Vencedores do Oscar 2022

Por André Dick

Depois de o Oscar 2021 ter sido um dos mais problemáticos, por todo o contexto da pandemia, e tornou Nomadland o grande vencedor, este ano a Academia de Hollywood tentou uma reaproximação do público. Em razão da má audiência ano a ano, ela acabou tornando obrigatória a indicação a melhor filme de pelo menos 10 títulos, o que num ano bom acaba destacando mais obras, mas num ano menos exitoso pode ser prejudicial.
Em 2022, portanto, tivemos 10 na disputa principal. Alguns de grande qualidade, como Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson, Duna, de Denis Villeneuve, O beco do pesadelo, de Guillermo del Toro, Não olhe para cima, de Adam McKay, e Ataque dos cães, de Jane Campion; outros que fizeram sucesso junto à crítica, a exemplo de Drive my car, e com bom destaque técnico, a exemplo de Amor, sublime amor; e outros com tom mais autobiográfico, como King Richard, ou histórico, no caso Belfast. Acabou vencendo o drama com elementos de humor No ritmo do coração, de Sian Heder. Embora a escolha do ano passado tenha sido menos interessante, particularmente a deste ano foi, além de surpreendente, um tanto mais deslocada. O favoritismo nas premiações apontava para Ataque dos cães, mas No ritmo do coração vinha ganhando alguns prêmios relevantes, como o de elenco no Screen Actors Guild e o PGA Awards, prêmio de produtores de Hollywood.
Muitos filmes melhores não fizeram parte da lista principal, como Casa Gucci, Nem um passo em falso, A crônica francesa, A lenda do cavaleiro verde, O último duelo, Vingança e castigo, A pior pessoa do mundo e Spencer.
Duna foi o grande vencedor em número de prêmios, mais exatamente seis, e Ataque dos cães, King Richard, Drive, my car, Belfast e Amor, sublime amor ganhou cada um cada. No ritmo do coração venceu três, e Os olhos de Tammy Faye, dois. Duna se tornou o filme de ficção científica mais premiado desde Mad Max – Estrada da fúria, em 2016. Dois dos melhores filmes, O beco do pesadelo e Licorice Pizza, saíram sem nenhum.
A minha ordem de preferidos dos indicados em 2022 era esta.

O Oscar teve um bom ritmo perto dos dois últimos anos, em que ainda se tentava encontrar uma maneira de substituir um apresentador único, alternando, desta vez, três apresentadoras: Amy Schumer, Regina Hall e Wanda Sykes. A festa acabou, no entanto, sendo praticamente esquecida por causa do tapa desferido por Will Smith em Chris Rock, por causa de uma piada feita com sua mulher Jada Pinkett Smith, envolvendo sua alopecia, comparando-a com a personagem de Demi Moore em Até o limite da honra, dirigido por Ridley Scott. Esta parece ter sido a conclusão das provocações que se iniciaram no Oscar de 2016, quando Rock, como apresentador, satirizou inúmeras vezes o fato de Smith não ter sido indicado por Um homem entre gigantes. Os números musicais fizeram a média da diversão, assim como as homenagens a 007 e ao aniversário de alguns filmes, como os de Pulp Fiction, trazendo as participações de Uma Thurman, Samuel L. Jackson e John Travolta, e de O poderoso chefão, com a presença de Al Pacino, Francis Ford Coppola e Robert De Niro. Também tivemos as categorias de voto popular, que mostraram a força dos fãs de Zack Snyder. No entanto, a escolha por No ritmo do coração, comprado pela Apple TV+ por 25 milhões de dólares no Festival de Sundance, mostra mais uma vez a aversão da Academia a destacar um filme de Netflix, o que já havia acontecido com Roma em 2019, com O irlandês em 2020 e com Mank em 2021, e me parece diminuir uma boa temporada de filmes com um drama em que a humanidade parece muito manipulada, sem uma verdadeira autenticidade. O filme de Heder é um dos menos merecedores a vencer a categoria principal, tomado, a meu ver, de lugares-comuns e uma tentativa contínua de agradar o espectador, sem nunca conseguir desafiá-lo. A sua temática (uma jovem que sonha em ser cantora e faz parte de uma família de surdos) é linda, no entanto, a meu ver, explorada sem habilidade. Ele também não parece ter um roteiro de drama cotidiano com os atrativos de Laços de ternura ou Rain man, e, mais recentemente, de Moonlight ou Parasita.
Naturalmente, há também certo discurso de que se deve aceitar um drama mais simples e objetivo. A questão não me parece ser esta. O cinema precisa valorizar filmes que desafiem, sendo bons ou ruins: No ritmo do coração não parece fazer isso. Não deve ser visto como normal artistas como Paul Thomas Anderson e Villeneuve não serem reconhecidos à altura do talento (e outros ignorados, como Ridley Scott), que fazem cinema não apenas para uma determinada época ou para o público atual, mas também para plateias futuras. Embora venha perdendo bastante relevância em sua audiência, o Oscar ainda ajuda a determinar certos rumos da indústria e a vitória deste ano não ajuda artistas a imaginarem projetos mais instigantes, considerando que o cinema não deve apenas procurar um diálogo fácil com o público. Por mais que eu não tenha gostado de alguns vencedores ao longo da história, como O discurso do rei, Quem quer ser um milionário?, Spotlight, Argo e Nomadland, reconheço neles certa ambição estética; No ritmo do coração, pelo contrário, parece se contentar com um estilo televisivo dos anos 80 e 90, o que num ano que tem obras tecnicamente incríveis como Duna, O beco do pesadelo, Amor, sublime amor, Ataque dos cães e Licorice Pizza é ainda mais lamentável.

Melhor direção

Jane Campion venceu o prêmio por Ataque dos cães. Embora o melhor trabalho, para mim, fosse o de Paul Thomas Anderson em Licorice Pizza, o mais curioso é saber como a Academia deixou de fora das indicações Denis Villeneuve e seu trabalho minucioso em Duna, principalmente porque o seu filme se tornou o maior vencedor em número de Oscars da noite (a pergunta é inevitável: quem coordenou todos os nomes premiados em diversas categorias?). Do mesmo modo, continua sendo difícil entender o vencedor do Oscar de melhor filme não ter indicação nesta categoria, como aconteceu com No ritmo do coração. O maior esquecido talvez tenha sido Pablo Larraín por seu trabalho refinado em Spencer. Branagh não deveria ter sido indicado, e Ridley Scott merecia ter sido incluído por Casa Gucci ou O último duelo. Ryûsuke Hamaguchi teve sua primeira indicação merecida por Drive my car.

Melhor ator

Mesmo depois da agressão de Smith a Chris Rock, ele foi o vencedor, por sua atuação em King Richard – Criando campeãs. É uma performance boa, mas não próxima da qualidade daquela de Benedict Cumberbatch em Ataque dos cães. Andrew Garfield mereceu indicação por Tick, tick… boom!, e Denzel Washington marca mais uma vez presença com o filme de Joel Coen, adaptação de Shakespeare. Lamentável que Adam Driver, excelente em Casa Gucci e Annette, tenha sido esquecido.

Melhor atriz

Depois de vários anos, finalmente Jessica Chastain chegou ao Oscar, com Os olhos de Tammy Faye. Há dez anos, ela estava indicada como atriz (A árvore da vida) e atriz coadjuvante (Histórias cruzadas). No entanto, a grande atuação parece ter sido a de Kristen Stewart, como a princesa Diana em Spencer. Também Olivia Colman está ótima em A filha perdida. As maiores esquecidas foram Alana Haim, por Licorice Pizza, e Lady Gaga, antes cotada por Casa Gucci, além de Renate Reinsve, ótima em A pior pessoa do mundo.

Melhor ator coadjuvante

O favorito Troy Kutsur levou o prêmio com No ritmo do coração, sendo o primeiro surdo a vencer na categoria, superando Jesse Plemmons e, principalmente, Kodi Smit-McPhee, ambos por Ataque dos cães. Lamentável Jared Leto e Al Pacino não terem sido incluídos por Casa Gucci. O discurso de agradecimento de Kotsur foi emocionante.

Melhor atriz coadjuvante

A escolha da categoria foi Ariana DeBose, por sua atuação em Amor, sublime amor, embora eu considere que Kirsten Dunst merecesse mais por Ataque dos cães. Entre as esquecidas, Cate Blanchett brilhou em O beco do pesadelo e Não olhe para cima, do mesmo modo que Alicia Vikander em A lenda do cavaleiro verde e Jodie Comer em O último duelo.

Melhor roteiro original

Kenneth Branagh venceu o Oscar por Belfast. Uma escolha complicada, pois tínhamos Licorice Pizza e A pior pessoa do mundo na disputa.

Melhor roteiro adaptado

A escolha de No ritmo do coração, escrito por Sian Heder, foi bastante estranha, já que estavam na disputa tanto Duna quanto Drive my car.

Melhor animação

Encanto, da Disney, era o grande favorito e cumpriu a expectativa, deixando em segundo plano A família Mitchell e a revolta das máquinas e Luca.

Melhor filme estrangeiro

O filme japonês Drive my car, também indicado na categoria principal, venceu o superior, para mim, A pior pessoa do mundo. Alguns filmes pré-selecionados têm condições de serem lembrados mais do que alguns incluídos aqui: Deserto particular, Memória e Lamb são apenas alguns.

Melhor documentário em curta-metragem

The queen of basketball

Melhor documentário em longa-metragem

Summer of Soul (… ou Quando a revolução não pode ser televisionada)

Melhor curta-metragem

The long goodbye

Melhor curta em animação

The windshield wiper

Melhor fotografia

O australiano Greig Fraser foi o grande vencedor por seu trabalho fantástico em Duna, superando os belos trabalhos de Ataque dos cães, O beco do pesadelo e A tragédia de Macbeth. Todos são trabalhos primorosos, em seu diálogo com a pintura. Fraser já havia feito dois trabalhos especialmente brilhantes, em A hora mais escura e Rogue One – Uma história Star Wars, e também é responsável pelo trabalho de iluminação do Batman de Matt Reeves.

Melhor trilha sonora

O vencedor foi Hans Zimmer, por seu belo trabalho em Duna. Ele deveria ter sido indicado por seu trabalho também no filme anterior de Villeneuve, Blade Runner 2049, e é apenas sua segunda estatueta (a primeira foi por O rei leão). Jonny Greenwood, indicado por Ataque dos cães, já merece também reconhecimento, pois também mostrou grandes trabalhos em Licorice Pizza e Spencer.

Melhor canção original

“No time do die”, de 007 – Sem tempo para morrer, já era a esperada vencedora.

Melhor edição

Joe Walker recebeu o prêmio por Duna, em que praticamente delimita o ritmo da narrativa. Não olhe para cima também era um concorrente muito forte, com sua agilidade entrecortada por muitos diálogos.

Melhor figurino

Jaqueline West e Robert Morgan receberam o prêmio por Cruella, vencendo os ótimos trabalhos de Amor, sublime amor e Duna. Lamentável a não inclusão de A crônica francesa.

Melhor design de produção

O prêmio foi para a criação de um universo fantástico de Duna feita por Patrick Vermette. Era a categoria também que mais a versão de David Lynch de 1984 merecia ter vencido – e sequer teve indicação. Outra categoria em que A crônica francesa deveria ser indicado.

Melhor maquiagem e cabelo

O vencedor é Os olhos de Tammy Faye, na categoria em que o ótimo Casa Gucci teve a sua única indicação.

Melhor som

O prêmio foi para o trabalho eficiente de Duna, derrotando o forte trabalho de 007 – Sem tempo para morrer.

Melhores efeitos visuais

O magnífico trabalho de Duna foi contemplado, seguindo outros filmes reconhecidos nesta categoria, mais sérios, a exemplo de Interestelar e Tenet, talvez os dois filmes mais injustiçados de Nolan. Supera quatro filmes que, a meu ver, não deveriam ter sido indicados: Free Guy – Assumindo o controle, Homem-Aranha – Sem volta para casa, 007 – Sem tempo para morrer e Shang-Chi e a lenda dos dez anéis, na seleção mais equivocada dos últimos anos, num ano que teve trabalhos como Matrix resurrections, Eternos, Godzilla vs Kong e Liga da Justiça de Zack Snyder.

Filme favorito dos fãs

A votação popular escolheu Army of the dead – Invasão em Las Vegas, de Zack Snyder, como o filme de maior destaque. Derrotou, entre outros, Tick, tick… boom!, Duna, Ataque dos cães e Homem-Aranha – Sem volta para casa.

Momento mais icônico da história do cinema

A corrida fantástica do Flash no terceiro ato de Liga da Justiça de Zack Snyder foi a cena escolhida. Um prêmio que merece ser valorizado sobretudo pelo percurso que teve o filme, desde a versão recortada e lançada em 2017 até o lançamento da obra completa, com 4h, em 2021. Deveria ter sido indicado a muitos Oscars técnicos, como Duna, no entanto não foi valorizado suficientemente como um novo filme. Não é preciso acompanhar muito cinema para saber que ele será mais lembrado do que o vencedor do Oscar em 2022.

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