Por André Dick
O Halloween do Hubie é a mais nova comédia com Adam Sandler, trazendo uma homenagem aos filmes da série criada por John Carpenter e elementos que remetem ao cinema de Joe Dante, com direção de Steven Brill, de Sandy Wexler, outro filme com Sandler da Netflix. Normalmente se costuma dizer, nos últimos anos, que o ator poderia ter uma carreira mais sólida, visto suas atuações em Embriagado de amor e Joias brutas, por exemplo, mas insiste em cair no cinema comercial e grosseiro de muitas obras. É bem verdade que isso acontece de modo geral, no entanto é um tanto injusto avaliar que comédias mais ingênuas, como Pixels e Sandy Wexler, com situações cômicas dentro de um universo infantojuvenil, sem tender demais a certas piadas mais grosseiras, não sejam suficientemente interessantes.
De qualquer modo, há quem veja nessas comédias algo um tanto ofensivo, como se menosprezassem a inteligência do espectador, como se este só estivesse disposto a se deparar com uma espécie de Eric Rohmer das comédias, com diálogos sustentados. Sandler, de fato, tem, por um lado, essa vontade de montar o universo expandido com seu nome, cercado dos mesmos amigos, mas, por outro, como em O Halloween do Hubie, ele acerta numa espécie de homenagem, assim como conseguia fazer em Como se fosse a primeira vez e Afinado no amor às comédias dos anos 80.
Hubie Dubois é uma espécie de organizador da noite de Halloween na cidade de Salem. Ele mora com a mãe (June Squibb, de Nebraska) e é apaixonado por uma mulher, Violet Valentine (Julie Bowen) que parece retribuir o sentimento sem que seja notada, ex-mulher do xerife local, Steve Downey (Kevin James). Hubie sai pelos bairros com sua bicicleta se desviando de objetos que as crianças atiram e xingamentos gerais. Assim o é de modo amplo, também onde trabalha e nas visitas que faz ao colégio. Coisas estranhas começam a acontecer, principalmente com a chegada de um novo vizinho de Hubie, Walter Lambert (Steve Buscemi).
Ele se envolve com problemas num milharal e com um casal adolescente, Tommy (Noah Schnapp, de Stranger Things), filho de Violet, e Megan (Paris Berelc). É também perseguido por algumas figuras, como Pete Landolfa (Ray Liotta), Mike (Karan Brar), colega de trabalho de Hubei, e o casal Lester e Mary Hennessey (Tim Meadows e Maya Rudolph).
As comédias de Sandler da década passada se situavam entre o agressivo (Gente grande) e comédias românticas (Esposa de mentuirinha). Desta vez, ele parece embarcar numa viagem onírica pelos anos 80, com referências também a John Landis, de Um lobisomem americano em Londres, ao clássico A hora do pesadelo, a Tobe Hooper de Pague para entrar, rezes para sair e, sobretudo, o Joe Dante de Gremlins 2 e Looney Tunes. O visual é mais bem elaborado do que as comédias-padrão do ator, com ótimo design de produção, e a participação de vários artistas funciona (alguns da mesma turma que acompanha o humorista). A atmosfera de outono, bem registrada por Seamus Tierney, fazendo um vínculo entre as cor alaranjada das folhas, das abóboras, dos hidrantes, da garrafa térmica e do capacete de Hubie e da iluminação em muitas situações (como a da lanchonete onde trabalha Violet), e o ritmo entrecortado se destacam, caracterizando vários elementos icônicos desta festa típica norte-americana, com boa sátira à figura do lobisomem.
Como Sandy Wexler, é uma obra que foge às outras de Sandler pela elaboração mais técnica, um visual mais atrativo e uma narrativa menos concentrada em confrontos e mais empatia entre os personagens. Forçando uma maneira de falar estranha, o ator parece enveredar pelo overacting, mas, ao mesmo tempo, é equilibrado e mantém o tom do personagem num plano aceitável, sem humor grosseiro.
O Halloween de Hubie é agradável dentro de seus limites, apelando algumas vezes a certa escatologia e exagerando alguns elementos de maneira infantil (como o funcionamento da garrafa térmica do personagem) de modo que oferece à trama uma certa unidade, mesmo que o todo pareça desconjuntado e sem muitas ligações evidentes. O roteiro de Tim Herlihy, o mesmo de O paizão e Pixels, em parceria com Sandler funciona quase sempre impulsionado pela edição que torna simpática, inclusive, a participação de nomes como Shaquille O’Neal. Não pretende trazer inovação, mas funciona bem dentro de um sentimento geral de nostalgia. Em alguns anos, este será uma referência desta data festiva.
Hubie Halloween, EUA, 2020 Diretor: Steven Brill Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Julie Bowen, Ray Liotta, Rob Schneider, June Squibb, Kenan Thompson, Shaquille O’Neal, Steve Buscemi, Maya Rudolph, Tim Meadows, Karan Brar, Paris Berelc, Noah Schnapp, China Anne McClain, Michael Chiklis Roteiro: Tim Herlihy e Adam Sandler Fotografia: Seamus Tierney Trilha Sonora: Rupert Gregson-Williams Produção: Adam Sandler, Kevin Grady, Allen Covert, JJ Titone Duração: 102 min. Estúdio: Happy Madison Productions Distribuidora: Netflix