Interestelar (2014)

Por André Dick

Interestelar.Filme 23

O gênero de ficção científica costuma ter como parâmetro, quando se trata sobretudo de uma equipe de astronautas viajando ao espaço, dois filmes: 2001 – Uma odisseia no espaço e Solaris. No entanto, se considerássemos o que Tarkovsky achava do filme de Kubrick, certamente só haveria Solaris como exemplar do gênero e se fôssemos considerar a opinião geral não teria existido outros filmes depois, tão interessantes, a exemplo do recente Gravidade e da esquecida obra-prima Os eleitos. Quando Tarantino afirma que não esperava, com o recente Interestelar, de Christopher Nolan, o aprofundamento de obras como 2001 e Solaris, já sabemos que o filme de Nolan terá como ponto de comparação esses dois, pelo menos para quem calcula as probabilidades do filme para as categorias do Oscar. Para Nolan, o ponto de comparação parece um privilégio, à medida que ele é considerado um cineasta de grande estúdio, talhado para fazer blockbusters conceituais, pelo menos desde Batman – O cavaleiro das trevas e A origem.
Interestelar, em termos visuais, pode não superar o antológico 2001, mas colocá-lo em ponto de comparação com Solaris, mesmo considerando a época em que este foi feito, é uma injustiça com Nolan, o cineasta de blockbusters certamente com mais requinte visual. Se não há uma correspondência efetiva entre experiência e história em Amnésia e  A origem se sustenta mais em suas imagens inesquecíveis do que numa qualidade narrativa, assim como O grande truque se baseia numa ideia de montagem enigmática, ele conseguiu transformar Batman, no primeiro filme e em seu último, num herói bastante interessante, com o auxílio da fotografia notável de Wally Pfister.

Interestelar.Filme 18

Interestelar.Filme 22

Interestelar.Filme 20

Tarkovsky era um excelente cineasta de imagens naturais, como em O espelho e Nostalgia – obras belíssimas –, mas sua visão do universo científico não tinha interessante o suficiente para desenvolver discussões sobre a influência do planeta Solaris na mente de alguns integrantes de uma estação espacial. O elemento teatral de Tarkovsky não é correspondido por uma montagem e por atuações vigorosas. Cada cena de Solaris traz um manancial de questões – quando, na verdade, estamos diante de algo mecânico e remoto, ou seja, Tarkovsky avaliava que 2001 era “frio”, mas é exatamente seu filme que possui essa característica. Perto dele, qualquer filme, e com Interestelar não seria diferente, parece envolver melodramas fáceis.
Em termos de roteiro, Interestelar mistura Os eleitos, Campo dos sonhos e Contato, mas sem diluí-los. Cooper (Matthew McConaughey) trabalhou como piloto de avião, mas depois de um acidente, passou a se dedicar à sua fazenda, onde vive com os dois filhos, Murphy (Mackenzie Foy) e Tom (Timothée Chalamet), e o avô, Donald (John Lithgow). Numa época em que as expedições espaciais caíram em descrédito e uma praga tem atormentado a vida na fazenda, destruindo as plantações e trazendo correntes de poeira, Cooper espera por um milagre. A filha se inclina a seguir seu interesse pela ciência, enquanto o filho deseja continuar com sua trajetória na fazenda. Ambos são complementares, e daí a Cooper ter contato com um antigo professor, Brand (Michael Caine), Amelia (Anne Hathaway), Romilly (David Gyasi) e Doyle (Wes Bentley), é um passo para o roteiro ir estabelecendo seus caminhos que se destinam ao espaço e às estrelas, numa narrativa capaz de mesclar a estrutura de um sucesso comercial com a física e a filosofia, o que rende diálogos bastante incomuns, alguns com o peso da exposição científica, auxiliada pela presença do físico Kip Thorne e suas teorias. De algum modo, o filme lida de maneira interessante sobre as percepções, pois trata também do conhecimento capaz de transformar, ao contrário do que aponta uma auxiliar da escola de Murphy. Depois de conseguir compor uma unidade visual em torno do mundo dos sonhos em seu A origem, Interestelar estabelece uma ligação entre o espaço e as plantações da fazenda de Cooper. O homem só pode se salvar e se manter como indivíduo quando visualiza algo que está além do seu horizonte e dos planos imediatos. Tudo é simbolizado por meio de uma biblioteca, como se o sentimento da humanidade fosse eternizado nela e nada pudesse escapar ao seu redor. Escapa – mas neste imprevisível Interestelar isso significa adentrar no espaço.

Interestelar.Filme 15

Interestelar.Filme 21

Interestelar.Filme 26

Chama a atenção como o cineasta, sempre mais ocupado com a arquitetura do que está acontecendo (desde seu interessante filme de estreia Following, que acompanhava uma dupla de assaltantes imprevista), consegue introduzir as questões científicas levantadas numa espécie de emoção em sintonia com uma trilha absolutamente memorável de Hans Zimmer, cujo trabalho consegue recuperar tanto os melhores momentos das sinfonias selecionadas por Kubrick para 2001 quanto várias notas do trabalho de Angelo Badalamenti para David Lynch, fazendo o filme de Nolan adquirir uma intensidade emocional quase ausente em A origem, mas já existente no final espetacular de Batman – O cavaleiro das trevas ressurge, no qual há talvez os melhores momentos isolados da trajetória de Nolan. Há diversos momentos filmados por Nolan com uma capacidade visual e emocional de um grande cineasta, com uma escala épica, fazendo o espectador esquecer possíveis grãos espaciais não tão necessários. Para essa característica, é de vital presença a fotografia de Hoyte Van Hoyteman, que iluminou o universo futurista singular de Ela, de Spike Jonze, além dos efeitos especiais e da direção de arte espetaculares.
Embora Nolan continue um cineasta dividido entre o trabalho que se considera artístico – mais silencioso, voltado às imagens – e o blockbuster – e pelo menos ele não nega essa característica de sua obra –, numa busca pelo vilão de uma história, por exemplo, certamente o ponto mais falho de Interestelar, talvez ele nunca tenha se mostrado também tão ressonante. Pela primeira vez de fato, ele consegue, por meio das interpretações, sintetizar suas ideias a respeito da composição não apenas do universo no sentido cósmico, como também no plano familiar e individual. Para o sucesso efetivo de Nolan, a interpretação de Matthew McConaughey, um pouco marcada no início por seu sotaque característico, é absolutamente verdadeira e menos voltada à emoção registrada pelo físico vista em Clube de compras Dallas; trata-se de uma das grandes atuações do ano, em seu ato derradeiro ao mesmo tempo sentimental e consciente. Menos presente, mas do mesmo modo efetiva, é Anne Hathaway, enquanto Jessica Chastain surge como uma das personagens com mais idade e Michael Caine consegue, com poucos diálogos, traduzir uma ligação com sua filha, em mais uma parceria com o diretor depois da série Batman e de A origem. Além de Mackenzie Foy ser uma boa revelação. Esse elenco consegue, de algum modo aparentemente disperso, traduzir a base do roteiro de Nolan com seu irmão: há mais do que uma visão sobre como o amor une as pessoas no sentido material. Em Interestelar, e poucos filmes conseguem isso com a mesma ênfase e sem reduzir os personagens a símbolos, o amor se revela no plano da memória, mas uma memória sem tempo definido. Filhos encontram pais e vice-versa, mas não sabemos quais são aqueles capazes de demonstrar melhor a memória da humanidade. Podem existir outros planetas, mas quem fornece sentido a eles é a ligação entre seres diferentes. Mesmo que haja uma parcela espetacular nas ações de Interestelar, Nolan está mais interessado na afetividade e no resultado que ela proporciona às pessoas: naves, planetas e buracos de minhoca significam, além da viagem, uma permanência intransferível a cada um de nós.

Interestelar.Filme 19

Interestelar.Filme 25

Interestelar.Filme 24

Trata-se de um argumento aparentemente simples, mas Nolan, de algum modo, consegue torná-lo sólido apresentando um agrupamento constante de imagens e personagens em situações diferentes, mas interligados por uma constante sensação de procura no espaço e no tempo. A vida e a morte se reproduzem ao mesmo tempo, assim como o gelo de um determinado planeta e o fogo nas plantações. E, mais do que tudo: assim como se tenta salvar a humanidade, pode ser, ao mesmo tempo, que tente se salvar apenas uma família perdida no campo. As tentativas parecem destoar em grandeza, mas, para Nolan, colocando-as lado a lado, são iguais, épicas e históricas, cada um a seu modo. Todas as ações repercutem entre si: aquelas do passado e as do futuro, e Interstelar busca uni-las numa mesma visão.
São várias as passagens de Interestelar em que os pontos de humanidade se mostram interessantes: desde aqueles nos quais os personagens se introduzem num ambiente desconhecido e visualmente fantástico até aqueles nos quais estão divididos entre a permanência com os familiares e a passagem no tempo. Nolan, no que talvez supere toda a sua obra, mostra a base de uma tradição familiar de maneira estranhamente original, ainda baseado em certa iconografia dos Estados Unidos, mas conseguindo desenhar as tentativas de sobrevivência e de manter a figura humanas em lugares diferentes no espaço e no tempo. Trata-se de um caminho próprio: enquanto Kubrick estava interessado no mistério que compreende as estrelas, em nossa origem, Nolan fixa o ponto no fato de que as estrelas podem trazer nossas próprias lembranças, já vividas. Interestelar é justamente sobre a passagem do tempo e a memória reservada às pessoas próximas, de como o sentimento se constrói, na verdade, independente de lugares e da distância. É isso que o torna uma obra tão fascinante.

Interstellar, EUA, 2014 Diretor: Christopher Nolan Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Michael Caine, Jessica Chastain, Wes Bentley, John Lithgow, Casey Affleck, David Gyasi, Bill Irwin, Mackenzie Foy, David Oyelowo, Topher Grace, Ellen Burstyn Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan Fotografia: Hoyte Van Hoytema Trilha Sonora: Hans Zimmer Produção: Christopher Nolan, Emma Thomas, Linda Obst Duração: 169 min. Distribuidora: Warner Bros Estúdio: Lynda Obst Productions / Paramount Pictures / Syncopy / Warner Bros. Pictures

Cotação 5 estrelas

Gravidade (2013)

Por André Dick

Gravidade 5

Depois de Sólo con tu pareja, o mexicano Alfonso Cuarón se dividiu entre uma carreira em Hollywood, realizando um filme da série Harry Potter, o ótimo A princesinha e o subestimado Grandes esperanças, além de Filhos da esperança, e uma trajetória mais voltada a seu país de origem, com E sua mãe também. Em Gravidade, um dos filmes mais aguardados do ano, Cuarón tem todos os elementos para se notabilizar como um diretor que consegue lidar com um orçamento alto e estrelas conhecidas, aqui George Clooney e Sandra Bullock. Desde as primeiras imagens liberadas, chamava a atenção a estética voltada para o uso da câmera no espaço, outro trabalho do grande Emmanuel Lubezski, colaborador de Terrence Malick em O novo mundo, A árvore da vida e Amor pleno. Lubezki também já havia colaborado com Cuarón, e se percebe, sobretudo neste, que a parceria quase o torna também um codiretor, devido à importância que tem para o resultado – o mesmo se pode falar dos dois últimos filmes de Malick, com um uso frequente de cores e movimentos de câmera variados. É justamente pelo trabalho de fotografia, mas também o de efeitos especiais e de ambientação, mesclando os melhores ganhos trazidos por ficções mais reflexivas, como 2001 e Os eleitos – o grande filme de Phillip Kaufman do início dos anos 80 –, que Gravidade ganha seu primeiro impulso.

Gravidade 2

Gravidade 6

Trata-se de uma história superficialmente bastante simples: vemos dois astronautas, Dra. Ryan Stone (Bullock) e Matt Kowalski (Clooney), trabalhando numa estação espacial. Ela tem a função de substituir peças no Telescópio Espacial Hubble, e Kowalski está se preparando para a aposentadoria. Cuarón mostra essa jornada não apenas com o sentido do trabalho a ser realizado, mas existencial, mostrando os dois personagens lançados imediatamente numa relação cercada pela angústia – o vazio do espaço nunca havia sido tão bem captado – quanto conturbada, pois estão diante de uma ameaça: um satélite russo explodiu e seus detritos podem encontrá-los no espaço. Além disso, pode haver falta de oxigênio para que a missão se mantenha equilibrada. Esta linha tênue de roteiro não chega a atrapalhar, mesmo porque todo o filme é utilizado para conceber tanto uma situação delimitada (não esperando-se, com isso, subtramas) quanto um universo imaginado, mas não conhecido com a proximidade do que vemos aqui. São claras as influências de 2001 e de Os eleitos (inclusive com a presença da voz de Ed Harris), principalmente pelo ritmo lento empregado em algumas passagens e a verossimilhança de ver astronautas isolados respirando forte, sobretudo dentro de cabines apertadas, ou pendurados em cabos, neste caso especificamente como em 2001, com a Terra ao fundo e a imensidão ao redor.
Cuarón, com a colaboração decisiva de Lubezki, consegue dar uma dimensão às imagens, quase como se estivéssemos, em parte, junto com os personagens, numa curiosa ligação com a plateia, apresentando uma certa sensação tanto de isolamento quanto de vácuo. O 3D de Gravidade não faz parte da onda de filmes que se utilizam deste recurso apenas para arrecadar mais nas bilheterias (com exceções recentes, como o segundo Star Trek): ele se torna um personagem à parte, sobretudo nas sequências de ação e nos primeiros minutos, quando o espectador está conhecendo o contexto em que esses astronautas se encontram, e a Terra a distância nunca pareceu tão realista.
No entanto, ele pouco serviria não fossem, de fato, os atores que interpretam o roteiro de Cuarón e de seu filho, Jonás, com a contribuição não creditada de Clooney. Contamos com uma atuação correta de Clooney, mas com a presença que simboliza o triunfo de uma atriz que dificilmente, mesmo com o Oscar por Um sonho possível, é levada a sério, mais lembrada pelas séries Miss simpatia e Velocidade máxima, a imprevisível Sandra Bullock. Sua atuação é, a meu ver, irretocável e toda vez que a trama de Cuarón poderia incorrer na pieguice é ela que consegue salvar as cenas. Não apenas emocionalmente é um papel difícil, como também fisicamente. Bullock, pelo menos em dois momentos, consegue realmente comover o espectador, e Cuarón a guarda como símbolo de Gravidade ser um cinema de primeira linha. Sabemos que se trata de uma atriz que está arriscando em cena, mesmo que este risco seja às vezes desnecessário.

Gravidade

Gravidade 7

Seria também fácil ser um detrator de Gravidade – que certamente vai colecionar uma porção deles antes e depois do Oscar, alguns tratando-o com expressões como “obra que nada acrescenta”, com seus “dramas banais” e “puro virtuosismo técnico” (no outro extremo das críticas que vêm recebendo desde sua primeira exibição no Festival de Veneza). Ao mesmo tempo em que Cuarón está desinteressado em filmar o espaço como filmaram Tarkovski e Kubrick, com uma lentidão detalhada e com uma história de mais simbolismo do que de ação efetiva, com ameaças constantes diante da sobrevivência, não pode ser desconsiderado por isso, e se seguisse os anteriores seria contemplado como diluidor. Pode ser excelente ver Solaris, de Tarkovski, com toda sua temática implícita, assim como David Bowman diante de imagens enigmáticas antes de se encontrar num quarto vitoriano, mas também o é ver uma história que aposta na tentativa de sobrevivência de dois astronautas diante de um espaço com a história entregue ao espectador para que possa lançar-se em outros sentimentos, e o embate entre pessimismo e otimismo é um deles. Do mesmo modo, Cuarón coloca Kowalski como um astronauta iminentemente preso às “histórias” da Terra, sem querer adentrar em questões relacionadas ao infinito do espaço, mas se colocando sempre em risco. Em determinado momento, o personagem de Ryan Stone passa a ser um contraponto a ele: sem as mesmas histórias da Terra para contar, ela, nem por isso, parece propensa a aceitar esse universo infinito e encara o desconhecido não como um encontro com a existência, mas como seu afastamento, e para que possa experimentar ainda a realidade, a Terra que avista a distância, é preciso entender a própria vida que a trouxe até aquele momento. Bullock consegue ser verossímil nesta transição de uma personagem com receios a uma personagem que precisa se deparar com um problema imprevisto e maior do que toda a sua vida até então. Mais do que anunciam os diálogos de Cuarón e seu filho, parece que Gravidade é um filme tenso e conciso (nem se percebe a metragem de 90 minutos), com uma análise da existência sentimental e próxima, tomada de referências a deuses de diferentes culturas, que parecem, ao mesmo tempo, ligeiras e compenetradas.
Nesse sentido, é interessante ver que Gravidade não se contente com sua história enfocando, a princípio, um único problema, e personagens basicamente humanos e efetivamente apegados ao cotidiano. Chama a atenção que ele mergulhe tanto na parte técnica (envolvendo estações espaciais e computadores) e seu desejo seja sempre pela terra firme e pelas lembranças dos seres humanos. Para Cuarón e seu filho, talvez seja mais difícil a aceitação da tecnologia e da transcendência do que a Terra, mas também parece avançar no fato de que a Terra pode ser a reprodução dessa própria descoberta de transcendência que se imagina ter apenas numa situação inóspita – e o conceito que temos de morte é esta indicação precisa. Numa única situação, em que um personagem pode morrer e renascer algumas vezes, diante do medo e da circunstância, por meio de lembranças ou sonhos, numa sucessão de enfrentamentos com o desconhecido, Cuarón concebe uma obra cinematográfica inesquecível.

Gravity, EUA/ING, 2013 Diretor: Alfonso Cuarón Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón, George Clooney (não creditado) Elenco: Sandra Bullock, George Clooney, Basher Savage, Eric Michels, Ed Harris Produção: Alfonso Cuarón, David Heyman Fotografia: Emmanuel Lubezki Trilha Sonora: Steven Price Duração: 90 min. Distribuidora: Warner Bros Estúdio: Heyday Films / Reality Media / Warner Bros. Pictures

Cotação 5 estrelas

A árvore da vida (2011)

Por André Dick

A árvore da vida.Cena 14

O filme A árvore da vida, de Terrence Malick, tem despertado polêmica desde a sua estreia. Assim como ganhou a prestigiada Palma de Ouro em Cannes, foi indicado ao Oscar de melhor filme. Para quem pretende ver imagens filmadas com poeticidade raras vezes vistas no cinema e um diálogo aberto tanto com o sentimento religioso quanto com a ciência, envolvendo a formação do indivíduo como sujeito, buscando, porém, as suas contradições, é uma obra diferenciada, embora o fio de sua história seja bastante claro (não se equiparando, por exemplos, aos filmes mais enigmáticos de David Lynch). Mesmo seu aparato mercadológico, de promoção, mostra esse objetivo. Três de seus cartazes são complementares: um com o olhar do pai  por trás do pé do filho que acaba de nascer, comparando um de seus dedos da mão com o tamanho do pé do filho; outro que mostra uma colagem de imagens do filme, criando um quebra-cabeças visual; e ainda um que foca o pé do filho que acaba de nascer em meio aos dedos da mão do pai que o segura, e uma luz por trás: a luz da criação do universo e dos seres, talvez. Importante dizer que, a partir daqui, há spoilers.
O sentimento de criação, no filme de Malick, se perpetua, como a árvore da vida – que era uma das árvores do Éden, junto com a Árvore do Bem e do Mal, a qual não se deu acesso porque Adão e Eva teriam pecado e traria a vida eterna –, que alegoricamente também parece ser a do pátio da família O’Brien, em Waco, no interior do Texas. Nela, o pai (Brad Pitt) e a mãe (Jessica Chastain, no filme que a revelou) reservam os dois lados que podem ajudar a definir a vida. O pai representa a natureza, autossuficiente, e a mãe, a graça, que tem necessidade do perdão, de compreender os outros. Não podemos nos render nem à natureza nem totalmente à graça, sintetizada pela cena em que a mãe, na rua, roda com o filho nos braços e aponta para o céu, dizendo “Ali mora Deus”. São essas alegorias que registram os sentimentos de uma família no interior do Texas, que ao mesmo tempo podem representar o início e o fim dos tempos (porque todos, na verdade, são únicos e irrepetíveis), e mostram A árvore da vida como um ponto estético entre a poesia e a sublimação religiosa – mas uma sublimação que depende do Big Bang, do imponderado, do infinito e do que a religião não especificamente abarca nem explica.

A árvore da vida.Cena 7

A árvore da vida.Cena 5

O filme começa com a morte de um filho do casal O’Brien, que perturba o seu filho mais velho, Jack (Sean Penn), arquiteto que trabalha num arranha-céu de Dallas. A sua mãe se pergunta como Jó – citado na epígrafe do filme – onde está Deus para tê-la abandonado, pois sempre acreditou na graça, mas o divino quer mostrar sua grandiosidade por meio da natureza, e Malick filma tudo como se fosse uma mescla entre o criacionismo e o evolucionismo. Em Jó, Deus busca uma proximidade com o ser humano para explicar sua criação e que a dor que Jó está sentindo não se compara à sua força. Esse é o motivo de Malick para retroagir até a criação do mundo, mostrando a criação das partículas, dos seres das águas, dos dinossauros. Essa digressão, para muitos, é uma tolice (elas têm tomadas cinematográficas e não simplesmente documentais, com efeitos especiais de Douglas Trumbull, o mesmo de 2001 e Blade Runner, que não aprecia efeitos digitais, e a fotografia brilhante de Emmanuel Lubezki), mas é ela que torna A árvore da vida um filme tão interessante, à medida que ingressa na poesia e na fusão de imagens estranhas e elípticas.
A lentidão das imagens mostra que estamos entrando não apenas no inconsciente dos personagens que sofrem (os filhos e os pais) e, como Jó, questionam onde está Deus, mas numa releitura do diretor da criação do mundo, que pode estar ligado a Deus ou ao imponderável, ao indefinido, que não ganha forma nem representações religiosas. Ao mesmo tempo, esse ingresso na criação do mundo pode representar a criação e a perda dentro de cada ser humano. Por isso, os vulcões, as chamas, os tremores no centro da terra, a lava, os dinossauros doentes, à beira do mar ou num rio, a cachoeira desembocando no rio onde passa uma serpente embaixo da água, a água secando ao sol do deserto, onde o personagem de Penn vaga entre crateras, como se em meio a edifícios límpidos e hermeticamente calculados e imensos, tentando encostar o céu e se aproximar das nuvens. O universo abarca também a violência, a raiva da perda – mas há sempre um recomeço. Talvez seja o primeiro filme que busque de forma tão intensa essa representação do ser humano como fonte da criação e do fim. Não por acaso, a casa do filho e dos pais são envidraçadas, tentando ainda buscar um contato com a natureza, e os cenários do filme são tão naturais, querendo representar sempre um cenário próximo da criação.

A árvore da vida.Cena 2

A árvore da vida.Malick.Cena 2

Difícil ver nesses artifícios de Malick apenas uma grandiosidade ou um sentimento épico – apesar da música sacra, de igreja, pontuar ao fundo, muitas vezes. Na verdade, a queda-d’água na cachoeira representa, mais do que a natureza, os próprios personagens, em direção a um rio que não tem origem exata, independente das figuras que neles passeiam – constituindo a própria árvore da vida.
A volta aos anos 50, quando nasce Jack O’Brien (cujas iniciais formam Job, que é Jó), em uma sequência que vai de uma criança saindo por uma porta de um lago submersa no lago até o nascimento de um bebê, num quarto completamente branco – como nos cenários assépticos de Stanley Kubrick –, para que o pai possa pegar seu filho, comparando seu dedo da mão a um dos dedos do pé, mostra que o diretor recua num flashback para retomar a sequência da vida, de momentos perdidos no tempo e que não serão mais recuperados, apenas em flashes de memória. A criança aprende a caminhar com o pai no pátio, depois sobe uma escada para ver o que há no sótão, a mãe se molha com a mangueira ou corre rua afora sendo procurada por uma borboleta, a família acende velas na rua, os gafanhotos pulam no rio de verdade e nos livros de história, Jack, à noite (já interpretado pelo excelente Hunter McCracken), ilumina o quarto com a lanterna, mas também para ler histórias espaciais (e o espaço, nos anos 1950, ainda era um lugar a ser conquistado). Tudo parece não ter a grandeza da criação do mundo, do Big Bang, dos dinossauros, porém ao mesmo tempo tem. Tudo aquilo que se perdeu com o tempo – o filho do casal que existe apenas na memória – ainda faz parte do que existe, dentro de cada ser, como a própria criação do mundo. E é nesse ponto que o casal de Malick, embora não represente exatamente Adão e Eva – pois o filme mostra a criação do imponderável, por meio do Big Bang, e a criação dos dinossauros pela junção de inúmeras partículas na água –, nem tenha no pátio a Árvore do Bem e do Mal, mostra-se ligado ao enlace entre graça e natureza, não apenas por meio do discurso, mas por sua presença, na educação dos filhos. O pai pode xingar e castigar, mas é o mesmo que tenta introduzir os filhos na música e em brincadeiras de encenação à noite, no quarto. A mãe, embora calada, representando a vontade a ser feita pelo homem, deseja fazer prevalecer em si a graça. É com ela que os filhos correm num matagal e num bosque, e daí passa a ser uma figura muito idealizada (no entanto, esse é o propósito de Malick), enquanto o pai tenta ser alguém que pode modificar o mundo trabalhando numa indústria.
Parece-nos que, nesse caso, o filme, apesar de não se fixar em detalhes narrativos ou numa sequência de conflitos entre os personagens, tem como potencial essa mesma dispersão que alguns apontam como falha. Ou seja, se de certo modo A árvore da vida acontece num só fluxo de imagens (interrompido apenas no início e no final com a alegoria do que seria a criação e o fim dos tempos), também podemos dizer que é esse fluxo que constrói uma narrativa baseada em mínimos detalhes e gestos quase imperceptíveis, tanto do diretor quanto do elenco, no entanto indispensáveis, ou seja, com começo, meio e fim, como estamos acostumados a ver, embora, certamente, sob o olhar diferenciado de Malick. O filho mais velho está dividido entre a graça (simbolizada pela mãe) e a natureza (simbolizada pelo pai), que tenta ensiná-lo a não ser completamente íntegro. Divide-se entre tentar ser comportado e quebrar vidraças de casas vizinhas (que se contrapõem aos vitrais religiosos da igreja que a família frequenta); entre ficar em casa tentando ser músico como o pai gostaria que fosse ou entrar na casa da vizinha porque sente-se atraído por ela, deparando-se com uma de suas camisolas e a atração pelo universo feminino que ela desperta; de atirar ou não com a espingarda de chumbo na mão de seu irmão, que não é nem um pouco vingativo e o qual considera melhor, também pela generosidade e por considerar que ele conseguiu uma aproximação maior do pai por meio da música.

A árvore da vida.Cena 12

A árvore da vida.Cena 9

Nesse sentido, Malick não chega a nos impor nenhum maniqueísmo, ou seja, sua obra tem uma sutileza que apenas as grandes obras possuem. A trilha sonora não convence o espectador a sentir determinada emoção, apenas faz parte da história, nem leva a uma catarse. Tampouco as aproximações de câmera dos personagens. Se as suas tomadas embaixo das árvores – vendo sempre o ponto de vista da criança – procuram sempre um resquício de sol (que num determinado momento lembra exatamente o de 2001, na cena em que ele aparece vagarosamente na linha do horizonte), e por isso são por vezes cansativas e tornam o filme um pouco mais longo do que deveria, nem por isso ele se deixa carregar por um sentimento de ver a linguagem se esvair em imagens de apenas encantamento. Tudo é meticulosamente calculado nas cenas da criação do mundo, por exemplo, não deixando nenhum espaço para a simples pirotecnia ou imagens calculadas para documentários. A câmera mostrando, embaixo, as ondas se formar depois da queda do meteoro, por exemplo, é o significado de uma busca radical do diretor pelo sentido de origem, mesmo que, como a água, o fogo, a terra e o ar (os quatro elementos que circulam frequentemente nas imagens de A árvore da vida), não tem uma explicação exata.
Não se trata de distanciamento ou frieza do diretor, o que algumas vezes é suscitado, mas um reequilíbrio com sua forma escolhida. O céu que se abre como um grande túnel a passar essa mesma água que o forma. E o que seria – parece nos perguntar o diretor – a composição de uma família no Texas perto da grandiosidade do universo. Malick parece – e é aqui que entra não apenas o fato de ter dado aulas de Filosofia, mas de ser um cineasta que prefere sempre a reflexão e, nesse caso, uma poesia visual e sonora, ao movimento – nos querer ensinar sua versão de mundo, entretanto é interessante que ela acaba sendo universal, não no sentido de que todos têm suas ideias, mas de que as sensações de descoberta, reencontro e perda podem ser visualizadas em seu filme de modo intenso e aberto, sem ser ligadas a uma determinada família, contexto ou religião. Malick não se deixa sobrepujar por um discurso religioso, apesar de em determinados momentos o pensamento das personagens levar a isso, visualizando como esse discurso é incorporado por olhares diferentes e traduzidos em algo diferente e que se atrita com a realidade. Todos os seus personagens procuram a graça, entretanto, de certo modo, são atraídos para a natureza. A cena em que o pai volta com os filhos da igreja tentando doutriná-los e incomodado que eles queiram ligar o rádio do carro, quando ele diz, em determinada altura do filme, que gostaria mesmo é de ser músico, é significativa, no sentido de que mostra, por exemplo, como seu discurso não se adequa à realidade que tenta costurar à sua volta. Por isso, de determinado modo, o filme de Malick, ao falar de elementos simbólicos da criação e da Bíblia, trazendo ao centro a árvore da vida, mostra que esse sentimento religioso não pertence a ninguém, e sim a todos, faz parte de todos os elementos e sensações. A graça está na natureza e vice-versa. No final, o irmão de Jack, que vem a morrer, enterra alguns bichos – que imaginamos ser dinossauros – no pátio da casa, perto da árvore da vida. Não há final que não seja também um reinício. É preciso, em algum momento, como fizeram os personagens do Éden, deixar para trás a árvore da vida. De qualquer modo, ela sempre os acompanha.

A árvore da vida.Malick.Cena

A árvore da vida.Cena 8

O fato de que o personagem de Sean Penn caminha em meio a um deserto ou a um chão recém-abandonado pela água, lembrando algas do fundo do mar, quando, na verdade, está numa cidade grande, pode fazer com que o filme seja visto de modo excessivamente alegórico. Ou quando ele passa por uma porta sem sustentação no meio do deserto. Cada imagem parece sempre dizer mais do que uma simples alegoria. Ele pode olhar para cima e ver arranha-céus, assim como pode lembrar, em sua infância, do teto da igreja no alto, por onde perpassa a luz solar, ou dos galhos da árvore, pois na verdade as imagens, como a criação e o fim, estão dentro dele mesmo. E, mesmo se não o fossem, são elas que tornam A árvore da vida um achado em termos poéticos no meio cinematográfico. Porque se é bem verdade que as imagens de Malick não são absolutamente originais, é também verdade que ele coloca a poesia como ponte entre uma história que poderia ser linear e comum e uma história que adquire grandiosidade também pela maneira com que é filmada e pensada, com a corrida das crianças em meio a um matagal; banhando-se num rio (em que a água pode dar e tirar a vida); pulando numa cachoeira, em meio a rochas onde se formaram os primeiros seres; subindo em árvores; indo ao circo pela primeira vez; ou jogando bola entre as árvores da rua. E o filme impacta, de igual modo, porque, ao buscar a transcendência, refere-se ao nosso dia a dia: os girassóis estão ao nosso redor, e se guiam pelo sol, contudo não transcendem, como nós – ou, ao menos, parecem não transcender. Enquanto o sol é atraído pela terra, nossos olhares são atraídos pelo sol, e este está a cada fotograma do filme de Malick, pois ele sempre está ali, nos vigiando, assim como para o dinossauro ferido no início do filme. Os girassóis representam uma terceira via, entre a graça e a natureza, para o diretor. A transcendência, nesse caso, sempre é um ponto de vista. Nesse sentido, não se pode cogitar que Malick seja expulso da cidade por ser um poeta-cineasta, mas como um artista capaz de filmar algo de profunda densidade, que foge ao lugar comum e, por isso mesmo, merece ser visto e entendido.

The tree of life, EUA, 2011 Diretor: Terrence Malick Elenco: Brad Pitt, Sean Penn, Fiona Shaw, Jessica Chastain, Hunter McCracken, Kari Matchett, Dalip Singh, Joanna Going, Jackson Hurst, Brenna Roth, Jennifer Sipes, Crystal Mantecon, Lisa Marie Newmyer Produção: Dede Gardner, Sarah Green, Grant Hill, Brad Pitt, Bill Pohlad Roteiro: Terrence Malick Fotografia: Emmanuel Lubezki Trilha Sonora: Alexandre Desplat Duração: 138 min. Distribuidora: Imagem Filmes Estúdio: Cottonwood Pictures / Plan B Entertainment / River Road Entertainment / Brace Cove Productions

Cotação 5 estrelas

Publicado originalmente em 11 de setembro de 2012

2001 – Uma odisseia no espaço (1968)

Por André Dick

2001 kubrick 3

Este é um dos maiores clássicos da ficção científica com efeitos impressionantes para sua época (e ainda hoje) de Douglas Trumbull, um roteiro, baseado no conto “A sentinela”, de Arthur C. Clarke, que lançaria o livro homônimo quase simultaneamente ao lançamento do filme, e uma direção impecáveis. Kubrick está interessado em mostrar o isolamento do homem não apenas em sua aurora, mas no espaço sideral, assim como fez com o jovem Alex, que servia de cobaia para experimentos químicos em Laranja mecânica, e o Jack Torrance, de Nicholson, em O iluminado. E mostra que, por meio da experiência da solidão, o homem pode mudar e avançar contra o passado e contra o futuro, ao mesmo tempo.
2001 (spoilers a partir daqui) inicia com homens-macacos em algum lugar remoto do passado, descobrindo a defesa – atacados por leopardos ou ameaçados por outras tribos – e a violência – ao esfacelar o crânio de um animal – e entrando em contato com um monólito, perto de rochas onde eles dormem. Essas imagens revitalizam qualquer gênero, e o filme de Kubrick contradiz a ficção científica como um gênero apenas baseado no fantástico e não no histórico, mesmo como narrativa, ao mesmo tempo em que é um cinema praticamente sem diálogos, o que é apontado como um motivo de tédio, isso se 2001 não fosse também uma revitalização da forma de narrar.
Depois de lançado um osso ao espaço – numa transição antológica –, este se transforma em espaçonave, transportando o espectador para 2001, que carrega o Dr. Heywood Floyd  (William Sylvester), depois de uma conversa com Elena (Margaret Tyzack), cientista russa, e seu colega Dr. Smyslov (Leonard Rossiter), em direção à lua, em que foi desencavado um monólito negro misterioso, igual àquele que os homens-macacos cercavam.

2001.Kubrick.Filme

2001 kubrick

2001.Kubrick.Aurora

Esta mudança de lugar e tempo é típica do talento de Kubrick, que move sempre a narrativa para espaços diferentes daqueles que naturalmente se esperava – aqui, vai até a Pré-História, numa reconstituição que impressiona a cada vez que assistimos, para, a partir daí, se deslocar rumo ao infinito e ao vazio do espaço inexplorado pela Discovery (em Nascido para matar, o espaço do Vietnã é também o da loucura e de um regresso às origens, assim como o Overlook, de O iluminado, é um traçado do labirinto da mente humana e De olhos bem fechados, uma saga noturna em busca da autossatisfação), em missão até Júpiter, através de novos sinais do monólito – e talvez de presença alienígena. Em nenhum momento, é suscitada uma presença divina, ou algum vínculo exatamente religioso, mas 2001 também traz – como A árvore da vida, de Malick, em que há sequências que lembram o filme de Kubrick – este aspecto de discussão. Também traz o embate não mais entre os homens-macacos e os animais, mas entre os homens e os computadores.
O computador da nave, o HAL 9000 (com voz marcante de Douglas Rain), em plena expansão da IBM – letras seguintes de HAL –, o único a realmente saber sobre a missão, começará a se rebelar contra os tripulantes, deixando os astronautas David Bowman (Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood) perplexos. Ele acredita, pois, antes de tudo, tem uma concepção humana, que a missão deve ser abortada. É inevitável perceber que HAL tem traços mais humanos do que os tripulantes da Discovery, sobretudo David, que recebe um cumprimento de aniversário sem mostrar o menor ânimo ou sentimento, e, quando se aproxima de seu desligamento, acaba demonstrando o mesmo medo humano. Ao mesmo tempo, os astronautas parecem mais um experimento e correm e se alimentam sem tratarem de nenhum aspecto da missão.
Mas o mistério maior está no monólito negro, uma peça que se desloca entre tempos distintos (estava na Pré-História, cercado por macacos, e agora flutua pelo espaço). É ele que mostra a atemporalidade da vida, o que Kubrick quer constantemente ressaltar. Não sabemos se é o monólito aquele que confunde HAL 9000, ou o conduz à tentativa de encerrar a missão. Quando David se vê numa situação extremamente difícil, resta a ele continuar sua trajetória. E Kubrick continua, em cada frame, notável. O final é enigmático e, ao mesmo tempo, precursor de imagens relacionados ao futuro, mostrando os limites do espaço, em busca de Deus. O quarto nos moldes vitorianos em que o astronauta vai parar, com seu piso iluminado (uma espécie de ambiente precursor dos ambientes de Barry Lindon e do salão de festas de O iluminado, além do piso de Os embalos de sábado à noite, cuja discoteca se chama exatamente 2001), é, do mesmo modo, a contemplação da história e da juventude nos olhos de um ser que passou por todos os momentos de sua vida num piscar de segundos.

2001.Kubrick.Filme 2

2001.Kubrick.Nave

Kubrick realiza tudo com exatidão e detalhamento, pontuados pela direção de arte, tendo à frente Anthony Masters, que havia feito a de Lawrence da Arábia e faria a de Duna, e pela fotografia de Geoffrey Unsworth, que trabalhou na série Superman, Cabaret, entre outros filmes. É a junção entre direção de arte e fotografia – com a trilha sonora clássica de fundo, pontuando as cenas de transição da Pré-História para o futuro, como o “Danúbio azul” – que torna o filme um objeto tão brilhante, a ser examinado sempre, uma espécie de ficção científica baseada num conceito de inovação e ruptura.
Nada a ver, portanto, com sua sequência, 2010, que, mesmo com excelentes efeitos especiais de Richard Endlund (de Indiana Jones e Guerra nas estrelas) e uma direção de arte irretocável (de Syd Mead, de Blade Runner) e cuja narrativa trata de americanos, comandados pelo doutor Floyd (Roy Scheider), e russos numa missão – encontrar a nave Discovery, desaparecida no final do primeiro filme, que foi localizada pela última vez perto da lua de Saturno –, não apresenta novidades. É claro que os americanos comandam os soviéticos e há patriotismo na trama, mas a mensagem do filme, embora com ar de Guerra Fria, é interessante. Sua meta é explicar, o que não aconteceu em 2001, vagamente por que o computador HAL 9000 enlouqueceu no primeiro e parte do mistério do monólito negro.
Por sua vez, Kubrick deseja uma espécie de mistério inexplicável sobre a origem do universo e para onde somos conduzidos, seja pela mão de uma força superior, seja por nossas próprias forças. Sua visão sobre nossa origem e como a evolução traz detalhes semelhantes (os homens-macacos ao redor do monólito, assim como os astronautas na Lua) revela uma extrema sensibilidade, sobretudo porque apresenta uma síntese para nossos receios e desejos. Como diz Kubrick: “Tentei criar uma experiência visual, que contorne o entendimento para penetrar diretamente o inconsciente com seu conteúdo emocional” (em Claude Beylie, As obras-primas do cinema).

2001 kubrick 5

2001 kubrick 4

Por isso, ao mesmo tempo, o brilho do sol em Kubrick tenta revelar uma espécie de verdade. Se muitas tomadas de A árvore da vida embaixo das árvores – vendo sempre o ponto de vista da criança – procuram sempre um resquício de sol (que num determinado momento lembra exatamente o de 2001, na cena em que ele aparece vagarosamente na linha do horizonte), nem por isso ele se deixa carregar por um sentimento de ver a linguagem se esvair em imagens de apenas encantamento, em 2001 a luminosidade é uma tentativa de alinhar os planetas e as naves. Difícil entrar em contato com imagens tão profundamente enigmáticas como aquelas que cercam a aurora do homem – com seu horizonte alaranjado –, passando pela missão na Lua, em que a sombra, antes dos ossos animais no amanhecer, agora é das espaçonaves passando por elevações, até a sequência final, que conduz a um labirinto de cores fortes eclodindo nos olhos e a leveza da imagem do feto, do bebê, dentro da forma de um planeta, na qual Kubrick eleva a imagem a um símbolo, a uma metáfora, de tudo que havia sido observado antes. É exatamente o “conteúdo emocional” das imagens que conduz 2001 ao patamar de obra-prima.

2001 – A space odyssey, EUA/ING, 1968 Diretor: Stanley Kubrick Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Dan Richter, Douglas Rain, Leonard Rossiter, Margaret Tyzack, Robert Beatty, Sean Sullivan, Frank Miller, Penny Brahms. Produção: Stanley Kubrick  Roteiro: Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke Fotografia: Geoffrey Unsworth Trilha Sonora: Alex North, Gyorgy Ligeti Duração: 139 min. Distribuidora: Não definida Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Stanley Kubrick Productions

Cotação 5 estrelas

A árvore da vida (2011)

Por André Dick

O filme A árvore da vida, de Terrence Malick, tem despertado polêmica desde a sua estreia. Assim como ganhou a prestigiada Palma de Ouro em Cannes, foi indicado ao Oscar de melhor filme. Para quem pretende ver imagens filmadas com poeticidade raras vezes vistas no cinema e um diálogo aberto tanto com o sentimento religioso quanto com a ciência, envolvendo a formação do indivíduo como sujeito, buscando, porém, as suas contradições, é uma obra diferenciada, embora o fio de sua história seja bastante claro (não se equiparando, por exemplos, aos filmes mais enigmáticos de David Lynch). Mesmo seu aparato mercadológico, de promoção, mostra esse objetivo. Três de seus cartazes são complementares: um com o olhar do pai  por trás do pé do filho que acaba de nascer, comparando um de seus dedos da mão com o tamanho do pé do filho; outro que mostra uma colagem de imagens do filme, criando um quebra-cabeças visual; e ainda um que foca o pé do filho que acaba de nascer em meio aos dedos da mão do pai que o segura, e uma luz por trás: a luz da criação do universo e dos seres, talvez. Importante dizer que, a partir daqui, há spoilers.
O sentimento de criação, no filme de Malick, se perpetua, como a árvore da vida – que era uma das árvores do Éden, junto com a Árvore do Bem e do Mal, a qual não se deu acesso porque Adão e Eva teriam pecado e traria a vida eterna –, que alegoricamente também parece ser a do pátio da família O’Brien, em Waco, no interior do Texas. Nela, o pai (Brad Pitt) e a mãe (Jessica Chastain, no filme que a revelou) reservam os dois lados que podem ajudar a definir a vida. O pai representa a natureza, autossuficiente, e a mãe, a graça, que tem necessidade do perdão, de compreender os outros. Não podemos nos render nem à natureza nem totalmente à graça, sintetizada pela cena em que a mãe, na rua, roda com o filho nos braços e aponta para o céu, dizendo “Ali mora Deus”. São essas alegorias que registram os sentimentos de uma família no interior do Texas, que ao mesmo tempo podem representar o início e o fim dos tempos (porque todos, na verdade, são únicos e irrepetíveis), e mostram A árvore da vida como um ponto estético entre a poesia e a sublimação religiosa – mas uma sublimação que depende do Big Bang, do imponderado, do infinito e do que a religião não especificamente abarca nem explica.

O filme começa com a morte de um filho do casal O’Brien, que perturba o seu filho mais velho, Jack (Sean Penn), arquiteto que trabalha num arranha-céu de Dallas. A sua mãe se pergunta como Jó – citado na epígrafe do filme – onde está Deus para tê-la abandonado, pois sempre acreditou na graça, mas o divino quer mostrar sua grandiosidade por meio da natureza, e Malick filma tudo como se fosse uma mescla entre o criacionismo e o evolucionismo. Em Jó, Deus busca uma proximidade com o ser humano para explicar sua criação e que a dor que Jó está sentindo não se compara à sua força. Esse é o motivo de Malick para retroagir até a criação do mundo, mostrando a criação das partículas, dos seres das águas, dos dinossauros. Essa digressão, para muitos, é uma tolice (elas têm tomadas cinematográficas e não simplesmente documentais, com efeitos especiais de Douglas Trumbull, o mesmo de 2001 e Blade Runner, que não aprecia efeitos digitais, e a fotografia brilhante de Emmanuel Lubezki), mas é ela que torna A árvore da vida um filme tão interessante, à medida que ingressa na poesia e na fusão de imagens estranhas e elípticas.
A lentidão das imagens mostra que estamos entrando não apenas no inconsciente dos personagens que sofrem (os filhos e os pais) e, como Jó, questionam onde está Deus, mas numa releitura do diretor da criação do mundo, que pode estar ligado a Deus ou ao imponderável, ao indefinido, que não ganha forma nem representações religiosas. Ao mesmo tempo, esse ingresso na criação do mundo pode representar a criação e a perda dentro de cada ser humano. Por isso, os vulcões, as chamas, os tremores no centro da terra, a lava, os dinossauros doentes, à beira do mar ou num rio, a cachoeira desembocando no rio onde passa uma serpente embaixo da água, a água secando ao sol do deserto, onde o personagem de Penn vaga entre crateras, como se em meio a edifícios límpidos e hermeticamente calculados e imensos, tentando encostar o céu e se aproximar das nuvens. O universo abarca também a violência, a raiva da perda – mas há sempre um recomeço. Talvez seja o primeiro filme que busque de forma tão intensa essa representação do ser humano como fonte da criação e do fim. Não por acaso, a casa do filho e dos pais são envidraçadas, tentando ainda buscar um contato com a natureza, e os cenários do filme são tão naturais, querendo representar sempre um cenário próximo da criação.

Difícil ver nesses artifícios de Malick apenas uma grandiosidade ou um sentimento épico – apesar da música sacra, de igreja, pontuar ao fundo, muitas vezes. Na verdade, a queda-d’água na cachoeira representa, mais do que a natureza, os próprios personagens, em direção a um rio que não tem origem exata, independente das figuras que neles passeiam – constituindo a própria árvore da vida.
A volta aos anos 50, quando nasce Jack O’Brien (cujas iniciais formam Job, que é Jó), em uma sequência que vai de uma criança saindo por uma porta de um lago submersa no lago até o nascimento de um bebê, num quarto completamente branco – como nos cenários assépticos de Stanley Kubrick –, para que o pai possa pegar seu filho, comparando seu dedo da mão a um dos dedos do pé, mostra que o diretor recua num flashback para retomar a sequência da vida, de momentos perdidos no tempo e que não serão mais recuperados, apenas em flashes de memória. A criança aprende a caminhar com o pai no pátio, depois sobe uma escada para ver o que há no sótão, a mãe se molha com a mangueira ou corre rua afora sendo procurada por uma borboleta, a família acende velas na rua, os gafanhotos pulam no rio de verdade e nos livros de história, Jack, à noite (já interpretado pelo excelente Hunter McCracken), ilumina o quarto com a lanterna, mas também para ler histórias espaciais (e o espaço, nos anos 1950, ainda era um lugar a ser conquistado). Tudo parece não ter a grandeza da criação do mundo, do Big Bang, dos dinossauros, porém ao mesmo tempo tem. Tudo aquilo que se perdeu com o tempo – o filho do casal que existe apenas na memória – ainda faz parte do que existe, dentro de cada ser, como a própria criação do mundo. E é nesse ponto que o casal de Malick, embora não represente exatamente Adão e Eva – pois o filme mostra a criação do imponderável, por meio do Big Bang, e a criação dos dinossauros pela junção de inúmeras partículas na água –, nem tenha no pátio a Árvore do Bem e do Mal, mostra-se ligado ao enlace entre graça e natureza, não apenas por meio do discurso, mas por sua presença, na educação dos filhos. O pai pode xingar e castigar, mas é o mesmo que tenta introduzir os filhos na música e em brincadeiras de encenação à noite, no quarto. A mãe, embora calada, representando a vontade a ser feita pelo homem, deseja fazer prevalecer em si a graça. É com ela que os filhos correm num matagal e num bosque, e daí passa a ser uma figura muito idealizada (no entanto, esse é o propósito de Malick), enquanto o pai tenta ser alguém que pode modificar o mundo trabalhando numa indústria.
Parece-nos que, nesse caso, o filme, apesar de não se fixar em detalhes narrativos ou numa sequência de conflitos entre os personagens, tem como potencial essa mesma dispersão que alguns apontam como falha. Ou seja, se de certo modo A árvore da vida acontece num só fluxo de imagens (interrompido apenas no início e no final com a alegoria do que seria a criação e o fim dos tempos), também podemos dizer que é esse fluxo que constrói uma narrativa baseada em mínimos detalhes e gestos quase imperceptíveis, tanto do diretor quanto do elenco, no entanto indispensáveis, ou seja, com começo, meio e fim, como estamos acostumados a ver, embora, certamente, sob o olhar diferenciado de Malick. O filho mais velho está dividido entre a graça (simbolizada pela mãe) e a natureza (simbolizada pelo pai), que tenta ensiná-lo a não ser completamente íntegro. Divide-se entre tentar ser comportado e quebrar vidraças de casas vizinhas (que se contrapõem aos vitrais religiosos da igreja que a família frequenta); entre ficar em casa tentando ser músico como o pai gostaria que fosse ou entrar na casa da vizinha porque sente-se atraído por ela, deparando-se com uma de suas camisolas e a atração pelo universo feminino que ela desperta; de atirar ou não com a espingarda de chumbo na mão de seu irmão, que não é nem um pouco vingativo e o qual considera melhor, também pela generosidade e por considerar que ele conseguiu uma aproximação maior do pai por meio da música.

Nesse sentido, Malick não chega a nos impor nenhum maniqueísmo, ou seja, sua obra tem uma sutileza que apenas as grandes obras possuem. A trilha sonora não convence o espectador a sentir determinada emoção, apenas faz parte da história, nem leva a uma catarse. Tampouco as aproximações de câmera dos personagens. Se as suas tomadas embaixo das árvores – vendo sempre o ponto de vista da criança – procuram sempre um resquício de sol (que num determinado momento lembra exatamente o de 2001, na cena em que ele aparece vagarosamente na linha do horizonte), e por isso são por vezes cansativas e tornam o filme um pouco mais longo do que deveria, nem por isso ele se deixa carregar por um sentimento de ver a linguagem se esvair em imagens de apenas encantamento. Tudo é meticulosamente calculado nas cenas da criação do mundo, por exemplo, não deixando nenhum espaço para a simples pirotecnia ou imagens calculadas para documentários. A câmera mostrando, embaixo, as ondas se formar depois da queda do meteoro, por exemplo, é o significado de uma busca radical do diretor pelo sentido de origem, mesmo que, como a água, o fogo, a terra e o ar (os quatro elementos que circulam frequentemente nas imagens de A árvore da vida), não tem uma explicação exata.
Não se trata de distanciamento ou frieza do diretor, o que algumas vezes é suscitado, mas um reequilíbrio com sua forma escolhida. O céu que se abre como um grande túnel a passar essa mesma água que o forma. E o que seria – parece nos perguntar o diretor – a composição de uma família no Texas perto da grandiosidade do universo. Malick parece – e é aqui que entra não apenas o fato de ter dado aulas de Filosofia, mas de ser um cineasta que prefere sempre a reflexão e, nesse caso, uma poesia visual e sonora, ao movimento – nos querer ensinar sua versão de mundo, entretanto é interessante que ela acaba sendo universal, não no sentido de que todos têm suas ideias, mas de que as sensações de descoberta, reencontro e perda podem ser visualizadas em seu filme de modo intenso e aberto, sem ser ligadas a uma determinada família, contexto ou religião. Malick não se deixa sobrepujar por um discurso religioso, apesar de em determinados momentos o pensamento das personagens levar a isso, visualizando como esse discurso é incorporado por olhares diferentes e traduzidos em algo diferente e que se atrita com a realidade. Todos os seus personagens procuram a graça, entretanto, de certo modo, são atraídos para a natureza. A cena em que o pai volta com os filhos da igreja tentando doutriná-los e incomodado que eles queiram ligar o rádio do carro, quando ele diz, em determinada altura do filme, que gostaria mesmo é de ser músico, é significativa, no sentido de que mostra, por exemplo, como seu discurso não se adequa à realidade que tenta costurar à sua volta. Por isso, de determinado modo, o filme de Malick, ao falar de elementos simbólicos da criação e da Bíblia, trazendo ao centro a árvore da vida, mostra que esse sentimento religioso não pertence a ninguém, e sim a todos, faz parte de todos os elementos e sensações. A graça está na natureza e vice-versa. No final, o irmão de Jack, que vem a morrer, enterra alguns bichos – que imaginamos ser dinossauros – no pátio da casa, perto da árvore da vida. Não há final que não seja também um reinício. É preciso, em algum momento, como fizeram os personagens do Éden, deixar para trás a árvore da vida. De qualquer modo, ela sempre os acompanha.

O fato de que o personagem de Sean Penn caminha em meio a um deserto ou a um chão recém-abandonado pela água, lembrando algas do fundo do mar, quando, na verdade, está numa cidade grande, pode fazer com que o filme seja visto de modo excessivamente alegórico. Ou quando ele passa por uma porta sem sustentação no meio do deserto. Cada imagem parece sempre dizer mais do que uma simples alegoria. Ele pode olhar para cima e ver arranha-céus, assim como pode lembrar, em sua infância, do teto da igreja no alto, por onde perpassa a luz solar, ou dos galhos da árvore, pois na verdade as imagens, como a criação e o fim, estão dentro dele mesmo. E, mesmo se não o fossem, são elas que tornam A árvore da vida um achado em termos poéticos no meio cinematográfico. Porque se é bem verdade que as imagens de Malick não são absolutamente originais, é também verdade que ele coloca a poesia como ponte entre uma história que poderia ser linear e comum e uma história que adquire grandiosidade também pela maneira com que é filmada e pensada, com a corrida das crianças em meio a um matagal; banhando-se num rio (em que a água pode dar e tirar a vida); pulando numa cachoeira, em meio a rochas onde se formaram os primeiros seres; subindo em árvores; indo ao circo pela primeira vez; ou jogando bola entre as árvores da rua. E o filme impacta, de igual modo, porque, ao buscar a transcendência, refere-se ao nosso dia a dia: os girassóis estão ao nosso redor, e se guiam pelo sol, contudo não transcendem, como nós – ou, ao menos, parecem não transcender. Enquanto o sol é atraído pela terra, nossos olhares são atraídos pelo sol, e este está a cada fotograma do filme de Malick, pois ele sempre está ali, nos vigiando, assim como para o dinossauro ferido no início do filme. Os girassóis representam uma terceira via, entre a graça e a natureza, para o diretor. A transcendência, nesse caso, sempre é um ponto de vista. Nesse sentido, não se pode cogitar que Malick seja expulso da cidade por ser um poeta-cineasta, mas como um artista capaz de filmar algo de profunda densidade, que foge ao lugar comum e, por isso mesmo, merece ser visto e entendido.

The tree of life, EUA, 2011 Diretor: Terrence Malick Elenco: Brad Pitt, Sean Penn, Fiona Shaw, Jessica Chastain, Hunter McCracken, Kari Matchett, Dalip Singh, Joanna Going, Jackson Hurst, Brenna Roth, Jennifer Sipes, Crystal Mantecon, Lisa Marie Newmyer Produção: Dede Gardner, Sarah Green, Grant Hill, Brad Pitt, Bill Pohlad Roteiro: Terrence Malick Fotografia: Emmanuel Lubezki Trilha Sonora: Alexandre Desplat Duração: 138 min. Distribuidora: Imagem Filmes Estúdio: Cottonwood Pictures / Plan B Entertainment / River Road Entertainment / Brace Cove Productions

Cotação 5 estrelas