Trilogia De volta para o futuro (1985, 1989, 1990)

Por André Dick

Os anos 80 foram propícios para que uma nova geração de cineastas fizesse sucesso, principalmente alguns apoiados por Steven Spielberg, como Joe Dante e Robert Zemeckis. Foi este segundo, autor do roteiro de 1941 de Spielberg, escrito com o mesmo Bob Gale de De volta para o futuro o que mais se destacou. No filme projetado para estabelecer vínculos temporais longínquos, o jovem Marty McFly (Michael J. Fox) deseja tocar guitarra no colégio, enquanto tem uma amizade com o doutor Emmett Brown (Christopher Lloyd). São as atuações de Fox e Lloyd que dão vida a personagens que poderiam passar despercebidos se estivessem em outra história mais genérica. Para fugir de um atentado terrorista, cometido contra seu amigo cientista, McFly viaja no tempo e para no ano de 1955 da cidadezinha onde mora, Hill Valley. Nos anos 1950, encontra Emmett Brown algumas décadas mais novo (apesar de não parecer) e precisa, depois de um súbito interesse de sua mãe (Lea Thompson), ainda jovem, por ele, apresentá-la ao que seria seu pai (Crispin Glover). E, claro, no meio há um vilão: Biff Tannen (Thomas F. Wilson). Estamos diante de uma história simples, mas que Zemeckis torna secular, ao transformar o passado e o futuro chaves para a memória da humanidade, de uma nostalgia mais esquecida.

A proximidade que McFly tem com seus futuros pais é muito bem conduzida, tornando crível esta história fantástica e permitindo ao roteiro fazer piadas relacionadas a personalidades (o doutor não acredita por exemplo que Ronald Reagan, ator em sua época, viraria presidente dos Estados Unidos).
Ao mesmo tempo, a produção de Spielberg se nota em cada momento, no uso da trilha sonora pop e na mescla entre a realidade e a fantasia. Zemeckis já tinha se mostrado um diretor ágil ao situar seu interesse na beatlemania dos anos 60 com seu Febre de juventude, filme de estreia de 1978. Com rara mão para dirigir jovens atores, ele apanha a nostalgia daquele filme e a converte em elemento para que, com elementos e ficção científica, pudesse fazer De volta para o futuro. Ele entrelaça o ponto de vista da nostalgia com a velocidade da cultura pop dos anos 80, com sua miscelânea de acontecimentos. Ou seja, se o presente (1985) é rápido, as coisas nos anos 50 se mostram muito singelas, como se vê no primeiro encontro de McFly com sua família ainda jovem. Nisso, o elenco, começando por Fox, Thompson, Glover e Lloyd, funciona perfeitamente.
Continuação lançada quatro anos depois, De volta para o futuro II não chega a ser tão bom quanto o original, mas foi bem nas bilheterias americanas. E tem uma qualidade: reconhece o primeiro como insuperável, pegando-o como material para subverter as passagens do tempo, o que, curiosamente, também o torna único. Os momentos divertidos são poucos, mas há um humor mais ácido e ação, desenfreada, está mais presente. Começa onde terminou o primeiro, com McFly (Fox), Doutor Brown (Lloyd) e Jennifer (agora Elizabeth Shue), namorada de McFly, viajando no tempo para 2015, onde ajudarão seu filho a se livrar da cadeia, por causa do neto de Biff, Griff Tannen.

O vilão do filme passado, Biff, agora velho, volta para o passado com a máquina do tempo de Doc depois de comprar um livro com resultados de jogos. Ele regressa a 1955 e entrega esse livro ao seu eu jovem. Então, para modificar todo o ano de 1985, completamente diferente quando volta, McFly vai em busca do livro de resultados. Os efeitos visuais são excelentes (com um futuro opressor imaginado por Zemeckis), o elenco é bom, mas a história às vezes confusa, o que é um mérito – talvez aí, por outro lado, esteja a originalidade deste filme. É interessante como o roteiro consegue unir várias histórias em tempos diferentes com os personagens agindo como se vissem seus reflexos e comportamentos passados, assim como coloca mais uma vez o dilema de McFly de tentar salvar a vida não apenas da família, como também da cidade de Hill Valley, das mãos de Tannen. Ao vê-lo casado no presente modificado com sua mãe, ele vê sua existência sendo colocada em xeque. De certo modo, o segundo De volta para o futuro vai reprisar situações do filme anterior sob um novo ângulo, criando um universo paralelo àquele que vimos, é eficaz também na maneira como reproduz a cultura dos anos 80 projetada em 2015, com um grande holograma de Tubarão 19 na praça de Hill Valley ou os tênis Nike usados pelo personagem, além de outras referências de marketing que criam um elo temporal interessante.

O terceiro recupera a fantasia mais nostálgica do primeiro, trazendo novamente boas atuações e a direção competente de Zemeckis. O jovem Marty McFly (Fox), no final do segundo, recebia uma carta do professor Emmett Brown (mais uma vez excelente Lloyd), que estaria no velho oeste, mais precisamente em 1885, quando a cidadezinha de Hill Valley havia sido criada. Marty viaja novamente no tempo e encontra o cientista trabalhando como ferreiro e apaixonado por uma professora, Clara Clayton (Mary Steenburgen), mas, principalmente, preocupado que será morto num duelo pelo antepassado de Biff. Por isso, McFly volta a se envolver com o bisavô de Biff Tannen (o vilão dos filmes anteriores), aqui Buford “Mad Dog” Tannen. McFly envolve-se, claro, com uma confusão, em marcar um duelo – uma sátira a vários faroestes – com o “Mad Dog”.
O clímax é a volta para 1885, e como acelerar no tempo sem uma locomotiva? Sem excesso de efeitos especiais (como no segundo), com Fox e Lloyd em nova e talentosa parceria e um roteiro inteligente – homenageando o western –, este De volta para o futuro trabalha com a nostalgia. No mesmo ano, um faroeste, Dança com lobos, seria o vencedor do Oscar, e havia uma recuperação do gênero sob um viés mais jovem, em peças como Jovens demais para morrer, uma espécie de John Hughes passado nos tempos das diligências. A terceira aventura de McFly se insere nesse contexto de maneira interessante e, embora com algumas gags óbvias, mais preponderantes aquelas relacionadas a Clint Eastwood (que seriam recuperadas na animação Rango), é um desfecho eficaz para a trilogia, principalmente na sua parte final, quando Zemeckis novamente acelera para o fantástico e não deixa a série realmente partir – quando de fato ela permanece como referência de fenômeno pop de qualidade.

Back to the future, EUA, 1985 Direção: Robert Zemeckis Elenco: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson, Crispin Glover, Thomas F. Wilson Roteiro: Robert Zemeckis e Bob Gale Fotografia: Dean Cundey Trilha Sonora:  Alan Silvestri Produção: Steven Spielberg, Neil Canton, Bob Gale Duração: 116 min. Estúdio: Amblin Entertainment Distribuidora: Universal Pictures

 

 

Back to the future II, EUA, 1989 Direção: Robert Zemeckis Elenco: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson, Crispin Glover, Thomas F. Wilson Roteiro: Bob Gale Fotografia: Dean Cundey Trilha Sonora: Alan Silvestri Produção: Neil Canton, Bob Gale Duração: 108 min. Estúdio: Amblin Entertainment Distribuidora: Universal Pictures

 

 

Back to the future III, EUA, 1990 Direção: Robert Zemeckis Elenco: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson, Thomas F. Wilson, Mary Steenburgen Roteiro: Bob Gale Fotografia: Dean Cundey Trilha Sonora:  Alan Silvestri Produção: Neil Canton, Bob Gale Duração: 118 min. Estúdio: Amblin Entertainment Distribuidora: Universal Pictures