase ausente na cinematografia recente e se intensificam, sobretudo com a cena do batismo, que revela a verdadeira intenção do filme.
Com inúmeros silêncios interrompidos pela música dissonante de Jonny Greenwood, guitarrista do grupo Radiohead, O mestre volta aos elementos básicos dessa obra-prima de Anderson: um  cinema lento, simétrico, mas de forte magnetismo sensorial, baseado na ligação entre dois personagens. Nesse sentido, O mestre é quase uma continuidade daquele, na relação de suas vidas com a violência moral e que parece não encontrar sossego nem na imagem de um Deus protetor ou de um mestre capaz de ajudar o indivíduo a escapar de seus problemas.
Freddie Quell (Joaquin Phoenix) é um homem problemático. Ele serve na Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e Anderson o focaliza numa praia, misturando bebida com água de coco. Depois, ele simula sexo com uma mulher feita com areia, em meio aos outros marinheiros, e se masturba na beira da praia. Em poucos minutos, Anderson contextualiza a volta de Freddie deste cenário, e os resultados psíquicos não são agradáveis. Vida pós-Marinha, ele se torna um fotógrafo, agora com o vício de misturar álcool com material fotográfico, e, munido de uma alquimia alcóolica, precisa fugir com urgência de outro lugar. Com o corpo arqueado, o rosto abatido e magro, ele é o retrato ao avesso das fotografias que registra. Certo dia, vagando sem rumo, ele vê uma festa num barco e, regressando à imagem de Marinha, adentra nele. É a chance que o destino lhe oferece para conhecer Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman), uma espécie de mestre de uma seita chamada A Causa. Sempre acompanhado pela família – a mulher Peggy, grávida (Amy Adams), a filha Elizabeth (Childers Ambyr), que está para se casar, e o filho, Val (Jesse Plemons) –, seu objetivo é propagar uma ciência fundamentada na psicologia, que poderia entender vidas passadas e ligação com outros planetas. A Causa seria um outro nome para a Cientologia, a polêmica seita, mas ela realmente mantém-se mais como um núcleo de abstração e enigmas.
Em nenhum momento, há uma explicação exata para o interesse de Freddie por querer ficar entre os familiares e seguidores de Lancaster, o que se esclarece exatamente por ambos serem, a princípio, exatamente iguais. Nesse sentido, Freddie fica no navio porque Lancaster gostou da bebida singular que ele prepara. Enquanto Freddie se acomoda nas cadeiras para ouvir a eloquência de Lancaster, ele projeta o que seria se conseguisse fazer o mesmo. Existe a curiosidade de que o autor original da Cientologia, L. Ron Hubbard, serviu na Marinha, assim como Freddie, e lançou, exatamente em 1950, ano em que se passa a maior parte de O mestre, um culto nos Estados Unidos. Inegável perceber o quanto ambos os personagens mantêm de proximidade mesmo sem nunca exatamente se aproximarem.

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Com todos esses aspectos, há uma complexidade maior do que aquela primeira premissa de Sangue negro (a do conflito e/ou ligação entre religião e capitalismo). Em O mestre, existiria a ligação entre um universo mais amplo e a regeneração. Em Anderson, esses conceitos se constroem, muitas vezes, lado a lado. Temos, na superfície de Sangue negro, a exploração de petróleo sendo feita ao mesmo tempo em que uma casa é construída para abrigar seguidores do pastor, na única sequência mais iluminada do filme, caracterizado por cores escuras. Em O mestre, Lancaster é também cobrado por desvios de dinheiro anteriores e quer manter seu olhar numa reta para a autodescoberta, sem avisar exatamente a quem ela interessa. De qualquer modo, o foco é nos principais personagens. Diante da violência moral potencializada pelas atuações de Day-Lewis e de Paul Dano num, e Phoenix e Hoffman em outro, em dueto fantástico, no entanto, firma-se a filmografia de Anderson, que é comparado a Kubrick e Altman e não nega suas influências. Desde o ator pornô vivido por Mark Wahlberg em Boogie Nights, até o conselheiro sexual interpretado por Tom Cruise em Magnólia, e mesmo a revolta pessoal de Barry Egan contra um diretor de telessexo em Embriagado do amor, temos por trás das câmeras alguém que busca o impacto sem contorno definido e uma constelação de personagens poucas vezes vista.
Em O mestre, há, em igual proporção, uma tensão amorosa implícita entre os dois personagens centrais. Ela não chega a se traduzir em palavras, mas a obsessão de Lancaster por Freddie percorre todo o filme, embora Anderson evite traduzi-la em confissões e palavras. Lancaster é Dodd (uma mistura entre God e dog); o sobrenome de Freddie é Quell (“suprimir”, “subjugar”, “dominar”); o do barco em que ambos se encontram é “Alethia” (que remete ao significado de “verdade” e “desocultação”, em grego). Lancaster diz a Freddie: “Você é meu protegido e minha cobaia”. Ele deseja experimentar com Freddie o processamento, técnica de seu programa, com uma série de perguntas, inclusive repetidas à exaustão, e neste momento o filme de Anderson consegue adquirir uma tensão. Pois vemos, detalhadamente, um homem querendo entrar na mente de outro, para trazer seu passado à cena, numa espécie de hipnose. Freddie passa a seguir Lancaster como se fosse uma espécie de sombra, deslocado das fotografias, embora seja aquele que registre tudo. Se antes ele parecia um fantasma perdido pelo mundo, ele, apesar do oferecimento de regeneração, não melhora. Acusado de simples animal pelo mestre, na verdade ele passa a fazer exatamente o que Lancaster deseja, mesmo sem dizer, pois não precisa, à medida que ambos se assemelham. É extraordinária uma sequência que se passa entre uma festa em Nova York, em que Lancaster é cobrado por um homem a respeito de suas promessas, e faz um discurso em que tenta não transparecer nenhuma ideia manipuladora, devolvendo as acusações em igual tom, e sua ida à casa de Helen Sullivan (Laura Dern), na Filadélfia, onde haverá uma festa estranha, acenos para o Kubrick derradeiro, e onde Peggy terá uma conversa reveladora com o marido, culminando num ponto crítico, em que Anderson filma os personagens, numa determinada situação, lado a lado, sendo que um age com o sentimento implícito do outro. Freddie é um personagem, sem dúvida, subjugado e seu vício no álcool é suplantado por um desejo furtivo de voltar a uma reminiscência de infância, a um amor perdido, antes da loucura da Guerra e permanentemente interessado no que a Causa considera animalesco (as conversas na Marinha já o anunciam). Em determinado momento, ele precisa prometer que não vai beber, mas, como um filho rebelde, precisa ir à varanda experimentar a nova mistura. É preciso, para ele, punir os pais, mesmo sem ser filho; é preciso fugir ainda mais, para fora do convés e dos trilhos, a pé ou não, e, ao contrário do que diz seu sobrenome, não ser subjugado. Como em Sangue negro, o Oeste, mais uma vez, significa um encontro com o passado (um livro enterrado em meio a rochas) e a fuga.

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Há, em O mestre, um sentimento de que existe uma lacuna entre os personagens e as situações, como se algo maior a ser dito estivesse vagando. Para alguns, Magnólia pode ser um filme sobre um idoso adoentado e um jovem arrependido, em meio a uma chuva de sapos bíblica, e Barry Egan, de Embriagado de amor, apenas o dono de uma empresa feliz em meio a prateleiras do supermercado por descobrir uma promoção de milhas para viagens aéreas, mas sabemos que Anderson consegue apresentar mais do que isso. Em O mestre, as sensações, como a própria conversa sem piscar os olhos entre Lancaster e Freddie, abrangem uma atemporalidade e os cenários podem significar também sensações de descoberta, medo, vida e morte. Tudo pode também se concentrar no “eu”, mas sempre depende de qual “eu” está se falando. A caminhada entre a parede e a janela de uma casa pode esconder, também, a recuperação ou o mergulho na loucura substancial dos personagens.
Tecnicamente, O mestre é realizado, em grande parte, de closes nos rostos dos personagens, revelando em detalhes a figura dos personagens principais, e grandes aberturas para a planície e para o oceano, apoiado na fotografia impressionante de Mihai Malamaire Jr. (colaborador do Coppola mais recente, de Tetro e Twixt), na direção de arte irretocável de Jack Fisk (que trabalhou em Sangue negro e A árvore da vida, por exemplo) e David Crank (Lincoln), além do figurino, que complementa cada sequência, de Mark Bridges (habitual colaborador de Anderson). Anderson tem uma noção exata do que deseja mostrar e é um dos maiores cineastas contemporâneos justamente por causa disso. Seu controle sobre os atores é absoluto, e não se poderia deixar de dizer o que é até previsível: Phoenix tem a atuação de sua carreira (antecedida por Johnny & June), particularmente melhor, porque também de maior risco, do que a de Day-Lewis em Lincoln, e Phillip Seymour Hoffman volta a surpreender, sem utilizar nuances já reveladas em outros papéis. Amy Adams, plenamente antipática e sem dizer quase nenhuma frase com sentido que não seja de manipular quem está à volta, é uma atriz completa.
Difícil ver um filme em que os personagens, e os atores, estão, ao mesmo tempo, expostos e escondidos, em que por vezes se revelam e nesta revelação está seu esconderijo. As relações entre eles racham ou se complementam ao longo do filme, e o espectador precisa integrar as peças para dar um significado a um panorama que não se apresenta nunca definitivo. Nenhum deles, ainda assim, funcionaria sem a direção e o roteiro modulado e discreto de Anderson, aberto a lacunas e interpretações diferentes, sem trazer uma aula ou autoexplicações desgovernadas, o que faz com que se assemelhe a filmes com uma base filosófica mais densa, embora não traga um discurso preparado para que se possa introduzi-la de forma mais eficaz. Há uma espécie de secura amarga em muitas passagens, ou um corte no andamento, como o momento em que os personagens se perguntam quem é, afinal, Freddie Quell. Para Lancaster, ele precisa ser salvo; caso contrário, a falha pode ser de todos. Não se entende por que ele coloca o subjugado nesta situação, entretanto parece ser claro que, para Anderson, ele não consegue viver sem sua própria sombra, o ser em que ele pode, afinal, esconder seus segredos, como numa garrafa vazia, aquele que, definitivamente, pode entendê-lo, ou desmascará-lo.
Em determinado momento, a seguidora Helen pergunta a Lancaster porque, no processamento, ele mudou “lembrar” por “imaginar” outras vidas. Para Freddie, se há Doris Day, pode também haver Ruth Etting. Entre o oceano e uma mulher desenhada com areia nas costas do Pacífico, O mestre atinge uma espécie de linha subliminar em que pode se concentrar tudo. Como Sangue negro, atinge mais: é uma obra-prima.

The master, EUA, 2012 Diretor: Paul Thomas Anderson Elenco: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Jesse Plemons, Childers Ambyr, Rami Malek, Jillian Bell, Kevin J. O’Connor, W. Earl Brown Produção: Paul Thomas Anderson, Megan Ellison, Daniel Lupi, JoAnne Sellar Roteiro: Paul Thomas Anderson Fotografia: Mihai Malaimare Jr. Trilha Sonora: Jonny Greenwood Duração: 138 min. Distribuidora: Paris Filmes Estúdio: Annapurna Pictures / Ghoulardi Film Company

Cotação 5 estrelas

Quentin Tarantino: Pulp Fiction, Kill Bill e Bastardos inglórios

Por André Dick

Pulp Fiction 6

Tarantino não esconde sua predileção pela violência, tentando fazer de seus filmes retratos de um cotidiano baseado em revanche e, ainda assim, capaz de atrair nossa atenção pelos elementos humanos que podem surgir dele.
Na verdade, é preciso ingressar no universo desse cineasta para gostar de seus filmes, feito a partir de referências cinematográficas, musicais e de quadrinhos, mas com um senso de espaço e tempo notáveis. Realizado quase ao mesmo tempo em que contribuiu com roteiros para Oliver Stone (Assassinados por natureza) e Tony Scott (Amor à queima-roupa), Pulp Fiction – filme que sucedeu Cães de aluguel – começa com Vincent Vega (Travolta) e Jules (Jackson) indo cobrar dívidas com um sujeito que não cumpriu acordo com o chefe deles, Marsellus Wallace (Ving Rhames), enquanto caminham tranquilamente por um corredor numa manhã que se anuncia como calma. Vincent está preocupado porque precisará fazer companhia à mulher dele, Mia (Uma Thurman) por uma noite, e em algum momento ele lembra Sailor, de Coração selvagem – inspiração clara do filme – e ela, a Laura Palmer de Twin Peaks – Fire walk with me (sobretudo numa ida ao banheiro). Eles saem e vão a uma lanchonete estilizada, uma homenagem a Elvis Presley, porém com sósias de James Dean e Marilyn Monroe também. “A Jayne Mansfield deve estar de folga”, diz Vincent, tentando demonstrar ou esconder interesse pela mulher do chefe, ao fazer comentários sobre o preço abusivo do milk-shake. Esta é uma das sequências mais divertidas, ainda que vaga e estranha, terminando em um episódio que não deve ser contado a Marcellus e envolve um casal suburbano (Eric Stoltz e Patricia Arquette), amigo de Vincent.
Também temos Butch (Bruce Willis), boxeador que precisa perder uma luta e pensa, antes de tudo, viver tranquilamente com sua namorada (Maria de Medeiros). Quando criança, ele ganhou um relógio importante deixado por seu pai a um amigo (Cristopher Walken), escondido num lugar delicado durante um longo tempo. A história de Butch se cruzará com as de Vincent e de Marcellus – desta vez num ambiente inesperado e filmado por Tarantino com requintes de crueldade e de histórias em quadrinhos perversas, mas também, e eis o diferencial do diretor, com um aspecto de humanidade (além de uma homenagem aos filmes dos anos 50, com a conversa de Butch com um taxista, tendo um fundo externo acertadamente falso). E, por mais que os personagens se castiguem, a recompensa acaba sendo uma espécie de saída da rotina em que estão inseridas, mesmo que Tarantino nunca seja complacente nas imagens, tornando uma singela loja numa espécie de superfície do subterrâneo também do seu dono.
Pulp Fiction não deixa de ser o segundo passo, depois de Cães de aluguel, com sua conhecida sequência final, que trabalha com diferentes histórias a fim de compor um painel do submundo e de gânsters que podem se arrepender e mesmo perdoar diante de uma situação extrema, ou se ajudarem quando se encontram com uma situação pior do que aquela que causam. Daí, Tarantino transitar por conversas sobre as drogas de Amsterdã e o Big Mac de Paris e pelos personagens de Samuel L. Jackson (que recita versículos da Bíblia para suas vítimas) e Travolta discutindo porque nenhum deles quer limpar o banco do carro ensanguentado depois de um acontecimento acidental; nesse caminho, é possível que haja a mudança completa para um deles e se passa a falar de redenção, capaz até mesmo de poder convencer dois assaltantes que pretendem mudar sua vida passando a assaltar lanchonetes.

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São poucas as tramas, assim como mostraria em Kill Bill e Bastardos, mas Tarantino dá um tratamento especial a cada uma delas, e dar atenção significa transformar os diálogos em camadas, assim como lança mão de uma fotografia especial (contrastando as cenas que se passam à noite e de manhã cedo) e uma montagem singular. Quando Vincent e Jules precisam buscar abrigo na casa de um conhecido (Tarantino) e necessitam da ajuda de um especialista para se livrar de um corpo, conhecido singelamente como Wolf (Harvey Keitel, em momento excelente), que sai de uma festa familiar diretamente para o serviço, o filme se encaminha como um quebra-cabeças que deve ser completado, pois podemos tanto estar no início do filme quanto em seu final. Mas esse detalhe não é brusco, ou seja, não se sente a quebra da narrativa. Como em poucos filmes, parece que, mesmo na antilinearidade, existe uma narrativa que se adianta e volta sem que haja sobressaltos.
Tarantino filma grande parte das cenas de Pulp Fiction com câmera quase imóvel, e os travellings servem para dar velocidade à trama. Sua melhor característica está lá, desde o início: são os diálogos ditos numa velocidade pop, e ainda assim calculados, um a um, apesar de muitas vezes parecerem dispersos. Ao mesmo tempo em que usa muitos diálogos, conserva uma narrativa limpa, sem excessos, à medida que a percepção de Tarantino da montagem de um filme consegue sempre transformá-lo numa peça que vai crescendo. Este filme melhora muito com uma revisão – ao contrário, parece-me, que Cães de aluguel, ele ganha mais amplitude.
Tarantino também retoma atores imprevisíveis (como Eric Stoltz no papel de um vendedor de drogas, que seria, a princípio, de Kurt Cobain; o próprio Willis como um boxeador; e Travolta, quase esquecido durante toda a década de 80, como o capanga), além de confirmar o talento de outras (Uma Thurman, Jackson, Keitel), tornando Pulp Fiction, que recebeu a Palma de Ouro, em Cannes, de melhor filme e o Oscar de roteiro original (tendo sido indicado a melhor filme, entre outros), uma espécie de retrato demarcado de um período, mas capaz de dialogar com outros e com uma visão própria do universo que Scorsese ajudou a dar uma definição derradeira, com Os bons companheiros.

Kill Bill.Uma Thurman

Kill Bill

Se Jackie Brown, com seu aroma setentista, serviu como depuração do estilo de Tarantino, o episódio 1 de Kill Bill mostra o quanto o cinema de Tarantino tenta se aproximar de uma atmosfera pop sem perder a densidade, com a fotografia excelente de Robert Richardson (que passou a colaborar, desde então, com o diretor). Os personagens não chegam a ser elaborados, entretanto as sequências violentas acabam delineando uma personagem vingativa de grande personalidade e torcemos para ela. Essa personagem é Beatriz Kiddo (Uma Thurman), um nome que nunca pode ser dito – daí ela atender por “A Noiva”. Ela está para se casar num vilarejo tranquilo, quando um bando de pistoleiros, a mando de seu ex-amante, dos tempos de crime, Bill (Keith Carradine), invade seu casamento. Depois de ficar em coma, com uma bala na cabeça e ser estuprada por um dos médicos, ela se ergue e passa a ir atrás de cada uma das mulheres que tentaram matá-la a mando de Bill, inclusive Elle Driver (Daryl Hannah), O-Ren Ishii (Lucy Liu), e Vernita Green (Viveca A. Fox). Trata-se de um grande filme pequeno, com uma profusão de cenas exageradas, como se pedíssemos os melhores ingredientes para se contar uma história de vingança, cartunesca, e de qualquer modo atrativa. E Tarantino utiliza todos os elementos disponíveis à sua mão: o figurino de Beatriz Kiddo para sua batalha final (com predominância amarela e detalhes em preto) remete aos filmes da década de 70, mas aqui estamos numa espécie de discoteca, onde a cada momento pode surgir um novo som, um novo estilo (Tarantino, afinal, é um DJ), e a cada lance de espada é possível jorrar sangue por todas as partes – para terminar num jardim japonês típico.
Em Kill Bill 2, salta-se de capítulo para outro como se quisesse alternar vários gêneros: do faroeste a um filme de artes marciais, o que vemos na personagem principal é sempre o arrependentimento da vida ligada ao crime – como um dos personagens centrais de Pulp Fiction. Kiddo deseja ser uma mãe normal, sendo impedida sempre pelo contexto. Ela quer matar a todos para ficar com a filha pequena – o mote da série – e Tarantino deseja que o espectador se sinta preso dentro de um caixão para que possa dar devido valor à vingança da heroína. Cada uma das cenas é pensada isoladamente, como também em conjunto, sobretudo aquelas que envolvem o irmão de Bill, Budd (Michael Madsen, assustador), que detém uma desejada espada Hattori Hanzo, e definidas, claramente, por capítulos. Há, também, uma dose de humor negro em seu treinamento por Pai-Mei (o ótimo Gordon Liu), que debocha de seu conhecimento de artes marciais e a ensina a quebrar uma madeira, o que só vemos numa situação em que ela acaba sendo colocada e traz um sentimento de claustrofobia (sobretudo se vista no cinema, mas em vídeo também há a sensação). Os melhores momentos são aqueles em que ela lembra das lições de sabedoria de Bill (mais sérias) e do Pai-Mei (satíricas). É esse equilíbrio que ela tenta manter de um lugar claustrofóbico diretamente para uma cafeteria. Uma Thurman dá o sentido exato para a personagem, contudo é Keith Carradine, com uma tranquilidade mórbida, que dá o tom de toda a série, mesmo que ele apareça muito pouco. Auxiliado pela direção de Tarantino – que costuma extrair as atuações mais detalhadas dos atores –, ele compõe um Bill violento, maldoso e sedutor, no entanto também contador de histórias, tocando flauta diante de uma fogueira. Beatriz Kiddo é sua antítese, uma vilã arrependida de seus crimes por causa da maternidade. Tarantino visualiza, assim, o conceito de mãe americana, perfeito, com belas casas e a esposa preparando o lanche de suas crianças, distorcido por muitas lutas, espadas, móveis quebrados e sangue.

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Não há dúvida que Tarantino exerce aqui, mesmo fazendo uma colagem de cinema, uma das melhores direções de sua carreira, onde já se anunciam os diálogos que víamos em Pulp fiction e que veríamos em Bastardos inglórios, com o seu deslocamento para a Segunda Guerra Mundial a fim de contar sobre a violência que vê na contemporaneidade e na história que a forma.
Este filme, com fundo histórico e acontecimentos imprevisíveis, é talvez o melhor produto de seu imaginário. Com diálogos novamente excelentes e sequências delimitadas e agradavelmente longas, Tarantino retrata o horror da Segunda Guerra e o nazismo com sua inquestionável capacidade de extrair grandes atuações de atores limitados, em outro contexto. É bem verdade que às vezes Brad Pitt parece uma escala acima frente ao restante do elenco, como Aldo Raine, líder dos bastardos, embora soe divertido em vários momentos. Mas é também verdade que ele é uma resposta ao coronel Hans Landa, um nazista feito por Cristoph Waltz, numa das melhores interpretações do cinema recente, que chega, com sua tropa, à casa da família LaPadite no início do filme, remetendo à cabana do início de O portal do paraíso (em que Cristopher Walken persegue um imigrante eslavo).
Há também a história de uma jovem judia, Shoshana Dreyfuss (Mélanie Laurent), que consegue escapar de uma chacina, vai a Paris, onde herda o cinema de uma tia, e é cortejada por um ator alemão de filmes nazistas, o cinéfilo Frederick Zoller (Daniel Brühl), a serviço de Joseph Goebbels (Sylvester Groth). Essa história, que acontece em paralelo à história dos bastardos inglórios, cuja função é matar nazistas (“Esse negócio só prospera”, diz Aldo, antes de o “Urso Judeu” aparecer batendo com o taco de beisebol dentro de túnel), consegue ser ainda mais intensa quando sabemos que ela é a dona do cinema para onde Hitler pode ir, convidado para a estreia de um filme que tece loas ao nazismo, retratando a história de Zoller. É essa metalinguagem  nas entrelinhas – sem autorreferências –, essa camada capaz de trazer outras, que torna o filme de Tarantino numa surpresa.

Bastardos inglórios 8

Bastardos inglórios 6

O cineasta está empenhado em transformar seu ritmo de história fragmentada novamente num trunfo seu como diretor, e a homenagem que presta ao cinema não é mais tão previsível como em Kill Bill 1, por exemplo (a segunda parte dessa série já anunciava uma maior discrição). Não se esperava um retrato tão maduro da Segunda Guerra Mundial – concentrado, é verdade, nos personagens, e não em episódios trágicos, como o dos campos de concentração nazistas. Os cenários são bastante delimitados e elegantes (como o do cinema e o da taverna), além de vazios (dando a impressão de grandiosidade em alguns momentos), com a valiosa fotografia de Richardson (fazendo a cor do figurino dialogar com a iluminação), pois o que se quer mostrar é o conflito que pode emergir de determinado contexto, e os personagens, mesmo quando parecem calmos, estão prestes a cometer algo.
Se vê Hitler como, mais do que um genocida, um ridículo (aliando-se a Chaplin de O grande ditador, tentando recuperar o chapéu mesmo com os berros do ditador pelos megafones de rua), Tarantino vê o coronel Landa, principal ameaça nazista aqui, como um psicopata que tenta ser engraçado com suas vítimas. Na cena em que conversa com Shoshana, sem saber que ela é descendente de judeus, mostra-se sua dupla face quando pede uma sobremesa, dizendo que o doce é o melhor que existe, e ao final da conversa espreme um cigarro nele – o que faz, de algum modo, com suas vítimas, quando as interroga pacientemente, para, então, descontrolar-se. E a reconstituição de época é exata, mostrando que Tarantino sabe também contar histórias situadas foram do universo contemporâneo, e que deveria permanecer nesse caminho para nos contar histórias extraordinárias como esta. A sua admiração pelo cinema poderia render apenas um fetichismo por vezes incômodo – como vemos em alguns momentos de seu primeiro filme, Cães de aluguel –, entretanto existe aqui um conhecimento maior das porções que fazem um filme encadear. Por sua vez, o personagem de Michael Fassbender, especialista em cinema e designado para a Operação Kino, parece um alter ego do cineasta, sempre atraído para uma briga (desde o início, percebe-se, o que ele quer é criar confusão, pedindo tranquilidade aos outros). Por isso, a sequência do bar, quando alguns bastardos se encontram com nazistas, se desenha inesperada. A câmera vai focando cada personagem de modo insistente, como se dependesse de cada um a solução pretendida. Ainda assim, o que, ao final, fazem é mais do que isso: os personagens estão querendo se autodestruir, pois, para Tarantino, desde Cães de aluguel, este parece ser o motivo para desencadear uma conversa (chegando ao exemplo principal o diálogo entre Beatriz Kiddo e Bill no segundo Kil Bill). A seu modo, Soshana se prepara para a vingança ao som de “Putting out of fire (Gasoline)”, de David Bowie, preparando um filme especial, e Tarantino mostra que a condução de diálogos, num momento de conflito, pode ser mais assustadora do que as próprias mortes espalhadas ao longo do filme. Do mesmo modo, quando Hans Landa observa a entrada de convidados na estreia do filme nazista e a câmera o acompanha lentamente – com uma trilha, ao fundo, que remete a e Ennio Morricone e aos filmes de Sergio Leone. Pois Tarantino deixa claro: a conversa será apenas pretexto para um acerto de contas inesperado e intransferível para outro lugar – a etapa anterior da tranquilidade e a humanidade plena. É por isso, afinal, que seus personagem vivem, enquanto ele pula as faixas e volta a abaixar a agulha.

Pulp Fiction, EUA, 1994 Diretor: Quentin Tarantino Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Tim Roth, Amanda Plummer, Eric Stoltz, Bruce Willis, Ving Rhames, Phil LaMarr, Maria de Medeiros, Rosanna Arquette, Peter Greene, Uma Thurman, Steve Buscemi, Christopher Walken, Quentin Tarantino, Harvey Keitel Produção: Lawrence Bender Roteiro: Quentin Tarantino, Roger Avary Fotografia: Andrzej Sekula Trilha Sonora: Karyn Rachtman Duração: 154 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Miramax Films / Jersey Films / A Band Apart

Cotação 5 estrelas

Kill Bill: Vol. 1, EUA, 2003 Diretor: Quentin Tarantino Elenco: Uma Thurman, Lucy Liu, Vivica A. Fox, Daryl Hannah, David Carradine, Michael Madsen, Julie Dreyfus, Produção: Lawrence Bender Roteiro: Quentin Tarantino, Uma Thurman Fotografia: Robert Richardson Trilha Sonora: RZA Duração: 111 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Miramax Films / A Band Apart / Super Cool ManChu

Cotação 4 estrelas

Kill Bill: Vol. 2, EUA, 2004 Diretor: Quentin Tarantino Elenco: Uma Thurman, David Carradine, Lucy Liu, Vivica A. Fox, Chia Hui Liu, Michael Madsen, Daryl Hannah, Michael Parks, Samuel L. Jackson Produção: Lawrence Bender Roteiro: Quentin Tarantino Fotografia: Robert Richardson Trilha Sonora: RZA, Robert Rodriguez, Lars Ulrich Duração: 134 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Miramax Films / A Band Apart / Super Cool ManChu

Cotação 4 estrelas e meia

Inglorious basterds, EUA/ALE, 2009 Diretor: Quentin Tarantino Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, Michael Fassbender, Diane Kruger, Daniel Brühl, Sylvester Groth, Til Schweiger, Omar Doom, Denis Menochet, Mike Myers Produção: Lawrence Bender Roteiro: Quentin Tarantino Fotografia: Robert Richardson Duração: 153 min. Distribuidora: Paramount Pictures Brasil Estúdio: Universal Pictures / A Band Apart / The Weinstein Company / Zehnte Babelsberg / Visiona Romantica

Cotação 5 estrelas