Transformers – O último cavaleiro (2017)

Por André Dick

A franquia Transformers já trouxe milhões a seus produtores e ao diretor Michael Bay e, apesar de perder fôlego, ainda traz boa resposta do público. Em poucas semanas de exibição, Transformers – O último cavaleiro já chegou a 517 milhões. Desde seu primeiro filme, nunca cheguei a ficar entusiasmado com os experimentos de Bay: visualmente confusos, narrativamente precários, mesmo com um visual belíssimo, principalmente o quarto, A era da extinção. Na sua origem, a grande diversão era o personagem de Shia LaBeouf e a produção de Spielberg, sempre cuidadosa na parte técnica, e ver o personagem principal correndo para todos os lados pelo menos serviu para que muitos soubessem quem são os The Strokes. Nas seguintes (O lado oculto da lua e A vingança dos derrotados), sempre nos moldes de Bay, as lutas se intensificavam, com uma porção notável de destruição, sem, por outro lado, um avanço na costura dos personagens e da mitologia dos robôs. No quarto, havia uma espécie de melhora com a troca do protagonista: Wahlberg se encaixou bem como Cade Yeager, um fazendeiro que transforma sucata em robôs, tendo de ajudar Optimus Prime contra figuras governamentais e proteger a filha, mesmo em disputa com o namorado dela, do mesmo modo que cenas de ação na China de grande competência, mais do que nos anteriores.

A história do quinto filme da série inicia em 484 d.C., mostrando o mago que acompanha o Rei Arthur (Liam Garrigan), Merlin (Stanley Tucci, já presente no anterior como Joshua Joyce, em outra participação muito boa), tendo conhecimento de uma civilização tecnologicamente avançada – pode-se adivinhar qual é. Trata-se de uma sequência interessante, remetendo também a um fragmento inicial de Prometheus, quando os cientistas buscam outras civilizações no espaço sideral.
Na Terra contemporânea, os Transformers são considerados ilegais e Optimus Prime (voz de Peter Cullen) saiu do Planeta à procura do seu criador. Um grupo de crianças, liderado por Izabella (Isabela Moner), sobrevivente da Batalha de Chicago, é salvo de uma cena de guerra por Bumblebee e Cade Yeager (Mark Wahlberg), que surgiu em A era da extinção, depois de passarem por um estádio destruído, imagem que remete diretamente a Batman – O cavaleiro das trevas ressurge. Quando Yeager leva Izabelle para um ferro-velho onde lida com alguns conhecidos, Bay movimenta a trama para uma espécie de semiapocalipse.

No espaço, Optimus Prime descobre que o mundo dos Transformers, Cybertron, se dirige à Terra, sendo que está sob o controle de Quintessa (voz de Gemma Chen). Por sua vez, um membro do TRF e ex-aliado dos Aubots, William Lennox (Josh Duhamel), negocia um acordo com Megatron (voz de Frank Welker), liberando vários Decepticons, que podem ajudar a recuperar um talismã que caiu nas mãos de Yeager. Na escapada deste, ele é abordado por Cogman, enviado por Sir Edmund Burton (o ótimo Anthony Hopkins), para que vá à Inglaterra, onde fica conhecendo a ligação que tem com os cavaleiros da Távola Redonda, assim como Viviane Wembly (Laura Haddock), professora de Oxford.
Com um humor insuspeito nos demais filmes, Transformers – O último cavaleiro mostra que 13 horas – Os soldados secretos de Benghazi não foi fruto do momento. Mesmo Sem dor, sem ganho, no qual Bay iniciou sua parceria com Wahlberg, já havia sinais de que o diretor conseguia desenvolver um bom humor interessante. Embora mantenha maneirismos inconvenientes, como a quantidade de destruição notável (e Bay é mestre nisso desde Armageddon e Pearl Harbour), este é o melhor filme da franquia, conciliando boas atuações, principalmente de Wahlberg, Haddock e Hopkins, com efeitos visuais extraordinários e uma fotografia belíssima de Jonathan Sela, quase artística, num blockbuster feito para faturar milhões.

Bay concilia imagens em interiores com externas reais ou em CGI de maneira que o espectador ingressa num universo mesclando caos e beleza plástica. Não havia até o quarto uma preocupação maior em estabelecer vínculos com a ideia de família e ela se acentua aqui. Os diálogos que estabelecem conexão com a história do rei Arthur são verdadeiramente interessantes, fazendo um apanhado mitológico interessante por meio da figura de Sir Burton – e se imagina, pela sequência inicial, o que Bay faria num filme de Idade Média em termos de ação e visual. Também há belas referências a O segredo do abismo, de James Cameron, em algumas sequências passadas no fundo do mar, com uma destreza técnica muito boa, e a Aliens – O resgate, com Yeager e Viviane em túneis segurando tochas, mais ao final. Este é um típico filme de ação pesada e fantasia, mas com certo sentimento não encontrado nos outros. Sim, há a mensagem robotizada em todos os sentidos de Optimus Prime, parecendo por vezes um anúncio de Budweiser, mas aqui ressoa algo a mais, mesmo porque ele voltou a seu planeta e deseja que a Terra não seja destruída. Para Peter Travers, é o filme “mais tóxico” do verão norte-americano; eu diria que é realmente um dos momentos de fúria em ação mais bem feitos e divertidos do ano.

Transformers – The last knight, EUA, 2017 Diretor: Michael Bay Elenco: Mark Wahlberg, Anthony Hopkins, Peter Cullen, John Goodman, Frank Welker, Laura Haddock, Josh Duhamel, Isabela Moner, Jerrod Carmichael, John Turturro, Liam Garrigan, Stanley Tucci, Erik Aadahl Roteiro: Art Marcum, Matt Holloway, Ken Nolan Fotografia: Jonathan Sela Trilha Sonora: Steve Jablonsky Produção: Matthew Cohan, Tom DeSanto, Lorenzo di Bonaventura, Don Murphy Duração: 149 min. Distribuidora: Paramount Pictures Estúdio: Paramount Pictures